O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, decidiu – sem surpresa, sem autorização do Congresso norte-americano e, oficialmente, sem avisar os seus aliados – atacar três centrais nucleares iranianas (Fordow, Isfahan e em Natanz), utilizando bombardeiros B-2 (aeronaves das mais letais e sofisticadas do Mundo), que lançaram bombas antibúnker GBU-57, de 13600 quilos, desenhadas para penetrar estruturas enterradas a grande profundidade, como é o caso das instalações de Fordow, escavadas numa encosta montanhosa do Irão. Foi uma intervenção-relâmpago no conflito Israel-Irão, que tornou, alegadamente, inativa a produção nuclear no país.
Entretanto, a situação no Médio Oriente intensificou-se, a 23 de junho, com o arranque da operação iraniana “Anúncio da Vitória” contra bases militares norte-americanas no Qatar, mas acabou com o anúncio de um cessar-fogo, por parte de Donald Trump.
A base de Al Udeid, a maior dos EUA no Médio Oriente, foi o primeiro lugar escolhido por Teerão, que não está livre de resposta direta do Qatar, segundo o direito internacional. E o Irão fala num ataque a bases norte-americanas no Iraque, o que Washington não confirma.
O presidente dos EUA deu nota de que a casa Branca já sabia do ataque a Al Udeid e, por isso, o combateu “com muita eficácia”. Segundo Donald Trump, a resposta iraniana ficou aquém das expectativas, pelo que ironizou: “Quero agradecer ao Irão, por nos ter avisado com antecedência, o que tornou possível que nenhuma vida se perdesse e que ninguém ficasse ferido.”
Passados umas horas, Donald Trump anunciou que as tréguas teriam início muito em breve.
Perante estes desenvolvimentos, o espaço aéreo do Qatar, do Bahrein e do Kuwait esteve temporariamente fechado. Contudo, apesar das tréguas, há relatos de explosões potentes no centro de Teerão, que se seguiram a aviso israelita de bombardeamentos iminentes, enquanto o Irão alertou para evacuação de Ramat Gan, nos arredores de Telavive, ameaçando atacar.
Em Portugal, continua a discussão sobre a cedência das Lajes para aviões norte-americanos, com o Irão a garantir de que pedirá esclarecimentos ao governo, sobre a neutralidade do país. Todavia, o primeiro-ministro, Luís Montenegro diz não ter nada mais a acrescentar, apontando como explicação o acordo entre Portugal e os EUA sobre a utilização da Base das Lajes: “Foi isso que aconteceu e, seguramente, vai continuar a acontecer”, declarou.
Também o Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, referindo adotar uma “política externa” alinhada com a do Executivo, garantiu que Portugal não teve conhecimento prévio do ataque dos EUA ao Irão.
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A evolução dos acontecimentos é a que se relata, em termos gerais, embora
quase em ziguezague.Na manhã do dia 23, o Irão voltou a ameaçar os EUA com uma ação militar, em resposta ao ataque norte-americano sem precedentes, contra as instalações nucleares iranianas. O porta-voz das Forças Armadas iranianas, Ebrahim Zolfaghari, disse que o ato hostil dos EUA alargará o âmbito dos alvos legítimos do Irão, levando ao prolongamento da guerra no Médio Oriente. “Os combatentes do Islão vão infligir consequências pesadas e imprevisíveis, através de operações poderosas e orientadas”, garantiu, em mensagem difundida pela televisão estatal iraniana.
Também o exército israelita adiantou que foram identificados mísseis lançados a partir do Irão, em direção a Israel, mas que os sistemas defensivos estão a funcionar, para intercetar a ameaça, e que a população tem instruções para ir para os abrigos.
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Em Portugal, os partidos Livre, Bloco de
Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP) querem mais esclarecimentos
do governo, relativamente à autorização (“inaceitável”, segundo eles) dada aos EUA
para a utilização da Base das Lajes, nos Açores, considerando insuficiente a
revelação do Ministério da Defesa, no dia 22, de que a administração
norte-americana pedira autorização prévia (a 18 de junho) para o estacionamento
ou trânsito de 12 aviões militares, tendo Portugal acedido ao pedido, o que se
enquadra no âmbito do Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os EUA.Entretanto, o governo garantiu que não vende armas as Israel, pelo que não se aplica a Portugal a exigência de cessar a venda de armas ao agressor principal no Médio Oriente. Porém, não é verdade o que o PR diz, ao garantir que Portugal não sabia, previamente, da operação norte-americana. Sabia-se da intenção de Donald Trump. E o estacionamento de 12 aviões, ainda que de reabastecimento, não era inócuo.
Talvez por isso, o Irão pedirá esclarecimentos ao governo sobre a cedência das Lajes para aviões norte-americanos de reabastecimento, como referiu o embaixador Majid Tafreshi, em entrevista à Rádio Renascença (RR), alegando que o bombardeamento atingiu, ilegalmente, “instalações nucleares pacíficas” e vai questionar o governo sobre a neutralidade do país. “O vosso governo deveria esclarecer esta situação e, com certeza, nós questioná-lo-emos”, disse.
Assim, cresce o temor de que Portugal seja um alvo do Irão, possibilidade que, na TSF, o presidente do Observatório de Segurança e Defesa da Sedes, major general João Vieira Borges, afastou.
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Na véspera da cimeira da Organização do Tratado do atlântico Norte (NATO), o secretário-geral, Mark Rutte, adiantou que o debate sobre o Irão estará, “inevitavelmente”, na agenda da Cimeira da NATO, que decorre, a 24 e 25 de junho, em Haia, nos Países Baixos, mas adiantou: “Não creio que o que os EUA fizeram vá contra o direito internacional.” Estranho, não?!
A Casa Branca indicou que o presidente norte-americano está “ainda interessado” numa solução diplomática com o Irão, depois de Donald Trump ter referido, no dia 22, uma “mudança de regime” em Teerão. “Se o regime iraniano se recusa a envolver-se numa solução diplomática e pacífica, na qual o presidente [dos EUA] continua interessado, por que razão não retira o povo iraniano o poder a este regime incrivelmente violento que o reprime há décadas”, questionou Karoline Leavitt, porta-voz do governo norte-americano, no canal televisivo Fox News.
Karoline Leavitt declarou, depois, à comunicação social que foram enviadas mensagens “públicas e privadas” aos Iranianos, desde os bombardeamentos norte-americanos, no dia 21, de três instalações nucleares iranianas. E, garantindo que tais instalações foram “completa e totalmente destruídas”, sublinhou: “É uma operação com que tantos presidentes sonharam, mas nenhum teve coragem de a fazer, e o presidente Trump fê-la.”
O Qatar suspendeu, temporariamente, o tráfego aéreo, em todo o país, devido aos acontecimentos no Médio Oriente. O anúncio foi feito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, nas redes sociais, a fim de garantir a segurança dos cidadãos, residentes e visitantes, referindo que as autoridades acompanhavam a situação “em coordenação com os parceiros regionais e internacionais”.
A Grã-Bretanha e o Canadá citaram o alerta de segurança dos EUA, nas suas próprias recomendações aos cidadãos. Com efeito, as forças armadas iranianas ameaçaram infligir “consequências graves e imprevisíveis” aos EUA, depois de este país se ter juntado à campanha do seu aliado Israel contra a República Islâmica, realizando ataques pesados contra três instalações nucleares.
Os jornalistas da Al Jazeera, no Qatar, relatam fortes explosões em Doha. Foram avistados foguetes no céu, sendo que ainda não se sabia se seriam mísseis. Ante as explosões ouvidas, a Casa Branca e o Departamento de Defesa adiantaram que “estão a monitorizar, de perto, as potenciais ameaças à base aérea de Al Udeid”, que fica a cerca de 50 quilómetros de Doha e que é o quartel-general avançado do Comando Central dos EUA que dirige as operações militares norte-americanas e a maior base americana no Médio Oriente, com capacidade para 10 mil soldados.
Segundo a agência noticiosa iraniana Tasnim, a operação militar contra as bases dos EUA chama-se “Anúncio da Vitória” e o seu objetivo era atacar alvos militares no Qatar e no Iraque. Entretanto, o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão emitiu uma nota em que admite que os ataques às bases militares, no Médio Oriente, foram uma “resposta à ação agressiva e descarada” dos EUA contra as instalações nucleares do Irão. O número de mísseis usados foi o mesmo do que o número de bombas usadas pelos Estados Unidos. Face aos desenvolvimentos, o espaço aéreo dos Emirados Árabes Unidos (EAU) foi encerrado.
O Irão diz que lançou dez mísseis contra a maior base militar de Al Udeid, localizada a Sudoeste de Doha, com capacidade para dez mil militares. E reivindicou o lançamento de um míssil contra uma base americana no Iraque, mas os EUA não confirmam.
O Conselho de Segurança do Irão esclareceu que o ataque não foi contra o estado amigo do Qatar, com o qual o Irão quer manter forte relacionamento. Ainda assim, o Qatar condenou o ataque e frisou que tem o direito de responder ao ataque, de acordo com o direito internacional.
O Bahrain e o Kuwait anunciaram o encerramento temporário dos espaços aéreos, após ataques de mísseis iranianos a uma base norte-americana no vizinho Qatar, que também já tinha tomado a mesma medida. Por conseguinte, as empresas de aviação ordenaram o cancelamento de voos na região. Assim, a partir do Cairo, a empresa de aviação EgyptAir comunicou que estava a cancelar todos os voos com países do Golfo, “até que a situação estabilizasse”. E a agência federal de transporte aéreo da Rússia, Rosaviatsia, proibiu as companhias aéreas nacionais de voarem para Israel, para a Jordânia, para o Iraque, para o Irão e para o Qatar, até 26 de junho.
Israel diz ter concluído a “mais extensa” onda de ataques ao Irão, desde o início da guerra, a 13 de junho. “Como parte da onda de ataques, 50 caças da Força Aérea lançaram mais de 100 projéteis e atacaram alvos militares do regime iraniano”, declarou o principal porta-voz das Forças Armadas, Effie Defrin, numa conferência de imprensa.
Da ofensiva israelita, o militar destacou os bombardeamentos que as Forças Armadas comunicaram ao longo do dia: à sede do Basij, grupo paramilitar dependente da Guarda Revolucionária, cujo quartel-general também foi um alvo; à prisão de Evin, que acolhe presos políticos; e às vias de acesso à central nuclear de Fordow.
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Entretanto, o espaço aéreo Qatar, do Bahrein e do Kuwait foram reabertos. E
Donald Trump agradeceu ao Irão, por ter avisado do ataque “muito fraco”. “O
Irão respondeu, oficialmente, à nossa destruição das suas instalações nucleares
com uma resposta muito fraca, o que esperávamos e que combatemos com muita
eficácia”, afirmou, na rede social Truth.
Segundo o presidente dos EUA, foram disparados contra a base norte-americana de Al Udeid, no Qatar, 14 mísseis, dos quais 13 foram abatidos e um seguiu em “direção não ameaçadora”.
“Tenho o prazer de informar que NENHUM americano foi ferido e quase nenhum dano foi causado. Mais importante ainda, [os Iranianos] tiraram tudo do seu ‘sistema’ e, espero, não haverá mais ÓDIO”, adiantou Donald Trump, vincando: “Quero agradecer ao Irão, por nos ter avisado com antecedência, o que tornou possível que nenhuma vida se perdesse e que ninguém ficasse ferido. Talvez o Irão possa, agora, prosseguir para a paz e a harmonia na região, e eu encorajarei Israel, com entusiasmo, a fazer o mesmo.”
Noutra publicação, Donald Trump afirmou. “Parabéns Mundo, é hora da paz!”
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Por fim, às 23h34, o líder norte-americano anunciou o cessar-fogo “completo
e total” da “guerra dos 12 dias” entre Israel e Irão. Numa mensagem na rede
social Truth Social, Donld Trump escreveu
que essas tréguas teriam início nas horas subsequentes. “Parabéns a todos! Foi plenamente acordado entre Israel
e o Irão que haverá um cessar-fogo completo e total (daqui a aproximadamente
seis horas, quando Israel e o Irão tiverem acalmado e concluído as suas missões
finais em curso!), durante 12 horas, altura em que a guerra será considerada terminada!”Trump adiantou, ainda que, primeiro, o Irão iniciará o cessar-fogo e, à 12.ª hora, será a vez de Israel começar. Após 24 horas, “o fim oficial da guerra de 12 dias será saudado pelo Mundo”.
A publicação de Donald Trump foi feita numa altura em que as agências noticiosas iranianas Fars e Mehr relatavam explosões potentes no centro de Teerão, que se seguiram a um aviso israelita de bombardeamentos iminentes, e enquanto o Irão lançou um alerta para evacuação de Ramat Gan, nos arredores de Telavive, ameaçando atacar. Ou seja, nem Israel, nem o Irão confirmaram, até então, o cessar-fogo.
Era caso para dizer que o sucesso de Trump na paz é problemático. Enquanto muitos sofrem a paz do cemitério, este líder vê a paz entre aviões, mísseis e bombas!
Porém, na tarde de 24 de junho, o Irão confirmou o cessar-fogo, mas Israel, depois de classificar a ação no Irão como “uma conquista fenomenal”, assegurou que o foco volta a ser Gaza, para trazer os reféns para casa e para desmantelar o governo do Hamas.
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Resta acrescentar que o presidente do Conselho Europeu, António Costa, vincando
que o Irão não pode ter armas nucleares e que os Iranianos
devem respeitar a lei internacional, bem como os tratados de não proliferação
de armas nucleares, defendeu que, para se chegar à paz
duradoura, no Médio Oriente, há que promover a solução de dois Estados entre
Israel e a Palestina. Contudo, é de questionar por que o “Irão não pode ter
armas nucleares”, mas Israel pode, tratando-se de dois Estados igualmente
soberanos. Será que as armas nucleares de Israel estarão em boas mãos? Pelo
comportamento de Israel, de eliminação do inimigo, duvido.
2025.06.24 – Louro de Carvalho
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