sábado, 18 de maio de 2024

O Espírito Santo é o protagonista da vida do cristão e da Igreja

 

O Papa Francisco disse, a 18 de maio, véspera da solenidade de Pentecostes, que o Espírito Santo é o protagonista da nossa vida, que nos dá coragem e harmonia.

Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, depois de almoçar na Penitenciária de Montorio, o Papa foi ao palácio episcopal de Verona, para visitar a mãe idosa do bispo, D. Domenico Pompili.

Francisco chegou por volta das 15h30 (horário local) ao estádio Marcantonio Bentegodi, onde fez um passeio de alguns minutos a bordo de um pequeno “papamóvel” e cumprimentou alguns dos fiéis, especialmente crianças e doentes que o aguardavam no local.

Na sua improvisada homilia, destacou que, agora, como na época de são Paulo, muitas comunidades cristãs não saberiam responder à pergunta “Quem é o Espírito Santo?”.

O Pontífice recordou que, uma vez, na missa para crianças, num dia como este, o dia de Pentecostes, havia cerca de 200 crianças, às quais perguntou: “Quem sabe o que é o Espírito Santo?” As crianças disseram: “Eu, eu, eu.” Todas queriam responder. E a criança que o Papa indicou respondeu: “É o paralítico!” Tinha ouvido ‘Paráclito’ e confundiu com ‘paralítico’.

Francisco fez ressaltar que “o Espírito Santo é o protagonista de nossa vida. Ele é quem nos leva adiante, quem nos ajuda a seguir em frente, quem nos faz desenvolver a vida cristã. O Espírito Santo está dentro de nós”. E, depois de recordar que “todos nós recebemos, com o Batismo, o Espírito Santo e até mesmo, com a Confirmação, mais”, relevou que “Espírito Santo nos dá a coragem de viver a vida cristã. E com essa coragem, muda a nossa vida”.

Deu como exemplo os apóstolos, no Pentecostes, que “estavam todos fechados no cenáculo, com medo! O Espírito Santo veio, mudou os seus corações, e eles saíram para pregar com coragem”.

O Papa disse que “o Espírito é O que nos salva do perigo de nos tornarmos todos iguais” e é Aquele que dá harmonia à Igreja. Este é o milagre de hoje: pegar em homens covardes com medo e torná-los corajosos; fazer homens e mulheres de todas as culturas e torná-los a unidade de todos.

Depois de vincar que o Espírito “não faz guerra”, encorajou a pedir à Virgem Maria que “nos dê a graça de receber o Espírito Santo. Que Ela, como mãe, nos ensine a receber o Espírito Santo”.

Nas suas palavras de agradecimento, o bispo de Verona recordou a Francisco que “um provérbio popular diz que ‘não há sábado sem sol, não há mulher sem amor’. De facto, hoje é um esplêndido dia de sol e foi também um esplêndido dia, porque encerra uma espera que gerou um encontro”.

“A mulher somos nós: é a Igreja de Verona, convocada em Pentecostes, para agradecer-lhe por ter estado aqui, hoje, e por nos dar a alegria do Evangelho”, disse o bispo.

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O Pentecostes é o dia em que os cristãos recordam quando Jesus, depois da sua Ascensão aos Céus, enviou o Espírito Santo aos discípulos. Posteriormente, os apóstolos saíram às ruas de Jerusalém e começaram a pregar o Evangelho e “os que receberam a sua palavra foram batizados. E, naquele dia, elevou-se a mais ou menos três mil o número dos adeptos”.

Eis alguns pontos para entendermos quem é o Espírito Santo.

O Espírito Santo é uma pessoa. Não é uma “coisa” ou um “que”. O Espírito Santo é um “Ele” e um “Quem”. É a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Embora possa parecer mais misterioso do que o Pai e o Filho, é tão pessoa como eles.

É inteiramente Deus. Que o Espírito Santo seja “terceira pessoa da Trindade” não significa que seja inferior ao Pai ou ao Filho. As três pessoas, incluindo o Espírito Santo, são totalmente Deus e “há uma mesma divindade, igual em glória e em coeterna majestade”, como professa o Credo de Santo Atanásio.

Sempre existiu, como fica evidente nos livros do Antigo Testamento (AT), que espelham esse tempo. Embora tenhamos aprendido a maioria das coisas sobre Deus-Espírito Santo (assim como sobre Deus-Filho) no Novo Testamento (NT), Ele sempre existiu. Deus existe eternamente em três pessoas. Assim, quando se ler acerca de Deus no AT, é de recordar que se trata das três pessoas da Trindade um só Deus, entre elas o Espírito Santo.

Nos sacramentos do Batismo e a da Confirmação (ou Crisma), recebe-se o Espírito Santo. Aliás, recebe-se em todos os sacramentos, mas, nestes, de forma especial

O Espírito Santo pode estar ativo, no Mundo, de formas misteriosas, e nem sempre se compreende. Entretanto, uma pessoa recebe o Espírito Santo, de maneira especial, pela primeira vez, no Batismo (At 2,38) e, depois, é fortalecida com a abundância dos seus dons pelo Crisma.

Os cristãos são templos do Espírito Santo. Na verdade, têm o Espírito Santo, que habita neles de uma maneira especial e, portanto, há graves consequências morais, como explica São Paulo: “Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”.

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Há uma série de chaves para compreendermos o Pentecostes, cuja solenidade evoca e celebra o dia em que se cumpriu a promessa de Cristo aos apóstolos de que o Pai lhes enviaria o Espírito Santo para os guiar na missão evangelizadora, neste tempo da Igreja peregrina.

Desde logo, é de evidenciar o significado do nome ‘Pentecostes’. Provém do termo (adjetivo) grego que significa “quinquagésimo” (‘pentecostós’, no masculino, e ‘pentecostê’, no feminino). De facto ‘Pentecostes’ é o quinquagésimo dia (em Grego, ‘pentecostê hêméra’), depois do domingo da Páscoa (no calendário cristão).

Este nome começou a ser usado no período final do AT e foi herdado pelos autores do NT.

Esta festividade tinha outras designações: ‘a festa das semanas’; ‘a festa da colheita’; ‘o dia dos primeiros frutos’ (primícias). Hoje, nos círculos judeus, é conhecida como Shavu’ot (em Hebraico, “semanas”). Além disso, é conhecida com diferentes nomes em vários idiomas. Nos países anglófonos também é conhecida como “Whitsunday” (Domingo Branco), que deriva das vestes brancas dos recém-batizados (neófitos). No AT, este tipo de festa era um festival para a colheita e significava que esta estava a chegar ao fim. “Contarás sete semanas, a partir do momento em que meteres a foice na tua seara. Celebrarás, então, a festa das Semanas em honra do Senhor, teu Deus, apresentando a oferta espontânea da tua mão, e medi-la-ás, segundo as bênçãos com que o Senhor, teu Deus, te cumulou” (Dt 16,9-10).

No Novo Testamento, representa o cumprimento da promessa de Cristo, ao final do Evangelho de Lucas: “Assim é que está escrito e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos, ao terceiro dia. E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso. Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,46-49).

O Espírito Santo, nos eventos no dia de Pentecostes, é sinalizado como refere o Livro dos Atos dos Apóstolos, no capítulo 2: “Chegado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.”

Esta passagem contém dois símbolos do Espírito Santo e da sua ação: o vento e o fogo.

O vento é um símbolo básico do Espírito Santo; a palavra grega que significa “Espírito” (Pneûma, vento) também significa “vento” e “sopro”. Embora o termo usado para “vento”, nesta passagem, seja ‘pnoê’ (sopro, termo relacionado com ‘pneûma’), ao leitor é dado a entender a conexão entre o vento forte e o Espírito Santo.

Em relação ao símbolo do fogo, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) assinala: “Enquanto a água significava o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo. O profeta Elias, que ‘apareceu como um fogo e cuja palavra queimava como um facho ardente’ (Sir 48,1), pela sua oração faz descer o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo, figura do fogo do Espírito Santo, que transforma aquilo em que toca. João Batista, que ‘irá à frente do Senhor com o espírito e a força de Elias’ (Lc 1,17), anuncia Cristo como Aquele que ‘há de batizar no Espírito Santo e no fogo’ (Lc 3,16), aquele Espírito do qual Jesus dirá: ‘Eu vim lançar fogo sobre a terra e só quero que ele se tenha ateado!’ (Lc 12,49). É sob a forma de línguas, ‘uma espécie de línguas de fogo’, que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã do Pentecostes e os enche de Si. A tradição espiritual reterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito Santo. «Não apagueis o Espírito!» (1Ts 5,19)” (CIC 696).

Há uma ligação entre as “línguas” de fogo e o facto de os discípulos falarem em outras “línguas” nesta passagem. Em ambos os casos, a palavra grega para “línguas” é a mesma (‘glóssai’) e o leitor é destinado a entender a ligação. A palavra “língua” é utilizada para significar tanto uma “chama (de fogo)” como o “idioma”. As “línguas como de fogo” que se distribuem e pousam sobre os discípulos fazem com que comecem a falar milagrosamente em “outras línguas” (ou seja, os idiomas). Esse é o resultado da ação do Espírito Santo, representado pelo fogo.

O Espírito Santo, de acordo com o CIC, é a “Terceira Pessoa da Santíssima Trindade”. Ou seja, havendo um só Deus, existem Nele três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Esta verdade foi revelada por Jesus no seu Evangelho. O Espírito Santo coopera com o Pai e com o Filho, desde o começo da História até à sua consumação, mas é nos últimos tempos, inaugurados com a Encarnação, que o Espírito Se revela e nos é dado, quando é reconhecido e acolhido como pessoa. O Senhor Jesus apresenta-no-Lo a nós e refere-se-Lhe não como uma potência impessoal, mas como uma Pessoa diferente, com um agir próprio e um caráter pessoal.

Assim, para nós, a solenidade do Pentecostes é uma das mais importantes no calendário da Igreja e contém uma rica profundidade de significado. Desta forma, Bento XVI a resumiu, em 27 de maio de 2012: “Esta solenidade faz-nos recordar e reviver a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos e sobre os outros discípulos, reunidos em oração com a Virgem Maria, no Cenáculo (cf At 2, 1-11). Jesus, tendo ressuscitado e subido ao céu, envia à Igreja o seu Espírito, para que cada cristão possa participar na sua mesma vida divina e tornar-se sua testemunha válida no Mundo. O Espírito Santo, irrompendo na História, derrota a sua aridez, abre os corações à esperança, estimula e favorece em nós a maturação na relação com Deus e com o próximo”.

O Espírito Santo, simbolizado na pomba ou na água, no sopro e nas línguas de fogo, é o agente do discernimento, da verdade, da coragem, guia o crente e conduz a Igreja. É o verdadeiro protagonista da História da Salvação, sonhada pelo Pai, merecida pelo Filho e realizada pelo Espírito Santo, que pairava sobre as águas, manifestava-se na brisa fecunda e opera, agora, no Mundo em que vivemos, mas de que não somos.

2024.05.18 – Louro de Carvalho

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