sexta-feira, 13 de junho de 2025

Israel elimina comandantes militares e cientistas nucleares do Irão

 

Por volta das 03h00 locais de 13 de junho, foram ouvidas explosões na capital iraniana, Teerão, enquanto Israel afirmava estar a atacar todo o país, com a operação militar “Lion Rising”, iniciada na madrugada, sem apoio dos Estados Unidos da América (EUA). E, de acordo com uma declaração em vídeo de Eyal Zamir, chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, trata-se de “uma operação crucial para evitar uma ameaça existencial de um inimigo que procura destruir-nos”, tendo chegado o país a um “ponto sem retorno”, pois não se pode dar “ao luxo de esperar”.

Na sequência das investidas, foram confirmadas as mortes do comandante da Guarda Revolucionária, general Hossein Salami, do chefe do Estado-Maior iraniano, Mohammad Hossein Bagheri, e do comandante das Forças de Emergência, Gholam Rashid, bem como as de seis cientistas nucleares.

Entretanto, segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), mais de 100 drones foram lançados pelo Irão contra Israel, nas últimas horas, alguns deles já foram intercetados pelas defesas aéreas do país e foi declarado o estado de emergência. “O Irão lançou cerca de 100 UAV, em direção ao território israelita, que estamos a tentar intercetar”, disse aos jornalistas o porta-voz militar, brigadeiro-general Effie Defrin, referindo que poderão demorar várias horas a chegar a Israel e que os ataques de Israel ao Irão envolveram 200 caças que atingiram cerca de 100 alvos, em todo o Irão.

A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) confirmou, na madrugada de 13 de junho, que um ataque israelita atingiu as instalações de enriquecimento de urânio do Irão, em Natanz.

Numa declaração publicada na plataforma social X, o diretor da AIEA, Rafael Mariano Grossi, afirmou que “a AIEA está a acompanhar de perto a situação profundamente preocupante no Irão”, que está em contacto com os seus inspetores, no país, e com as autoridades iranianas, “relativamente aos níveis de radiação”, e que, até ao momento, não houve registo de alterações nos níveis de radiação.

Os dirigentes israelitas consideraram o “ataque preventivo” como uma luta pela sobrevivência da nação, para evitar “uma ameaça iminente que o Irão representaria, se desenvolvesse armas nucleares”. Todavia, não se sabe se o país estava realmente a planear um ataque. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel tinha como alvo instalações nucleares e militares, mas admitia que poderia “ser daqui a um ano” ou “dentro de alguns meses”, prometendo prosseguir o ataque, no tempo necessário para “eliminar esta ameaça”, que é, na sua ótica, “um perigo claro e presente para a própria sobrevivência de Israel”.

Este ataque levou os militares israelitas aos seus limites, exigindo a utilização de reabastecedores ar – ar envelhecidos, para que os seus caças se aproximem o suficiente, para atacarem, mas não se sabe se os jatos israelitas entraram no espaço aéreo iraniano ou se apenas dispararam os “mísseis de bloqueio” sobre outro país.

O ataque ocorreu numa altura em que as tensões atingiram novo patamar, devido ao avanço do programa nuclear de Teerão. No dia 12, pela primeira vez em 20 anos, o Conselho de Governadores da AIEA censurou o Irão, por não colaborar com os seus inspetores. Por sua vez, o Irão anunciou, de imediato, a criação da terceira instalação de enriquecimento de urânio, no país, e a troca de algumas centrifugadoras por outras mais avançadas. E, após os ataques israelitas, em comunicado, destacou que as investidas vincaram a necessidade de avançar com o enriquecimento de urânio e as capacidades de mísseis, pois, segundo o governo iraniano, “não se deve falar com um regime tão predador, a não ser na linguagem do poder”, e o “Mundo compreende, agora melhor, a insistência do Irão, quanto ao direito ao enriquecimento, à tecnologia nuclear e ao acesso a mísseis”.

Há anos que Israel diz não permitir ao Irão uma arma nuclear, o que Teerão insiste em que não quer, embora as autoridades tenham advertido que tal poderia acontecer.

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, anunciou uma “situação de emergência”, no país, na sequência dos ataques. Assim, as escolas estariam fechadas, em todo o país, no dia 13, porque era de esperar uma retaliação iraniana com mísseis e com drones, num “futuro imediato”.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou que Israel tomou “medidas unilaterais contra o Irão” e que informou Washington de que os ataques eram necessários para a sua autodefesa. Quanto aos EUA, que não estão envolvidos nos ataques, a principal prioridade “é proteger as forças americanas na região”, pelo que avisaram o Irão de que não deve ter como alvo os interesses ou o pessoal dos EUA.

O presidente Donald Trump terá convocado o seu gabinete para uma reunião de emergência, na sequência do ataque israelita. Com efeito, nos dias antecedentes, Washington deixou claro que não participaria em ataques israelitas contra o Irão e o presidente tinha instado Israel a abster-se de atacar Teerão e a procurar soluções diplomáticas, mas reconheceu que um ataque israelita poderia acontecer. Além disso, pediu a Benjamin Netanyahu que adiasse qualquer ação, enquanto a administração norte-americana negociava com o Irão, visto que, enquanto houver hipótese de acordo, um ataque “iria estragar tudo”.

Os EUA têm estado a preparar-se para que algo aconteça, retirando alguns diplomatas da capital do Iraque, Bagdade, e oferecendo saída voluntária às famílias das tropas norte-americanas na região do Médio Oriente. E o Irão suspendeu, no dia 13, os voos no Aeroporto Internacional Imam Khomeini, nos arredores de Teerão, o principal aeroporto do país, tal como encerrara o seu espaço aéreo, em 2024, aquando dos ataques de retaliação contra Israel.

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Os ataques em causa têm merecido a condenação de vários líderes internacionais, desde o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ao primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, passando pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel

Após os ataques de Israel, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, disse, em comunicado, que o atacante terá “dura punição” e que o “regime sionista aplicou a sua mão perversa e sangrenta num crime contra o Irão, esta manhã”, tendo revelado “a sua natureza vil”, devendo esperar, por isso, “um destino amargo”.

Porém, as reações aos ataques de Israel não se cingem ao Irão. Vários líderes europeus e mundiais apressaram-se a pedir uma desescalada das tensões, na região.

Por exemplo, Keir Starmer considerando, no X, que os relatos dos ataques “são preocupantes”, instou “todas as partes a recuarem e a reduzirem, urgentemente, as tensões”; sustentou que a “escalada não serve ninguém, na região”, e que é o momento da contenção, da calma e do regresso à diplomacia”; e preconizou que a “estabilidade no Médio Oriente deve ser a prioridade”, pelo que o Reino Unido está a envolver os parceiros para “desanuviar a escalada”.

Ao invés, Donald Trump diz estar pronto para se defender e para proteger Israel, visto que “o Irão não pode ter a bomba nuclear e nós esperamos voltar à mesa das negociações”, declarou, citado pela Fox News.

Disse ter dado ao Irão inúmeras oportunidades para chegar a acordo, que os EUA “fabricam o melhor e mais letal equipamento militar do Mundo”, que “Israel tem muito desse equipamento, com muito mais para vir”, sabendo como o utilizar, e que “a situação só vai piorar”.

Também o chanceler alemão reagiu às investidas israelitas. De acordo com a Reuters, que cita um comunicado oficial de Friedrich Merz, disse ter sido informado pelo primeiro-ministro israelita sobre os ataques perpetrados contra o Irão, em chamada telefónica na manhã do dia 13. Considerou, sobre as tensões na região, que o Irão não deve desenvolver armas nucleares e que Israel tem o direito de se defender. Contudo, apelou a ambas as partes para que se abstenham de tomar medidas que levem a nova escalada e a desestabilizar toda a região. E informou estar em estreita coordenação com parceiros, como os EUA, o Reino Unido e a França.

António Costa, presidente do Conselho Europeu, “profundamente preocupado com os últimos acontecimentos no Médio Oriente”, apelou “à contenção e à diplomacia”, uma vez queuma nova e perigosa escalada desestabilizaria toda a região” do Médio Oriente.

Mark Rutte, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), foi também uma das vozes a acusar Israel de ter tomado uma “ação unilateral” e pediu aos aliados do país que se mobilizem, de modo a contribuírem para o alívio das tensões.

A partir de Bruxelas, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, considerando as notícias “profundamente alarmantes”, afirmou que “a Europa apela a todas as partes para que usem da máxima contenção, reduzam, imediatamente, a escalada e se abstenham de retaliações” e que “uma resolução diplomática é agora mais urgente do que nunca, a bem da estabilidade da região e da segurança global”.

Já a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, descreveu a situação como “perigosa” e afirmou que “a diplomacia continua a ser o melhor caminho a seguir”.

Giorgia Meloni, a primeira-ministra de Itália, informou estar a acompanhar a evolução da situação no Irão e que convocou, para a tarde do dia 13, uma reunião por videoconferência com alguns ministros e com os dirigentes dos serviços secretos nacionais. E o chefe da diplomacia italiana, Antonio Tajani, negou qualquer envolvimento do país nos ataques e disse que pretendia falar com o homólogo iraniano, para “tentar desanuviar a tensão e regressar ao diálogo”.

Na mesma linha, surgiu a reação do primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof.

Outros países apresentaram as suas primeiras reações, através dos seus Ministérios dos Negócios Estrangeiros. Foi o caso da Finlândia, da França, da Irlanda e de Portugal.

Este conflito entre Israel e o Irão ocorre dois dias antes de os líderes do Grupo dos Sete (G7) se reunirem para uma cimeira de dois dias, no Canadá, cuja agenda deveria centrar-se na guerra da Rússia contra a Ucrânia e no sistema de comércio internacional, mas os últimos acontecimentos podem ter impacto na mesma agenda.

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Há mais de 10 anos que o Irão e Israel se visam mutuamente com ciberataques, com operações secretas e com ataques militares, tendo as tensões aumentado, nos últimos anos, devido ao programa nuclear iraniano e à influência regional. E o ataque atual, sem precedentes, marcou uma escalada dramática na disputa que se desenrola há muito, destacando-se os seguintes momentos-chave do conflito, que ameaça transformar-se numa guerra aberta entre as duas nações:

* Em 2010, a identificação do vírus informático Stuxnet – amplamente atribuído aos serviços secretos norte-americanos e israelitas – desativou as centrifugadoras iranianas.

* Oito anos mais tarde, Benjamin Netanyahu revelou que Israel obtivera um conjunto de documentos de um armazém, em Teerão, que mostram, alegadamente, os esforços do Irão para esconder a atividade nuclear, antes do acordo, de 2015, com as potências mundiais. E, após o colapso do acordo, intensificaram-se os esforços de sabotagem contra o programa do Irão.

* Uma explosão, em julho de 2020, danificou uma central de centrifugação, em Natanz; e, mais tarde, nesse ano, o cientista nuclear de topo Mohsen Fakhrizadeh foi assassinado perto de Teerão, alegadamente com recurso a uma arma israelita controlada à distância.

* Em 2021, o Irão voltou a culpar Israel por um apagão em Natanz e, pouco depois, começou a enriquecer urânio a 60%.

* Em 2022, as alegações aumentaram, com o Irão a acusar Israel de envenenar dois dos seus cientistas nucleares sem apresentar provas.

* O ataque de 7 de outubro de 2023, levado a cabo pelo Hamas, no Sul de Israel, que matou 1200 pessoas e desencadeou a guerra entre, ambos em Gaza, intensificou as tensões regionais, pois o Irão manifestou o seu apoio ao grupo, agravando as já difíceis relações com Israel.

* Seguiram-se atos de sabotagem e ataques aéreos. No início de 2024, uma operação israelita danificou um gasoduto iraniano e, a 1 de abril, um ataque com mísseis destruiu o consulado do Irão, em Damasco, matando dois generais e 14 outras pessoas. Em resposta, o Irão lançou mais de 300 mísseis e drones num ataque direto a Israel, a maioria dos quais foi intercetada. E o braço de ferro prolongou-se até meados e finais de 2024. Os ataques israelitas mataram personalidades importantes, incluindo os líderes do Hamas, Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar, bem como Hassan Nasrallah, do Hezbollah, o que provocou novos lançamentos de mísseis iranianos e aumentou os receios de guerra regional. E, em outubro, Israel efetuou os primeiros ataques diretos no interior do Irão, visando as defesas aéreas e locais onde havia mísseis.

* Mais recentemente, em abril, o Irão executou um homem acusado de trabalhar com a Mossad, a agência israelita de inteligência estrangeira, e de estar envolvido no assassinato do coronel Hassan Sayyad Khodaei, em 2022.

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Duas das forças armadas mais poderosas do Médio Oriente aproximam-se de uma guerra aberta, alimentando o receio de que a região esteja à beira do que poderá ser o conflito mais significativo do século. De facto, a escala e a precisão dos ataques marcam uma das campanhas aéreas mais extensas dos últimos anos, na região.

O Irão gaba-se da superioridade numérica, em termos de tropas, de tanques e de artilharia. Israel mantém vantagem tecnológica, poder aéreo superior e alguns dos sistemas de defesa antimíssil mais avançados do Mundo. Além disso, ambos mostram ser fortes, na guerra de drones e de mísseis e possuem décadas de experiência em combates modernos e de alta intensidade.

A ofensiva israelita foi uma demonstração de poderio militar. Mais de 200 aviões lançaram mais de 330 munições de precisão, com ataques coordenados aos locais mais sensíveis do Irão, incluindo instalações de fabrico de mísseis, residências e escritórios de cientistas nucleares e centros de comando do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC). O Complexo de Enriquecimento de Natanz, na província de Esfahan, centro do programa de enriquecimento de urânio do Irão, ficou danificado, como numerosos locais em Teerão.

O Irão respondeu, rapidamente, lançando mais de 100 drones em direção ao território israelita, mas a maioria foi intercetada pelos sistemas de defesa aérea de Israel, limitando o impacto.

A Força Aérea israelita é tida como uma das melhores do Mundo, equipada com aviões avançados e com armas de precisão. E a doutrina militar de Israel enfatiza a mobilização rápida, a resiliência e a superioridade tecnológica.

O conflito pode alastrar à Síria, ao Iraque e ao Golfo e pôr em risco os bens dos EUA na região.

Enfim, uma guerra demonstrativa de poder, cada um a ambicionar a hegemonia regional, podendo afetar a Europa de várias maneiras.

2025.06.13 – Louro de Carvalho

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