O Papa
Francisco disse, a 18 de maio, véspera da solenidade de Pentecostes, que o Espírito
Santo é o protagonista da nossa vida, que nos dá coragem e harmonia.
Segundo a
Sala de Imprensa da Santa Sé, depois de almoçar na Penitenciária de Montorio, o
Papa foi ao palácio episcopal de Verona, para visitar a mãe idosa do bispo, D.
Domenico Pompili.
Francisco
chegou por volta das 15h30 (horário local) ao estádio Marcantonio Bentegodi,
onde fez um passeio de alguns minutos a bordo de um pequeno “papamóvel” e cumprimentou
alguns dos fiéis, especialmente crianças e doentes que o aguardavam no local.
Na sua improvisada homilia, destacou
que, agora, como na época de são Paulo, muitas comunidades cristãs não saberiam
responder à pergunta “Quem é o Espírito Santo?”.
O Pontífice
recordou que, uma vez, na missa para crianças, num dia como este, o dia de
Pentecostes, havia cerca de 200 crianças, às quais perguntou: “Quem sabe o que
é o Espírito Santo?” As crianças disseram: “Eu, eu, eu.” Todas queriam
responder. E a criança que o Papa indicou respondeu: “É o paralítico!” Tinha
ouvido ‘Paráclito’ e confundiu com ‘paralítico’.
Francisco fez
ressaltar que “o Espírito Santo é o protagonista de nossa vida. Ele é quem nos
leva adiante, quem nos ajuda a seguir em frente, quem nos faz desenvolver a
vida cristã. O Espírito Santo está dentro de nós”. E, depois de recordar que
“todos nós recebemos, com o Batismo, o Espírito Santo e até mesmo, com a
Confirmação, mais”, relevou que “Espírito Santo nos dá a coragem de viver a
vida cristã. E com essa coragem, muda a nossa vida”.
Deu como
exemplo os apóstolos, no Pentecostes, que “estavam todos fechados no cenáculo,
com medo! O Espírito Santo veio, mudou os seus corações, e eles saíram para
pregar com coragem”.
O Papa disse que
“o Espírito é O que nos salva do perigo de nos tornarmos todos iguais” e é Aquele
que dá harmonia à Igreja. Este é o milagre de hoje: pegar em homens covardes
com medo e torná-los corajosos; fazer homens e mulheres de todas as culturas e
torná-los a unidade de todos.
Depois de
vincar que o Espírito “não faz guerra”, encorajou a pedir à Virgem Maria que
“nos dê a graça de receber o Espírito Santo. Que Ela, como mãe, nos ensine a
receber o Espírito Santo”.
Nas suas palavras de agradecimento, o bispo de Verona recordou a Francisco que
“um provérbio popular diz que ‘não há sábado sem sol, não há mulher sem amor’.
De facto, hoje é um esplêndido dia de sol e foi também um esplêndido dia,
porque encerra uma espera que gerou um encontro”.
“A mulher
somos nós: é a Igreja de Verona, convocada em Pentecostes, para agradecer-lhe
por ter estado aqui, hoje, e por nos dar a alegria do Evangelho”, disse o
bispo.
***
O
Pentecostes é o dia em que os cristãos recordam quando Jesus, depois da sua
Ascensão aos Céus, enviou o Espírito Santo aos discípulos. Posteriormente, os
apóstolos saíram às ruas de Jerusalém e começaram a pregar o Evangelho e “os
que receberam a sua palavra foram batizados. E, naquele dia, elevou-se a mais
ou menos três mil o número dos adeptos”.
Eis alguns
pontos para entendermos quem é o Espírito Santo.
O Espírito Santo é uma pessoa. Não é uma
“coisa” ou um “que”. O Espírito Santo é um “Ele” e um “Quem”. É a terceira
pessoa da Santíssima Trindade. Embora possa parecer mais misterioso do que o Pai
e o Filho, é tão pessoa como eles.
É inteiramente Deus. Que o
Espírito Santo seja “terceira pessoa da Trindade” não significa que seja
inferior ao Pai ou ao Filho. As três pessoas, incluindo o Espírito Santo, são
totalmente Deus e “há uma mesma divindade, igual em glória e em coeterna
majestade”, como professa o Credo de Santo
Atanásio.
Sempre existiu, como fica evidente nos livros do Antigo Testamento (AT),
que espelham esse tempo. Embora
tenhamos aprendido a maioria das coisas sobre Deus-Espírito Santo (assim como
sobre Deus-Filho) no Novo Testamento (NT), Ele sempre existiu. Deus existe
eternamente em três pessoas. Assim, quando se ler acerca de Deus no AT, é de
recordar que se trata das três pessoas da Trindade um só Deus, entre elas o
Espírito Santo.
Nos sacramentos do Batismo e a da Confirmação (ou Crisma), recebe-se o
Espírito Santo. Aliás, recebe-se em todos os sacramentos, mas, nestes, de forma
especial
O Espírito
Santo pode estar ativo, no Mundo, de formas misteriosas, e nem sempre se
compreende. Entretanto, uma pessoa recebe o Espírito Santo, de maneira especial,
pela primeira vez, no Batismo (At 2,38) e, depois, é fortalecida com a
abundância dos seus dons pelo Crisma.
Os cristãos são templos do Espírito Santo. Na verdade, têm o Espírito Santo, que habita neles de uma maneira
especial e, portanto, há graves consequências morais, como explica São Paulo:
“Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo,
mas o impuro peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é
templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que,
por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço.
Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”.
***
Há uma série de chaves para compreendermos o Pentecostes,
cuja solenidade evoca e celebra o dia
em que se cumpriu a promessa de Cristo aos apóstolos de que o Pai lhes enviaria
o Espírito Santo para os guiar na missão evangelizadora, neste tempo da Igreja
peregrina.
Desde logo, é de evidenciar o
significado do nome ‘Pentecostes’. Provém do termo (adjetivo) grego que
significa “quinquagésimo” (‘pentecostós’, no masculino, e ‘pentecostê’, no
feminino). De facto ‘Pentecostes’ é o quinquagésimo dia (em Grego, ‘pentecostê
hêméra’), depois do domingo da Páscoa (no calendário cristão).
Este nome
começou a ser usado no período final do AT e foi herdado pelos autores do NT.
Esta festividade tinha outras designações: ‘a festa das semanas’; ‘a festa da
colheita’; ‘o dia dos primeiros frutos’ (primícias). Hoje, nos círculos judeus, é conhecida como Shavu’ot (em Hebraico,
“semanas”). Além disso, é conhecida com diferentes nomes em vários idiomas. Nos países anglófonos também é
conhecida como “Whitsunday” (Domingo Branco), que deriva das vestes brancas dos
recém-batizados (neófitos). No AT, este tipo de festa era um festival para a colheita e
significava que esta estava a chegar ao fim. “Contarás sete semanas, a partir do momento em que meteres a foice
na tua seara. Celebrarás, então, a festa das Semanas em honra do Senhor, teu
Deus, apresentando a oferta espontânea da tua mão, e medi-la-ás, segundo as
bênçãos com que o Senhor, teu Deus, te cumulou” (Dt 16,9-10).
No Novo Testamento, representa o cumprimento da promessa de Cristo, ao final do Evangelho de
Lucas: “Assim é que está escrito e assim era necessário que Cristo padecesse,
mas que ressurgisse dos mortos, ao terceiro dia. E que em seu nome se pregasse
a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por
Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso. Eu vos mandarei o Prometido de
meu Pai. Entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força
do alto” (Lc 24,46-49).
O Espírito Santo, nos eventos no
dia de Pentecostes, é sinalizado como refere o Livro dos Atos dos Apóstolos, no capítulo 2: “Chegado o
dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do
céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde
estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se
repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem.”
Esta passagem
contém dois símbolos do Espírito Santo e da sua ação: o vento e o fogo.
O vento é um símbolo básico do Espírito Santo; a palavra grega
que significa “Espírito” (Pneûma, vento) também significa “vento” e “sopro”.
Embora o termo usado para “vento”, nesta passagem, seja ‘pnoê’ (sopro, termo
relacionado com ‘pneûma’), ao leitor é dado a entender a conexão entre o vento
forte e o Espírito Santo.
Em relação ao símbolo do fogo, o Catecismo da Igreja Católica
(CIC) assinala: “Enquanto a água significava o nascimento e a fecundidade da
vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos
do Espírito Santo. O profeta Elias, que ‘apareceu como um fogo e cuja palavra
queimava como um facho ardente’ (Sir
48,1), pela sua oração faz descer o fogo do céu sobre o sacrifício do monte
Carmelo, figura do fogo do Espírito Santo, que transforma aquilo em que toca.
João Batista, que ‘irá à frente do Senhor com o espírito e a força de Elias’ (Lc 1,17), anuncia Cristo como Aquele que
‘há de batizar no Espírito Santo e no fogo’ (Lc 3,16), aquele Espírito do qual Jesus dirá: ‘Eu vim lançar fogo
sobre a terra e só quero que ele se tenha ateado!’ (Lc 12,49). É sob a forma de línguas, ‘uma espécie de línguas de
fogo’, que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã do Pentecostes
e os enche de Si. A tradição espiritual reterá este simbolismo do fogo como um
dos mais expressivos da ação do Espírito Santo. «Não apagueis o Espírito!» (1Ts 5,19)” (CIC 696).
Há uma ligação entre as “línguas”
de fogo e o facto de os discípulos falarem em outras “línguas” nesta passagem. Em ambos os
casos, a palavra grega para “línguas” é a mesma (‘glóssai’) e o leitor é
destinado a entender a ligação. A
palavra “língua” é utilizada para significar tanto uma “chama (de fogo)” como o
“idioma”. As “línguas como de fogo” que se distribuem e pousam sobre os
discípulos fazem com que comecem a falar milagrosamente em “outras línguas” (ou
seja, os idiomas). Esse é o resultado da ação do Espírito Santo, representado
pelo fogo.
O Espírito Santo, de acordo com o CIC, é a “Terceira Pessoa da Santíssima Trindade”. Ou seja,
havendo um só Deus, existem Nele três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito
Santo. Esta verdade foi revelada por Jesus no seu Evangelho. O Espírito Santo
coopera com o Pai e com o Filho, desde o começo da História até à sua consumação, mas é nos últimos
tempos, inaugurados com a Encarnação, que o Espírito Se revela e nos é dado, quando é
reconhecido e acolhido como pessoa. O Senhor Jesus apresenta-no-Lo a nós e refere-se-Lhe não como uma potência impessoal, mas como uma Pessoa
diferente, com um agir próprio e um caráter pessoal.
Assim, para nós, a solenidade
do Pentecostes é uma das mais importantes no calendário da Igreja e contém uma
rica profundidade de significado. Desta forma, Bento XVI a resumiu, em 27 de
maio de 2012: “Esta solenidade faz-nos recordar e reviver a efusão do Espírito
Santo sobre os Apóstolos e sobre os outros discípulos, reunidos em oração com a
Virgem Maria, no Cenáculo (cf At 2,
1-11). Jesus, tendo ressuscitado e subido ao céu, envia à Igreja o seu
Espírito, para que cada cristão possa participar na sua mesma vida divina e
tornar-se sua testemunha válida no Mundo. O Espírito Santo, irrompendo na História,
derrota a sua aridez, abre os corações à esperança, estimula e favorece em nós
a maturação na relação com Deus e com o próximo”.
O Espírito
Santo, simbolizado na pomba ou na água, no sopro e nas línguas de fogo, é o
agente do discernimento, da verdade, da coragem, guia o crente e conduz a
Igreja. É o verdadeiro protagonista da História da Salvação, sonhada pelo Pai,
merecida pelo Filho e realizada pelo Espírito Santo, que pairava sobre as águas,
manifestava-se na brisa fecunda e opera, agora, no Mundo em que vivemos, mas de
que não somos.
2024.05.18 – Louro de Carvalho
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