A
Igreja Católica iniciou, a 11 de novembro, a sua participação na Conferência
das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que decorre em Belém do
Pará (PA), com ações que reforçam o compromisso com a ecologia integral e com a
solidariedade global.
Pela manhã, o cardeal D. Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), visitou os barcos-hospitais Papa Francisco e Papa São João XXIII, acompanhado de bispos da África, da Ásia e da América Latina. Os barcos, que iniciaram a expedição, no dia 2, oferecem serviços de saúde às populações ribeirinhas, refletindo a visão de cuidado com a pessoa e com a criação prevista na encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco.
Pela manhã, o cardeal D. Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), visitou os barcos-hospitais Papa Francisco e Papa São João XXIII, acompanhado de bispos da África, da Ásia e da América Latina. Os barcos, que iniciaram a expedição, no dia 2, oferecem serviços de saúde às populações ribeirinhas, refletindo a visão de cuidado com a pessoa e com a criação prevista na encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco.
D.
Bernardo Johannes, bispo da diocese de Óbidos, pôs em evidência a relevância
dos barcos-hospitais: “Na nossa diocese, o barco hospital Papa Francisco já
realizou mais de 500 mil atendimentos, em 18 municípios do Pará, alcançando
territórios extensos e comunidades ribeirinhas. Esse projeto salva vidas e
oferece cuidados de saúde, diretamente, às pessoas que mais precisam. Trouxemos
os barcos para a COP30, justamente, para apresentar soluções concretas para a
saúde, mostrando alternativas, diante dos desafios ambientais e das mudanças
climáticas.”
A
presença das embarcações integra as ações da Igreja para oferecer atendimento
humanitário e serviços de saúde, na COP30. Mais de 80 profissionais de saúde
atuam, de forma voluntária, nos barcos, fazendo exames laboratoriais,
mamografias, tomografias, ultrassonografias, cirurgias de média complexidade,
odontologia, oftalmologia, entre outros atendimentos especializados. A
iniciativa é fruto de parceria entre a Igreja Católica, por meio da
Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, congregação
responsável pela gestão e pela operação dos barcos, e o Governo do Estado do
Pará.
No
período da tarde, D. Nereudo Freire Henrique, bispo auxiliar de Olinda e
Recife, representou a REPAM-Brasil no painel sobre Justiça Climática e a
contribuição dos grupos de fé, realizado no stand do Brasil na Zona Azul da
COP30. O encontro contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, e de representantes de diferentes tradições religiosas. E o bispo destacou
a importância da fé unida à ação: “Fui convidado pela REPAM para participar na
mesa com a ministra Marina Silva. Percebi que, apesar das diferentes religiões,
todos têm um olhar para Jesus Cristo, [para] a defesa da vida, principalmente,
dos mais empobrecidos, e do planeta. A fé sem ação não tem sentido, e é isso
que nos leva a cuidar da casa comum, como lembra o Papa Francisco.”
O
dia concluiu com o painel “Resposta à chamada das Igrejas do Sul Global sobre
Justiça Climática”, que reuniu bispos da América Latina, da Ásia e da África. No
encontro, foi apresentada a mensagem conjunta das Conferências Episcopais
desses continentes, convocando à conversão ecológica e à resistência às falsas
soluções. A Igreja reforçou que não há justiça climática sem solidariedade
entre os povos.
***
O
barco-hospital Papa Francisco foi inaugurado, a 17 de agosto de 2019, mede 32
metros de extensão e conta com 20 tripulantes fixos e mais 10 voluntários em
rodízio. A sua estrutura inclui consultórios médicos e odontológicos, centro
cirúrgico, sala oftalmológica, laboratório de análises, sala de medicação e
vacinação, além de leitos de enfermaria e equipamentos diagnósticos como raio-X
digital, mamografia, ecocardiograma, eletrocardiograma e ultrassom.
Numa das expedições recentes na região de Aritapera e Urucurituba (PA), foram realizados mais de cinco mil atendimentos, com especialidades, como clínica geral, ginecologia, ortopedia, radiologia, anestesia, cirurgia de cabeça e pescoço e odontologia. Não se trata apenas de levar saúde, trata-se de chegar aonde ninguém chega, com respeito pela cultura dos povos amazónicos, com equipas que combinam saber técnico e sensibilidade territorial.
Numa das expedições recentes na região de Aritapera e Urucurituba (PA), foram realizados mais de cinco mil atendimentos, com especialidades, como clínica geral, ginecologia, ortopedia, radiologia, anestesia, cirurgia de cabeça e pescoço e odontologia. Não se trata apenas de levar saúde, trata-se de chegar aonde ninguém chega, com respeito pela cultura dos povos amazónicos, com equipas que combinam saber técnico e sensibilidade territorial.
Mais
recente, o barco-hospital Papa São João XXIII foi inaugurado em dezembro de
2024, no estado do Amazonas. Distribuído por três andares, com 14 leitos, sendo
10 para internamento e quatro para recuperação pós-anestésica, conta com um
centro cirúrgico oftalmológico e com dois centros cirúrgicos gerais equipados
para videocirurgias.
Numa
das expedições registadas, foram realizados quase sete mil atendimentos, em
seis dias, incluindo 1,1 mil consultas médicas, três mil exames (laboratório,
raio-X, mamografia, ultrassom), 101 cirurgias de média e baixa complexidade, 64
internações e 751 kits de medicamentos.
Ambas
as embarcações são resultado de articulação entre o terceiro setor, o poder
público e o mobilização comunitária. Por exemplo, no caso do “São João XXIII”, os
recursos para construção provieram de convénios e de destinações de recursos
judiciais, demonstrando que investimento social inteligente transforma
realidades. O impacto é evidente: ao levar atendimento especializado até às
populações mais vulneráveis, os barcos-hospitais funcionam como instrumento de
equidade em saúde, alinhando-se com os objetivos de desenvolvimento sustentável
(ODS), como a redução das desigualdades e as parcerias para a implementação de
serviços. Para o futuro, o paradigma está lançado: saúde pública que se
desloca, que não espera, mas vai. Um modelo replicável, escalável e adaptável a
outras regiões amazónicas ou de difícil acesso, que conjuga inovação, logística
e compromisso ético.
***
O
sonho do papa Francisco “continua vivo, vivo como nunca”, diz frei Francisco
Belotti, fundador da Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na
Providência de Deus, responsável pelos barcos hospitais Papa Francisco e Papa
São João XXIII. As embarcações estão no porto de Icoaraci, em Belém (PA),
desde 2 de novembro, para apoio humanitário e serviços de saúde durante a COP
30, que decorre na capital paraense até 21 de novembro. Quando os barcos chegam
às comunidades, “é sempre o papa que está a chegar, o papa está aqui, o papa consultou-me,
o papa curou-me, o papa operou-me e ali no papa eu comi, ali no papa eu ganhei
a medicação”, disse o frade ao jornalista Silvonei José, do portal de notícias
da Santa Sé, “Vatican News”. “Infelizmente, o Papa Francisco não veio à
Amazónia, mas ele está na Amazónia pela presença dele navegando nesses rios”,
considerou o frade.
A ideia do barco hospital Papa Francisco partiu do próprio papa Francisco, na sua visita ao Brasil, em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). De facto, nesse ano, o papa visitou, no Rio de Janeiro, um hospital administrado pela Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus e perguntou aos frades se estavam presentes na Amazónia, encorajando, assim, a realização de um projeto voltado a esta região. “Não conversou muito, simplesmente disse, vós estais na Amazónia? Não. Então deveis ir. Basta”, contou o frade, na entrevista, sustentando que “esta conexão entre Jesus, a sua Igreja na pessoa do papa Francisco, comigo e com toda a nossa associação e com a fraternidade é a soma de esforços e desta inspiração que chegamos até aqui”.
A ideia do barco hospital Papa Francisco partiu do próprio papa Francisco, na sua visita ao Brasil, em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). De facto, nesse ano, o papa visitou, no Rio de Janeiro, um hospital administrado pela Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus e perguntou aos frades se estavam presentes na Amazónia, encorajando, assim, a realização de um projeto voltado a esta região. “Não conversou muito, simplesmente disse, vós estais na Amazónia? Não. Então deveis ir. Basta”, contou o frade, na entrevista, sustentando que “esta conexão entre Jesus, a sua Igreja na pessoa do papa Francisco, comigo e com toda a nossa associação e com a fraternidade é a soma de esforços e desta inspiração que chegamos até aqui”.
A
base do barco-hospital Papa Francisco fica em Óbidos (PA), de onde atende mais
de mil comunidades ribeirinhas, na região amazónica. Já a base do barco-hospital
Papa São João XXIII é Manaus, no Amazonas (AM), para levar “saúde e assistência
às comunidades ribeirinhas e indígenas no Rio Amazonas e calhas (margens) dos
seus afluentes, que enfrentam dificuldades para receber o atendimento médico,
tendo de realizar longas viagens de barco para chegar a um hospital ou uma unidade
de saúde”, de acordo com o site da Associação e Fraternidade São
Francisco de Assis na Providência de Deus.
Ao
todo cerca de 86 profissionais atenderam, do dia 7 a 12 de novembro, fazendo
consultas de várias especialidades. “A expectativa é que a gente também possa
apresentar aos outros países que somos um modelo único, que trabalhamos no
sistema do SUS [sistema único de saúde], conciliando esse processo de uma forma
dinâmica”, disse frei Frei Ezequiel Salvatico, responsável pelo barco-hospital “Papa
Francisco”, ao “Vatican News”.
“Poderemos
talvez pontualizar sobre esse modelo de referência, que hoje conseguimos chegar
até à porta dos ribeirinhos com uma especialidade, até mesmo resolvendo alguns
casos de saúde no momento”, continuou, para concluir: “A expectativa é para
apresentar também à delegação do Vaticano a realidade que nós temos da Igreja
Católica, aqui, na Amazónia.”
A
Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus também
opera o barco-hospital São João Paulo II, criado em 2020, como complemento dos
serviços em saúde feitos pelo barco hospital Papa Francisco, ampliando a
estrutura de atendimento à população ribeirinha. A sua base também é em Óbidos
(PA).
***
No
dia 12, celebrou-se a ‘Caminhada pelos Mártires da Casa Comum’, na COP30. Efetivamente,
a ‘Caminhada pelos Mártires da Casa Comum’, com a presença do cardeal Spengler
e de outros 40 bispos, em Belém (PA), homenageou Chico Mendes (1944-1988),
seringueiro, sindicalista e ativista ambiental; a irmã Dorothy Stang
(1931-2005), missionária norte-americana morta em Anapu (PA); os indígenas
Yanomamis; Margarida Maria Alves (1933-1983), trabalhadora rural e sindicalista
morta em Alagoa Grande (PB); e o bispo Santo Óscar Romero (1917-1980). Morto
por ódio à fé em El Salvador, Romero é o único santo canonizado do grupo. A
caminhada foi uma das atividades paralelas à COP30 organizadas pela “Articulação
Igreja Rumo à COP30”, cujo objetivo é promover “o cuidado com a Casa Comum, a
Ecologia Integral e a Justiça Climática”. É coordenada pela CNBB, em conjunto
com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), o Movimento Laudato Si’, a
Cáritas Brasileira e a Rede Eclesial Pan-Amazónica – Brasil (REPAM).
A concentração foi na Praça Santuário de Nazaré e o percurso terminou na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, com a celebração da missa pelo arcebispo de Porto Alegre (RS), cardeal D. Jaime Spengler, presidente da CNBB. Cerca de 40 bispos do Brasil, de outras regiões da América, da Ásia, África e Europa concelebraram a missa.
A concentração foi na Praça Santuário de Nazaré e o percurso terminou na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, com a celebração da missa pelo arcebispo de Porto Alegre (RS), cardeal D. Jaime Spengler, presidente da CNBB. Cerca de 40 bispos do Brasil, de outras regiões da América, da Ásia, África e Europa concelebraram a missa.
Os
fiéis fizeram a caminhada pelas ruas de Belém com velas acesas, cantaram,
rezaram e escutaram leituras sobre a vida dos cinco mártires. Um grande pano
azul foi carregado durante toda a caminhada, como símbolo da água. Uma bandeira
com a imagem do Papa Francisco foi levada por uma pessoa e uma mulher com perna
de pau caminhou a segurar um quadro com a foto do Papa Leão XIV abençoando um
bloco de gelo proveniente da Gronelândia. E a imagem de Nossa Senhora de
Nazaré, Rainha da Amazónia, foi à frente da caminhada num andor carregado por
alguns bispos e padres. “Deus da Vida e do Amor, Trindade Santa: Em Irmandade
com os Mártires da Caminhada da Nossa América, nós Vos louvamos e agradecemos
pela força que derramastes nos seus corações para darem a vida e a morte pela
Vida, no Amor”, diz o texto lido na caminhada.
A
Irmandade dos Mártires da Caminhada foi criada em 2001, quando se comemoraram
25 anos da morte do missionário jesuíta João Bosco Penido Burnier, morto em
1976, pela polícia militar, em Ribeirão Bonito, na Prelazia de São Félix do
Araguaia, quando ele e o bispo Pedro Casaldáliga, um dos mais importantes
defensores da Teologia da Libertação na hierarquia da Igreja, no Brasil,
tentavam ajudar duas mulheres que estavam a ser torturadas pelos polícias. Por
causa da morte dele, foi construído, no local, hoje cidade de Ribeirão
Cascalheira (MT), o Santuário dos Mártires da Caminhada.
“Os
Mártires da Caminhada são uma comunhão de afeto e de compromisso entre
todas as companheiras e os companheiros que comungam da memória dos nossos
mártires e das causas dos seus martírios: familiares, membros de uma mesma
entidade ou militância, grupos solidários da América ou de outros continentes”,
de acordo com o site da organização. “Como Jesus, foram fiéis até ao fim
e deram a prova maior. Por ele e com Ele, venceram o pecado, a escravidão e a
morte e vivem gloriosos, sendo Páscoa na Páscoa”, diz o texto lido na
caminhada.
Embora
chamados mártires, o único reconhecido como tal pela Igreja foi Santo Óscar
Arnulfo Romero que teve o seu martírio reconhecido pelo Papa Francisco em 2015,
o que possibilitou a sua beatificação no mesmo ano. Foi baleado, enquanto
celebrava a missa no começo de uma guerra civil entre a guerrilha de esquerda e
o governo ditatorial de direita. Foi canonizado em 2018, pois foi reconhecido
um milagre por sua intercessão. “Romero tornou-se uma voz para os pobres e
marginalizados, criticando a violência e a repressão do governo e dos grupos
paramilitares”, diz o roteiro lido em Belém, vincando: “O assassinato de Romero
foi um ato de violência política que chocou o mundo e solidificou seu lugar
como mártir.”
Segundo
o Catecismo da Igreja Católica (CIC), “o martírio é o supremo testemunho
prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte. O mártir
dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, a quem está unido pela
caridade”. Apesar disso, o texto lido na celebração em Belém chama Jesus Cristo
de mártir. O mártir “dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã.
Enfrenta a morte num ato de fortaleza”, diz ainda o CIC.
Nenhum
dos mencionados, salvo Santo Óscar Romero, morreu por defender a fé. Margarida
Maria Alves foi morta por causa da sua “defesa das terras e da dignidade do
povo”. Os Yanomamis, um dos maiores povos indígenas da Amazónia não
professam a fé católica, mas o texto lido cita a violência de garimpeiros e de invasores
contra eles, o que resulta em violência e em morte. A irmã Dorothy Stang, da
Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, foi “defensora incansável dos
direitos dos camponeses e da preservação da floresta amazónica” e morreu por
causa de “denúncia de crimes ambientais e conflitos agrários”. O último
homenageado, Chico Mendes, “foi assassinado em 1988 por fazendeiros que se
sentiam ameaçados por suas ações em defesa da floresta e dos povos da região”.
A
caminhada terminou com a missa celebrada na basílica Nossa Senhora de Nazaré
pelo cardeal D. Jaime Spengler e concelebrada por cerca de 40 bispos e 20
padres. “Urge rever, avaliar e reavaliar a qualidade de nossas relações: connosco
mesmos, com as outras pessoas, com Deus e com o mundo ambiente. […] “A
questão das mudanças climáticas, da urgência de revisão do modelo energético
dominante tem a ver com a qualidade das relações”, disse D. Jaime.
“O
cultivo de relações saudáveis é o caminho para fazer frente aos desafios
atuais; disto depende o futuro das próximas gerações, do planeta. Para curar as
relações, é necessária abertura de mente e de coração, generosidade e humildade
para reconhecer a necessidade do perdão e suplicá-lo”, disse D. Jaime, vincando
que “o cuidado da vida requer atenção e pressa”. Como, segundo o Evangelho,
José foi exortado a levantar-se, também nós o somos. Como Maria soube dispor-se
a ir, apressadamente, ao encontro da prima, também nós somos convidados a
responder à altura dos desafios do tempo presente. “O planeta urge; a vida
precisa de cuidado”, concluiu.
2025.11.13
– Louro de Carvalho
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