Ativistas a
bordo do navio Madleen, o veleiro que seguia para Gaza, para fornecer bens
humanitários, disseram ter sido intercetados
por soldados israelitas, na noite de 8 de junho.
A embarcação, com 12 ativistas franceses, alemães, brasileiros, turcos, suecos, espanhóis e holandeses a bordo, deixou a Sicília, na Itália, a 1 de junho, com a missão de fornecer bens humanitários e de levantar o bloqueio naval israelita a Gaza, chamando a atenção para a escalada da situação humanitária desastrosa, dois meses após o início do conflito entre Israel e o Hamas, e altamente agravada e caótica, após mais de um ano e meio de guerra.
Além da sueca Greta Thunberg, o navio transportava a eurodeputada franco-palestiniana de esquerda, Rima Hassan, que foi impedida de entrar em Israel, devido à sua oposição às políticas israelitas, em relação aos Palestinianos, e Liam Cunningham, estrela da série “Game of Thrones”.
Depois de uma escala no Egito, o Madleen aproximou-se de Gaza, apesar dos avisos de Israel de que tinha dado ordens ao seu exército para o impedir de se aproximar do território palestiniano.
No Telegram, a organização Freedom Flotilla Coalition (FFC), responsável pela iniciativa, anunciou que “se perdeu a ligação” com o Madleen e, mais tarde, partilhou uma fotografia de pessoas sentadas com as mãos no ar, com coletes salva-vidas, referindo que o exército israelita entrara a bordo do navio e que raptara a tripulação.
As últimas atualizações do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel sobre a embarcação de ajuda humanitária referem que o iate estava “a chegar em segurança à costa de Israel” e que se esperava que os ocupantes “regressassem aos seus países de origem”.
Pouco depois, o mesmo Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita divulgou um vídeo, no X, que mostrava a sua Marinha a dar ordens ao navio de ajuda humanitária, que se dirigia para Gaza, para se desviar, e publicou outra filmagem que mostrava os passageiros daquilo a que chamou “Iate Selfie” seguros e ilesos.
A preocupação com a segurança da tripulação da embarcação Madleen, operado pela FFC, aumentou, durante a noite, depois de os alarmes terem soado no barco que transportava os ativistas a caminho de Gaza. E a FFC afirmou que a situação causou pânico e levou muitos deles a abrigarem-se e a vestirem coletes salva-vidas, preparando-se para a interceção. “O alarme soou no Madleen: coletes salva-vidas colocados, preparando-nos para uma interceção”, escreveu a organização, numa publicação nas redes sociais.
Francesca Albanese, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os territórios ocupados, que afirmou estar em contacto com a sala de comunicações da organização, em Catânia, na Sicília, observou que cerca de cinco embarcações se encontravam a circundar o barco de ajuda, com dois drones a pairar sobre ele.
Logo que o veleiro pareceu, a 8 de junho, estar prestes a atingir a costa, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, afirmou que Israel não permitiria que ninguém violasse o bloqueio naval ao território palestiniano, que, segundo ele, tem por objetivo impedir o Hamas de importar armas. “Instruí as Forças de Defesa de Israel (FDI) a agirem, para impedir que a flotilha de ódio Madelein chegue à costa de Gaza, e a tomarem todas as medidas necessárias para esse fim. À antissemita Greta e aos seus colegas propagandistas do Hamas, digo-vos isto, claramente: devíeis voltar para trás, porque não ides conseguir chegar a Gaza”, afirmou Israel Katz, em comunicado, vincando: “O Estado de Israel não permitirá que ninguém viole o bloqueio marítimo de Gaza, cujo principal objetivo é impedir a transferência de armas para o Hamas, uma organização terrorista assassina que mantém os nossos reféns e comete crimes de guerra.”
Entretanto,
pelo menos, 18 pessoas morreram e mais
de 100 ficaram feridas em dois incidentes separados, no dia 8 e no dia 9,
quando disparos ocorreram perto de locais de distribuição de alimentos, no Sul
de Gaza.
Testemunhas
relataram que o tiroteio de domingo ocorreu por volta das 6h00, perto de Rafah,
próximo de um local administrado pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF),
apoiada pelos Estados Unidos da América (EUA) e por Israel; o exército
israelita afirmou ter disparado tiros de aviso contra suspeitos que se
aproximaram das tropas, numa zona que considera de combate ativo; e os sobreviventes
descreveram tanques a disparar e pessoas a serem atingidas, enquanto fugiam.
Este foi o mais recente de uma série de tiroteios, tendo feito mais de 120 mortos e ferido centenas de pessoas, desde a implementação do novo sistema de distribuição de alimentos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
A Amnistia Internacional (AI) denunciou a tomada pelo exército israelita do navio “Madleen”, parte do movimento FFC em Gaza, e apelou à libertação “imediata e incondicional” de todos os ativistas a bordo. “Ao intercetar e bloquear, à força, o ‘Madleen’, que transportava ajuda humanitária e uma tripulação de ativistas solidários, Israel falhou, mais uma vez, as suas obrigações legais para com os civis na Faixa de Gaza ocupada e demonstrou o seu assustador desrespeito pelas ordens juridicamente vinculativas do Tribunal Penal Internacional (TPI)”, explicitou Agnès Callamard, secretária-geral desta organização não-governamental (ONG).
A líder da AI considera que esta operação, “realizada a meio da noite e em águas internacionais”, “viola o direito internacional e põe em risco a segurança das pessoas a bordo”. Com efeito, na sua ótica, “a tripulação é composta por ativistas e defensores dos direitos humanos desarmados, em missão humanitária”, pelo que “devem ser libertados, imediata e incondicionalmente”.
“Como potência ocupante, Israel tem a obrigação internacional de garantir que os civis, em Gaza, têm acesso suficiente e seguro a alimentos, [a] medicamentos e [a] outros mantimentos essenciais para a sua sobrevivência”, frisou Callamard, acrescentando que, “em vez disso, como parte do seu esforço calculado para infligir aos Palestinianos, em Gaza, condições de vida destinadas a causar a sua destruição física, impediu, consistente e deliberadamente, a entrega imparcial de ajuda humanitária a civis em extrema necessidade”.
A secretária-geral da AI denunciou que a ofensiva militar israelita contra Gaza “danificou e destruiu infraestruturas vitais, incluindo fontes de produção de alimentos, como as terras agrícolas, exacerbando o impacto da sua política de fome”. “Até que vejamos medidas concretas e reais dos Estados do Mundo a sinalizar o fim do seu total apoio a Israel, este país terá carta-branca para continuar a infligir morte e sofrimento implacáveis aos Palestinianos”, avisou Agnès Callamard, pedindo aos países que “ajam, agora, ou correm o risco de serem cúmplices das graves violações dos direitos palestinianos por parte de Israel”.
Callamard insistiu em que os países “devem deixar claro que não tolerarão que Israel bloqueie a entrega de ajuda humanitária a uma população que enfrenta a fome e o genocídio”.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Palestina agradeceu aos 12 ativistas da FFC a bordo do Madleen os “esforços para romperem o cerco na Faixa de Gaza” e exigiu a sua proteção. “O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Expatriados aprecia muito os seus esforços, que implicaram elevados riscos no mar, por este nobre objetivo humanitário de apoiar o nosso povo na Faixa de Gaza, sujeito às mais hediondas formas de genocídio, [de] limpeza étnica, [de] perseguição e [de] fome”, segundo um comunicado.
Também o grupo islamita Hamas, que exerce o controlo sobre a Faixa de Gaza, condenou a interceção do navio, qualificando-a de “terrorismo de Estado”, contra ativistas que procuravam “romper o cerco e denunciar o crime de fome” perpetrado por Israel.
Numa declaração enviada através dos seus canais de distribuição, o Hamas considerou o que Israel fez ao navio um “ataque flagrante à consciência humana”. “A interceção do navio Madleen no mar, impedindo-o de entregar ajuda simbólica ao nosso povo, face a uma guerra genocida, constitui terrorismo de Estado organizado, uma violação flagrante do direito internacional e um ataque a voluntários civis que atuam por razões humanitárias”, afirmou o Hamas, em comunicado.
Também o Irão já acusou Israel de ter praticado um ato de pirataria, ao intercetar o barco de ajuda humanitária que tentava chegar a Gaza, com ativistas internacionais a bordo. “O ataque a este barco é considerado uma forma de pirataria, segundo o direito internacional”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Esmaeil Baqaei.
Numa conferência de imprensa, o Irão insistiu em que a abordagem, antes do amanhecer, ocorreu em águas internacionais.
As agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e os principais grupos de ajuda humanitária afirmam que as restrições israelitas, o colapso da lei e da ordem e as pilhagens generalizadas tornam extremamente difícil a entrega de ajuda aos cerca de dois milhões de palestinianos residentes no território.
Assim, em maio, a FFC promoveu uma tentativa de chegar a Gaza, por mar, que falhou, quando dois drones atingiram um dos navios do grupo, o “Conscience”, quando este navegava, em águas internacionais, ao largo de Malta.
O referido ataque danificou a parte frontal da embarcação, o que o grupo atribuiu a Israel, uma alegação que Israel refutou veementemente, dizendo que a sua guerra é dirigida contra os militantes do Hamas e não contra os civis de Gaza.
A ação deste mês de junho não foi, portanto, a primeira tentativa de Greta Thunberg de se juntar a uma missão deste tipo. Inicialmente, estava prevista a participação da ativista num esforço semelhante em maio, mas sem êxito, por causa do incidente em referência.
Desta vez, esperava-se que o navio chegasse à costa da Faixa de Gaza, com o objetivo de levar ajuda e de sensibilizar a opinião pública internacional para a crise humanitária, como afirmaram os ativistas, numa conferência de imprensa a 1 de junho, antes da partida. “Estamos a fazer isto porque, independentemente das dificuldades com que nos deparamos, temos de continuar a tentar”, disse Greta Thunberg, desatando a chorar, durante o seu discurso, mas vincando: “Porque o momento em que deixamos de tentar é quando perdemos a nossa humanidade. E por muito perigosa que seja esta missão, não é, nem de perto nem de longe, tão perigosa como o silêncio do Mundo inteiro, perante o genocídio transmitido em direto.”
“Estamos a quebrar o cerco de Gaza por mar, mas isso faz parte de uma estratégia mais ampla de mobilizações que também tentarão quebrar o cerco por terra”, disse o ativista Thiago Avila, que mencionou a próxima Marcha Global para Gaza – uma iniciativa internacional aberta a médicos, a advogados e a meios de comunicação social – que deverá sair do Egito e chegar à passagem de Rafah, em meados de junho, para aí realizar um protesto, pedindo a Israel que pare a ofensiva em Gaza e reabra a fronteira.
* A 20 de abril de 2024, sob a liderança da fundação turca IHH Humanitarian Relief Foundation e composta por três navios carregados com cerca de 5.500 toneladas de alimentos e de outros mantimentos – embora os ativistas esperassem que o número aumentasse, com a agregação de outros navios da região – a FFC estava prestes a partir do porto de Tuzla, perto de Istambul, na Turquia, aguardando a autorização das autoridades turcas para zarpar.
De facto, o norte de Gaza, em particular, estava a afundar-se, rapidamente, numa catástrofe humanitária, depois de meses de ataques militares e de bloqueio do fornecimento de ajuda. E, no dia 16, um alto funcionário da ONU tinha apelado à disponibilização de 2,6 mil milhões de euros para prestar uma ajuda, desesperadamente, necessária a três milhões de Palestinianos.
* A 19 de junho de 2018, foi noticiado que a polícia francesa impediu que dois barcos da “Flotilha da Liberdade” com destino à Faixa de Gaza atracassem ao longo do rio Sena, em Paris, no dia 17, domingo. De acordo com Taoufiq Tahani, presidente honorário da Associação de Solidariedade França-Palestina (AFPS), os barcos foram submetidos a extensas buscas pela polícia, no início do dia, antes de serem proibidos de atracar.
* A 29 de junho de 2015, a “Flotilha da Liberdade”, que se aproximava da Faixa de Gaza para levar ajuda humanitária e para desafiar o bloqueio israelita, foi intercetada pela Marinha de Israel, em águas internacionais. E o barco “Marianne”, que transportava, entre outras personalidades, o antigo presidente da Tunísia, Moncef Marzouki, e Basel Ghattas, deputado árabe no parlamento israelita, foi escoltado para o porto israelita de Ashdot, e os restantes voltaram para a Grécia.
Os passageiros foram interrogados e levados ao aeroporto Ben Gourion para deixarem Israel.
A embarcação, com 12 ativistas franceses, alemães, brasileiros, turcos, suecos, espanhóis e holandeses a bordo, deixou a Sicília, na Itália, a 1 de junho, com a missão de fornecer bens humanitários e de levantar o bloqueio naval israelita a Gaza, chamando a atenção para a escalada da situação humanitária desastrosa, dois meses após o início do conflito entre Israel e o Hamas, e altamente agravada e caótica, após mais de um ano e meio de guerra.
Além da sueca Greta Thunberg, o navio transportava a eurodeputada franco-palestiniana de esquerda, Rima Hassan, que foi impedida de entrar em Israel, devido à sua oposição às políticas israelitas, em relação aos Palestinianos, e Liam Cunningham, estrela da série “Game of Thrones”.
Depois de uma escala no Egito, o Madleen aproximou-se de Gaza, apesar dos avisos de Israel de que tinha dado ordens ao seu exército para o impedir de se aproximar do território palestiniano.
No Telegram, a organização Freedom Flotilla Coalition (FFC), responsável pela iniciativa, anunciou que “se perdeu a ligação” com o Madleen e, mais tarde, partilhou uma fotografia de pessoas sentadas com as mãos no ar, com coletes salva-vidas, referindo que o exército israelita entrara a bordo do navio e que raptara a tripulação.
As últimas atualizações do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel sobre a embarcação de ajuda humanitária referem que o iate estava “a chegar em segurança à costa de Israel” e que se esperava que os ocupantes “regressassem aos seus países de origem”.
Pouco depois, o mesmo Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita divulgou um vídeo, no X, que mostrava a sua Marinha a dar ordens ao navio de ajuda humanitária, que se dirigia para Gaza, para se desviar, e publicou outra filmagem que mostrava os passageiros daquilo a que chamou “Iate Selfie” seguros e ilesos.
A preocupação com a segurança da tripulação da embarcação Madleen, operado pela FFC, aumentou, durante a noite, depois de os alarmes terem soado no barco que transportava os ativistas a caminho de Gaza. E a FFC afirmou que a situação causou pânico e levou muitos deles a abrigarem-se e a vestirem coletes salva-vidas, preparando-se para a interceção. “O alarme soou no Madleen: coletes salva-vidas colocados, preparando-nos para uma interceção”, escreveu a organização, numa publicação nas redes sociais.
Francesca Albanese, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os territórios ocupados, que afirmou estar em contacto com a sala de comunicações da organização, em Catânia, na Sicília, observou que cerca de cinco embarcações se encontravam a circundar o barco de ajuda, com dois drones a pairar sobre ele.
Logo que o veleiro pareceu, a 8 de junho, estar prestes a atingir a costa, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, afirmou que Israel não permitiria que ninguém violasse o bloqueio naval ao território palestiniano, que, segundo ele, tem por objetivo impedir o Hamas de importar armas. “Instruí as Forças de Defesa de Israel (FDI) a agirem, para impedir que a flotilha de ódio Madelein chegue à costa de Gaza, e a tomarem todas as medidas necessárias para esse fim. À antissemita Greta e aos seus colegas propagandistas do Hamas, digo-vos isto, claramente: devíeis voltar para trás, porque não ides conseguir chegar a Gaza”, afirmou Israel Katz, em comunicado, vincando: “O Estado de Israel não permitirá que ninguém viole o bloqueio marítimo de Gaza, cujo principal objetivo é impedir a transferência de armas para o Hamas, uma organização terrorista assassina que mantém os nossos reféns e comete crimes de guerra.”
Este foi o mais recente de uma série de tiroteios, tendo feito mais de 120 mortos e ferido centenas de pessoas, desde a implementação do novo sistema de distribuição de alimentos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
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A FFC
denunciou a “clara violação do direito internacional”, insistindo que a
abordagem ocorreu em águas internacionais. “Israel não tem autoridade legal
para deter voluntários internacionais a bordo do Madleen”, disse o diretor da
organização, Huwaida Arraf.A Amnistia Internacional (AI) denunciou a tomada pelo exército israelita do navio “Madleen”, parte do movimento FFC em Gaza, e apelou à libertação “imediata e incondicional” de todos os ativistas a bordo. “Ao intercetar e bloquear, à força, o ‘Madleen’, que transportava ajuda humanitária e uma tripulação de ativistas solidários, Israel falhou, mais uma vez, as suas obrigações legais para com os civis na Faixa de Gaza ocupada e demonstrou o seu assustador desrespeito pelas ordens juridicamente vinculativas do Tribunal Penal Internacional (TPI)”, explicitou Agnès Callamard, secretária-geral desta organização não-governamental (ONG).
A líder da AI considera que esta operação, “realizada a meio da noite e em águas internacionais”, “viola o direito internacional e põe em risco a segurança das pessoas a bordo”. Com efeito, na sua ótica, “a tripulação é composta por ativistas e defensores dos direitos humanos desarmados, em missão humanitária”, pelo que “devem ser libertados, imediata e incondicionalmente”.
“Como potência ocupante, Israel tem a obrigação internacional de garantir que os civis, em Gaza, têm acesso suficiente e seguro a alimentos, [a] medicamentos e [a] outros mantimentos essenciais para a sua sobrevivência”, frisou Callamard, acrescentando que, “em vez disso, como parte do seu esforço calculado para infligir aos Palestinianos, em Gaza, condições de vida destinadas a causar a sua destruição física, impediu, consistente e deliberadamente, a entrega imparcial de ajuda humanitária a civis em extrema necessidade”.
A secretária-geral da AI denunciou que a ofensiva militar israelita contra Gaza “danificou e destruiu infraestruturas vitais, incluindo fontes de produção de alimentos, como as terras agrícolas, exacerbando o impacto da sua política de fome”. “Até que vejamos medidas concretas e reais dos Estados do Mundo a sinalizar o fim do seu total apoio a Israel, este país terá carta-branca para continuar a infligir morte e sofrimento implacáveis aos Palestinianos”, avisou Agnès Callamard, pedindo aos países que “ajam, agora, ou correm o risco de serem cúmplices das graves violações dos direitos palestinianos por parte de Israel”.
Callamard insistiu em que os países “devem deixar claro que não tolerarão que Israel bloqueie a entrega de ajuda humanitária a uma população que enfrenta a fome e o genocídio”.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Palestina agradeceu aos 12 ativistas da FFC a bordo do Madleen os “esforços para romperem o cerco na Faixa de Gaza” e exigiu a sua proteção. “O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Expatriados aprecia muito os seus esforços, que implicaram elevados riscos no mar, por este nobre objetivo humanitário de apoiar o nosso povo na Faixa de Gaza, sujeito às mais hediondas formas de genocídio, [de] limpeza étnica, [de] perseguição e [de] fome”, segundo um comunicado.
Também o grupo islamita Hamas, que exerce o controlo sobre a Faixa de Gaza, condenou a interceção do navio, qualificando-a de “terrorismo de Estado”, contra ativistas que procuravam “romper o cerco e denunciar o crime de fome” perpetrado por Israel.
Numa declaração enviada através dos seus canais de distribuição, o Hamas considerou o que Israel fez ao navio um “ataque flagrante à consciência humana”. “A interceção do navio Madleen no mar, impedindo-o de entregar ajuda simbólica ao nosso povo, face a uma guerra genocida, constitui terrorismo de Estado organizado, uma violação flagrante do direito internacional e um ataque a voluntários civis que atuam por razões humanitárias”, afirmou o Hamas, em comunicado.
Também o Irão já acusou Israel de ter praticado um ato de pirataria, ao intercetar o barco de ajuda humanitária que tentava chegar a Gaza, com ativistas internacionais a bordo. “O ataque a este barco é considerado uma forma de pirataria, segundo o direito internacional”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Esmaeil Baqaei.
Numa conferência de imprensa, o Irão insistiu em que a abordagem, antes do amanhecer, ocorreu em águas internacionais.
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Após um bloqueio total de três meses,
com o objetivo de pressionar o Hamas, Israel começou a permitir a entrada de
alguma ajuda básica em Gaza, em maio, mas os trabalhadores humanitários
alertaram para a fome, a menos que o bloqueio e a guerra terminem.As agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e os principais grupos de ajuda humanitária afirmam que as restrições israelitas, o colapso da lei e da ordem e as pilhagens generalizadas tornam extremamente difícil a entrega de ajuda aos cerca de dois milhões de palestinianos residentes no território.
Assim, em maio, a FFC promoveu uma tentativa de chegar a Gaza, por mar, que falhou, quando dois drones atingiram um dos navios do grupo, o “Conscience”, quando este navegava, em águas internacionais, ao largo de Malta.
O referido ataque danificou a parte frontal da embarcação, o que o grupo atribuiu a Israel, uma alegação que Israel refutou veementemente, dizendo que a sua guerra é dirigida contra os militantes do Hamas e não contra os civis de Gaza.
A ação deste mês de junho não foi, portanto, a primeira tentativa de Greta Thunberg de se juntar a uma missão deste tipo. Inicialmente, estava prevista a participação da ativista num esforço semelhante em maio, mas sem êxito, por causa do incidente em referência.
Desta vez, esperava-se que o navio chegasse à costa da Faixa de Gaza, com o objetivo de levar ajuda e de sensibilizar a opinião pública internacional para a crise humanitária, como afirmaram os ativistas, numa conferência de imprensa a 1 de junho, antes da partida. “Estamos a fazer isto porque, independentemente das dificuldades com que nos deparamos, temos de continuar a tentar”, disse Greta Thunberg, desatando a chorar, durante o seu discurso, mas vincando: “Porque o momento em que deixamos de tentar é quando perdemos a nossa humanidade. E por muito perigosa que seja esta missão, não é, nem de perto nem de longe, tão perigosa como o silêncio do Mundo inteiro, perante o genocídio transmitido em direto.”
“Estamos a quebrar o cerco de Gaza por mar, mas isso faz parte de uma estratégia mais ampla de mobilizações que também tentarão quebrar o cerco por terra”, disse o ativista Thiago Avila, que mencionou a próxima Marcha Global para Gaza – uma iniciativa internacional aberta a médicos, a advogados e a meios de comunicação social – que deverá sair do Egito e chegar à passagem de Rafah, em meados de junho, para aí realizar um protesto, pedindo a Israel que pare a ofensiva em Gaza e reabra a fronteira.
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Como
o fenómeno de guerra entre Israel e os Palestinianos não é novo, vêm sido
desenvolvidas várias iniciativas de paz, desde há bastante tempo. Registam-se
algumas:* A 20 de abril de 2024, sob a liderança da fundação turca IHH Humanitarian Relief Foundation e composta por três navios carregados com cerca de 5.500 toneladas de alimentos e de outros mantimentos – embora os ativistas esperassem que o número aumentasse, com a agregação de outros navios da região – a FFC estava prestes a partir do porto de Tuzla, perto de Istambul, na Turquia, aguardando a autorização das autoridades turcas para zarpar.
De facto, o norte de Gaza, em particular, estava a afundar-se, rapidamente, numa catástrofe humanitária, depois de meses de ataques militares e de bloqueio do fornecimento de ajuda. E, no dia 16, um alto funcionário da ONU tinha apelado à disponibilização de 2,6 mil milhões de euros para prestar uma ajuda, desesperadamente, necessária a três milhões de Palestinianos.
* A 19 de junho de 2018, foi noticiado que a polícia francesa impediu que dois barcos da “Flotilha da Liberdade” com destino à Faixa de Gaza atracassem ao longo do rio Sena, em Paris, no dia 17, domingo. De acordo com Taoufiq Tahani, presidente honorário da Associação de Solidariedade França-Palestina (AFPS), os barcos foram submetidos a extensas buscas pela polícia, no início do dia, antes de serem proibidos de atracar.
* A 29 de junho de 2015, a “Flotilha da Liberdade”, que se aproximava da Faixa de Gaza para levar ajuda humanitária e para desafiar o bloqueio israelita, foi intercetada pela Marinha de Israel, em águas internacionais. E o barco “Marianne”, que transportava, entre outras personalidades, o antigo presidente da Tunísia, Moncef Marzouki, e Basel Ghattas, deputado árabe no parlamento israelita, foi escoltado para o porto israelita de Ashdot, e os restantes voltaram para a Grécia.
Os passageiros foram interrogados e levados ao aeroporto Ben Gourion para deixarem Israel.
O primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, dizia que a anterior flotilha, cuja interceção, em 2100, causou
várias mortes, levava armas para o Hamas. Por isso, não queria que o episódio
se repetisse.
***
Como se vê, Israel usa de tenebrosa mestria na arte da guerra, sem regras,
supostamente, sempre com a razão acima de toda a suspeita. E a fome mata, a destruição
campeia, as entidades que tentam prestar ajuda são perseguidas – algumas, até à
aniquilação, se for preciso – e o Mundo civilizado e culto, mas sempre atento e
solidário, cala-se. Enfim, tudo como convém a Israel. Os outros devem pertencer
a um qualquer submundo de seres que não são gente ou que o são de categoria
inferior, como os escravos, os negros, os ciganos ou, em algumas tribos, as mulheres
e as crianças. Entretanto, cantamos a liberdade, os direitos humanos, a dignidade
e a igualdade!2025.06.09 – Louro de Carvalho
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