A
paralisação do governo dos Estados Unidos da América (EUA) tornou-se, a 4 de novembro,
a mais longa de que há registo, enquanto o impasse entre democratas e
republicanos se arrasta, deixando milhões de pessoas em risco de perder os
benefícios de ajuda alimentar e estando prestes a expirar os subsídios de saúde.
A hipótese de a paralisação acabar, em breve, é incerta, depois de o presidente Donald Trump ter dito, em entrevista transmitida, a 2 de novembro, que “não será chantageado” pelos democratas, que exigem negociações para prolongar os subsídios da Lei de Cuidados Acessíveis (LCA), prestes a expirar. Efetivamente, fazendo eco dos republicanos no Congresso, o inquilino da Casa Branca garantiu que só negociará, quando a paralisação terminar, acusou os democratas de terem perdido o “rumo” e previu que acabarão por capitular ante os republicanos. “Acho que eles têm de fazê-lo […]. E, se eles não votarem, o problema é deles”, referiu Donald Trump.
A hipótese de a paralisação acabar, em breve, é incerta, depois de o presidente Donald Trump ter dito, em entrevista transmitida, a 2 de novembro, que “não será chantageado” pelos democratas, que exigem negociações para prolongar os subsídios da Lei de Cuidados Acessíveis (LCA), prestes a expirar. Efetivamente, fazendo eco dos republicanos no Congresso, o inquilino da Casa Branca garantiu que só negociará, quando a paralisação terminar, acusou os democratas de terem perdido o “rumo” e previu que acabarão por capitular ante os republicanos. “Acho que eles têm de fazê-lo […]. E, se eles não votarem, o problema é deles”, referiu Donald Trump.
No
dia 4, a paralisação do governo ultrapassou o recorde anterior, estabelecido no
início de 2019, e já se tornou, oficialmente, a mais longa de sempre, já com a
duração de 36 dias. E, tal como a última paralisação, entre dezembro de 2018 e
janeiro de 2019, levou a atrasos nos aeroportos e deixou centenas de milhares
de trabalhadores federais sem salário, está a causar turbulência
semelhante, mas com perturbações mais profundas e com consequências mais
amplas.
Os
trabalhadores federais, incluindo os controladores de tráfego aéreo, deverão
perder salários adicionais e há incerteza sobre se 42 milhões de norte-americanos
que recebem ajuda alimentar federal, ao abrigo da iniciativa SNAP (Programa de
Assistência Nutricional Suplementar) poderão aceder a essa assistência.
O
Departamento da Agricultura planeou reter oito mil milhões de dólares (cerca de
sete mil milhões de euros) necessários para pagar o programa alimentar, antes
que o governo Trump fosse instruído a fazê-lo por dois juízes federais.
Esta
é a quarta paralisação governamental mais longa da história dos EUA e a
terceira mais longa do século XXI. A maior foi também sob Donald Trump, entre
2018 e 2019, quando o debate sobre a alocação de 5,7 mil milhões de dólares
para o muro, na fronteira com o México, que prometera em campanha durou 35
dias. O impasse terminou com o presidente a aceitar o acordo de financiamento
temporário, sem recursos para o muro, embora tenha conseguido aprovar, mais
tarde, uma lei a alocar 1,4 mil milhões de dólares para tal projeto.
Em
1995-1996, com Bill Clinton, registou-se a segunda paralisação mais longa (de
21 dias) sobre taxação e equilíbrio do orçamento.
Em
terceiro lugar, estão duas paralisações de 17 dias; a de 1978, sob Jimmy
Carter, acerca do financiamento federal do aborto e de gastos com a defesa;
e a de 2013, no segundo mandato de Barack Obama, em torno da legislação
federal de saúde, conhecida como Obamacare e lembrada como um dos temas mais
divisivos dos últimos anos.
Nos
últimos 50 anos, os EUA viveram 22 paralisações federais.
***
À
meia-noite de 1 de outubro, administração federal dos EUA ficou, oficialmente,
sem orçamento, entrando em vigor planos de contingência que preveem a dispensa
de centenas de milhares de funcionários públicos. Tal situação resultou da
incapacidade de republicanos e democratas chegarem a acordo sobre o
financiamento federal, o que desencadeou a paralisação parcial que afeta os
serviços não essenciais e comprometerá outras funções, se o impasse persistir.
A 30 de setembro, à noite, a câmara alta do Congresso rejeitou as propostas legislativas republicana e democrata para evitar a paralisação, que ocorreu, pela última vez, há sete anos. Rejeitada a proposta democrata no Senado, de maioria republicana, foi rejeitada a proposta do partido do presidente, que prolongava, temporariamente, o financiamento federal, até 21 de novembro. A proposta, que daria a ambos os partidos mais sete semanas para negociar o orçamento para o próximo ano fiscal, teve 55 votos a favor e 45 contra, com os democratas a unirem-se para que ficasse aquém dos 60 votos necessários para ser aprovada.
A 30 de setembro, à noite, a câmara alta do Congresso rejeitou as propostas legislativas republicana e democrata para evitar a paralisação, que ocorreu, pela última vez, há sete anos. Rejeitada a proposta democrata no Senado, de maioria republicana, foi rejeitada a proposta do partido do presidente, que prolongava, temporariamente, o financiamento federal, até 21 de novembro. A proposta, que daria a ambos os partidos mais sete semanas para negociar o orçamento para o próximo ano fiscal, teve 55 votos a favor e 45 contra, com os democratas a unirem-se para que ficasse aquém dos 60 votos necessários para ser aprovada.
Após
a votação, o Gabinete de Gestão e Orçamento da Casa Branca emitiu um memorando
a dizer que as agências afetadas devem executar os seus planos para um
encerramento ordenado”. Com efeito, estima que serão afastados, aproximadamente,
750 mil funcionários, que podem ser afetadas viagens aéreas e que deve ser
suspenso o pagamento de determinados benefícios sociais.
Os
parques nacionais ficarão privados dos guardas-florestais responsáveis pela sua
manutenção, com o aproximar do outono, que atrai milhões de turistas. As forças
de segurança, as Forças Armadas, os aeroportos e a segurança social funcionarão
normalmente, mas os funcionários destas áreas não receberão os salários, até
que os dois partidos aprovem novo orçamento.
O Senado
norte-americano já havia rejeitado, a 19 de setembro, o projeto-lei de
financiamento temporário do estado, aprovado, antes, na câmara baixa do
Congresso, também de maioria republicana. Esse projeto financiaria, em
geral, a administração pública aos níveis atuais, com algumas exceções – como
mais 88 milhões de dólares (75 milhões de euros) para a segurança dos membros
do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do governo, no contexto de ameaças
crescentes sobre estes e do assassínio do ativista Charlie Kirk.
Os
democratas apresentaram proposta alternativa de financiamento que protegeria os
subsídios aos cuidados de saúde. Porém, apesar da ausência de iniciativa
negocial da parte dos republicanos, o governo federal responsabiliza a oposição
democrata pela falta de acordo.
Chuck
Schumer, líder democrata no Senado, ameaçou com uma paralisação, se não fossem
atendidas as exigências de reposição de fundos para a saúde pública,
cortados pelo pacote legislativo de Trump que este classificou de “grande e
bela lei”. De facto, tal pacote legislativo sobre isenções fiscais e
sobre cortes de despesas contempla poupanças que cortam o acesso de milhões de
pessoas ao Medicaid e a outros programas públicos de assistência de saúde.
De
acordo com os cálculos dos analistas da seguradora Nationwide, cada semana de
paragem reduzirá o crescimento anual da economia dos EUA em 0,2%.
***
A
situação atual, iniciada a 1 de outubro, significa que muitos serviços do
governo dos EUA permanecem temporariamente suspensos, com cerca de 1,4
milhões de funcionários federais com licença sem vencimento ou a trabalhar
sem remuneração.
Os republicanos e os democratas não chegaram a consenso sobre um orçamento federal para continuar a pagar os serviços, uma vez que o anterior expirou. O Congresso tem de aprovar um plano de despesas, antes que este possa ser enviado ao presidente para ratificação, de acordo com o sistema norte-americano. Atualmente, as duas câmaras do Congresso são controladas pelos republicanos, mas faltam-lhes os 60 votos necessários para aprovar o pacote orçamental no Senado, a câmara alta, o que dá aos democratas alguma vantagem nas negociações.
Os republicanos e os democratas não chegaram a consenso sobre um orçamento federal para continuar a pagar os serviços, uma vez que o anterior expirou. O Congresso tem de aprovar um plano de despesas, antes que este possa ser enviado ao presidente para ratificação, de acordo com o sistema norte-americano. Atualmente, as duas câmaras do Congresso são controladas pelos republicanos, mas faltam-lhes os 60 votos necessários para aprovar o pacote orçamental no Senado, a câmara alta, o que dá aos democratas alguma vantagem nas negociações.
Porém,
desde que tomou posse em janeiro, Donald Trump reduziu, em muito, a dimensão do
governo federal e prometeu utilizar o atual impasse para fazer ainda mais
cortes.
Uma
das questões controversas é a LCA, conhecida como Obamacare, por ter sido
assinada e defendida pelo então presidente Barack Obama.
Os
democratas estão a tentar reverter os cortes de Trump no Medicaid, um
programa de saúde do governo que serve milhões de pessoas com baixos
rendimentos, idosos e pessoas com deficiência, e estender os créditos fiscais
que estão a expirar e que reduzem o custo do seguro de saúde para milhões de
americanos.
Os
democratas, que também se opõem aos cortes nas despesas das agências
governamentais de saúde, votaram 13 vezes, no Senado, contra a reabertura do
governo, insistindo que precisam de que Trump e os republicanos negociem
com eles primeiro. O presidente achou isso “terrível” e quer que os líderes
republicanos mudem as regras do Senado e eliminem as regras de obstrução.
“Os
republicanos têm de ser mais duros. […] Se acabarmos com a obstrução, podemos
fazer exatamente o que quisermos”, considerou Donald Trump.
Contudo,
os republicanos do Senado têm rejeitado a ideia, desde o primeiro mandato de Donald
Trump, aduzindo que a regra que exige 60 votos para superar quaisquer objeções
no Senado é vital para a instituição e permitiu-lhes impedir as políticas
democratas, quando estão em minoria.
***
Nos
EUA, as paralisações governamentais ocorrem quando a legislação de
financiamento necessária para financiar o governo federal não é promulgada
antes do início do ano fiscal subsequente. Numa paralisação, o governo federal
restringe as atividades e serviços das agências, cessa operações não
essenciais, dispensa trabalhadores não essenciais e mantém apenas funcionários
essenciais em departamentos que protegem a vida humana ou a propriedade. As
paralisações também podem perturbar os níveis de governo estadual, territorial
e local.
As paralisações perturbam os serviços e programas governamentais e fecham parques e instituições nacionais. Reduzem as receitas do governo, porque as taxas são perdidas, enquanto, pelo menos, alguns funcionários dispensados recebem pagamentos atrasados. Reduzem o crescimento económico. Assim, na paralisação de 2013, a Standard % Poor’s, a agência de classificação financeira, disse, a16 de outubro, que a paralisação, até então, retirou 24 biliões da de dólares da economia e reduziu, pelo menos, “0,6% do crescimento anualizado do PIB do quarto trimestre de 2013”.
As paralisações perturbam os serviços e programas governamentais e fecham parques e instituições nacionais. Reduzem as receitas do governo, porque as taxas são perdidas, enquanto, pelo menos, alguns funcionários dispensados recebem pagamentos atrasados. Reduzem o crescimento económico. Assim, na paralisação de 2013, a Standard % Poor’s, a agência de classificação financeira, disse, a16 de outubro, que a paralisação, até então, retirou 24 biliões da de dólares da economia e reduziu, pelo menos, “0,6% do crescimento anualizado do PIB do quarto trimestre de 2013”.
Embora
as paralisações do governo, antes de 1995-1996, tenham tido efeitos muito
moderados, uma paralisação total do governo federal faz com que grande número
de funcionários federais civis seja dispensado. Ficam proibidos, até mesmo, de
verificar seus e-mails, proibição que algumas agências aplicam, ao examinarem
dispositivos eletrónicos emitidos pelo governo, durante o período de
paralisação. Porém, os efeitos completos de uma paralisação são, muitas vezes,
obscurecidos pela falta de dados, que não podem ser recolhidos, enquanto
serviços governamentais específicos estão fechados. E alguns efeitos do
encerramento são difíceis de medir e podem perdurar, tais como estudos
científicos destruídos, falta de investimentos e custos de manutenção diferidos.
***
A
inflexibilidade dos democratas prende-se, essencialmente com temas da área da
saúde. Pedem a extensão do prazo de créditos fiscais expirados, que tornaria os
seguros de saúde mais acessíveis; o retrocesso nos cortes à Medicaid, um dos
programas de saúde essenciais para cidadãos pobres, idosos e com deficiência; e
mais proteção ao financiamento de agências de saúde pública, como o CDC (Centro
para Controlo de Doenças) e o NIH (Instituto Nacional de Saúde).
A paralisação do governo federal implica a incapacidade de remunerar os seus trabalhadores – à volta de 750 mil pessoas – cerca de 40% dos quais passaram ao regime de licença sem vencimento. Muitas áreas de atividade foram suspensas, ao passo que outras permanecem em funcionamento com muitas limitações. Os serviços essenciais continuam em funcionamento, embora, em muitas situações, sem remuneração aos trabalhadores. Entre os serviços indispensáveis estão o controlo de fronteiras pelos agentes da ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) e pelas forças de segurança, os serviços médicos hospitalares e o controlo de tráfego aéreo, embora, nesta última área, a falta de pessoal tenha levado a generalizados atrasos e a cancelamentos de voos.
A paralisação do governo federal implica a incapacidade de remunerar os seus trabalhadores – à volta de 750 mil pessoas – cerca de 40% dos quais passaram ao regime de licença sem vencimento. Muitas áreas de atividade foram suspensas, ao passo que outras permanecem em funcionamento com muitas limitações. Os serviços essenciais continuam em funcionamento, embora, em muitas situações, sem remuneração aos trabalhadores. Entre os serviços indispensáveis estão o controlo de fronteiras pelos agentes da ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) e pelas forças de segurança, os serviços médicos hospitalares e o controlo de tráfego aéreo, embora, nesta última área, a falta de pessoal tenha levado a generalizados atrasos e a cancelamentos de voos.
A
funcionar de forma limitada estão os serviços de Segurança Social e Medicare, o
seguro federal de saúde, que emitem pagamentos, mas cujos novos pedidos e
verificações estão a ser afetados.
Encerrados
ou severamente mutilados estão os projetos de pesquisa da CDC e NIH – um ponto
de contenção com os democratas –, programas de assistência alimentar e
pré-escolas que dependem de financiamento federal, 21 museus da instituição
pública Smithsonian e muitos parques nacionais, que sofrem de falta de pessoal.
Bolsas e apoios escolares federais também foram interrompidos, apesar de a
maior parte das escolas permanecer aberta.
Escapam
à paralisação o serviço de Correios, financiado de forma independente, e os
membros do Congresso, que continuam a ser pagos – o que tem gerado protestos de
ambas as bancadas.
Alguns
economistas preveem que, se a paralisação prolongar, será responsável por uma
redução no crescimento do produto interno bruto (PIB) de entre 0,1% e
0,2%.
Os
analistas sustentam que cada um dos lados – republicano e democrata – crê poder
tirar dividendos da situação, por o outro lado acarretar com as culpas do
impasse. Os republicanos acusam os democratas de obstruírem o financiamento
fundamental ao funcionamento do governo federal. E os democratas dizem estarem
a defender medidas importantes e populares na área da saúde, acusando o
presidente Donald Trump de, mostrando pouca pressa para dar fim à paralisação, alavancar
a situação para atingir os seus objetivos políticos.
O
presidente manobra a paralisação a seu favor, tentando fazer crer que está
disposto a prolongá-la ou a torná-la permanente, para reduzir o tamanho e a influência
do governo federal. “Vamos despedir muita gente”, disse, antes do começo da
paralisação. Membros do seu executivo deram a entender que a paralisação seria
útil para identificar funções não essenciais no governo, de forma a tornar
permanentes as licenças temporárias. O próprio Donald Trump sugeriu que alguns
trabalhadores de licença poderiam não receber retroativos, o que é contrário à
prática comum em paralisações governamentais.
No
início do segundo mandato, Donald Trump, criou o Departamento de Eficiência
Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk, para maximizar a produtividade no
governo e para cortar gastos excessivos e regulamentações desnecessárias. O DOGE
foi alvo de escrutínio e de oposição e, apesar de afirmar ter cortado 200 mil
milhões de dólares em gastos, analistas independentes indicam que terá custado
milhares de milhões aos contribuintes.
***
Enfim,
os EUA, um país rico e democrata, dão-se ao luxo de terem um governo
paralisado, com graves reflexos para a ação social, para a economia e para o eficaz
funcionamento do próprio Estado federal. Se isso é forma de ter menos Estado,
mas melhor Estado, é o inverso da promoção do bem-estar dos cidadãos e da consecução
do bem comum.
E eram os Lusitanos (hoje os Portugueses) que nem se governavam, nem se deixavam governar!
E eram os Lusitanos (hoje os Portugueses) que nem se governavam, nem se deixavam governar!
2025.11.04
– Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário