Foi
publicada, a 27 de novembro, uma nova sondagem, a qual o almirante Gouveia e
Melo lidera, quase empatado com André Ventura, não passando João Cotrim de
Figueiredo dos 3% votos – dados bem distintos de outras publicadas em outubro e
em novembro.
A
sondagem foi realizada antes do início dos debates televisivos, que se iniciaram
a 17 de novembro. E está ser fortemente contestada pelos outros candidatos, sobretudo,
por Cotrim de Figueiredo, como se tratasse de brincadeira ou do intuito de
baralhar os eleitores.
Ora,
as sondagens refletem o estado aproximado da população num determinado momento,
servindo de indicador para a opinião pública, neste caso, o eleitorado, e para
os protagonistas do objeto da sondagem, no caso, os candidatos à Presidência da
República, cujo ato eleitoral está agendado para 18 de janeiro de 2026.
É
certo que, além do indicador referido e ao invés desse objetivo, as sondagens
podem ter o efeito perverso de condicionar o voto dos eleitores ou até a sua comparência
às urnas, porque já não vale a pena ou porque a eleição está ganha. Não obstante, o importante não é a sondagem,
mas o que os eleitores e/ou os candidatos façam com ela, como sucede com os
debates, cujo mérito não está no ganho, mas na gestão que se faça da boa prestação
ou na correção da prestação medíocre.
Do
meu ponto de vista, a esta sondagem só lhe é apontável o ter vindo a destempo,
ou seja, quando a pré-campanha eleitoral já está na rua e nos debates. Já no apeto
técnico atinente ao estudos de opinião, não parece que se lhe possa apontar
alguma falha, pelo que vale tanto como as demais.
Este
relatório baseia-se numa sondagem coordenada por uma equipa do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) e do ISCTE - Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado
pela GfK Metris, entre os dias 7 e 17 de novembro de 2025. O seu universo é
constituído pelos indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a
18 anos e com capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal
Continental.
Os
respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa
matriz que cruza as variáveis sexo, idade (quatro grupos), instrução (três
grupos), região (sete regiões NUTS II – Nomenclatura de Unidades Territoriais Estatísticas
de nível II) e habitat/dimensão dos agregados populacionais (cinco grupos). A
partir de uma matriz inicial de região e de habitat, foram selecionados,
aleatoriamente, 99 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas,
de acordo com as quotas acima referidas.
A informação
foi recolhida através de entrevista direta e pessoal, na residência dos
inquiridos, em sistema CAPI – Computer-Assisted Personal Interviewing),
uma técnica de entrevista presencial que usa computador ou dispositivo
móvel (como um tablet) para conduzir a pesquisa e registar as respostas
em tempo real –, e a intenção de voto em eleições legislativas recolhida
através de simulação de voto em urna. Foram contactados 2980 lares
elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 807
entrevistas válidas (com taxa de resposta de 27%, e com taxa de cooperação de
41%). O trabalho de campo foi realizado por 36 entrevistadores, que receberam
formação adequada às especificidades do estudo.
Todos
os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação, de acordo com
a frequência de prática religiosa e com a pertença a sindicatos ou a associações
profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos residentes no
Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European Social Survey
(Ronda 11). E a margem de erro máxima associada à amostra aleatória
simples de 807 inquiridos é de +/- 3,5%, com nível de confiança de 95%.
***
Desta
vez, a sondagem feita para o Expresso e para a SIC coloca o
almirante Henrique Gouveia e Melo e André Ventura, presidente do Chega, com 18% de
intenções de voto, cada, um pouco à frente dos 16% de
Luís Marques Mendes, antigo presidente do PSD.
Depois, feita a distribuição dos indecisos e a exclusão dos abstencionistas, o almirante fica com 26% das intenções de voto, contra 25% do presidente do Chega. Marques Mendes, apoiado pelo Partido Social Democrata (PSD), continua a seguir, com 23%. António José Seguro, apoiado pelo Partido Socialista (PS) e seu antigo secretário-geral, aparece um pouco mais longe dos três primeiros: 10% (com 14% após distribuição de indecisos). João Cotrim de Figueiredo, ex-presidente da Iniciativa Liberal (IL), não passa dos 3% (e 5%, após a distribuição dos indecisos e a exclusão dos abstencionistas). António Filipe, do Partido Comunista Português (PCP) e antigo vice-presidente do Parlamento, fica-se pelos 2%; Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE), fica em 1%. E Jorge Pinto, do Livre (L), e Joana Amaral Dias, da Alternativa Democrática Nacional (ADN), nem chegam a 1%, pelo que não aparecem neste estudo.
Depois, feita a distribuição dos indecisos e a exclusão dos abstencionistas, o almirante fica com 26% das intenções de voto, contra 25% do presidente do Chega. Marques Mendes, apoiado pelo Partido Social Democrata (PSD), continua a seguir, com 23%. António José Seguro, apoiado pelo Partido Socialista (PS) e seu antigo secretário-geral, aparece um pouco mais longe dos três primeiros: 10% (com 14% após distribuição de indecisos). João Cotrim de Figueiredo, ex-presidente da Iniciativa Liberal (IL), não passa dos 3% (e 5%, após a distribuição dos indecisos e a exclusão dos abstencionistas). António Filipe, do Partido Comunista Português (PCP) e antigo vice-presidente do Parlamento, fica-se pelos 2%; Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE), fica em 1%. E Jorge Pinto, do Livre (L), e Joana Amaral Dias, da Alternativa Democrática Nacional (ADN), nem chegam a 1%, pelo que não aparecem neste estudo.
Quem
“ganha” são os indecisos, que são 22% dos inquiridos. E este será um fator
essencial para explicar os resultados distintos uns dos outros,
comparando as quatro sondagens publicadas nos últimos dias.
Há
uma semana, quem surgia à frente, na sondagem da Intercampus era Marques
Mendes, e Gouveia e Melo estava em terceiro – e com percentagens bem diferentes.
Nenhum passava dos 16%). Além disso, Cotrim aparecia à frente de António Seguro,
com mais de 11%. Poucos dias antes, nas contas da Pitagórica, havia empate
técnico a envolver o almirante, mas com Marques Mendes, e
não com André Ventura – de quem estava próximo Cotrim de Figueiredo.
O
candidato apoiado pela IL, que se quer colocar ao nível dos mais bem
posicionados, não acredita nos seus 3% e já se queixou desta sondagem. “Que
acham disto? Absolutamente inacreditável. Não será
isto manipular a opinião dos portugueses? Ou enganaram-se sem querer,
ou enganaram-se de propósito. Se se enganaram sem querer, é grave, porque é
incompetência. Não seria impossível, porque esta empresa de sondagens sempre
subestimou os meus resultados. A três semanas do ato eleitoral das europeias,
deram-me menos de metade do resultado que, efetivamente, tive. Se é por erro de
propósito, pior ainda. É para quê? É para gerar, aqui, um clima de
favorecimento de voto útil do lado de uma candidatura?”, questiona, num vídeo
publicado nas redes sociais.
***
Se
as eleições presidenciais fossem nestes dias, não haveria vencedor à primeira
volta e seriam os candidatos André Ventura e Gouveia e Melo a passar à segunda
volta. Isto, a menos de dois meses para as eleições presidenciais de 18 de
janeiro. Na verdade, André Ventura e Henrique Gouveia e Melo surgem empatados,
na sondagem do ICS-UL e do ISCTE-IUL, para a SIC e para o Expresso,
ambos com 18% das intenções de voto. E são, apesar de tudo, seguidos de perto
e dentro da margem de erro, por Luís Marques Mendes. Há, portanto, empate
técnico, a três.
Em quarto lugar, mas a larga distância, está António José Seguro, com 10%. João Cotrim Figueiredo não vai além dos 3%, António Filipe obtém 2% e Catarina Martins só obtém 1%. E Jorge Pinto, candidato apoiado pelo Livre, e Joana Amaral Dias, não chegam a 1%, razão por que não aparecem discriminados. Dos outros candidatos nem se fala.
Em quarto lugar, mas a larga distância, está António José Seguro, com 10%. João Cotrim Figueiredo não vai além dos 3%, António Filipe obtém 2% e Catarina Martins só obtém 1%. E Jorge Pinto, candidato apoiado pelo Livre, e Joana Amaral Dias, não chegam a 1%, razão por que não aparecem discriminados. Dos outros candidatos nem se fala.
Neste
estudo de opinião, 8% assumem a abstenção e 22% confessam-se indecisos. Sendo
assim, como foi referido, distribuídos os indecisos e excluídos os
abstencionistas, a vitória (resvés) é de Gouveia e Melo, com 26%. Porém, André
Ventura está a seguir, com 25%, e Marques Mendes logo abaixo, com 23%. António
José Seguro alcança os 14%, mais 9% do que Cotrim Figueiredo, com 5%. António
Filipe e Catarina Martins ficam pelos 2%. Mais longe estão o ex-presidente da
IL (5%), o antigo vice-presidente do Parlamento do PCP António Filipe (2%) e a
bloquista Catarina Martins (2%).
O
trabalho de campo da sondagem terminou, como dissemos, antes ainda de começarem
os debates entre os candidatos, pelo que não reflete o impacto que estes possam
ter na opinião dos inquiridos. Além disso, os resultados deste estudo de
opinião esbarram com os dados de outras sondagens publicadas até agora. Por
exemplo, a sondagem da Intercampus para o Correio da Manhã, publicada a
30 de outubro, deixava Henrique Gouveia e Melo fora da segunda volta das eleições
presidenciais. Era a primeira vez que isso acontecia ao almirante, que ficou
famoso pela sua liderança da task-force da vacinação contra a covid-19 e
por algumas declarações e atitudes enquanto chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA).
A
sondagem da Intercampus colocava Luís Marques Mendes como vencedor
e André Ventura no segundo lugar, passando ambos à segunda volta e
deixando pelo caminho o antigo coordenador do programa de vacinação, até àquela
data favorito das sondagens. O candidato apoiado pelo PSD teria 16,8%, seguido
pelo líder do Chega com 15,8%. O almirante na reserva ficaria logo atrás de André
Ventura, com 15,4%.
Na
segunda volta, Marques Mendes derrotaria qualquer candidato, segundo aquela
sondagem. Já Gouveia e Melo perderia contra Luís Marques Mendes, mas derrotaria
André Ventura. O candidato apoiado pelo PS, António José Seguro, surgia em
quarto lugar, com 12,3%, à frente do candidato da IL, João Cotrim de
Figueiredo, com 8,4%. Catarina Martins (BE) teria 7,1% e António
Filipe (PCP) 4,6%. Eram números que poderiam mudar, devido ao grande
número de indecisos, já que mais de 19% dos inquiridos se inseria na categoria “não
sabe/não responde”. Tudo isto apontava, previsivelmente, para as primeiras
presidenciais, desde há 40 anos, a precisarem de segunda volta, para que haja
uma decisão final. E essa previsão mantém-se, face aos resultados que os dados
permitem concluir e face ao aumento de indecisos: de mais de 19% para 22%.
***
Na
última vez que o estudo foi feito, a um ano das eleições, o cenário era diferente,
com Gouveia e Melo a liderar destacado as intenções brutas de voto (25%). A
queda é significativa, mas não indiferente ao facto de, então, haver muita
incerteza sobre quem avançava. E o que mudou mais foi a caraterização do
eleitorado do almirante: se, em janeiro, a fatia maior dos seus eleitores vinha
do centro ou da direita, agora é à esquerda que ele obtém mais votos: 24% dos
eleitores que se dizem de esquerda estão com o almirante na reserva (28% com António
José Seguro), enquanto apenas 16% dos que se consideram de direita admitem
apoiar essa candidatura. Porém, 20% dos eleitores de centro continuam fiéis ao ex-CEMA.
A análise do perfil dos inquiridos permite apurar outra perceção, que deve preocupar os partidos tradicionais: entre as camadas mais jovens (incluindo os jovens e os adultos até aos 44 anos), André Ventura é o escolhido pela grande maioria dos inquiridos: 34% dos mais jovens escolhe-o, enquanto 8% escolhe o almirante e 6% Marques Mendes ou António José Seguro, que não entram nesta faixa etária. Entre os adultos até aos 44 anos, André Ventura tem 25% dos votos, o almirante 15% e Marques Mendes 12%. Também aqui, sobressai o líder do Chega.
A análise do perfil dos inquiridos permite apurar outra perceção, que deve preocupar os partidos tradicionais: entre as camadas mais jovens (incluindo os jovens e os adultos até aos 44 anos), André Ventura é o escolhido pela grande maioria dos inquiridos: 34% dos mais jovens escolhe-o, enquanto 8% escolhe o almirante e 6% Marques Mendes ou António José Seguro, que não entram nesta faixa etária. Entre os adultos até aos 44 anos, André Ventura tem 25% dos votos, o almirante 15% e Marques Mendes 12%. Também aqui, sobressai o líder do Chega.
Com
André Ventura na disputa, com altos níveis de lealdade partidária (87% dos
simpatizantes do Chega votam nele, e apenas 2% votam no almirante), a
candidatura independente e apartidária de Gouveia e Melo é alimentada, sobretudo,
por eleitores do PSD e do PS. Marques Mendes continua a ter metade (50%) dos
eleitores do PSD, com Gouveia e Melo a ficar com 24% desses; ao passo que António
José Seguro tem dificuldades maiores, atraindo apenas 42% dos simpatizantes do
PS, com Gouveia e Melo a conseguir 29% desse universo.
No
resto, o perfil do eleitor de Marques Mendes assemelha-se mais ao perfil do
eleitor de Gouveia e Melo: maior preponderância de mulheres, de pessoas mais
velhas e que consideram ter vida confortável, em termos de rendimento; a
diferença maior entre os dois é que Marques Mendes tem mais vantagem entre os
que têm mais estudos, enquanto o almirante tem maior peso nos menos instruídos.
Mais: Marques Mendes, António José Seguro e o almirante têm dificuldades em
entrar nas camadas mais jovens do eleitorado, onde Ventura comanda.
Os
eleitores de André Ventura são mais homens do que mulheres, com idades mais
jovens, com nível de escolaridade intermédio e com baixo rendimento. Marques
Mendes consegue atrair os que não têm simpatia partidária (13% dos inquiridos
sem simpatias partidárias admitem votar nele, enquanto 18% admitem ir para o
almirante e 11% para Ventura). Ao invés, António José Seguro tem apenas 4% dos
inquiridos sem simpatia partidária.
Mais
importante do que as sondagens e do que os debates é o que se diz sobre isso.
Ou seja, o que mais importa é a perceção criada a partir da prestação de cada
candidato. Porém, só a perceção que adira à realidade é que marca. E, sendo as eleições
presidenciais bastante pessoalizadas, o período de debates ganha
particular relevância, ao permitir aos candidatos darem-se a conhecer como
pessoas, mostrarem como reagem em contexto de confronto, revelarem que ideia e valores
têm e exprimirem que ideias e valores pretendem transmitir ao eleitorado.
Segundo
a Universal McCann (UM), agência de meios do grupo IPG Mediabrands, o
primeiro debate entre André Ventura e António José Seguro foi o mais visto da
primeira semana de debates, com audiência de um milhão e 520 mil
telespectadores, ao passo que o debate entre Gouveia e Melo e Cotrim de
Figueiredo foi o menos visto da semana, com a audiência de 1,1 milhões de
telespetadores. No meio, está o debate entre Gouveia e Melo e Catarina Martins,
com a audiência de 1,3 milhões de telespetadores, e o debate entre Luís
Marques Mendes e António Filipe, também com a audiência de 1,3 milhões.
Estas
audiências massificadas fazem dos debates televisivos um momento-chave, apesar
de a comunicação e a forma de fazer política tenham sofrido profundas alterações,
com um consumo cada vez maior de informação pelas redes sociais, muito embora
estas fragmentem audiências e acelerem ritmos. Por outro lado, os debates alimentam
as redes sociais e são importantes para os eleitores pouco atentos ou indecisos,
já que os outros têm preferências relativamente estáveis. Contudo, os debates
funcionam como pontos de cristalização da intenção de voto.
No
entanto, perversamente, a maior parte dos comentadores dos debates não deixa
que o eleitor faça o seu juízo sobre o debate. Antecipando opinião sobre o
debate e sobre o mérito-demérito dos intervenientes, chegando a produzir uma avaliação
pontuada, condicionam o eleitor e tentam manipulá-lo, ao serviço da posição
política do comentador.
Além
disso, a folclórica floresta de candidatos (alguns nem têm oportunidade de
fazer passar qualquer mensagem) dispersa votos e dá um cunho de menor seriedade
ao escrutínio.
Seja
como for, além dos debates, que podem ser decisivos na estabilização do sentido
de voto, também as primeiras semanas de janeiro – estrito período da campanha
oficial –, farão a diferença, em especial, se houver dramatização na
mobilização final, no caso de as sondagens continuarem a não ser conclusivas.
Também aqui se confirma o acenso da direita radical.
Enfim,
como diz a sabedoria popular, até ao lavar dos cestos, é a vindima.
2025.11.28
– Louro de Carvalho
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