O Fórum Económico Mundial (WEF, em Inglês, World Economic Forum) voltou a Davos, nos Alpes
Suíços, de 16 a 20 de janeiro, sob o lema “Cooperação em um Mundo Fragmentado”, para enfrentar
os desafios globais mais urgentes e com a confiança na sua capacidade de
impulsionar soluções voltadas para o futuro. É o Fórum de Davos 2023, onde são discutidas as questões prementes da
atualidade e o rumo do planeta.
O evento reúne cerca de 2.700 chefes de Estado e de Governo,
CEO de empresas, representantes da sociedade civil, nomeadamente organizações
não-governamentais (ONG), meios de comunicação globais e líderes juvenis
procedentes da África, Ásia, Europa, Oriente Médio, América Latina e América do
Norte, para trabalharem juntos para reconstruir a confiança e moldar os
princípios, as políticas e as parcerias necessárias para enfrentar
os desafios de 2023.
A pandemia de covid-19 e a guerra na
Ucrânia desencadearam grandes transformações, pelo que esta reunião tem
como objetivo enfrentar riscos sistémicos para evitar incertezas e
fragilidades. O Fórum de Davos 2023 procura, assim,
impulsionar soluções voltadas para o futuro e enfrentar os desafios globais
mais urgentes através da cooperação público-privada.
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Além da
popular, ainda que modesta, estância de esqui, poucas razões colocam Davos no mapa dos eventos
internacionais. Porém, durante uma semana, em janeiro (neste ano,
entre 16 e 20 de janeiro), as elites mundiais convergem na pequena cidade suíça,
para a reunião anual do WEF.
O WEF foi
fundado, em 1971, por Klaus Schwab, economista e professor suíço-alemão, na
tentativa de fomentar a cooperação
global em questões políticas, sociais e económicas.
O objetivo desta
organização internacional sem fins lucrativos, agora sediada perto de Genebra,
era reunir os setores público e privado, para debater soluções para estes
problemas globais, algo que continua a ser um princípio fundador desta reunião
anual, que assume como missão estar “empenhada em melhorar o estado do mundo”.
A primeira
reunião foi realizada há cinco décadas, num centro de conferências em Davos, onde,
desde então, se realiza o encontro anual, comummente conhecido apelas pelo nome
da estância de esqui local, Davos. Provavelmente nada une figuras de
renome internacional, como Donald Trump, Greta Thunberg e Elton John, a não ser
o facto de todos já terem participado no WEF.
Apesar de
Davos ser frequentemente criticado
por se destinar a 1% dos privilegiados do mundo, o evento é um espaço de
lóbi, onde pessoas e grupos tentam influenciar estas poderosas elites, a fim de
afetar a mudança à escala global. Por esta razão, é tão normal ver no
encontro líderes mundiais, – dos Estados
Unidos da América (EUA), da União Europeia (UE) e da Organização das Nações
Unidas (ONU) – bem como líderes
empresariais, pensadores, proeminentes
académicos, dirigentes de ONG, inovadores, meios de comunicação social, ativistas, sociedade civil e
até alguma celebridade do momento. Todos
estão num só lugar, ao mesmo tempo, o que, para muitos, significa um acesso sem
precedentes a decisores à escala global.
A lista oficial de convidados é, no
entanto, muito exclusiva, sendo composta por cerca de 2.000 a 3.000
participantes e oradores. Contudo, o encontro atrai milhares mais para os seus
eventos marginais, criando um ambiente propício para empresas e, mesmo,
países e regiões venderem os seus conceitos e serviços ou atraírem
investimento.
Um dos
princípios fundadores do WEF foi ser imparcial, independente e desprovido de
interesses especiais. Talvez, por essa mesma razão, as críticas a Davos sejam
tão frequentes.
Pela
justaposição de agendas concorrentes e a sobreposição das esferas política e
empresarial, o WEF está, às vezes, na linha de fogo dos que dizem tratar-se
de uma força maligna. Por exemplo, Peter Goodman, correspondente de economia do
New York Times, vincou, no livro Davos Man, a contradição em se pedir às elites e aos bilionários,
acusados de causarem os maiores problemas do mundo, que encontrem formas de os
resolver. E uma das principais críticas feitas aos organizadores do evento é a
hipocrisia de ter a crise climática na agenda, quando, em 2022, um em cada 10 participantes
viajou de jato privado para lá chegar. Mas Davos é um fórum de debate à
escala global e conta com alguns
feitos significativos, ao longo dos seus 50 anos de história.
Assim, em
1988, um acordo assinado na reunião, conhecido como a Declaração de Davos, esteve
na base do afastamento de um conflito armado entre a Turquia e a Grécia. Em
1992, Nelson Mandela e o então
presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk, fizeram a sua primeira
aparição conjunta na cena internacional em Davos, passo significativo para pôr
fim ao apartheid. No ano seguinte,
ambos ganharam o Prémio Nobel da Paz. E, em 2000, a Aliança Global para Vacinas e Imunização foi
lançada em Davos e, desde então, tem melhorado o acesso a vacinas para milhões
de pessoas. Com efeito, desde a sua criação, o WEF contribuiu já para a
vacinação de 760 milhões de crianças em todo o Mundo.
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Neste ano,
mais de 200 painéis de debate em livestreaming fizeram destacar os temas da crise do custo de vida, das alterações climáticas, da covid-19 e da guerra na Ucrânia. Com efeito, marcaram presença 2.700 líderes de
130 países, incluindo 52 chefes de Estado e de Governo, bem como sobressaiu a
presença de nomes como Olena Zelenska, primeira-dama
da Ucrânia, António Guterres,
secretário-geral da ONU, Jens Stoltenberg,
secretário-geral da NATO, Roberta Metsola,
presidente do Parlamento europeu, Ursula von der Leyen,
presidente da Comissão Europeia, Christine Lagarde,
presidente do Banco Central Europeu (BCE), e o fundador da Microsoft, Bill Gates. Ao invés, foi notória a ausência do presidente do
Brasil, ocupado com os problemas de agitação interna subsequentes à sua tomada
de posse como chefe de Estado.
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Entretanto
o Fórum de Davos 2023 debate-se com o
crescimento da desigualdade extrema a par da riqueza extrema. Na verdade, segundo o Banco Mundial e como
conclui o relatório Oxfam “Sobrevivência dos
mais ricos”, publicado por ocasião do WEF de 2023, estamos a testemunhar
o maior aumento da desigualdade e pobreza global desde a Segunda Guerra
Mundial. Desde 2020, o 1% da população mais rica já possui 63% da riqueza
global. Pela primeira vez em 25 anos, a discrepância entre riqueza extrema e
pobreza extrema está a crescer a este nível. Em dois anos da pandemia, o 1%
mais rico da população viu o valor de seus ativos aumentar em 26 triliões de
dólares (26 biliões, segundo o modo de contar europeu), capturando 63% do
aumento total da riqueza líquida global (avaliado
em 39 biliões de euros), ou quase o dobro da parcela (37%) que foi para
os 99% restantes da população mais pobre. O índice de riqueza dos bilionários
não conhece limites, enquanto a população menos abastada se esforça para conseguir
pagar as contas. Mais de 820 milhões de pessoas estão a passar fome.
A desigualdade económica nada mais é
do que a consequência direta de uma grande “policrise”, de fatores económicos,
sociais e climático-ambientais. “A desigualdade extrema cresceu junto com a
riqueza extrema”, vinca o porta-voz da Oxfam, Francesco Petrelli. São dois fenómenos
contextuais nos últimos 25 anos. E os dois problemas que travam o crescimento
económico da maioria da população são a inflação e o desemprego. A fortuna dos
mais ricos está a aumentar em US$ 2,7 biliões por dia, enquanto 1,7 biliões de
trabalhadores vivem em países onde a inflação excede o aumento médio dos
salários. Outro fator que agrava o quadro da diferença económica são os cortes
nos gastos públicos planeados por três quartos dos governos do mundo, que
planeiam cortar 7,8 triliões de dólares de 2023 a 2027. Por isso, a Oxfam pede
uma reversão, porque não só prejudicaria os mais pobres, mas poria todo o
sistema global fora do negócio.
Em 2022, a riqueza dos bilionários
nos setores de energia e dos agronegócios aumentou no mesmo passo que os lucros
das empresas por eles controladas. Os mais ricos viram os ganhos aumentar,
mesmo nos dois anos da pandemia, enquanto a maioria da população foi obrigada a
vergar-se. E o porta-voz da Oxfam sublinha: “Olhamos para 95 grandes empresas
internacionais dos setores de energia e agronegócios, que geraram, desde a
pandemia US$306 biliões (306 mil milhões, pela contagem europeia) em lucros
extras desses US$306 biliões, US$257 foram distribuídos aos acionistas.” O facto
de não estar a ser feito investimento nos negócios ou nos trabalhadores é o principal
problema que pode gerar sérios danos à economia global. Nos últimos anos, a intensidade
da desigualdade aumenta constantemente e, dos 42 triliões de dólares produzidos
na pandemia, cerca de 23 triliões de dólares são prerrogativa dos 1% mais ricos
da população.
Portanto, os representantes dos
governos e os empresários devem equacionar o problema de como reverter este
rumo, começando com um sistema de tributação mais justo. Se, de facto, 5% dos
maiores ativos fossem tributados à taxa de 5%, poderiam ser obtidos 1700 biliões
de dólares: a quantia necessária para combater a pobreza na parte mais pobre do
planeta. E seria possível cumprir os objetivos da luta contra a pobreza
extrema, estabelecidos pela Agenda das Nações Unidas para 2030. A tributação é
a maneira mais progressiva e equitativa de reverter o curso de uma desigualdade
sempre crescente. “Tributar os super-ricos e as grandes empresas
é a saída para as atuais crises simultâneas”, argumentou a
diretora-executiva da Oxfam International, Gabriela Bucher, que rejeita o “mito
conveniente de que os cortes nos impostos para os mais ricos permitem que a sua
riqueza de alguma forma beneficie economicamente os outros”. Não é
tolerável que magnatas de renome mundial paguem 1% a 3% dos lucros em impostos
ou montem esquemas de fuga a eles e quem vive do trabalho veja as suas taxas
agravadas.
Por outro lado, há que proceder ao
alívio da dívida dos países de baixo e médio rendimento, bem como à devolução
de, pelo menos, 0,70% da ajuda pública, aos países mais pobres.
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Por
fim, a Davos apresentou-se a forte hipótese de recessão. Com efeito, segundo a
pesquisa Chief Economists Outlook, do WEF, espera-se uma recessão global em
2023, as tensões geopolíticas continuam a moldar a economia e haverá mais
aperto monetário nos EUA e na Europa, onde as perspetivas de crescimento são más
ou muito más.
Segundo
a pesquisa, quase dois terços dos principais economistas acreditam que uma
recessão global é provável em 2023, sendo que 18% consideram que seja
“extremamente provável” – mais do que o dobro da pesquisa anterior, realizada
em setembro de 2022.
Para
a China, as expectativas de crescimento estão polarizadas, com os entrevistados
divididos entre os que esperam um crescimento fraco ou forte. Espera-se que
movimentos recentes para relaxar a política altamente restritiva de combate ao
covid-19 no país impulsionem o crescimento, mas a dúvida está em saber quão
perturbadora será a mudança de política, principalmente em termos dos seus
impactos na saúde.
Nós,
por cá, temos os governantes a filosofar, poeticamente, dizendo que a recessão
não nos atingirá, mas o crescimento será menor. Veremos o que se concretizará
após Davos 2023.
2023.01.19 – Louro de
Carvalho
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