terça-feira, 28 de maio de 2024

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou Portugal

 

O presidente ucraniano chegou a Lisboa, ao aeroporto militar de Figo Maduro, às 15 horas do dia 28 de maio, onde teve honras de Estado, com a execução do hino nacional português pela banda do exército, e foi recebido pelo Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, que o haviam convidado, e pelos ministros de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e da Defesa Nocional, Nuno Melo. 

A seguir, presidente ucraniano, em conjunto com Luís Montenegro, Volodymyr Zelensky assinou um acordo bilateral entre os dois países, na residência oficial do primeiro-ministro português. 

Porém, a cerimónia oficial de boas vindas ao presidente da Ucrânia, prevista para as 18 horas, teve lugar no Pátio dos Bichos, perto das 18h10, hora a que o ilustre visitante chegou ao Palácio de Belém. Os dois chefes de Estado ouviram os hinos nacionais de Portugal e da Ucrânia e passaram por uma guarda de honra formada pelo esquadrão presidencial.

Depois, na Sala das Bicas, Marcelo Rebelo de Sousa e Volodymyr Zelensky posaram lado a lado para a fotografia oficial, deram um vigoroso aperto de mão, e o presidente da Ucrânia assinou o Livro de Honra do Palácio de Belém.

De acordo com informação da Presidência da República Portuguesa, no jantar de trabalho, a partir das 18h30, com Zelensky, oferecido pelo Presidente da República, estiveram também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e a vice-presidente da Assembleia da República Teresa Morais.

A visita de trabalho do Presidente Zelensky, que durou seis horas, insere-se na intenção partilhada de aprofundar as excelentes relações entre os dois Estados, com enfoque particular no reforço da cooperação no domínio da segurança e defesa. Será ainda oportunidade para reiterar o compromisso de Portugal para com a soberania e integridade territorial da Ucrânia, bem como com a manutenção do apoio político, militar, financeiro e humanitário a Kyiv.

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Das diversas intervenções políticas, destacam-se algumas ideias relevantes, bem como intenções ou propósitos, merecendo relevo a seguinte declaração de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa: “O objetivo é sempre a paz, não é a guerra pela guerra. Vamos trabalhar pela construção da paz e pelos direitos humanos, porque há pessoas a morrer e a sofrer. Por isso, haverá, na Suíça, uma de várias cimeiras que se debruçarão sobre a paz. O objetivo é iniciar contactos certos que permitam ter avanços. Há muitos Estados a ajudar.”

Luís Montenegro revelou, em conferência de imprensa, que será o Presidente da República a representar Portugal na Cimeira da Paz, tendo proferido rasgados elogios ao presidente ucraniano. “É uma honra recebê-lo em Portugal. Acontece quando se escreve uma das páginas mais negras da Europa, a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Todos pensavam que a Ucrânia não iria sobreviver, mas povo ucraniano tem mostrado grande coragem e resiliência para salvaguardar a sua segurança, soberania e integridade do seu território. Expresso a admiração de todo o povo português”, começou por dizer o primeiro-ministro, que acrescentou: “Portugal condenou, desde a primeira hora, a agressão ilegal, injusta e injustificada da Rússia à Ucrânia. Tem sido uma guerra devastadora. No nosso encontro abordámos a situação no campo de batalha e a ajuda que a Ucrânia necessita para se defender. Haverá dois momentos importantes no próximo mês: uma reunião, em Berlim, e a Cimeira da Paz, na Suíça. Portugal estará representado ao mais alto nível, pelo Presidente da República e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.”

“O apoio de Portugal é inabalável e firme. O combate da Ucrânia é de todos nós. Este acordo reafirma empenho na cooperação. O nosso compromisso está plasmado no acordo”, assegurou.

“Apoiamos a Ucrânia na adesão à UE [União Europeia] e à NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. O apoio militar será de 126 milhões de euros, em 2024. Entregámos, até ao momento, mais de mil toneladas de material militar. Recebemos cerca de mil pedidos de alojamento temporário, mas não nos esquecemos dos milhares que já cá estavam antes da guerra. A comunidade ucraniana é a segunda maior em Portugal e tem tido uma integração fantástica”, considerou Luís Montenegro.

Por sua vez, Zelensky disse que Portugal tem sido um “sincero amigo e parceiro” e frisou que “os Ucranianos [com cuja comunidade se avistou] estão bem integrados em Portugal”. Agradeceu o treino dado pelas forças armadas portuguesas aos pilotos de F-16 das forças de Kiev e a presença de Portugal na Cimeira da Paz. E salientou que “a Rússia quer eliminar os direitos humanos” e que é necessário “ter respeito pela vida humana” e “unir as famílias separadas”.

Questionado sobre se vai tentar convencer os países lusófonos a participar na Cimeira da Paz, Luís Montenegro garante que Portugal tem estado empenhado na paz e que tem sensibilizado presidentes de outros países.  “Países que falam Português são daqueles com quem temos relações mais intensas. Temos dialogado com eles. Portugal tem estado empenhado na paz. Ainda hoje o Presidente da República sensibilizou presidente da República Dominica e, na semana passada, sensibilizei o presidente de São Tomé e Príncipe”, revelou.

O primeiro-ministro garantiu que a “circunstância de este não ser um acordo vinculativo não [lhe] diminui força e não impede que os vários governos possam materializar este acordo”. 

Já Zelensky fala de “uma parceria estratégica de dez anos” e acredita que este documento “vai funcionar”. “Não tenho dúvidas sobre a parceria”, salientou o presidente ucraniano, que acusa a Rússia de não respeitar “o mundo” nem aquilo que promete.

O primeiro-ministro realçou que Portugal já entregou à Ucrânia mais de mil toneladas de material militar, entre carros de combate Leopard 2 ou sistemas de drones, e mostrou-se empenhado em agilizar e acelerar processos de envio.

Este dado foi avançado por Luís Montenegro, na conferência de imprensa conjunta com o presidente da Ucrânia, em São Bento, Lisboa, depois de os dois países terem assinado um acordo de cooperação de segurança no domínio bilateral, um acordo com um prazo de dez anos, mas com a possibilidade de ser prorrogado, se necessário. Perante os jornalistas, defendeu que o acordo agora assinado com a Ucrânia se carateriza por ser “transversal, porque abrange domínios como a cultura, a ciência, a economia, a política ou a formação”.

“O nosso compromisso contribui para a interoperabilidade global das forças de segurança da Ucrânia com NATO e também visa o apoio a parcerias ao nível das indústrias de defesa. Esta é uma ajuda de Portugal multifacetada, que, do ponto de vista quantitativo – embora esse não seja o aspeto mais importante – ascende já hoje a mais de 250 milhões de euros”, estimou.

O acordo define que, em 2024, Portugal irá fornecer “apoio militar num valor de, pelo menos, 126 milhões de euros”. Este montante “inclui contribuições financeiras e em espécie”.

Nas 15 páginas do documento, é ainda definido que Portugal “apoiará a Ucrânia na defesa da sua soberania e [que] lhe disponibilizará, oportunamente”, assistência em vários campos, desde a segurança a nível terrestre a outros domínios, como a ciberdefesa.

O documento define, também, que, se a Ucrânia aderir à NATO, “em momento anterior” aos 10 anos do fim do acordo, os dois países “decidirão o seu futuro estatuto”. E, caso haja divergências de “interpretação ou de implementação”, serão resolvidas, de forma amigável, através de consultas entre os participantes”.

Outro dos pontos define que será estabelecida “uma cooperação para permitir” que a Ucrânia possa desenvolver “capacidades militares abrangentes” em áreas como o “apoio estrutural à reforme do setor de defesa, incluindo apoio à governação de defesa”, ou, ainda, “treino de forças de segurança e de defesa ucranianas, a título nacional e no quadro europeu”. 

Em relação ao “equipamento militar, incluindo através de cooperação industrial, armamento, equipamento e bens de defesa nos domínios terrestre, aéreo, cibernético e espacial”. A prioridade, lê-se, é atender “às principais necessidades de capacidades da Ucrânia”.

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A visita do chefe de Estado ucraniano a Portugal faz parte dum raid que iniciou, em Espanha, a 27 de maio, passou por Bruxelas e termina em Portugal. As visitas de Zelenskyy, a primeira de caráter bilateral a Espanha, à Bélgica e a Portugal, estavam inicialmente previstas para 17 de maio, mas teve de ser cancelada, devido à intensificação da ofensiva russa em Kharkiv.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, recebeu o presidente da Ucrânia ao meio-dia local (11h00 em Lisboa). Em seguida, ocorreu uma conferência de imprensa, como previsto em nota do Palácio de La Moncloa. E a Casa Real espanhola revelou que estava agendado um encontro com Felipe VI, o que geralmente ocorre, no caso das visitas de Estado, após a visita ao presidente do governo. De acordo com vários meios de comunicação espanhóis, Zelensky assinou, com Pedro Sánchez, um acordo bilateral de segurança. A Espanha vai entregar à Ucrânia um pacote de armamento no valor de 1,129 mil milhões de euros, uma ajuda sem precedentes na ajuda militar espanhola a qualquer país.

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Entre as visitas a Espanha e a Portugal, o presidente da Ucrânia, esteve, na manhã do dia 28, em Bruxelas, onde se reuniu com o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, com quem assinou um acordo bilateral de segurança, que inclui, “pelo menos, 977 milhões de euros de ajuda militar belga à Ucrânia, neste ano, bem como o compromisso de a Bélgica prestar apoio” ao país, ao longo dos dez anos, revelou o chefe de Estado ucraniano na rede social X.

De acordo com Zelenskyy, o pacto prevê ainda a assistência oportuna da Bélgica em matéria de segurança, de veículos blindados modernos e de equipamento para satisfazer as necessidades da força aérea e da defesa aérea da Ucrânia” – nomeadamente com o envio de 30 caças F-16 até 2028 –, além de “segurança naval, desminagem, participação na coligação de munições de artilharia e formação militar”. O compromisso também contempla o “apoio à fórmula da paz da Ucrânia”, bem como “o reforço das sanções contra a Rússia, a compensação dos danos, a justiça para o agressor, a utilização dos bens russos congelados e a recuperação económica”.

No X, o chefe do governo belga reafirmou a determinação da Bélgica no apoio à Ucrânia, vincando que o Presidente ucraniano “precisa das ferramentas certas para proteger os seus cidadãos”. “Precisamos de mais, melhor e mais rápido”, escreveu Alexander De Croo.

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À margem das visitas, há dados sobre a cimeira da paz, organizada pelo G7, na Suíça, de 13 a 15 de junho. Até à data, 70 Estados e organizações, entre as 160 delegações convidadas, confirmaram a sua presença. Metade dos participantes confirmados são europeus, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.

A Rússia, não convidada, convocou a reunião dos BRICS (líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sobre assuntos externos, nos dias que antecedem a cimeira. Entretanto, os governos da China e do Brasil, países que o Ocidente acusou de não criticarem a invasão russa, publicaram uma declaração a insistir na inclusão da Ucrânia e da Rússia numa conferência de paz. Seguindo a política de Pequim, não mencionam os territórios ocupados na Ucrânia. “A China e o Brasil apoiam a realização de uma conferência internacional de paz num momento oportuno, reconhecido tanto pela Rússia como pela Ucrânia, com a participação igualitária de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz”, diz a declaração.

A possível ausência de Joe Biden, que não confirmou a presença, o evento organizado pela Rússia e a declaração sino-brasileira ensombram a cimeira de paz. Entretanto, Zelenskyy fez novo apelo à participação de todos os países, mesmo que discordem, e disse estar à espera de resposta formal da China e do Brasil, salientando que “todas as vozes são importantes”.

Por seu turno, a Comissão Europeia frisou a relevância da cimeira de paz e disse estar a trabalhar, “muito intensamente”, para garantir a “representação mais ampla possível”. Veremos!

2024.05.28 – Louro de Carvalho

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