Celebrou-se, a 12 e 13 de maio, no Santuário de Fátima, a primeira
peregrinação aniversária internacional de 2024, sob a presidência do cardeal D. Juan José Omella, arcebispo de Barcelona, que, no encontro com os jornalistas, prévio à
abertura oficial das celebrações peregrinacionais, falou de conversão, de fraternidade
e de alegria, olhando para esta peregrinação como uma oportunidade para
“renovar a fé e recarregar as forças”.
Como revelou
o prelado barcelonense, foi na última sessão do Sínodo da Igreja, em outubro de
2023, em Roma, que o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, lhe lançou o
convite/desafio para assumir a presidência da peregrinação de maio a Fátima. Por
isso, é natural que o Sínodo da Igreja tenha sido uma das principais intenções
que o eminentíssimo purpurado trouxe à Cova da Iria.
“O Mundo de
hoje, com tantas divisões e guerras, precisa de uma palavra de esperança e essa
palavra vem de Deus, como aqui apontou Nossa Senhora. Venho, por isso,
pedir à Virgem de Fátima que faça a Igreja avançar com generosidade no caminho
sinodal, ajudando-nos a entendê-lo e a vivê-lo melhor e em comunhão”, revelou o
cardeal espanhol, ao perspetivar a peregrinação como “uma experiência profunda
de renovação da fé e um momento onde se recarrega forças para seguir o
caminho”.
O apelo à
comunhão orientou o diálogo do cardeal José Omella com os jornalistas.
A partir do convite à unidade para que o Sínodo nos convoca, o arcebispo
de Barcelona lançou um olhar sobre a evangelização a partir das dimensões da
conversão, da fraternidade e da alegria. “Aqui, a Virgem renovou a mensagem
evangélica da conversão […]. Ora, nós começamos a ser santos, quando a nossa
vida transparece bondade e coerência. […] E nós, o que somos chamados a dar a
um Mundo tão conflagrado e dividido? A esperança. Aqui, a Virgem também falou
de esperança e de fraternidade. […] Ora, se temos Deus e Nossa Senhora do nosso
lado, como podemos estar tristes? Se não há alegria, não há Evangelho”, porfiou,
desafiando os jornalistas para uma comunicação mais positiva, que faça “transparecer
as coisas boas do Mundo”.
O pastor da
arquidiocese de Barcelona, onde há “grandes divisões”, foi instado a revelar a
forma como aborda e gere estas diferenças, junto dos seus fiéis. “Eu posso ter
o meu pensamento político e social, mas tenho de caminhar, de escutar e de dar
alimento a todos. Posto isto, respeito sempre a opinião do povo. Essa deve ser
a postura da Igreja, caminhar com todos, sempre tendo como base o respeito
pelos direitos humanos e pela dignidade”, vincou, elogiando o exemplo de união
e de empreendedorismo dos Catalães em 1992, na preparação das Olimpíadas em
Barcelona.
“Deve ser
este o caminho de comunhão que devemos encetar perante a diversidade”,
concluiu.
No encontro com
os jornalistas interveio também o bispo de Leiria-Fátima, começando por
agradecer a presença do arcebispo e perspetivando-a como oportunidade de
“consolidação dos laços fraternos entre Portugal e Espanha”. E, como, neste 12
de maio, a Igreja assinalava o Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social, o
anfitrião saudou, em particular os profissionais dos meios de comunicação,
evocando a memória dos cerca de 100 jornalistas mortos, em 2023, e frisando
a importância do jornalismo “num Mundo onde a informação é silenciada,
perseguida e negada a povos inteiros, como forma de tentar abafar o grito dos
que sofrem a injustiça, a discriminação e a exploração, e a perseguição de
tantas pessoas”.
Ao
lembrar as latitudes onde a guerra é uma realidade, D. José Ornelas
apresentou Fátima como “imperativo de paz”. “A guerra, o ódio, os
atentados e o desejo de repressão e domínio sobre pessoas e povos, estão bem no
centro da Mensagem de Fátima, onde as aparições de Nossa Senhora tiveram lugar
durante a terrível primeira guerra mundial. Por isso, as dramáticas situações
de conflito armado que se encontram no Mundo, nunca podem estar longe das
celebrações e da oração neste Santuário”, assegurou o prelado do Lis, lembrando
também as vítimas dos desastres naturais e ambientais no Brasil, no Afeganistão
e em outros países, que mostram a importância da solidariedade nestes momentos
e a atenção às alterações climáticas.
A propósito
do caminho sinodal que o Catolicismo vive, o bispo de Leiria-Fátima revelou que
traz a esta peregrinação a prece de uma Igreja missionária, fraterna e “próxima
no acolhimento”.
“O nosso
peregrinar para Fátima não pode desligar-se do caminho sinodal que a Igreja está
a viver, em todo o Mundo, e que tem uma especial intenção sinodal e
missionária. Maria desafia-nos a seguirmos o seu exemplo de levantar-se para
ser Igreja peregrina entre todos os povos e culturas; a sermos uma Igreja em
comunhão ativa e participada, em ordem à missão”, vincou.
O reitor do
Santuário de Fátima também tomou a palavra, para dar a conhecer o aumento na
presença de peregrinos na Cova da Iria (de 26,5%), no período entre janeiro e
abril deste ano, em relação ao período homólogo de 2023. Com efeito, nos
primeiros quatro meses de 2024, mais de um milhão de peregrinos participou em
três mil celebrações no Santuário.
Com base na
presença de grupos estrangeiros na Cova da Iria, neste início de 2024, o padre
Carlos Cabecinhas deduziu que “a sazonalidade em Fátima se tem vindo a esbater
progressivamente” para uma realidade que regista “cada vez mais peregrinos em
grupos organizados, quer portugueses, quer estrangeiros, no período entre
novembro e abril, fora do período das grandes peregrinações internacionais”.
O reitor deu
a conhecer o número de peregrinos a pé registados nos serviços para esta
peregrinação e agradeceu a todos os que, “com generosidade e muito espírito de
serviço e de entrega, dão apoio aos peregrinos a pé, para que nada lhes falte
num caminho exigente e difícil”. “Estes peregrinos não dão apenas um grande
testemunho da fé que os anima, mas também de alegria e gratidão. Todos
testemunham que esta é uma experiência que os marca profundamente”, concluiu.
***
Na homilia da
celebração da Palavra da noite deste 12 de maio, o cardeal Juan José Omella
apontou para o olhar misericordioso de Nossa Senhora e exortou os peregrinos a
terem a Mãe de Deus como companheira e guia no “itinerário da vida”, com vista
à santidade e à paz. “Viemos como peregrinos, com uma mochila carregada de
pedidos, orações, dores. Não tenhamos medo de apresentar todas essas
orações à Virgem de Fátima”, começou por dizer.
Num Recinto
de Oração que se encheu de luz na noite da primeira grande peregrinação de
2024, o arcebispo de Barcelona desafiou a assembleia a deixar-se fixar pelos
olhos maternais e compassivos de Nossa Senhora, rezando, em seguida, uma oração
à Virgem Maria, do século XII, de São Bernardo de Claraval.
No final, instou
os peregrinos a disporem-se na mão de Maria e a rezar pela conversão dos
pecadores. “Colhidos por Ela e no seu exemplo, encontraremos a paz, a esperança
e, um dia, poderemos encontrar-nos no Céu e ser abraçados por esse seu amor
maternal”, concluiu.
Na oração
universal, a assembleia pediu pela paz no Mundo, numa prece que evocou,
particularmente, “as vítimas dos conflitos na Ucrânia e na Terra Santa”.
Estiveram com
o arcebispo de Barcelona o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, o
bispo-emérito de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto, o bispo de Setúbal,
cardeal D. Américo Aguiar, 22 bispos, quase 200 presbíteros e os cerca de 250
mil peregrinos que participaram nas celebrações, provindos de 34 países.
***
Milhares de peregrinos participaram, na manhã do dia 13, na missa que
encerrou a Peregrinação Internacional Aniversária, na qual o arcebispo de
Barcelona apelou à oração e ao sacrifício como caminhos para a paz, ao trazer à
memória as guerras que assolam o Mundo.
Admitindo-se
comovido pela multidão de peregrinos que, apesar do tempo instável, se fez
presente na Cova da Iria, José Omella optou por não seguir reflexão que
preparara, mas antes “falar do coração” à assembleia, embora tenha
disponibilizado ao Santuário o texto escrito.
A partir do
Evangelho proclamado e da mensagem que a Senhora deixou aos Pastorinhos, há 107
anos, o arcebispo exortou os peregrinos à oração. “Como cristãos, não podemos
perder essa grande virtude da oração, do diálogo de coração a coração com o
Senhor, pessoal e comunitariamente”, afirmou, ao apresentar o Rosário e o
Pai-Nosso como preces através das quais podemos “pedir pela conversão e por todo
o Mundo”.
O presidente
da celebração lembrou, depois, os conflitos no Mundo atual, para os quais pediu
a oração pela paz e o sacrifício. “Peçamos a paz na Ucrânia, na Rússia, na
Terra Santa, em África, na América e na Ásia. São muitos os países que querem a
paz, tal como nos pede o Papa, quando nos alerta para uma ‘guerra mundial aos
pedaços’”, concretizou.
Relembrando o
apelo que o Santo Padre faz à evangelização, no âmbito do Sínodo da Igreja, o
presidente da peregrinação desafiou ainda os peregrinos a serem missionários,
através da comunhão fraterna. “A missão é um trabalho de toda a Igreja. Para
evangelizar, o Senhor conta contigo e comigo, e só nos pede oração, santidade e
comunhão”, sintetizou, ao sublinhar a importância da unidade da Igreja em redor
a Cristo, ao Papa e aos irmãos, em favor da paz.
“Escutemos a
voz de Maria, que hoje nos disse, tal como aos Pastorinhos, que conta connosco.
Irmãos, ânimo! Vivamos com esperança! O Papa convocou-nos para o Jubileu da
Esperança. Sejamos testemunho da esperança, através do nosso amor e da nossa
entrega”, concluiu.
Na palavra ao
doente, no momento de Adoração ao Santíssimo Sacramento, a irmã Ângela Coelho,
da Aliança de Santa Maria, perspetivou a dor e o sofrimento como portadores do
amor e da esperança de Deus. “Viver a doença assim, em oferta e amor, é uma
forma de reparar esta humanidade tão desfigurada pelo pecado e pelo ódio. É uma
forma de colaborar para a paz no Mundo”, assegurou a vice-postuladora da Causa
da irmã Lúcia, ao lembrar a promessa da presença maternal que Nossa Senhora
garantiu à vidente de Fátima.
“Como nos
conforta a certeza de que Nossa Senhora nos acompanha neste caminho, tecendo,
com as suas mãos, a partir das nossas dores, o rosto de Jesus na nossa História,
até nos tornarmos memória viva de Jesus e da sua forma de ser”.
Na despedida,
o bispo de Leiria-Fátima deixou uma palavra aos “irmãos doentes”, aos quais
garantiu a presença de Deus, especialmente neste momento de fragilidade.
D. José
Ornelas lembrou as vítimas inocentes da “crueldade” dos conflitos no Mundo,
deixando um apelo assertivo à concórdia entre os povos. “Daqui, da Cova da
Iria, apelamos à paz! É inconcebível para o coração de Deus e para um coração
humano que isto esteja a acontecer no mundo”, disse, emocionado.
Lembrou
também as vítimas dos desastres naturais no Brasil, apelando à solidariedade de
todos. Aos peregrinos mais pequenos pediu oração e para olharem para Nossa
Senhora e para o exemplo de entrega dos santos Pastorinhos.
O prelado
evocou o apelo a “uma Igreja sem portas” que o Santo Padre deixou na
última presença em Fátima, reforçando a importância de “uma Igreja presente,
que cuide da fragilidade”.
Ao presidente
da celebração, D. José Ornelas agradeceu a presença “alegre e entusiasta” com
que transmitiu a mensagem de esperança e de comunhão, em direção
de uma Igreja sinodal.
Por fim, saudou
os peregrinos estrangeiros nas línguas italiana, inglesa e francesa, desejando
a todos um bom regresso a casa.
***
É Fátima como
sempre!
2024.05.14 – Louro de Carvalho
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