Sob o título “As maravilhas
arqueológicas do Cazaquistão atraem multidões”, a Euronews publicou, a 25 de junho, uma nota de Meruyert Zhakiya sobre um episódio de Modern
Nomads, uma nova série documental que acompanha um repórter numa viagem, o
qual explora diversas maravilhas culturais do país, numa mescla de modernidade
e de tradição com uma perspetiva internacional.
No caso vertente, segundo a nota, a viagem pelo Cazaquistão foi “em busca dos seus tesouros arqueológicos mais cativantes, desde os túmulos reais Saka de Berel, no Leste, até à icónica exposição do Homem Dourado na capital Astana”. Porém, a nota salienta que o território do cazaquistanês “foi outrora o lar de antigas civilizações”, que ali “prosperaram há milénios”, e que “os túmulos reais Saka, descobertos em 1998, oferecem uma visão da hierarquia social e das tradições funerárias da época”. Por outro lado, o sítio “contém túmulos da época turca posterior”.
Por tudo isto, não admira que o Cazaquistão Oriental seja, atualmente, “um destino de visita obrigatória”, atraindo cerca de 15 mil visitantes, por ano.
Refere a mesma nota que “a região é rica em tesouros arqueológicos”, sendo um deles Ak-Baur, “um complexo de povoações sedentárias que remonta à Idade do Bronze e ao início da Idade do Ferro” – descoberta que “põe em causa o estereótipo de que os Saka eram puramente nómadas”.
Contudo, o achado arqueológico mais emblemático do Cazaquistão é o Homem Dourado, ou Altyn Adam, em Cazaque, que “está, agora, alojado no Museu Nacional de Astana”, ou melhor, Museu Estadual de Ouro e Pedras Preciosas, e cuja “exposição viajou por todo o Mundo, tornando-se um símbolo poderoso do legado antigo da nação”.
O Museu de Arqueologia está localizado na Rua Shevchenko, 28, ao lado do prédio da Academia de Ciências do Cazaquistão. Em frente ao prédio, há um monumento a Chokan Valikhanov, o estudioso, historiador, etnógrafo e folclorista cazaque que liderou expedições científicas e etnográficas ao Ili Quirguistão (Ili é um rio) e aos auls do Grande Zhuz e Kulja (auls são vilas fortificadas nas montanhas caucasianas).
Edificado sobre a fundação de uma coleção que narra a vida e as civilizações que outrora floresceram em solo cazaque, o museu abriu as portas em 1973, em Almaty.
O museu deve sua fundação a várias gerações de arqueólogos e de académicos que, desde a década de 1920, se têm dedicado à descoberta, ao estudo e à preservação da herança arqueológica do Cazaquistão e, em especial à liderança de renomados académicos cazaques, como Alkey Margulan e Akay Nusupbekov, cujo objetivo era exibir achados arqueológicos do século XX e estudar uma das descobertas mais significativas: o “Homem de Ouro”, do túmulo de Issyk, perto do Rio Issyk, no sopé das montanhas.
A sua primeira exposição foi realizada num prédio diferente, na Avenida Lenin (hoje Avenida Dostyk). Em 2010, o museu foi transferido para o centro cultural e educacional Gylym Ordasy. E, após uma grande restauração, reabriu, em 2012, na localização atual, dentro do prédio da Academia de Ciências do Cazaquistão.
As exibições do museu retratam, vividamente, a História da vida humana e da civilização no Cazaquistão, exibindo materiais desenterrados de locais de sepultamento que abrangem desde a Idade do Bronze à Idade Média. Os destaques da coleção incluem cerâmica antiga, artigos de vidro e moedas das tribos Saka e Wusun.
Entre as exibições mais fascinantes estão o “Homem de Ouro” e o “Cavalo de Berel”. O “Homem de Ouro”, também conhecido como “Homem de Ouro de Issyk”, é uma das descobertas arqueológicas mais icónicas do Cazaquistão, encontrada no final da década de 1960. Embora o túmulo tenha sido saqueado, antes da chegada dos arqueólogos, permaneceu milagrosamente intocada uma câmara funerária. Lá dentro, os arqueólogos descobriram os restos mortais de um guerreiro Saka vestido com uma armadura dourada. O seu traje apresentava mais de quatro mil ornamentos de ouro, e a câmara continha armas, anéis e cerâmica de ouro. A descoberta remonta aos séculos VI e V a.C. O “Homem de Ouro”, retratado em cima de um leopardo alado, tornou-se um símbolo do Cazaquistão. Embora os artefactos originais estejam alojados no Museu Estadual de Ouro e Pedras Preciosas, em Astana, uma réplica está exposta no Museu de Arqueologia de Almaty.
O “Cavalo de Berel” é outra exibição notável desenterrada dos túmulos de Berel, no Leste do Cazaquistão. Encontrado no enterro de uma rainha local, a escavação revelou sete garanhões cor de fogo. Um dos cavalos estava adornado com uma máscara de couro decorada com placas de ouro na forma de criaturas míticas. Também foram descobertos restos de cavalos em outros túmulos de Berel, e um desses cavalos foi reconstruído para exibição no museu.
Os visitantes com crianças são incentivados a explorar vários museus dentro do complexo, já que os visitantes mais jovens ficam particularmente fascinados pelos esqueletos de dinossauros em exposição no Museu da Natureza.
Em agosto de 2019, o portal Galileu dava conta de várias descobertas de há quatro mil anos, no Cazaquistão. Mais concretamente, os corpos de um homem e uma mulher adolescentes foram encontrados enterrados, frente a frente, num cemitério, assim como joias, facas, cerâmicas e missangas. Perto dos dois seres humanos, estavam enterrados os restos mortais de um cavalo e, mais adiante, encontrou-se o túmulo de uma sacerdotisa.
A causa das mortes é incerta, mas vestígios arqueológicos encontrados noutros locais, no Cazaquistão, sugerem que o casal viveu numa época em que os conflitos eram comuns. Para tentar trazer à luz mais factos sobre a História do país, os especialistas prosseguiram escavações na região, pois ficaram empolgados com o achado, embora haja muitas incertezas. Por exemplo, não se sabe a idade que os dois humanos tinham, quando morreram, ou a relação entre eles. Contudo, os artefactos enterrados com a dupla sugerem que o homem e a mulher eram de famílias abastadas.
Segundo a revista brasileira Arqueologia e Pré-História, em maio de 2013, arqueólogos dos Estados Unidos da América (EUA), da Alemanha, do Japão e da Austrália chegaram ao Cazaquistão, para estudarem um sítio Paleolítico único, em Zhambyl na região de Almaty. Ali se destacam o sítio de Maibulak, localizado a 50 quilómetros de Almaty, observado, pela primeira vez, há vários anos, pelo reitor da Escola de História, Arqueologia e Etnologia da Al-Farabi Kazakh National University Zhaken Taimagambetov; e o sítio de Zhetyssu, um dos poucos sítios do “homem primitivo” do Mundo que foi preservado por uma camada de solo e cujas escavações no sítio vinham ocorrendo ao longo dos últimos oito anos.
Segundo os
pesquisadores, este sítio tem mais de 35 mil anos. Os cientistas estavam a
encontrar amostras que se podiam tornar sensação.
“Maibulak é algum tipo de transição do Mousteriense para o Paleolítico Superior, o momento de transição do Neanderthal para o homem de Cro-Magnon. Este período é muito interessante para os investigadores estrangeiros”, disse o arqueólogo Taimagambetov.
Especialistas notaram que tais sítios são uma base para a hipótese de que o território do Cazaquistão fazia parte do caminho para o Oriente na migração da população em todo o Mundo.
Em junho de 2024, a revista Aventuras na História – que, em agosto de 2023, dava nota da descoberta de ossos de animais e a escultura de um sapo num disco de bronze, no túmulo de uma jovem de 12 a 15 anos – referia, desta vez, a descoberta, durante uma campanha voluntária para limpeza do meio ambiente, de cerca de 100 pinturas rupestres com cerca de 3,5 mil anos. Descobertos na região de Zhambyl, no Sudeste do Cazaqistão, os petrófilos são datados da Idade do Bronze ou início da Idade do Ferro, na região, segundo o Astana Times. Nas representações, são identificados animais e cenas de caça.
Segundo o Live Science, as pinturas mostram animais, como camelos de corcunda dupla e argalis (um tipo de ovelha selvagem), além de seres humanos a caçar. As representações estão espalhadas por uma área de entre 20 e 25 metros de comprimento, e entre 1,5 e 2 metros de largura, como informou o arqueólogo que os analisou, Sauran Kaliyev, ao Astana Times.
Também em agosto de 2024, a mesma revista Aventuras na História referia que, na região Leste do Cazaquistão, foram descobertas, por arqueólogos do Instituto de Arqueologia Margulan, 13 tumbas da etnia Xianbei, datadas da primeira metade do primeiro milénio (até 500 anos d.C.). Os Xianbei eram um povo nómada que habitava áreas que, hoje, correspondem à Mongólia, à Mongólia Interior e ao Nordeste da China, atingindo o auge nas dinastias Jin (265-420) e do Norte (386-581). Os túmulos foram encontrados num sítio arqueológico a 11 km do vilarejo de Arshaty, no distrito de Katon-Karagay, leste do Cazaquistão. Conforme explica o portal Galileu, consistem em sepulturas antigas, circundadas por pedras, com covas de, aproximadamente, um metro de profundidade, no centro. E, de acordo com um comunicado, uma das estruturas funerárias contém um cadáver adulto, enquanto outras duas abrigam ossadas de cavalos. Dentro das sepulturas, foram descobertos objetos de cerâmica, conchas de búzios e contas de pedras semipreciosas.
Em fevereiro
de 2025, o Jornal Extra, do Brasil, sob
o título “Tesouro no Cazaquistão: arqueólogos encontram artefactos e joias de
ouro de há dois mil anos”, dava nota de que a administração provincial de Atyrau anunciara que escavações
arqueológicas no monte Karabau-2 resultaram na descoberta de nove túmulos, sete
dos quais estavam bem preservados e continham artefactos do Império
Sármata, incluindo joias, armas, vasos de cerâmica e restos mortais humanos.
Entre os túmulos descobertos, alguns
foram identificados como “túmulos reais” devido às práticas de sepultamento
coletivo. Um artefacto notável encontrado foi uma pulseira de ouro de 370
gramas, decorada com representações de leopardos da montanha.
Marat Kasenov, chefe da equipa de escavação, confirmou que a região de Atyrau fazia parte do Império Sármata, com, aproximadamente, mil artefactos descobertos, incluindo 100 joias de ouro. As escavações vão continuar com uma equipa diversificada de especialistas. As descobertas foram exibidas na exposição “O Ouro dos Sármatas”, com a presença de autoridades regionais e especialistas de cultura.
Localizado na região de Atyrau, no Cazaquistão, ao longo do mar Cáspio, o monte Karabau-2 está situado dez quilómetros ao Norte da vila de Karabau, no distrito de Kyzylkoga e é parte de uma série de necrópoles associadas à cultura sármata. O local é notável pelos túmulos bem preservados e artefactos, que fornecem informações sobre as práticas funerárias, estruturas sociais e vida desta cultura.
Os Sármatas eram um antigo povo nómada que habitava a estepe da Eurásia, principalmente, no Sul da Rússia, na Ucrânia e em partes do Cazaquistão, do século V a.C. ao século IV d.C. Eles tinham relações estreitas com os Citas (outro povo nómada da região) e interagiam com várias culturas vizinhas, incluindo romanos e persas.
Em março de 2025, o site brasileiro Giz Modo replicou e desenvolveu a notícia, relevando que, ao longo de 2024, os arqueólogos encontraram diversos artefactos que passaram a compor o acervo histórico mundial e que, no início de 2025, novas expedições revelaram um conjunto extraordinário de joias e de objetos que evidenciam a sofisticação cultural de um povo antigo. “Entre as descobertas mais notáveis está um bracelete de ouro maciço de 370 gramas, adornado com figuras de leopardos de montanha esculpidas nas suas extremidades. Esse objeto, além do seu alto valor material, simboliza o status de elite de seus antigos proprietários”, diz Christiane Chatelain. Além da bracelete, foram recuperados mais de 100 objetos ornamentados com representações de tigres e javalis, símbolos de poder na antiguidade. Também foram encontrados tigelas de madeira em ótimo estado de conservação, facto raro na arqueologia cazaque, o que se deverá clima seco da estepe.
A descoberta foi celebrada pelo governo do Cazaquistão, que destacou a sua importância para o património cultural do país. O design e a qualidade dos itens indicam que pertenciam a um grupo de elite, mas não necessariamente dinastia governante. Além disso, os rituais funerários complexos dos sepultamentos sugerem forte componente espiritual nas práticas desse povo.
Também aqui se releva que os Sármatas foram um povo nómada que dominou a estepe euroasiática entre os séculos V a.C. e IV d.C., ocupando territórios que hoje pertencem à Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Porém, apesar da sua influência nas civilizações romana e persa, a sua História permaneceu relativamente obscura, ao longo dos séculos.
Entretanto, acrescenta-se que os “Sármatas eram exímios cavaleiros e guerreiros habilidosos, caraterísticas que os tornaram aliados valiosos em conflitos estratégicos”; que “a sua organização social possuía hierarquias definidas”; e que “os membros da elite desfrutavam de riquezas consideráveis” – aliás, “como demonstram os artefactos recém-descobertos”.
Também aqui se menciona Marat Kasenov, líder da expedição, mas a afirmar que “as escavações iniciadas em 2024 ajudaram a compreender melhor a estrutura social sármata e o seu impacto na estepe cazaque” e que “as evidências sugerem que esse povo formou um reino centralizado, com classes dominantes bem estabelecidas”.
Os próximos passos da pesquisa envolvem a análise dos restos ósseos encontrados e o estudo dos rituais funerários utilizados. O objetivo é entender melhor a influência sármata na cultura cazaque contemporânea e identificar elementos que possam ter sido preservados ao longo dos séculos.
Essa descoberta marca um novo capítulo na arqueologia do Cazaquistão e reforça a importância da preservação do património histórico para a compreensão da evolução das civilizações antigas.
***
Em suma, estes achados arqueológicos revelam a rica História e a Cultura do Cazaquistão, desde a Idade do Bronze até períodos mais recentes, com evidências da presença de povos nómadas, a importância de símbolos de poder e a habilidade artística e artesanal dos seus habitantes.
No caso vertente, segundo a nota, a viagem pelo Cazaquistão foi “em busca dos seus tesouros arqueológicos mais cativantes, desde os túmulos reais Saka de Berel, no Leste, até à icónica exposição do Homem Dourado na capital Astana”. Porém, a nota salienta que o território do cazaquistanês “foi outrora o lar de antigas civilizações”, que ali “prosperaram há milénios”, e que “os túmulos reais Saka, descobertos em 1998, oferecem uma visão da hierarquia social e das tradições funerárias da época”. Por outro lado, o sítio “contém túmulos da época turca posterior”.
Por tudo isto, não admira que o Cazaquistão Oriental seja, atualmente, “um destino de visita obrigatória”, atraindo cerca de 15 mil visitantes, por ano.
Refere a mesma nota que “a região é rica em tesouros arqueológicos”, sendo um deles Ak-Baur, “um complexo de povoações sedentárias que remonta à Idade do Bronze e ao início da Idade do Ferro” – descoberta que “põe em causa o estereótipo de que os Saka eram puramente nómadas”.
Contudo, o achado arqueológico mais emblemático do Cazaquistão é o Homem Dourado, ou Altyn Adam, em Cazaque, que “está, agora, alojado no Museu Nacional de Astana”, ou melhor, Museu Estadual de Ouro e Pedras Preciosas, e cuja “exposição viajou por todo o Mundo, tornando-se um símbolo poderoso do legado antigo da nação”.
***
Como todas as entidades políticas e culturais que se prezam, as autoridades
cazaquistanesas resolveram cuidar dos achados arqueológicos do país e dar-lhes projeção
intencional. Para tanto, nada melhor do que a criação de uma instituição cultural
proeminente como o Museu de Arqueologia de Almaty, uma instituição cultural
proeminente, que funciona sob a égide da Academia de Ciências do Cazaquistão,
localizada dentro do complexo de ciência e museu “Gylym Ordasy” – “o único
museu desse tipo, no país, oferecendo um vislumbre único do passado antigo e
medieval do Cazaquistão”. Paralelamente, incrementa-se a abertura do museu ao
público e, em especial, à população escolar e organizam-se exposições itinerantes,
no país e pelo Mundo.O Museu de Arqueologia está localizado na Rua Shevchenko, 28, ao lado do prédio da Academia de Ciências do Cazaquistão. Em frente ao prédio, há um monumento a Chokan Valikhanov, o estudioso, historiador, etnógrafo e folclorista cazaque que liderou expedições científicas e etnográficas ao Ili Quirguistão (Ili é um rio) e aos auls do Grande Zhuz e Kulja (auls são vilas fortificadas nas montanhas caucasianas).
Edificado sobre a fundação de uma coleção que narra a vida e as civilizações que outrora floresceram em solo cazaque, o museu abriu as portas em 1973, em Almaty.
O museu deve sua fundação a várias gerações de arqueólogos e de académicos que, desde a década de 1920, se têm dedicado à descoberta, ao estudo e à preservação da herança arqueológica do Cazaquistão e, em especial à liderança de renomados académicos cazaques, como Alkey Margulan e Akay Nusupbekov, cujo objetivo era exibir achados arqueológicos do século XX e estudar uma das descobertas mais significativas: o “Homem de Ouro”, do túmulo de Issyk, perto do Rio Issyk, no sopé das montanhas.
A sua primeira exposição foi realizada num prédio diferente, na Avenida Lenin (hoje Avenida Dostyk). Em 2010, o museu foi transferido para o centro cultural e educacional Gylym Ordasy. E, após uma grande restauração, reabriu, em 2012, na localização atual, dentro do prédio da Academia de Ciências do Cazaquistão.
As exibições do museu retratam, vividamente, a História da vida humana e da civilização no Cazaquistão, exibindo materiais desenterrados de locais de sepultamento que abrangem desde a Idade do Bronze à Idade Média. Os destaques da coleção incluem cerâmica antiga, artigos de vidro e moedas das tribos Saka e Wusun.
Entre as exibições mais fascinantes estão o “Homem de Ouro” e o “Cavalo de Berel”. O “Homem de Ouro”, também conhecido como “Homem de Ouro de Issyk”, é uma das descobertas arqueológicas mais icónicas do Cazaquistão, encontrada no final da década de 1960. Embora o túmulo tenha sido saqueado, antes da chegada dos arqueólogos, permaneceu milagrosamente intocada uma câmara funerária. Lá dentro, os arqueólogos descobriram os restos mortais de um guerreiro Saka vestido com uma armadura dourada. O seu traje apresentava mais de quatro mil ornamentos de ouro, e a câmara continha armas, anéis e cerâmica de ouro. A descoberta remonta aos séculos VI e V a.C. O “Homem de Ouro”, retratado em cima de um leopardo alado, tornou-se um símbolo do Cazaquistão. Embora os artefactos originais estejam alojados no Museu Estadual de Ouro e Pedras Preciosas, em Astana, uma réplica está exposta no Museu de Arqueologia de Almaty.
O “Cavalo de Berel” é outra exibição notável desenterrada dos túmulos de Berel, no Leste do Cazaquistão. Encontrado no enterro de uma rainha local, a escavação revelou sete garanhões cor de fogo. Um dos cavalos estava adornado com uma máscara de couro decorada com placas de ouro na forma de criaturas míticas. Também foram descobertos restos de cavalos em outros túmulos de Berel, e um desses cavalos foi reconstruído para exibição no museu.
Os visitantes com crianças são incentivados a explorar vários museus dentro do complexo, já que os visitantes mais jovens ficam particularmente fascinados pelos esqueletos de dinossauros em exposição no Museu da Natureza.
***
Talvez seja útil uma resenha dos principais achados.Em agosto de 2019, o portal Galileu dava conta de várias descobertas de há quatro mil anos, no Cazaquistão. Mais concretamente, os corpos de um homem e uma mulher adolescentes foram encontrados enterrados, frente a frente, num cemitério, assim como joias, facas, cerâmicas e missangas. Perto dos dois seres humanos, estavam enterrados os restos mortais de um cavalo e, mais adiante, encontrou-se o túmulo de uma sacerdotisa.
A causa das mortes é incerta, mas vestígios arqueológicos encontrados noutros locais, no Cazaquistão, sugerem que o casal viveu numa época em que os conflitos eram comuns. Para tentar trazer à luz mais factos sobre a História do país, os especialistas prosseguiram escavações na região, pois ficaram empolgados com o achado, embora haja muitas incertezas. Por exemplo, não se sabe a idade que os dois humanos tinham, quando morreram, ou a relação entre eles. Contudo, os artefactos enterrados com a dupla sugerem que o homem e a mulher eram de famílias abastadas.
Segundo a revista brasileira Arqueologia e Pré-História, em maio de 2013, arqueólogos dos Estados Unidos da América (EUA), da Alemanha, do Japão e da Austrália chegaram ao Cazaquistão, para estudarem um sítio Paleolítico único, em Zhambyl na região de Almaty. Ali se destacam o sítio de Maibulak, localizado a 50 quilómetros de Almaty, observado, pela primeira vez, há vários anos, pelo reitor da Escola de História, Arqueologia e Etnologia da Al-Farabi Kazakh National University Zhaken Taimagambetov; e o sítio de Zhetyssu, um dos poucos sítios do “homem primitivo” do Mundo que foi preservado por uma camada de solo e cujas escavações no sítio vinham ocorrendo ao longo dos últimos oito anos.
“Maibulak é algum tipo de transição do Mousteriense para o Paleolítico Superior, o momento de transição do Neanderthal para o homem de Cro-Magnon. Este período é muito interessante para os investigadores estrangeiros”, disse o arqueólogo Taimagambetov.
Especialistas notaram que tais sítios são uma base para a hipótese de que o território do Cazaquistão fazia parte do caminho para o Oriente na migração da população em todo o Mundo.
Em junho de 2024, a revista Aventuras na História – que, em agosto de 2023, dava nota da descoberta de ossos de animais e a escultura de um sapo num disco de bronze, no túmulo de uma jovem de 12 a 15 anos – referia, desta vez, a descoberta, durante uma campanha voluntária para limpeza do meio ambiente, de cerca de 100 pinturas rupestres com cerca de 3,5 mil anos. Descobertos na região de Zhambyl, no Sudeste do Cazaqistão, os petrófilos são datados da Idade do Bronze ou início da Idade do Ferro, na região, segundo o Astana Times. Nas representações, são identificados animais e cenas de caça.
Segundo o Live Science, as pinturas mostram animais, como camelos de corcunda dupla e argalis (um tipo de ovelha selvagem), além de seres humanos a caçar. As representações estão espalhadas por uma área de entre 20 e 25 metros de comprimento, e entre 1,5 e 2 metros de largura, como informou o arqueólogo que os analisou, Sauran Kaliyev, ao Astana Times.
Também em agosto de 2024, a mesma revista Aventuras na História referia que, na região Leste do Cazaquistão, foram descobertas, por arqueólogos do Instituto de Arqueologia Margulan, 13 tumbas da etnia Xianbei, datadas da primeira metade do primeiro milénio (até 500 anos d.C.). Os Xianbei eram um povo nómada que habitava áreas que, hoje, correspondem à Mongólia, à Mongólia Interior e ao Nordeste da China, atingindo o auge nas dinastias Jin (265-420) e do Norte (386-581). Os túmulos foram encontrados num sítio arqueológico a 11 km do vilarejo de Arshaty, no distrito de Katon-Karagay, leste do Cazaquistão. Conforme explica o portal Galileu, consistem em sepulturas antigas, circundadas por pedras, com covas de, aproximadamente, um metro de profundidade, no centro. E, de acordo com um comunicado, uma das estruturas funerárias contém um cadáver adulto, enquanto outras duas abrigam ossadas de cavalos. Dentro das sepulturas, foram descobertos objetos de cerâmica, conchas de búzios e contas de pedras semipreciosas.
Marat Kasenov, chefe da equipa de escavação, confirmou que a região de Atyrau fazia parte do Império Sármata, com, aproximadamente, mil artefactos descobertos, incluindo 100 joias de ouro. As escavações vão continuar com uma equipa diversificada de especialistas. As descobertas foram exibidas na exposição “O Ouro dos Sármatas”, com a presença de autoridades regionais e especialistas de cultura.
Localizado na região de Atyrau, no Cazaquistão, ao longo do mar Cáspio, o monte Karabau-2 está situado dez quilómetros ao Norte da vila de Karabau, no distrito de Kyzylkoga e é parte de uma série de necrópoles associadas à cultura sármata. O local é notável pelos túmulos bem preservados e artefactos, que fornecem informações sobre as práticas funerárias, estruturas sociais e vida desta cultura.
Os Sármatas eram um antigo povo nómada que habitava a estepe da Eurásia, principalmente, no Sul da Rússia, na Ucrânia e em partes do Cazaquistão, do século V a.C. ao século IV d.C. Eles tinham relações estreitas com os Citas (outro povo nómada da região) e interagiam com várias culturas vizinhas, incluindo romanos e persas.
Em março de 2025, o site brasileiro Giz Modo replicou e desenvolveu a notícia, relevando que, ao longo de 2024, os arqueólogos encontraram diversos artefactos que passaram a compor o acervo histórico mundial e que, no início de 2025, novas expedições revelaram um conjunto extraordinário de joias e de objetos que evidenciam a sofisticação cultural de um povo antigo. “Entre as descobertas mais notáveis está um bracelete de ouro maciço de 370 gramas, adornado com figuras de leopardos de montanha esculpidas nas suas extremidades. Esse objeto, além do seu alto valor material, simboliza o status de elite de seus antigos proprietários”, diz Christiane Chatelain. Além da bracelete, foram recuperados mais de 100 objetos ornamentados com representações de tigres e javalis, símbolos de poder na antiguidade. Também foram encontrados tigelas de madeira em ótimo estado de conservação, facto raro na arqueologia cazaque, o que se deverá clima seco da estepe.
A descoberta foi celebrada pelo governo do Cazaquistão, que destacou a sua importância para o património cultural do país. O design e a qualidade dos itens indicam que pertenciam a um grupo de elite, mas não necessariamente dinastia governante. Além disso, os rituais funerários complexos dos sepultamentos sugerem forte componente espiritual nas práticas desse povo.
Também aqui se releva que os Sármatas foram um povo nómada que dominou a estepe euroasiática entre os séculos V a.C. e IV d.C., ocupando territórios que hoje pertencem à Rússia, Ucrânia e Cazaquistão. Porém, apesar da sua influência nas civilizações romana e persa, a sua História permaneceu relativamente obscura, ao longo dos séculos.
Entretanto, acrescenta-se que os “Sármatas eram exímios cavaleiros e guerreiros habilidosos, caraterísticas que os tornaram aliados valiosos em conflitos estratégicos”; que “a sua organização social possuía hierarquias definidas”; e que “os membros da elite desfrutavam de riquezas consideráveis” – aliás, “como demonstram os artefactos recém-descobertos”.
Também aqui se menciona Marat Kasenov, líder da expedição, mas a afirmar que “as escavações iniciadas em 2024 ajudaram a compreender melhor a estrutura social sármata e o seu impacto na estepe cazaque” e que “as evidências sugerem que esse povo formou um reino centralizado, com classes dominantes bem estabelecidas”.
Os próximos passos da pesquisa envolvem a análise dos restos ósseos encontrados e o estudo dos rituais funerários utilizados. O objetivo é entender melhor a influência sármata na cultura cazaque contemporânea e identificar elementos que possam ter sido preservados ao longo dos séculos.
Essa descoberta marca um novo capítulo na arqueologia do Cazaquistão e reforça a importância da preservação do património histórico para a compreensão da evolução das civilizações antigas.
***
Em suma, estes achados arqueológicos revelam a rica História e a Cultura do Cazaquistão, desde a Idade do Bronze até períodos mais recentes, com evidências da presença de povos nómadas, a importância de símbolos de poder e a habilidade artística e artesanal dos seus habitantes.
2025.06.29
– Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário