sábado, 14 de junho de 2025

“História” do novo Papa e os desafios que enfrenta

 
Estará disponível, a 17 de junho, a edição portuguesa do livro “Papa Leão XIV – A História do Novo Papa e os Desafios que Enfrenta”, da autoria do italiano Saverio Gaeta, com tradução de Ana Maria Pinto da Silva, uma publicação da Planeta de Livros, Portugal.
“Ainda nos primeiros dias do pontificado, senti o dever e um profundo desejo de me acercar a Genazzano, ao Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho, que, durante toda a minha vida, me acompanhou com a sua presença maternal, com a sua sabedoria e com o exemplo do seu amor pelo Filho que sempre é o centro da minha fé. Caminho, verdade e vida. Obrigado, Mãe, pelo teu auxílio, acompanha-me nesta nova missão”. Leão XIV, 10 de maio de 2045.
(Assinatura no livro de visitas do santuário lacial de Genazzano, primeira saída do Papa Prevost do Vaticano)   
A portada do livro, como se vê, atesta o perfil de um Pontífice profundamente mariano, tendo como centro da vida Jesus Cristo.  
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Saverio Gaeta, licenciado em Ciências da Comunicação Social e jornalista profissional, escreveu para L’Osservatore Romano (jornal diário da Cidade do Vaticano que relata as atividades da Santa Sé e os eventos que ocorrem na Igreja e no Mundo”, foi editor principal da revista Jesus, chefe de redação da revista Famiglia Cristiana e subdiretor da revista Credere. Especialista nas temáticas que envolvem a relação entre a fé e a ciência, como milagres, relíquias e manifestações sobrenaturais, colaborou com diversos meios de comunicação impressos, radiofónicos e televisivos. E é autor de numerosos ensaios, biografias e livros-entrevista, com obras traduzidas em 16 línguas, publicou, entre outros, pela editora Salani: Effetto Bergoglio (com o padre Livio Fanzaga), em 2014, Il Veggente , em 2016 e Le Veggenti, em 2018.
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Nos termos da sinopse, ressalta o facto da eleição papal, após quatro votações, a 8 de maio de 2025 (o segundo dia do conclave), conhecida às 18h05, pela saída do fumo branco pela chaminé da Capela Sistina. O fumo branco e o repique festivo dos sinos da Basílica Vaticana fizeram com que dezenas de milhares de pessoas se reunissem, de imediato, na Praça de São Pedro, na expectativa de saberem quem tinha sido escolhido pelo Colégio de Cardeais.
Passada quase uma hora, ecoou, da varanda central da basílica, a fórmula latina “Annuntio vobis gaudium magnum: habemus papam!” E, entre aplausos entusiásticos, foi grande a surpresa: o novo sucessor de Pedro era o cardeal Robert Francis Prevost Martinez, de dupla nacionalidade (norte-americana, por nascimento, e peruana, por adoção) que se apresentou ao Mundo com a saudação: “Paz a todos vós!”
Mais do que uma biografia, o livro constitui uma resenha biográfica do escolhido, que desemboca na eleição para o Sumo Pontificado e elenca, de forma sustentada nas grandes questões com que se debatem, atualmente, a Igreja Católica e o Mundo, os desafios que o novo Pontífice enfrenta.     
O autor não deixa de nos apresentar “quem é o homem que, com o nome Leão XIV, terá, agora, a responsabilidade de guiar a Igreja Católica nos próximos anos” e “quais foram os passos que o conduziram até ao trono de São Pedro”. Ou seja, com a resenha biográfica, é feito um pequeno historial das últimas vivências do Papa Francisco, seu predecessor imediato, o funeral pontifical, o que se passou durante o período de Sede Vacante e as primeiras declarações e as primeiras ações de Leão XIV. 
Refere a sinopse do editor do livro que Saverio Gaeta traça o primeiro retrato completo do “papa da globalização”, um homem com raízes culturais diversas, que fala com clareza a língua do presente.
Concordo que se trata de um “papa da globalização”, mas não é, na minha opinião, “o papa da globalização”, porquanto outros também o foram, nomeadamente, São João XXIII, São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e, obviamente, Francisco. Não se pode dizer o mesmo de João Paulo I, pois, embora as suas declarações apontassem para um pontificado muito promissor, o seu brevíssimo desempenho, só deu para sorrir à Igreja e ao Mundo.  
É certo que o cardeal Prevost pode ser considerado o homem de três mundos: o norte-americano o sul-americano e o europeu da Cúria Romana. Porém, também São João Paulo II e Bento XVI correram o Mundo, como cardeais e como sumos pontífices. E Francisco também estudou na Alemanha e revelou-se profundo conhecedor dos diversos países do Mundo,         
Também o retrato de Leão XIV, como papa da globalização está longe de ser completo, nem o podia ser, porque ainda está mo começo.
Nestes aspetos, a leitura do livro começou, para mim, com um sentido de desilusão, premonitória de uma vontade de querer ganhar um lugar de proeminência no Mundo, de que o Papa não precisa e penso que nem o deseja.   
Contudo, anuo à ideia de que “deste livro emerge a figura de um pastor internacional, atento aos pobres e aos marginalizados, incansável na defesa dos direitos humanos e no reforço do papel unificador da fé”. Neste âmbito, ressalta a linha de continuidade dinâmica do labor de Francisco, patente, por exemplo, na sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, no reforço da ajuda à Ucrânia, martirizada pela guerra, nos lancinantes apelos à paz e nas críticas aos bloqueios da ajuda humanitária, em lugares de conflito armado. 
Cabe, obviamente, ao novo Papa “a difícil missão de dar continuidade à herança de Bergoglio e de levar por diante os muitos processos em curso”, sendo “destas grandes questões, analisadas por Gaeta, com rigor e profundidade, que dependerá o futuro de uma Igreja em profundo caminho de renovação – uma missão que Leão XIV assumiu com a promessa de devolver à Igreja o seu papel como ‘arca de salvação que navega sobre as ondas da História, farol que ilumina as noites do Mundo’”.
Por isso, apesar das reticências iniciais, gostei de ler sobre quem é o novo Papa, o que fez até agora, “qual é o mosaico da Igreja que agora se apresenta diante de Leão XIV e quais os problemas mais urgentes que terá de enfrentar”.
No entanto, parece-me algo pirosa a questão: “Porque foi eleito?” Ora, a resposta é muito simples: porque participou no conclave e porque os cardeais votaram nele. Aliás, em teoria, nem precisava de participar no conclave. Os cardeais eleitores podem escolher alguém que não participe no conclave, mas o anúncio do eleito só pode ocorrer depois de ser consultado, de declarar a aceitação e de comparecer para o voto de obediência por parte do colégio eleitoral.
É de crer que, longe de qualquer lóbi político ou económico (chegou a acontecer, em tempos), se tenha observado, no colégio eleitoral, o desejável pressuposto neotestamentário: “Pareceu ao Espírito Santo e a nós…”.    
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Apesar de tudo vale a pena a leitura do livro, que nos dá os traços essenciais do perfil do cardeal Prevost: nascimento; formação religiosa e académica; percurso religioso, sacerdotal, missionário e episcopal; e gestão pastoral do Dicastério dos Bispos.
Dá-nos algumas notas sobre a saúde do Papa Francisco, do trabalho que ele desenvolveu durante o internamento no Hospital Gemelli e no pós-internamento, bem como sobre as motivações que tinha e sobre as exigências que fazia para comparecer nas cerimónias, enquanto enfermo, como a ligação com a paróquia de Gaza, a redação de homilias, de catequeses, de várias mensagens e da via-sacra para Sexta-feira Santa, bem como as aparições à multidão e a visita a obras e à prisão Regina Coeli.
Ressalta uma nota curiosa sobre a decisão do sepultamento em Santa Maria Maior. Fora o cardeal coadjutor da basílica, que lhe dera a sugestão, sabendo da grande devoção do Pontífice pela Salus Populi Romani (tal como a de Prevost por Nossa Senhora do Bom Conselho). Francisco rejeitara a ideia, porque, supostamente, o Papa devia ser sepultado na Basílica de São Pedro, mas, passada uma semana, telefonou ao cardeal a dizer que tinha razão, pois Nossa Senhora concordara, e que preparasse o túmulo em Santa Maria Maior.  
Sobre as Congregações Gerais, em que os cardeais podiam usar da palavra, oralmente ou por escrito, a respeito das grandes questões que se levantam à Igreja e ao Mundo, e sobre a participação no Conclave, o autor destaca inovação de os serviços terem distribuído por todos os cardeais uma brochura com o nome, a foto e uma resenha biográfica de cada um, tentando superar o facto de a maior parte deles ser desconhecida e de provir de diversos países.
O livro prossegue com os diversos temas desafiantes: o anúncio da fé, nas periferias, nas regiões de missão, nos países em que o cristianismo parece algo obsoleto e nos lugares em que não há liberdade de religião; as finanças do Vaticano, após alguns escândalos de gestão; a autoridade moral da Igreja e da santa Sé, no atinente aos direitos humanos e à paz; o abalo suscitado pelos crimes sexuais perpetrados por sacerdotes, por religiosos ou por catequistas, numa sociedade que esquece os seus crimes, mas é rápida a apontar os erros da Igreja; a ecologia integral, na linha de Francisco, perante os lóbis e os grandes interesses instalados; a crise dos carismas, marcada pelos escândalos em algumas agremiações religiosas e de bem-fazer; o papel da mulher na Igreja versus igual dignidade; a doutrina sobre o matrimónio e sobre as pessoas com orientação sexual diferente da convencional; a pululação de fenómenos sobrenaturais; a liturgia segundo o ritual de São Pio V, típica dos saudosistas da tradição que não quer a evolução inerente à mesma tradição; a sinodalidade e o governo da Igreja; e o suposto profetismo de São Malaquias.
Por fim, surge um apêndice sobre “Dois mil anos de papas”, de Pedro a Francisco, com uma pequena súmula biográfica e pastoral de cada um dos 265 Sumos Pontífices, bem como com a lista de antipapas. 
Refere a origem da mudança de nome aquando da eleição; faz a contabilidade dos nomes papais; apresenta os fundamentos bíblicos e doutrinais da instituição do Papado; recorda o significado do vocábulo “papa”; indica os símbolos do estatuto papal, que Prevost assume quase na íntegra, com exceção da tiara; e elenca os diversos títulos do Papa, com ênfase apara o título de “servo dos servos de Deus”.
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Leão XIV, logo nas primeiras aparições públicas, evidenciou caraterísticas que bem lhe quadram, segundo quem bem o conhece: “serenidade, afabilidade, firmeza nos conteúdos propostos, lucidez aos enfrentar as situações, concretização ao considerar as perspetivas”.
Logo a sua primeira aparição, a 8 de maio, assinalou um ponto fulcral: a saudação “A paz esteja com todos vós”, não foi um ímpeto de bonomia, nem um eco de franciscanismo, mas uma reformulação das primeiríssimas palavras de Jesus Ressuscitado aos apóstolos escondidos com medo dos Judeus: “A paz seja convosco!” (Jo 20,19).
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É assim o Papa. Veremos como será. É preciso que rezem, que o ajudem, que o ouçam e que o sigam.

2025.06.14 – Louro de Carvalho


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