A Browning Viana, localizada em Morenos, S. Romão de Neiva (concelho de Viana do Castelo), no Alto Minho, detida pelo grupo belga FN Herstal e servida por 620 trabalhadores, está a concluir a ampliação
da unidade onde fabrica armas de caça e de desporto, mas já tem aprovado um
projeto de investimento de dez milhões de euros para a modernização da
fábrica e para o aumento da capacidade de produção para
200 mil armas por ano.
A fábrica de armas, que comemorou, recentemente, 50 anos em Portugal – foi criada,
em 1973, e instalada num pântano –, tem vindo a ganhar importância dentro do
grupo e prevê continuar a bater recordes de produção e de faturação.
Nos próximos anos, o objetivo é, segundo Rui Cunha, administrador da
Browning Viana Fábrica de Armas e de Artigos de Desporto S. A., renovar processos de produção mais manuais,
como polimentos e pintura.
Esta aposta na maior automatização permitirá à empresa nacional voltar a aumentar a capacidade de produção, já reforçada de 150
para cerca de 180 mil armas por ano, com a ampliação da fábrica que está
concluída. “Juntamente com este processo, estamos também a aumentar
a nossa capacidade de produção para 200 mil armas, que pode ou não ser
utilizada”, detalhou Rui Cunha.
A fábrica do Alto Minho deverá fechar o ano de 2023 com a produção de 174
mil armas, prevendo aumentar este número para 179 mil, em 2024. Com preços unitários a oscilar entre 600 os 7.000 euros, ambiciona
disputar a liderança mundial no fabrico de armas de caça e desporto com o grupo
italiano Beretta.
Detida, como se disse, pelo grupo belga FN Herstal, a fabrica armas de caça e de desporto, com as marcas
Browning e Winchester, vem sendo responsável por cerca de
um terço da faturação da divisão civil do grupo (armas de caça e de
desporto).
A Browning é a única empresa do grupo que não fabrica armas de defesa, mas
o grupo fatura na casa dos 800 milhões de euros por ano, sendo pouco mais de
metade desse valor da divisão defesa.
A fábrica de Viana do Castelo representa cerca de um terço da divisão civil.
E, em termos de atividade, prevê continuar a fixar novos recordes, uma
tendência que se mantém desde 2019. “A nossa faturação recorde vai ser este
ano, de 80 milhões de euros”, adianta o responsável, acrescentando que 2024 deverá ser mais um ano de máximos, apontando para um
volume de negócios de 88 milhões de euros.
Para o crescimento do negócio tem sido determinante o aumento da procura nos Estados Unidos, da América (EUA), que
tem “continuamente vindo a aumentar”. Das armas produzidas em Portugal, apenas
uma percentagem residual fica no país, sendo 99,5% para exportação.
Só os EUA captam 70% das vendas.
A aposta do grupo na empresa de Viana do Castelo, com destaque para o
último plano de investimentos, tem-lhe permitido aumentar o número de
funcionários, atualmente 620. Contudo, o número tende a estabilizar, fruto da
aposta em tecnologia de produção mais avançada. “Uma vez que vamos
automatizar alguns dos processos que temos, vamos reduzir a contratação de
pessoas e aumentar a automação. Fizemos um investimento em tecnologia de
ponta”, resume o administrador, que destaca as condições remuneratórias “acima
da média”, com um pacote salarial base de 1.075 euros, distribuição de
resultados, seguro de saúde e um fundo de pensões.
Questionado sobre se a aposta na modernização vai implicar despedimentos,
Rui Cunha afasta a possibilidade. “Não estamos nem perto disso”, garante,
adiantando que a empresa vai “aumentar o valor acrescentado da produção,
aumentar o valor criado, baixar o valor das compras e substituí-lo
internamente”. “É aqui que vamos substituir as pessoas”, completa.
Outra das apostas passa pela internalização, já a
partir de 2024, da produção de canos na fábrica, que, até agora, eram importados. Numa
fase inicial, serão fabricados in house perto
de 80 mil canos – os outros continuam a ser garantidos pela casa-mãe –, vindo a
ser “uma referência no grupo” esta nova linha, avaliada em oito milhões de
euros.
***
Para garantir que a produção não para, a pausa do almoço é dividida entre
os trabalhadores que garantem o primeiro turno da fábrica. O segundo turno
começa pelas 15 horas e mantém as máquinas a rodar até às 23. Em
conjunto, são produzidas, diariamente, 900 armas de caça e de desporto, que
seguem para países como os EUA, a Bélgica ou a Alemanha.
Criada em 1973 onde antes existia “um pântano”, a empresa de armas de Viana é, hoje, uma das maiores fábricas de
produção de armas de caça e de desporto, a nível mundial. Mas o percurso
teve muitos sobressaltos. A empresa nasceu quase do nada. Um belga que morava
ali conhecia algumas pessoas do grupo FN Herstal. A partir daí criou-se um
conjunto de condições que não existiam para instalar a empresa.
Depois de um crescimento “muito rápido”, no início, a empresa entrou, nos
anos 1990, num período de indefinição. As máquinas usadas para
fabricar armas passaram a dedicar-se a outro tipo de “artilharia”, como tacos
de golfe, raquetes de ténis e pranchas de windsurf.
Diz o administrador que, a certa altura, se apostou “na área do desporto,
além das armas”. E assim foi durante cerca de 15 anos, até o grupo acabar com
essa divisão e voltar a focar no negócio core (o núcleo do objeto da empresa).
Saíram os artigos de desporto, manteve-se a produção de armas. E a fábrica de
Viana cresceu dentro do grupo, em números e importância.
Nos últimos anos, aumentou a competência, a organização interna
da fábrica e a produção, o que suscitou o reconhecimento por parte do
grupo e a convicção de que havia consistência na fábrica, ao
nível da mão-de-obra e ao nível da engenharia. Assim, “a empresa minhota
conseguiu mudar a imagem no grupo e “a importância da fábrica disparou nos
últimos anos”.
Com uma produção anual de cerca de 174 mil armas e preços unitários que
oscilam entre 600 e 7.000 euros – a capacidade de produção vai aumentar
para 200 mil, nos próximos anos –, a Browning Viana ambiciona alcançar a
liderança mundial no fabrico de armas de caça e de desporto, objetivo que não
está muito distante. Como diz Rui Cunha, “o grande adversário é o grupo
italiano Beretta, que é líder mundial, na divisão civil, e depois deles seremos
nós”.
Para desarmar a rival italiana, a fábrica está a investir em tecnologia de
ponta e a terminar um investimento de 21 milhões de euros, ao qual será
adicionado outro envelope financeiro de 10 milhões de euros, para os próximos
quatro anos.
Do trabalho na madeira, aos polimentos e à montagem, são já visíveis esses
sinais de maior modernidade. Num espaço agora ampliado, que está à espera de
ser ocupado com novas máquinas, destacam-se, com o seu braço
metálico, os dois novos robôs destinados a fazer o
polimento. O objetivo é prosseguir esta modernização, automatizando
a pintura das armas e o tratamento de superfície, assim como a mecanização de
outras peças. É uma aposta na engenharia que vai aliviar os operários destas
tarefas mais “físicas e desgastantes” e dar maior estabilidade ao
processo.
A internalização, já a partir de 2024, da produção de canos na
fábrica – antes importados – é outra das apostas. Numa fase inicial
serão fabricados in house perto de 80 mil canos
(os outros serão garantidos pela casa-mãe). É uma nova linha de produção que
resultou de um investimento de oito milhões de euros e que é “uma referência no
grupo”.
O administrador da Browning Viana destaca a importância desta modernização
também ao nível da retenção de talento. Está prevista uma carreira de tiro, para teste de novas armas, e a
continuação do investimento em tecnologia. E este investimento
em equipamento de produção pretende combater a dificuldade de atração de
pessoal jovem.
Rui Cunha destaca as condições “acima da média”, como
um pacote salarial base de 1.075 euros, a distribuição de resultados, o seguro
de saúde e um fundo de pensões. Efetivamente, as questões sociais são
uma das grandes preocupações da administração, tendo sido, nos últimos dois
anos, o aumento salarial global dos 620 trabalhadores da fábrica na casa dos
11%. Na verdade, como refere o administrador, “é cada vez mais difícil
encontrar pessoas e retê-las é o desafio”. Ora, com maior automatização de
processos, a expectativa é que os funcionários sejam mais especializados, para se
responder aos desafios, num mercado global.
Com praticamente toda a produção destinada à exportação, os EUA são responsáveis por cerca de 70% das vendas da empresa de
Viana. Num mercado onde a procura “tem continuamente vindo a aumentar”, destacam-se
alguns eventos particulares que mexem com o negócio, nomeadamente as eleições. “Quando os democratas estão no governo, a venda de armas dispara”,
revela o administrador da Browning Viana.
Uma piada nos EUA diz que o maior agente comercial foi
Barack Obama. “Foi
um pico enorme quando ele foi eleito”, vinca Rui Cunha. Já no período
pré-eleitoral, como o que está prestes a ser iniciado, a tendência é para uma
estabilização no negócio.
Porém, há outros acontecimentos que mexem com o negócio das armas. Perante
um ambiente dominado pela escalada de conflitos, seja no Leste da Europa, seja
no Médio Oriente, Rui Cunha admite que estes eventos são positivos para a
divisão de defesa, uma vez que os países tendem a reforçar o orçamento para a
compra de armas. Para armas de caça e de desporto, a questão
das guerras não impacta positivamente. Não é por isso que se vai mais à caça ou
ao tiro aos pratos.
***
Este apontamento dá conta de uma unidade de produção que
apura organização, tecnologia e comercialização, dando emprego a centenas de pessoas,
a quem são dadas condições de trabalho, pelo menos, razoáveis. Isto é,
obviamente, sinal de progresso no país e representa só um exemplo do que por aí
se faz, o que é de relevar em tempo de tanta maledicência e intriga, de alijamento
de responsabilidades – pessoais e coletivas, públicas e privadas – e de tanta
mediocridade.
Não obstante, é de acentuar que as armas de caça e de
desporto também matam pessoas. E muita gente não tem escrúpulos em utilizá-las
para dirimir conflitos ou, simplesmente, para expressar a sua agressividade. Por
outro lado, embora a fábrica em referência não produza armas de defesa (a
melhor defesa, para muitos, é o ataque), ela integra um grupo empresarial que
as produz e vende. E, em países como os EUA, em que um qualquer cidadão pode
usar armas de defesa pessoal (Bolsonaro queria instituir esse uso no Brasil),
são frequentes os ataques de rua, em escolas, em fábricas, em salas de
espetáculos, etc.
Enfim, “o país dos brandos costumes” não pode, candidamente,
afirmar-se inocente perante os conflitos que pululam nos diversos cantos do
Mundo. Semear a paz torna-se difícil e parece não dar resultados. Todavia, há
que remar contra a maré, fomentar mais o desporto. Haja esperança!
2023.12.30 – Louro de Carvalho
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