quinta-feira, 5 de junho de 2025

Caso Maddie suscita novas buscas em Lagos, no Algarve

 
De acordo com a informação avançada, a 2 de junho, pelas autoridades britânicas, a polícia alemã iria realizar novas buscas em Lagos, no Algarve, no âmbito da investigação ao caso do desaparecimento de Madeleine McCann (Maddie), em 2007. A criança britânica foi dada como desaparecida em maio de 2007, quando estava de férias com a família, na Praia da Luz, em Lagos.
De acordo com a CNN Portugal, a operação, que contou com a intervenção da Polícia Judiciária (PJ), terá começado no dia 3 e ter-se-á centrado numa área entre a Praia da Luz e uma das habitações onde Christian Brueckner – o principal e único suspeito – residia no período do desaparecimento.
A mesma estação televisiva aponta que, com estas diligências, as autoridades pretendem tentar encontrar eventuais vestígios do corpo de Maddie ou quaisquer outras provas que ajudem a sustentar uma acusação contra Christian Brueckner.
Em comunicado, a PJ confirmou o facto de dever dar cumprimento a uma Decisão Europeia de Investigação (DEI), emitida pelas autoridades alemãs e titulada pelo coordenador do Ministério Público (MP) junto da Comarca de Faro, com vista a executar um vasto conjunto de diligências, designadamente, em sede de mandados de busca, a realizar entre os dias 2 e 6 de junho, no concelho de Lagos. “A execução do mandado de busca foi emitida pelo Ministério Público de Braunschweig, que conduz um processo preliminar contra um cidadão alemão suspeito da prática de homicídio da cidadã britânica Madeleine Beth McCANN, que desapareceu de uma estância de férias na Praia da Luz, a 3 de maio de 2007. Todas as provas apreendidas pela PJ serão, mediante autorização prévia do Ministério Público nacional, entregues aos agentes do Serviço Federal de Polícia Criminal alemã”, pode ler-se na página oficial da PJ.
A criança britânica, de três anos de idade, foi dada como desaparecida em maio de 2007, há 18 anos, quando se encontrava de férias com a família na Praia da Luz, em Lagos.
Na noite do desaparecimento, enquanto os pais jantavam com amigos, num restaurante próximo, a menina encontrava-se no alojamento turístico onde estava a passar férias com a família, no mesmo quarto que o irmão e a irmã, de apenas dois anos de idade. Até à data, as autoridades portuguesa, alemã e britânica ainda tentam perceber o que terá acontecido nessa noite de 3 de maio de 2007.
Em 2020, as autoridades alemãs revelaram estar a investigar Christian Brueckner, um cidadão alemão, atualmente com 48 anos de idade, por suspeitas de homicídio. Vivia a um quilómetro da praia da Luz, na altura do sucedido e contava com um historial de suspeitas de abuso sexual de menores e de violação. Não foi, porém, acusado de qualquer crime no âmbito do caso agora em investigação, negando qualquer tipo de envolvimento no desaparecimento de Maddie McCann. Além disso, Christian Brueckner cumpre, de momento, uma pena de prisão de sete anos, na Alemanha, pela violação de uma mulher de 72 anos, em 2005, em território português.
Em meados de maio de 2023, 16 anos após o desaparecimento de Maddie, a polícia portuguesa tinha retomado as buscas, no âmbito do caso, na Barragem do Arade, em Silves. Também dessa vez, os trabalhos decorreram a pedido das autoridades alemãs, tendo contado com a presença de funcionários britânicos. Isto já depois de, em 2008, uma denúncia ter motivado a realização de operações nessas mesmas águas, de acordo com a qual se dava conta de que o corpo da criança britânica teria sido deixado nesse local.
Desde a noite do seu desaparecimento, Madeleine McCann nunca mais foi vista em público.
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As buscas, que tinham sido pedidas pelas autoridades alemãs em Lagos, no âmbito da investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann, terminaram no dia 5, pelas 17h00, depois de terem sido recolhidos vários objetos.
Segundo a agência Lusa, os inspetores e os veículos mobilizados começaram a abandonar o local onde decorreram as buscas, durante os últimos três dias, com recurso a georradares ou a roçadoras.
Ao todo, cerca de 30 inspetores da PJ e outros tantos agentes da polícia alemã procuraram vestígios de Maddie, que desapareceu, há 18 anos, de um quarto do Ocean Club na Praia da Luz, durante umas férias com a família.
Dois anos depois das últimas diligências, as autoridades procuraram, desta vez, em edifícios e poços abandonados, passando a pente fino propriedades na zona da Atalaia, entre a Praia do Porto de Mós e a vila da Luz, onde terá vivido Christian Brüeckner.
O alemão, que está, atualmente, cumprir pena por violação, foi apontado pelas autoridades alemãs como principal suspeito pelo desaparecimento da criança britânica em 2007, poderá ser libertado já no mês de setembro.
Os mandados de busca no concelho de Lagos foram emitidos pelo MP de Braunschweig, na Alemanha. Fonte da polícia portuguesa, citada pelo jornal Público, revelou que todas as provas apreendidas nas buscas serão entregues às autoridades alemãs, mediante autorização do MP.
As buscas terão sido uma derradeira tentativa de incriminar o alemão de 47 anos, contra o qual nunca foram deduzidas quaisquer acusações conexas com o desaparecimento de Maddie.***Gonçalo Amaral, que investigou o desaparecimento da criança, não acredita no envolvimento de Christian Brückner e acusa as autoridades alemãs de o utilizarem como “bode expiatório”. Com efeito, se 18 anos após o desaparecimento de Madeleine McCann, a criança inglesa volta a ser notícia em Portugal e, dois anos depois das últimas diligências, as autoridades alemãs regressaram ao Algarve, para novas buscas relacionadas com o caso, também 18 anos após o desaparecimento da menina, Gonçalo Amaral se mantém firme na convicção de que a verdade será conhecida.
Para Gonçalo Amaral, ex-coordenador da PJ, que iniciou a investigação ao desaparecimento de Madeleine, a nova ação das autoridades não trará novidades sobre o seu paradeiro. “A minha opinião é que, no fundo, é mais um ato de propaganda no meio disto tudo. Porque, em princípio, não levará a lado nenhum, em termos daquilo que se quer da investigação, em saber o que é que aconteceu àquela criança”, afirmou.
Christian Brückner, que pode sair em breve da cadeia, onde cumpre uma pena pelo crime de violação, foi declarado em 2020 pela polícia alemã como o principal suspeito do sequestro e assassínio da criança. É “um bode expiatório,” nas palavras do antigo inspetor da PJ, que não acredita nesta linha de investigação e deixa duras críticas à polícia alemã. “Há aqui um bode expiatório que não tem, literalmente e em termos de racionalidade e de lógica, nada a ver com nada”, explicou o antigo inspetor, sustentando que “não há nenhum indício que o [Brückner] coloque seja onde for e que o relacione com o caso”.
Gonçalo Amaral, que escreveu um livro sobre o caso, após ter sido desligado da coordenação da investigação, diz que as autoridades “caíram no ridículo”, ao não voltarem ao caso inicial, após identificarem um novo suspeito. “Não podemos ocultar aquilo que existe. E aquilo que existe são indícios que apontam noutro sentido. Não importa qual é o sentido. Se querem continuar um, primeiro terminem o outro”, explicou.
Gonçalo Amaral critica a atuação das autoridades britânicas e alemãs, por terem descartado a linha de investigação inicial e os indícios aí recolhidos. “O que eu posso dizer é que a investigação que foi realizada pela Polícia Judiciária, nos primeiros quatro, cinco meses, até ao momento, em termos materiais, em termos sólidos, nunca foi colocada em causa”, considerou.
“Aliás, aquilo que foi encontrado no carro alugado, dias depois, os fluidos corporais, os cabelos da criança e tudo mais, nada disso é colocado em causa. Nem a polícia britânica, nem a polícia alemã querem saber disso”, afirmou o antigo inspetor, que defende a atuação das autoridades portuguesas e a linha de investigação inicialmente seguida.
“Não há nada que diga que aquilo que a Polícia Judiciária dizia que poderia, eventualmente, ter acontecido, e que existiam indícios nesse sentido, nunca foi colocado em causa. Não é colocado em causa que os pais abandonaram a criança. Não é colocado em causa que o Ministério Público não acusou, por exposição ao abandono. Não é colocado em causa que esse abandono não foi só de uma noite. Não é colocado em causa que não eram só aquelas crianças que eram abandonadas, mas eram as de todos aqueles amigos, e que isso aconteceu, durante uma semana de férias”, reforçou, numa longa tirada anafórica, aliás alinhado com o que defendeu, no seu livro.
É de recordar que, inicialmente, a PJ chegou a dar os pais de Maddie McCann como suspeitos, uma tese, entretanto, descartada pela investigação.
“A Polícia Judiciária diz que há um desaparecimento. E que muita coisa apontava para a responsabilidade desse desaparecimento por parte daqueles que têm sempre o dever de cuidado, o dever de guarda que, neste caso, são os pais”, explicou o antigo inspetor, insistindo: “Ninguém está a dizer que eles mataram, que eles fizeram, que aconteceram. Não estamos aqui a acusar ninguém. Estamos a dizer é necessário continuar, ou pelo menos terminar, chegar ao fim daquela investigação.”
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É de referir que as autoridades alemãs, com ajuda da polícia portuguesa, desta vez, percorreram uma vasta área entre a cidade de Lagos e a Praia da Luz, onde o principal suspeito viveu na altura do desaparecimento, uma área que não tinham sido palmilhada pela investigação portuguesa, como informou o diretor nacional da PJ à Rádio Renascença.
“São áreas relativamente novas, a extensão do trabalho é de grande envergadura e é como procurar uma agulha no palheiro para se encontrar caminho na investigação criminal”, explicou, afirmando que se trata de um procedimento normal, realizado no âmbito da cooperação entre forças de segurança e cumprimento da lei. “O que está a acontecer é o cumprimento da lei. Se formos nós, amanhã, a pedir para outro estado colaborar connosco, assim o faremos”, garantiu.
O objetivo era encontrar um indício ou pista que ajude na investigação, pelo que as buscas prosseguiram até à tarde do dia 5, tendo conseguido o efeito pretendido.
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Madeleine McCann, na altura com três anos, desapareceu a 3 de maio de 2007 enquanto dormia no quarto com os irmãos mais novos. Os pais jantavam com amigos a poucos metros de distância. Estavam todos hospedados no Ocean Club na Praia da Luz, no Algarve. O caso originou uma ampla investigação policial, com uma abrangente cobertura mediática, já que o desaparecimento de Maddie foi notícia em quase todo o Mundo.
Dezoito anos depois e apesar da renovada presença policial e jornalística, a população naquela vila de Lagos parece pouco entusiasmada com o sucesso da investigação. “Depois de tanto tempo, não acredito que consigam alguma coisa”, afirmou o funcionário de um café na região. “Fico um pouco na dúvida como é que na altura, há 18 anos, nas casas que havia, não conseguiram chegar a uma melhor conclusão”, disse um habitante da vila da Luz.
Novas buscas, novas linhas de investigação e novos suspeitos. O caso Maddie avança, mas o Mundo continua sem saber o que aconteceu. Gonçalo Amaral mantém a convicção plena de que, um dia, iremos conhecer toda a verdade. “Vamos, vamos. Eu tenho perfeita consciência que vamos. No dia em que a Polícia Judiciária em Portugal e o Ministério Público decidirem: nós, agora, vamos terminar aquilo que se começou. Não tenha dúvidas de que vamos saber”, garantiu.
Por mim, duvido de que toda a verdade se venha a saber ou de que o público venha a tomar conhecimento dela. De facto, são frequentes os casos em que a verdade não se descobre ou, se se descobre, é incómoda. E há casos em que temos de nos contentar a com a versão oficial.

2025.06.05 – Louro de Carvalho


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