terça-feira, 18 de novembro de 2025

Peregrinação a Roma e a Assis no Jubileu dos Pobres

 

O Secretariado Nacional da Pastoral Social (SNPS), em diálogo com a Cáritas Portuguesa, organizou, de 14 a 18 de novembro, uma Peregrinação Jubilar a Roma e a Assis, por ocasião do Jubileu dos Pobres, acompanhada por D. Roberto Rosmaninho Mariz, membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
“A ideia era de que alguns dos responsáveis diocesanos – dos Secretariados da Pastoral Social e/ou das Cáritas Diocesanas, bem como participantes habituais dos Encontros da Pastoral Social realizados, anualmente, em Fátima – pudessem acompanhar os verdadeiros protagonistas deste jubileu: os Pobres”, lia-se numa nota enviada à agência Ecclesia, a 1 de abril.
Além dos pobres e dos seus acompanhantes enquadrados pelo SNPS, também a Família Vicentina de Portugal se dirigiu a Roma para o Jubileu dos Pobres, uma iniciativa do Conselho Superior de Portugal da Sociedade de São Vicente de Paulo, vivendo dias de profunda intensidade espiritual que tocam o coração. Ficou particularmente emocionada, após a participação na Eucaristia do Dia Mundial dos Pobres, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. E a homilia papal deixou marca indelével em todos, pelo apelo firme dirigido aos governantes, para que se comprometam verdadeiramente com o bem comum, e pela gratidão expressa a todos os que dedicam a vida a combater um dos desafios mais urgentes do nosso tempo: a solidão.
Foram, igualmente, destacados temas, como a justiça social, o bem comum e a exclusão digital – questões que se entrelaçam com a missão vicentina e que reforçam a pertinência do serviço realizado, diariamente, junto dos mais vulneráveis.
A peregrinação tem sido vivida como um autêntico dom: um caminho marcado pela fé, pelo encontro e pela partilha. Apesar do cansaço – inevitável numa Roma repleta de peregrinos –, o espírito permanece firme, luminoso e cheio de esperança. E espera-se que “esta experiência continue a fortalecer o coração de todos os que servem com humildade e alegria, para que cada gesto de amor se torne semente de renovação no Mundo.
O programa do Jubileu dos Pobres, realizado de 14 a 16 de novembro, incluiu a Vigília da Misericórdia, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, uma peregrinação à Porta Santa, com possibilidade do Sacramento da Reconciliação, e um momento de oração mariana na Praça de São Pedro. E culminou com a Santa Missa presidida pelo Papa Leão XIV, na Basílica de São Pedro e um almoço de pobres com o Santo Padre na Aula Paulo VI. Foi o IX Dia Mundial dos Pobres, de acordo com o desejo do falecido Papa Francisco.

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Na homilia, o Sumo Pontífice, comentando os textos da Liturgia da Palavra do 33.º domingo do Tempo Comum no Ano C, frisou o imperativo de olharmos para a “História nos seus desfechos finais”. Na verdade, o profeta Malaquias vislumbra, na chegada do Dia do Senhor, a entrada num novo tempo, o tempo de Deus, em que, como o amanhecer que faz surgir o Sol de justiça, as esperanças dos pobres e dos humildes receberão do Senhor resposta definitiva, e serão queimadas como palha, as obras dos ímpios e a sua injustiça contra os indefesos e contra os pobres.
O Sol de justiça é Jesus. E o dia do Senhor é o último dia da História e já é o Reino que se aproxima de cada homem no Filho de Deus que vem e que Jesus anuncia e inaugura. É o senhorio de Deus presente nos acontecimentos dramáticos da História, que não assustam os discípulos, mas os tornam mais perseverantes no testemunho e cônscios de que a promessa de Jesus é sempre viva e fiel: “Não se perderá um só cabelo da vossa cabeça” (Lc 21,18).
Esta é a nossa esperança ante as vicissitudes, nem sempre, felizes da vida. E “a Igreja prossegue a sua peregrinação nas perseguições do Mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha”. Deus não nos deixa sozinhos nas perseguições, nos sofrimentos, nas dificuldades e nas opressões da vida e da sociedade. Antes, “manifesta-Se como Aquele que toma partido por nós” e “está sempre do lado dos mais frágeis, dos órfãos, dos estrangeiros e das viúvas”. E a proximidade de Deus atinge o ápice do amor em seu filho: por isso, a presença e a palavra de Cristo tornam-se júbilo e jubileu para os mais necessitados, pois Ele veio para anunciar aos pobres a boa nova e proclamar o ano da graça do Senhor.
Neste ano de graça e no Jubileu dos Pobres, com este Dia Mundial, a Igreja exulta e alegra-se; e o Papa transmitiu, com força, as palavras irrevogáveis de Jesus: “Dilexi te – Eu amei-te” (Ap 3,9). E a sua Igreja, especialmente, neste tempo tão ferido por antigas e novas pobrezas, quer ser “mãe dos pobres, lugar de acolhimento e justiça”.
Entre as pobrezas que oprimem o nosso Mundo, Leão XIV destacou as pobrezas materiais, mas também apontou as inúmeras situações morais e espirituais, que afetam, sobretudo, os mais jovens, bem como o drama da solidão que as atravessa e que nos desafia a olhar para a pobreza, de forma integral, pois, embora seja necessário responder às necessidades urgentes, “é uma cultura da atenção que devemos desenvolver, juntos, para a quebra do muro da solidão”, o que nos leva a estar atentos a cada um, onde estamos e onde vivemos, transmitindo essa atitude na família, nos locais de trabalho e de estudo, nas diferentes comunidades, no mundo digital, em toda parte, “indo até aos confins e tornando-nos testemunhas da ternura de Deus”.
Sustenta o Pontífice que o nosso estado de impotência é confirmado pelos cenários de guerra presentes em várias regiões do Mundo e que a globalização dessa impotência nasce da mentirosa crença de que a História não pode mudar. Ao invés, o Evangelho diz-nos que é nas grandes perturbações da História que o Senhor nos vem salvar. A comunidade cristã deve ser sinal vivo dessa salvação no meio dos pobres. Com efeito, “a pobreza interpela os cristãos e todos os que têm funções de responsabilidade na sociedade”.
Por isso, o bispo de Roma exorta os responsáveis das nações a ouvirem o clamor dos mais pobres. Não haverá paz, sem justiça, e os pobres recordam-no-lo de muitas formas, entre as quais, sobressaem a migração e o grito muitas vezes abafado pelo mito do bem-estar e do progresso que “esquece muitas criaturas, abandonando-as ao seu destino”. Simultaneamente, agradece a dedicação dos agentes da caridade, dos voluntários e de todos os que aliviam as condições dos pobres, e encoraja-os “a terem cada vez mais consciência crítica na sociedade”, visto que a questão dos pobres remete ao essencial da fé. Com efeito, eles são a própria carne de Cristo e não uma categoria sociológica. E “a Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o Mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes.”
Como escreve Paulo aos Tessalonicenses (cf 2Ts 3,6-13), enquanto aguardamos a gloriosa vinda do Senhor, não devemos viver voltados para nós mesmos e no intimismo religioso traduzido no descompromisso para com os outros e a com a História. Efetivamente, a busca do Reino de Deus implica o desejo de transformar a convivência humana num espaço de fraternidade e de dignidade para todos. Está sempre à espreita o perigo de viver como viajantes distraídos, indiferentes ao destino final e desinteressados dos que partilham o caminho connosco. Por isso, devemos deixar-nos inspirar pelo testemunho dos santos e das santas que serviram Cristo, nos mais necessitados, e O seguiram na estrada da pequenez e do despojamento. E o Papa, enquanto aponta o exemplo de São Bento José Labre, cuja vida de “vagabundo de Deus” tem as caraterísticas para ser o padroeiro dos pobres sem-abrigo, pede à Virgem Maria, que, no Magnificat, nos recorda “as escolhas de Deus e se faz voz dos que não têm voz, nos ajude a entrar na nova lógica do Reino, para que, na nossa vida de cristãos, esteja sempre presente o amor de Deus que acolhe, perdoa, cuida das feridas, consola e cura”.

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No início do almoço com os pobres, na Sala Paulo VI, Leão XIV, fez um curto improviso, em vincou a grande alegria de “nos reunimos nesta tarde para o almoço, no Dia [dos pobres] tão desejado pelo nosso, meu, amado predecessor, Papa Francisco”. Tais palavras concitaram uma salva de palmas para o Papa Francisco.
O Santo Padre disse que o almoço foi oferecido pela Providência e pela generosidade da Comunidade de São Vicente, os Vicentinos, a quem agradeceu. Lembrou que se tratava do aniversário, ou seja, “são 400 anos, desde o nascimento do seu fundador”. Anunciou que os Vicentinos acompanhariam o almoço, servindo à mesa. E fez votos por muitas felicidades a todos, sacerdotes, religiosas e voluntários leigos que trabalham em todo o Mundo, “ajudando tantas pessoas pobres e outras que vivem diferentes necessidades”. E, agradecendo, clamou: “Neste dia estamos realmente, verdadeiramente, cheios deste espírito de ação de graças, de gratidão!”
Depois, exortou: “Agora peçamos ao Senhor que abençoe os dons que receberemos, que abençoe a vida de cada um de nós aqui presentes, os nossos entes queridos, os familiares, as pessoas que tanto se prodigalizaram para nos acompanhar. Concedamos também a bênção do Senhor a tantas pessoas que sofrem por causa da violência, da guerra e da fome; e que hoje possamos celebrar esta festa em espírito de fraternidade!”
E rezou: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Abençoai-nos, Senhor, bem como a estas dádivas que recebemos da vossa Providência. Abençoai a nossa vida, a nossa fraternidade! Ajudai todos nós a caminharmos sempre unidos no vosso amor. Pedimos-vos isto em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém!”

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Antes da recitação do Angelus, o Papa referiu que, no términus do Ano Litúrgico, o Evangelho dominical (Lc 21,5-19) suscita a reflexão sobre as tribulações da História e sobre o fim das coisas. Jesus, olhando estes acontecimentos, convida-nos nada a não nos deixarmos vencer pelo medo: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas – diz Ele –, não vos alarmeis.”
Evocando as diárias notícias de conflitos, de calamidades e de perseguições que atormentam milhões de homens e mulheres, o Santo Padre considera que, tanto ante as aflições como ante a indiferença que as ignora, Jesus anuncia que a agressão do mal não pode destruir a esperança dos que n’Ele confiam. Quanto mais escura é a hora, mais a fé brilha como o sol.
Efetivamente, Cristo afirma, por duas vezes, que, “por causa do seu nome”, muitos sofrerão violência e traição, mas terão a ocasião de dar testemunho. Seguindo o Mestre, que revelou, na cruz, a imensidão do seu amor, esse encorajamento diz respeito a todos nós. Com efeito, a perseguição aos cristãos não acontece apenas com armas e maus-tratos, mas também com as palavras, ou seja, através da mentira e da manipulação ideológica. Sobretudo quando oprimidos por esses males físicos e morais, somos chamados a testemunhar a verdade que salva o Mundo, a justiça que liberta os povos, da esperança que indica a todos o caminho da paz.
Em estilo profético, Jesus atesta que os desastres e as dores da História têm um fim, ao passo que a alegria dos que reconhecem n’Ele o Salvador durará para sempre. “Pela vossa constância é que sereis salvos.” Esta promessa infunde-nos a força para resistir a todas as ofensas e aos acontecimentos ameaçadores da História; não ficamos impotentes ante a dor, porque Ele nos dá “palavras de sabedoria”, para praticarmos o bem com coração ardente.
Recordou o Papa que, ao longo da História da Igreja, são, principalmente, os mártires que nos lembram que a graça de Deus é capaz de transfigurar até a violência em sinal de redenção. Por isso, unindo-nos aos irmãos e irmãs que sofrem pelo nome de Jesus, procuremos com confiança a intercessão de Maria, auxílio dos cristãos.
Após a recitação do Angelus, o Papa relevou que os cristãos sofrem discriminações e perseguições em várias partes do Mundo. Pensou no Bangladesh, na Nigéria, em Moçambique, no Sudão e em outros países, dos quais há notícias de ataques a comunidades e locais de culto. Ora, “Deus é Pai misericordioso e quer a paz entre todos os seus filhos!” Disse acompanhar, com a oração, as famílias de Quivu, na República Democrática do Congo, onde houve um massacre de civis, fruto de um ataque terrorista; e incitou à oração, “para que cesse toda a violência e os crentes colaborem pelo bem comum”. Disse acompanhar, com dor, as notícias dos ataques que atingem várias cidades ucranianas, pois “tais eventos causam vítimas e feridos, incluindo crianças, e danos significativos às infraestruturas civis, deixando famílias sem casa, enquanto o frio aumenta”. Assegurou a sua proximidade à população tão duramente atormentada, porfia que “não podemos habituar-nos à guerra e à destruição”, E apelou à oração “por uma paz justa e estável na Ucrânia”.
Garantiu a oração pelas vítimas do acidente rodoviário de 12 de novembro, no Sul do Peru, pedindo que o Senhor acolha os falecidos, sustente os feridos e conforte as famílias em luto.
Evocou a beatificação, em Bari, no dia 15, do sacerdote diocesano Carmelo de Palma, falecido em 1961, após uma vida de generosidade no ministério da Confissão e do acompanhamento espiritual, fazendo votos por que “o seu testemunho impulsione os sacerdotes a doarem-se sem reservas ao serviço do santo povo de Deus”.
Em Dia Mundial dos Pobres, agradeceu a todos os que, nas dioceses e nas paróquias, promoveram iniciativas de solidariedade com os mais desfavorecidos. E, neste Dia Mundial, idealmente, entregou, de novo, a Exortação Apostólica Dilexi te, “Eu te amei”, sobre o amor para com os pobres, documento que o Papa Francisco estava a preparar nos últimos meses de vida e que, com grande alegria, Leão XIV concluiu.
Recordou todos os que morreram em acidentes rodoviários, com demasiada frequência causados por comportamentos irresponsáveis e pediu a cada um o exame de consciência a esse respeito.
Associou-se à Igreja na Itália, que, mais uma vez, recordou o Dia de oração pelas vítimas e pelos sobreviventes de abusos, “para que cresça a cultura do respeito como garantia da proteção da dignidade de cada pessoa, especialmente dos menores e dos mais vulneráveis”.
Por fim, saudou os romanos e os peregrinos da Itália e de muitas partes do Mundo, em particular, os fiéis de Bar, no Montenegro; de Valência, na Espanha; de Syros, na Grécia; de Porto Rico; de Sófia, na Bulgária; de Bismarck, nos Estados Unidos da América (EUA); os estudantes da Catholic Theological Union, de Chicago; e o Coro “Eintracht Nentershausen”, da Alemanha.
Saudou os peregrinos polacos, recordando o aniversário da Mensagem de reconciliação dirigida aos bispos alemães pelos bispos polacos, após a II Guerra Mundial; e saudou os Vicentinos e os grupos de Lurago d’Erba, de Coiano, de Cusago, de Paderno Dugnano e de Borno.

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“O Jubileu dos Pobres marca uma mudança de ver os pobres como recetores passivos da caridade para os reconhecer como agentes ativos e centrais da evangelização e da esperança na Igreja. Eleva este mandato de princípio geral a tema central e organizador. Coloca as periferias no centro da celebração da Igreja. Desafia a visão passiva dos pobres como recetores de ajuda. Apresenta-os como agentes ativos de evangelização e testemunhas primárias da esperança, cuja fé e resiliência oferecem uma lição crucial ao Mundo consumido pelo materialismo. Esse foco garante que o Jubileu permaneça fundamentado na vida e nos ensinamentos de Jesus.”
                                                                                                                                                                                                                                           2025.11.17 - Louro de Carvalho

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