Os
bispos católicos dos Estados Unidos da América (EUA) elegeram, a 11 de
novembro, em Baltimore, o arcebispo de Oklahoma City, Paul Coakley, como presidente
Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos da América (USCCB),
no âmbito da assembleia plenária (em curso entre os dias 10 e 13), tendo,
assim, um defensor da cultura conservadora a liderá-los durante o segundo
mandato do presidente Donald Trump.
A votação serve como um barómetro das prioridades dos bispos. Ao escolherem Paul Coakley, estão a reforçar a tendência conservadora, mesmo quando pressionam por políticas de imigração mais humanas, por parte da administração norte-americana. O arcebispo de Oklahoma City era visto como forte candidato para o posto principal, tendo já sido eleito, em 2022 para servir como secretário, o terceiro elemento mais importante da presidência da USCCB. E, em três rondas de votação, superou o candidato centrista, o bispo Daniel Flores de Brownsville, Texas, que foi, posteriormente, eleito vice-presidente.
A votação serve como um barómetro das prioridades dos bispos. Ao escolherem Paul Coakley, estão a reforçar a tendência conservadora, mesmo quando pressionam por políticas de imigração mais humanas, por parte da administração norte-americana. O arcebispo de Oklahoma City era visto como forte candidato para o posto principal, tendo já sido eleito, em 2022 para servir como secretário, o terceiro elemento mais importante da presidência da USCCB. E, em três rondas de votação, superou o candidato centrista, o bispo Daniel Flores de Brownsville, Texas, que foi, posteriormente, eleito vice-presidente.
Paul
Coakley é conselheiro do Napa Institute, associação de influentes católicos
conservadores. Em 2018, apoiou, publicamente, um crítico fervoroso do Papa
Francisco, o arcebispo italiano Carlo Maria Viganò, que foi, mais tarde, excomungado
por posições consideradas como promotoras de divisões.
A
Conferência dos Bispos Católicos dos EUA tem, frequentemente, discordado do
Vaticano e da abordagem inclusiva e modernizadora do falecido Papa Francisco. O
seu sucessor, nascido nos EUA, o Papa Leão XIV, continua a realçar, de forma
pastoral, as pessoas marginalizadas, a pobreza e o ambiente. Por conseguinte, a
escolha de Paul Coakley pode alimentar tensões com o Papa, de acordo com Steven
Millies, professor de teologia pública na Catholic Theological Union, em
Chicago, que afirmou: “No longo conflito entre muitos bispos dos EUA e
Francisco, que Leão XIV herda, este não é um passo de desescalada.”
Metade
dos 10 candidatos na votação vem da ala conservadora da conferência. A
diferença é mais de estilo do que de substância. A maioria dos bispos católicos
dos EUA é, consistentemente, conservadora em questões sociais, mas alguns, como
o arcebispo de Oklahoma, dão mais ênfase à oposição ao aborto e aos direitos
LGBTQ+.
Os
candidatos foram apresentados pelos seus colegas bispos, e Paul Coakley sucede,
para um mandato de três anos, ao líder cessante, o Arcebispo dos Serviços
Militares, Timothy Broglio. O atual vice-presidente, o Arcebispo William Lori,
de Baltimore, estava demasiado próximo da idade de reforma obrigatória de 75
anos, para assumir o cargo principal. EPaul Coakley superou o conservador bem
conhecido, Robert Barron, da diocese de Winona-Rochester, no Minnesota, cujo
popular ministério Word on Fire o tornou uma estrela mediática católica.
Durante
a reunião anual de outono, os bispos elaboraram uma declaração sobre imigração.
Em muitas questões, parecem muito divididos e polarizados, quanto ao seu país,
mas, em relação à imigração, mesmo os líderes católicos mais conservadores
estão ao lado dos migrantes. A questão, porém, é com que força o corpo episcopal
inteiro planeia falar sobre as duras estratégias de imigração da administração de
Donald Trump. O receio da aplicação das leis de imigração tem feito diminuir a
frequência das pessoas, na Missa, em algumas paróquias.
Os
clérigos locais estão a lutar para administrar sacramentos a imigrantes
detidos. Os bispos encerraram o seu antigo programa de reassentamento de
refugiados após a administração Trump ter interrompido o financiamento federal
para a ajuda ao reassentamento. “No plano político [...], durante décadas os
bispos dos EUA têm defendido uma reforma abrangente da imigração”, disse o bispo
Kevin Rhoades, da diocese de Fort Wayne-South Bend, no Indiana.
Kevin Rhoades,
que faz parte da Comissão de Liberdade Religiosa de Trump e lidera o comité dos
bispos sobre liberdade religiosa, disse que os bispos estão muito preocupados
com o facto de os migrantes detidos receberem cuidados pastorais e os
sacramentos. “Isso é uma questão do direito de adoração”, vincou.
Os
bispos enviaram uma carta ao Papa Leão a partir da sua reunião, afirmando que “continuarão
a apoiar os migrantes e a defender o direito de todos a adorar [Deus] livres de
intimidação”. E dizem: “Apoiamos fronteiras seguras e ordenadas e ações das
autoridades, em resposta a atividades criminosas perigosas, mas não podemos
permanecer em silêncio, nesta hora difícil, enquanto o direito de adoração e o
direito a um devido processo estão a ser minados.”
Recentemente,
o Papa pediu uma “reflexão profunda”, nos EUA, sobre o tratamento dos migrantes
detidos, que “nunca causaram problemas e têm sido profundamente afetados pelo
que está a acontecer neste momento”. Com efeito, a 4 de novembro, ao sair da
sua residência de verão, em Castel Gandolfo, foi questionado, por repórteres,
sobre Chicago, a sua cidade natal, onde as autoridades proibiram os padres
católicos de darem a comunhão aos migrantes detidos.
“Muitas
pessoas que viveram, durante anos e anos, sem nunca causarem problemas foram
profundamente afetadas pelo que está a acontecer neste momento”, lamentou Leão
XIV, convidando a respeitar as “necessidades espirituais” das pessoas detidas.
Agora,
a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA apresenta-se ao Papa em “comunhão”
com estas preocupações, assinalando que a “caridade, verdadeiro amor a Deus e
ao próximo” é uma dimensão obrigatório da fé cristã. E a sua carta denuncia uma
“cultura de medo” que atinge os “irmãos e irmãs migrantes”, levando muitos a
hesitar em “sair de casa e até ir à igreja, com receio de serem aleatoriamente
assediados ou detidos”. Entre os desafios apontados, os bispos dos EUA referem
“o estreitamento e egoísmo do individualismo”, “a polarização, animosidade e
violência política”, bem como “as constantes ameaças à vida e dignidade de cada
pessoa humana, especialmente dos pobres, idosos e nascituros”.
***
Refere
o jornal digital “7margens” que, depois de, em dois escrutínios, nenhum dos 10
pré-selecionados ter obtido maioria, a votação foi entre os dois mais votados: o
arcebispo Paul Coakley, de 70 anos, e o bispo de Brownsville, no Texas, Daniel
Flores, nascido em 1961. O resultado decidiu-se por escassa margem (128 e 109
votos, respetivamente), dando a vitória ao prelado de Oklahoma.
O novo líder da USCCB foi o que se costuma designar por “vocação tardia” – enveredou pelos estudos teológicos depois de um curso universitário em antiguidade clássica, tendo feito, a seguir, carreira eclesiástica vulgar, com um tempo de formação em Roma, trabalho pastoral, em várias dioceses, e nomeação episcopal pelo Papa São João Paulo II.
O novo líder da USCCB foi o que se costuma designar por “vocação tardia” – enveredou pelos estudos teológicos depois de um curso universitário em antiguidade clássica, tendo feito, a seguir, carreira eclesiástica vulgar, com um tempo de formação em Roma, trabalho pastoral, em várias dioceses, e nomeação episcopal pelo Papa São João Paulo II.
O
seu nome saltou para a ribalta, quando veio a público apoiar o arcebispo Carlo
Maria Viganò, quando este ex-núncio apostólico nos EUA exigiu, em 2018, a
renúncia do Papa Francisco, acusando-o (falsamente, como se veio a provar) de
ter encoberto os abusos do cardeal Theodore McCarrick. Na verdade, o Dicastério
para a Doutrina da Fé (DDF) veio a declarar Viganò cismático e excomungado, em
5 de julho de 2024, na sequência de um processo em que o próprio visado recusou
comparecer, por não aceitar ser julgado pelos mesmos a quem acusava de heresia.
Porém, Paul Coakley nunca se demarcou, nem retirou a nota pública que emitiu,
nem mesmo depois do encerramento do processo a Viganò.
De
facto, este eclesiástico é conhecido pela bonomia e empatia, por um lado, e pela
faceta de “guerreiro cultural”, por outro, sobretudo em torno da denúncia
pública dos políticos (democratas) que defendem o direito ao aborto. É também
assistente de uma organização – o NAPA Institute, fundado e financiado por um
conhecido admirador de Trump – que pretende “re-evangelizar a América”,
“empoderando lideranças para que apoiem causas católicas”.
Perfil
diferente tem o bispo Flores, eleito vice-presidente, com probabilidade de vir
a ser o futuro presidente. É mais académico e é benquisto, quer de
conservadores, quer de progressistas. Estando numa diocese fronteiriça, conhece
o problema da imigração e, ainda no primeiro mandato do atual presidente,
alertava a USCCB para a necessidade de refletir – e de agir –, face aos
tratamentos desumanos a que os trabalhadores migrantes estavam sujeitos. Foi,
entretanto, em torno do Sínodo e da sinodalidade que o seu nome se destacou, por
ter sido escolhido para coordenar os trabalhos, no país, e para integrar a
delegação dos EUA às duas assembleias sinodais.
Vários
dos aspetos associados ao perfil dos bispos eleitos têm estado presentes na
assembleia plenária dos bispos, enquanto pontos da agenda para debate e
decisão, alguns dos quais abordados em público, através da transmissão através
da Internet, e outros debatidos à porta fechada. No primeiro caso, têm
estado matérias como a situação que afeta migrantes e refugiados, a discussão e
a votação das diretrizes éticas e religiosas para os serviços de saúde
católicos ou a marcação de um congresso eucarístico nacional para 2029. Outras
matérias, como “a implementação do sínodo em curso” e “as melhores práticas
para aplicar a instrução ‘Laudato Sí’ e o apostolado dos leigos” são objeto de
reflexão, mas longe dos olhares dos media, das comunidades católicas e
dos jornalistas que localmente cobrem a assembleia.
Comentando
esta opção, o jornalista e padre jesuíta Thomas Reese, favorável a assembleias
com tempos reservados aos bispos e aos seus convidados, escreve na sua coluna,
no “Religion News Service”, que ter metade do tempo dos trabalhos à porta
fechada constitui “um escândalo”, já que isso representa a “admissão de que não
conseguem ‘discutir livre e francamente’ em público temas centrais do papado de
Francisco, como a sinodalidade, o apostolado dos leigos e a ‘Laudato Si’”. Para
o colunista, seria uma boa oportunidade os bispos praticarem a sinodalidade e
serem um exemplo para os seus padres.
As
precauções dos bispos não serão alheias às divisões e polarizações a propósito
de uma série de assuntos. O próprio Thomas Reese refere esse fosso entre os
padres, especialmente, os mais novos, que rejeitam o legado de Francisco, e
outros que defendem esse legado e querem ir mais além – enquanto os jovens que
acreditam, mas não têm religião, ultrapassaram o número de católicos. Também Donald
Trump é fator de divisão na sociedade. Para uns, é o “salvador” e, ao para
outros, é uma “ameaça”. Muitos recusam-se a falar com quem deles discorda e
“cada vez mais pessoas veem a violência como uma forma de resolver disputas
políticas”.
Neste
quadro, um tema que divide os bispos – e que tratarão em público – é o modo
como Trump persegue e deporta os imigrantes e refugiados. Uns por convicção,
outros pressionados por Francisco e por Leão XIV, desencadearam iniciativas de
acolhimento e de apoio em muitas dioceses. Porém, divergem no modo de proceder.
Uns queriam ser mais contundentes e frontais na denúncia, enquanto outros temem
que uma posição dura interrompa o diálogo com o governo – que cortou os apoios
que dava à Igreja para acolher os migrantes e suas famílias.
É
difícil prever se os bispos condenarão as táticas duras do Departamento de
Imigração e Alfândega dos EUA contra os migrantes e o uso dos militares e da
Guarda Nacional. Neste quadro, a escolha de Paul Coakley para presidente da USCCB
parece aponta para a continuidade, que se preocupa com os imigrantes, mas sem
pôr em causa a política da administração Trump, mas terão, em Roma, um Papa
atento à Igreja de que é originário.
***
Entretanto,
a USCCB aprovou a consagração do país ao Sagrado Coração de Jesus, em 2026, por
ocasião da passagem do 250.º aniversário dos EUA.
A assembleia plenária de outono da USCCB, em Baltimore, no Estado de Maryland, nos EUA, votou por “confiar a nossa nação ao amor e cuidado do Sagrado Coração de Jesus”. Consagrar o país é oportunidade “para lembrar a todos da nossa tarefa de servir à nossa nação, aperfeiçoando a ordem temporal com o espírito do Evangelho, conforme ensinado pelo Concílio Vaticano II”, disse o bispo de Fort Wayne-South Bend, na Indiana, Kevin Rhoades.
A assembleia plenária de outono da USCCB, em Baltimore, no Estado de Maryland, nos EUA, votou por “confiar a nossa nação ao amor e cuidado do Sagrado Coração de Jesus”. Consagrar o país é oportunidade “para lembrar a todos da nossa tarefa de servir à nossa nação, aperfeiçoando a ordem temporal com o espírito do Evangelho, conforme ensinado pelo Concílio Vaticano II”, disse o bispo de Fort Wayne-South Bend, na Indiana, Kevin Rhoades.
“Há
cem anos, em 1925, na sua encíclica [Quas primas] que instituiu a festa
de Cristo Rei, o Papa Pio XI, baseando-se no magistério do Papa Leão XIII,
referiu-se ao costume de se consagrar a si mesmo, as famílias e até as nações
ao Sagrado Coração de Jesus, como um modo de reconhecer a afinidade com
Cristo”, declarou Kevin Rhoades, considerando que, para ajudar os fiéis a prepararem-se
para a consagração, a USCCB vai desenvolver materiais de oração, entre eles uma
novena e que a conferência episcopal está a reunir recursos para uso das
dioceses, de paróquias e de outros grupos, com o objetivo de envolver fiéis.
“Na
sua quarta e última encíclica ‘Dilexit nos’, Francisco trouxe a devoção ao
Sagrado Coração para o centro da vida católica, como o símbolo máximo do amor
humano e divino, chamando-o de fonte de paz e unidade”, explicitou Kevin Rhoades,
que foi presidente do comité de liberdade religiosa da USCCB, frisando que Francisco
“escreveu sobre como o Sagrado Coração nos ensina a construir, neste Mundo, o
reino de Deus, de amor e justiça”.
“Depois,
em sua primeira exortação apostólica “Dilexi te’, Leão XIV, seguindo o
magistério do papa Francisco, convida-nos a contemplar o amor de Cristo, o amor
que nos move à missão em nosso mundo sofredor de hoje”, acrescentou o bispo de
Fort Wayne-South Bend.
Antes
da votação da USCCB para consagrar os EUA ao Sagrado Coração de Jesus, o
arcebispo de Seattle, Paul Etienne, perguntou se a conferência episcopal
incluiria materiais catequéticos para orientar os fiéis, já que a devoção “convida,
em última análise, as pessoas a um relacionamento mais profundo com a própria
pessoa de Jesus”, pois, segundo este prelado, “a devoção ao Sagrado Coração é
uma devoção muito rica e quase complexa”. Kevin Rhoades respondeu que pretendem
ter materiais catequéticos, porque “há uma abundância de belas doutrinas”; e, a
pedido do bispo de San Antonio, Texas, Arturo Cepeda, referiu que a USCCB fornecerá
os materiais em vários idiomas, “para envolver o maior número possível de
pessoas”, e que os recursos permitirão que indivíduos e famílias façam a sua
própria consagração, já que a consagração acontece, simultaneamente, em todo o
país.
O
arcebispo de Miami, Thomas Wenski, propôs uma celebração no encontro de
primavera das USCCB, em Orlando, na Flórida, em junho do ano que vem, na
solenidade do Sagrado Coração de Jesus, e sugeriu convidar Donald Trump, o
vice-presidente dos EUA, James David Vance, e outras autoridades para
comparecerem ao evento.
A
História da devoção ao Sagrado Coração remonta a 1673. Num mosteiro da ordem da
Visitação de Santa Maria, no Leste da França, Santa Margarida Maria Alacoque
começou a ter visões do Sagrado Coração de Jesus que continuaram por 18 meses. Nas
suas visões, a irmã Margarida Maria aprendeu maneiras de venerar o Sagrado
Coração de Jesus. Entre essas devoções, estavam a Hora Santa, às
quintas-feiras, a festa do Sagrado Coração, na sexta-feira após a oitava de
Corpus Christi, e a receção da Eucaristia na primeira sexta-feira de cada mês. Em
16 de junho de 1675, Jesus ordenou a Margarida Maria a promoção da festa em
honra do Sagrado Coração e fez-lhe doze promessas atinentes aos que venerassem
e promovessem esta devoção.
Inicialmente,
a Santa Sé hesitou em declarar a festa do Sagrado Coração de Jesus. Porém, à
medida que a devoção se espalhava pela França, a Santa Sé concedeu à França a
festa do Sagrado Coração de Jesus, em 1765. E, em 1856, o Papa beato papa Pio
IX designou a sexta-feira seguinte à oitava de Corpus Christi como a
festa do Sagrado Coração para a Igreja universal.
2025.11.12
– Louro de Carvalho
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