A política
monetária restritiva do Banco Central
Europeu (BCE) tem dado resultados, descendo a inflação na Zona Euro
desde maio, revela o Eurostat.
A 19 de
dezembro, o Eurostat confirmou que a taxa de inflação na Zona Euro desceu para 2,4%, em novembro de
2023, face a 2,9% em outubro”, mantendo a tendência de descida verificada desde
maio. E a inflação anual na União
Europeia (UE) caiu para 3,1%, em novembro.
É de notar
que, um ano antes, esta taxa estava nos 10,1%. Também a inflação, na UE, desceu de 3,6%,
em outubro, para 3,1%, em novembro (um ano antes estava nos 11,1%).
O maior
contributo para a descida da
inflação da Zona Euro, em novembro, veio dos serviços – +1,69
pontos percentuais (pp), seguindo-se os alimentos, o álcool e o tabaco (+1,37
pp), dos bens industriais não energéticos (+0,75 p.p.) e da energia (-1,41
p.p.).
Também a inflação subjacente – que exclui
os agregados mais voláteis, como energia, bens alimentares, álcool e tabaco –
desceu para 3,6%, em novembro, face aos 4,2% de outubro e os 5,0% homólogos.
Estes dados
indicam que a luta do BCE contra a
inflação está a dar resultados. Desde julho de 2022, o regulador
europeu liderado por Christine Lagarde tem subido as suas três taxas de juro diretoras para
controlar a subida de preços (foram contabilizados 10 aumentos dos juros). Mas
optou por fazer uma pausa nas subidas, nas reuniões de outubro e de dezembro,
acreditando que deixar os juros em níveis suficientemente restritivos – entre
4% e 4,75% – ajudará a inflação a regressar aos 2%, o nível em que é assegurada
a estabilidade dos preços.
Para já, um corte nos juros não
está em discussão no BCE. Os juros altos, se travam a inflação, criam
dificuldades às famílias, em geral e, sobretudo, às que recorrem ao credito
para a habitação.
Entre os
Estados-membros da UE, as menores taxas
de inflação – medidas pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor
(IHPC), que permite fazer comparações – observaram-se na Bélgica (-0,8%), na
Dinamarca (0,3%) e em Itália (0,6%).
Por outro
lado, os maiores aumentos homólogos da inflação foram registados na Chéquia (8,0%), na Hungria
(7,7%), na Eslováquia e na Roménia (6,9% cada). E fala-se da Roménia como sendo
o país que mais tem crescido na Zona Euro! A que custos sociais?
Em Portugal a taxa de inflação medida
pelo IHPC foi, em novembro, de 2,2%, tendo abrandado tanto na comparação com
outubro (3,2%) como na variação homóloga (10,2%).
No conjunto
de toda a UE, a inflação
anual desacelerou em 21 Estados-membros, manteve-se estável em três
e aumentou em outros três.
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Estes dos do
Eurostat vêm confirmar a sua estimativa rápida de 30 de novembro, nos termos da
qual anunciava que a taxa de inflação anual teria baixado para 2,4%, na Zona
Euro, em novembro, sendo este o valor mais baixo desde julho de 2021. Em
outubro, a inflação no espaço da moeda única estava nos 2,9%.
Por isso, este
Natal promete ser menos oneroso para as carteiras das famílias. As maiores
quedas na subida dos preços verificaram-se nos serviços (-0,6 pp) e no conjunto
da alimentação, álcool e tabaco (-0,5 pp). O aumento na energia deve
ter recuado apenas 0,3 pontos em relação a outubro.
O recuo surge
um mês depois de o BCE ter interrompido um ciclo de 10 subidas consecutivas nas
taxas de juro (confiante de que o bloco está a caminho da desejada inflação de
2%).
Dizia Christine Lagarde, presidente do
regulador bancário europeu: “Embora as perspetivas, a curto prazo,
permaneçam sombrias, a economia deverá fortalecer-se, novamente, nos próximos
anos, à medida que a inflação diminui. Os rendimentos reais das famílias estão
a recuperar e a procura de exportações da Zona Euro está a aumentar.”
Em outubro,
a inflação na Zona Euro situou-se em 2,9%, sete décimos percentuais abaixo da
média de toda a UE, onde os níveis mais elevados de inflação foram registados
na Hungria (9,6%), na Chéquia (9,5%) e na Roménia (8,3%). Todos acima da
Eslováquia, o país da Zona Euro com a taxa de inflação mais elevada (6,9%)
prevista para novembro.
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A 29 de novembro, o EuroNews considerava que os Europeus
foram esmagados pelo impacto da inflação nos últimos 12 meses, mas que as
previsões de outono da Comissão Europeia, publicadas em novembro, indicavam
que, embora a tempestade pareça estar a dissipar-se e a inflação tenha descido
para menos de 3%, o crescimento económico continua a ser teimosamente baixo.
Na Bélgica, a inflação anual era e é
uma das mais baixas da Zona Euro. O preço da energia, dos transportes e de
certas matérias-primas estabilizou nos últimos meses. No entanto, muitos
clientes e empresas não veem uma diminuição dos preços dos alimentos. “Quer se
trate de frutas ou legumes, especialmente de produtos fortes como as bananas,
os cogumelos ou os tomates, houve um aumento de mais ou menos 30%”, explicou
Yacin Malkoc, gerente de uma mercearia belga.
Na Europa, o preço dos alimentos
continuou a aumentar em 2023. Por exemplo, em dois anos, registou-se um aumento
de 37%, para os ovos, 53%, para as batatas, e 75%, para o azeite.
No entanto, nos últimos meses, estes
preços aumentaram menos rapidamente. Por isso, com o fim das medidas
anti-inflacionistas dos países europeus, espera-se que as empresas e as
famílias sintam a diferença na carteira.
O comissário europeu Paolo Gentiloni
declarava ao jornal “Real Economy”: “De acordo com as nossas estimativas, o
aumento dos salários acompanhará a inflação. E, claro, isso vai contribuir para
o poder de compra e vai aumentar o consumo, o que é a premissa para retomar o
crescimento. Portanto, há um pouco de otimismo moderado, em relação a 2024.”
Em termos de inflação, Gentiloni
afirmava que os preços da energia vão desempenhar um papel importante. “Por
enquanto, a inflação continuará a descer a um ritmo mais lento”, dizia,
opinando que “existe uma boa possibilidade de voltar a crescer, o que é
absolutamente necessário para a nossa economia”.
O custo e o aprovisionamento de
energia continuam a ser preocupações importantes para as grandes empresas
industriais. A Etex, empresa multinacional sediada na Bélgica, necessita
de uma quantidade significativa de energia para fabricar os seus produtos de
construção. E o seu diretor-geral, Bernard Delvaux, defendia que a inflação dos
custos da energia alimentou a procura de alternativas mais eficientes. “Tudo o
que está relacionado com a redução do consumo [de energia] é obviamente
essencial”, afirmou, adiantando: “Temos planos nas nossas 160 fábricas para
reduzir o consumo intrínseco, com investimentos em tecnologias mais eficientes.”
Na Zona Euro, a inflação anual
diminuiu acentuadamente no setor da energia, passando de 41,5% no final de 2022
para -11,2% no final de 2023. Contudo, a Etex viu os seus custos aumentarem e a
procura de construção diminuir, devido ao aumento das taxas de juro. “A energia
custa duas ou três vezes mais do que há dois anos, é muito mais cara do que nos
Estados Unidos da América [EUA], na China, no Magrebe. Então, porque não
produzir nesses países? E, depois, os salários são obviamente mais elevados,
devido à inflação. O que vemos é que a produção na Europa está a tornar-se cada
vez mais cara”, comentava Bernard Delvaux.
Adel El Gammal, professor de
geopolítica da energia, dizia ao “Real Economy”, que a consecução, num futuro
próximo, de preços mais competitivos, mercê da diminuição do custo da energia,
dependerá da combinação de muitos fatores, “todos eles muito incertos”. “Continuamos
a abastecer-nos, na Europa, através de gasodutos e de gás natural liquefeito
proveniente da Rússia. Por isso, uma rutura total poderia, de facto, colocar os
mercados sob tensão. E depois, claro, a crise no Médio Oriente. É fácil de imaginar
que uma extensão do conflito. Por exemplo, uma maior integração do Irão ou da
Arábia Saudita – poderia, obviamente, perturbar completamente a situação”,
explicou.
Entretanto, Adel salientava que,
segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), quase metade da inflação dos
últimos dois anos se deveu a um aumento das margens de lucro das grandes
empresas, que tiraram partido do aumento dos preços.
Apesar de a inflação ter diminuído, a
situação continua a ser delicada. “É um desafio, no entanto, regressar a um
objetivo de inflação de 2%. É um ato de equilíbrio tentar manter a inflação a
taxas aceitáveis, sem entrar em recessão. Vemos claramente o espetro bastante
grave de uma possível estagflação, o que significa um baixo crescimento
económico ou um declínio económico com um elevado nível de inflação.
Infelizmente, é um risco que enfrentaremos nos próximos trimestres”, avançou o
professor de geopolítica da energia.
E Paolo Gentiloni, questionado sobres
se o abrandamento do crescimento económico irá continuar no próximo ano,
comentou: “Tivemos um crescimento próximo de zero, no final do ano. No próximo
ano, estimamos uma ligeira retoma do crescimento, que se baseia, sobretudo, no
relançamento do consumo privado, mas também numa ligeira melhoria das condições
do comércio internacional. Se isto se confirmar, poderemos evitar a recessão e
ter aquilo a que chamamos uma aterragem suave, apesar do endurecimento da
política monetária. Isso, por si só, seria ótimo.”
Se a Europa conseguir atenuar o
impacto da crise dos preços, nos próximos meses, os consumidores terão de ser
pacientes e esperar que os atuais conflitos geopolíticos sejam resolvidos o
mais rapidamente possível.
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Entretanto, à mesma data, eram
conhecidas as últimas previsões da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE), que apontam para um crescimento da economia
global de 2,9%, em 2023, em boa parte, graças ao desempenho das economias
emergentes, e de 2,7%, em 2024.
Mais modesto
é o crescimento previsto para a Zona Euro, revisto em baixa e que deverá ficar
pelos 0,6%, neste ano, menos três décimas do que o previsto, em junho, e 0,9%,
no próximo ano.
Clare
Lombardelli, economista-chefe da OCDE, não esconde a preocupação com o aumento
contínuo dos preços: “Continuamos preocupados com a inflação. Se a inflação se
revelar mais persistente, será necessário um novo ajuste, empurrando o crescimento
ainda mais para baixo.”
O fraco
desempenho da Zona Euro deve-se, sobretudo, ao mau momento que atravessam as
principais economias europeias. As previsões apontam para um crescimento
negativo da Alemanha, enquanto a França e a Itália se ficam pelos 0,9 e 0,7%, respetivamente.
Já a Espanha
segue em sentido contrário, com uma revisão em alta para um crescimento de
2,4%.
No caso de
Portugal, as previsões da OCDE apontam para um crescimento de 2,2% do PIB, neste
ano (em junho, apontavam para 2,5%), e de 1,2%, em 2024.
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Com uma
inflação já bastante baixa, mas com um crescimento também já relativamente
baixo, face a meses anteriores, Portugal não passará por entre as pingas de
chuva da crise política criada artificialmente por quem devia evitar crises. A
economia sentir-se-á mais depauperada, os políticos lavarão roupa suja na praça
pública, os ricos arrecadarão mais receitas e os pobres terão os bolsos mais
vazios. O serviço à comunidade oscilará entre a quimera e a generosidade.
2023.12.19 – Louro de Carvalho
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