Um
helicóptero do dispositivo de combate a incêndios caiu, no fim da manhã de 30
de agosto, no rio Douro, na área da freguesia de Samodães, do concelho de
Lamego (distrito de Viseu), que partilha as águas fluviais com o concelho de
Peso da Régua (distrito de Vila Real), tendo a bordo seis ocupantes: o piloto e
cinco militares da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da Guarda
Nacional Republicana (GNR), supostamente por avaria.
O alerta foi
dado pelas 12h30 e mobilizou mais de uma centena de bombeiros e elementos da
GNR, com cerca de 49 viaturas. Acorreram ao local o primeiro-ministro, Luís
Montenegro, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como a
ministra da Administração Interna, Margarida Blasco. Mais tarde, compareceram
também o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, e o chefe do Estado Maior da
Armada, almirante Gouveia e Melo.
A bordo da aeronave seguiam seis pessoas que, regressando de um incêndio
florestal em Gestaçô, do concelho de Baião, do distrito do Porto, se dirigiam
para o centro de comando das operações, em Armamar, do distrito de Viseu.
O piloto foi resgatado com vida, embora com ferimentos ligeiros, por uma
embarcação de recreio que navegava nas imediações do local do acidente e
divisou o homem junto à frente do helicóptero, que foi partido no embate com a
corrente forte do leito do rio. O sobrevivente foi, de imediato, transportado
para o Hospital de Vila Real, onde foi estabilizado e deixou de correr perigo
de vida. Ainda naquela tarde, foram localizados e resgatados quatro corpos, mas
uma vítima permaneceu desaparecida até ao meio da tarde do dia 31.
Os militares falecidos eram todos do distrito de Viseu, sendo três de
freguesias do concelho de Lamego; e, dos outros, um era de Moimenta da Beira e
outro de Castro Daire.
De acordo
com informação da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), a
aeronave fazia parte da primeira intervenção das operações de combate ao
incêndio rural que lavrava em Gestaçô, no concelho de Baião.
O governo,
em articulação com o Presidente da República, decretou um dia de luto nacional,
a observar no dia 31. De modo semelhante agiram as autarquias de Lamego, de
Moimenta da Beira e de Castro Daire, deliberando luto municipal. Além disso, a
Câmara Municipal de Lamego anunciou
ainda que decidiu suspender todas as atividades das Festas em Honra à Nossa
Senhora dos Remédios agendadas para esse mesmo dia, bem como para o dia
seguinte, “nomeadamente a 13.ª Marcha e Corrida da Mulher Duriense, o Cortejo
Etnográfico e o espetáculo comemorativo do Dia das Bandas Filarmónicas, na Av.
Dr. Alfredo de Sousa”.
Em comunicado, a ANEPC informou que o aparelho
“sofreu um acidente, obrigando à amaragem do meio aéreo no rio douro, próximo
da localidade de Samodães”. Foram mobilizados vários meios para o local, tendo
o piloto, de 44 anos, sido resgatado com vida por uma embarcação de recreio nas
imediações. A vítima foi avaliada por uma equipa médica e não corre risco de
vida, tendo sido transportado para o hospital de Vila Real. E, sabendo do
destino dos militares da GNR, lamentou ter deixado para trás os “rapazes”.
De acordo
com o balanço das autoridades, realizado ao final da tarde do dia 30, no local,
pelo comandante Rui Silva Lampreia, quatro corpos foram localizados e retirados da aeronave. Um militar da
GNR estava ainda dado como desaparecido. Os primeiros dois corpos foram
encontrados no interior do helicóptero e os outros dois estavam junto à cauda
do aparelho, que se dividiu em dois no momento da queda.
Os cinco militares
da GNR tinham entre 29 e 45 anos, disse à agência Lusa um porta-voz da GNR.
As operações
de resgate, que decorrem a cerca de seis metros de profundidade, mantiveram-se
até às 21h00, segundo informou o comandante.
Dezenas de
operacionais estiveram no local, com equipas de mergulhadores e com apoio de
drones. E equipas de psicólogos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)
foram acionadas para dar apoio às famílias das vítimas.
Luís
Montenegro deslocou-se ao local para acompanhar as operações. Em declarações
aos jornalistas, o primeiro-ministro informou que seria decretado dia de luto nacional no dia 31. Enviou condolências às
famílias das vítimas e salientou o trabalho das autoridades na resposta ao
acidente. “Quero exprimir o nosso reconhecimento à forma como todas
as autoridades envolvidas nas operações, prontamente, responderam à solicitação
e ao alerta que foi emitido”, afirmou o chefe do governo.
Durante a
tarde, o primeiro-ministro entrou numa lancha para acompanhar as diligências
nas águas do Douro. A ação de Montenegro motivou críticas de vários
comentadores na imprensa e nas redes sociais, levando os jornalistas a
questionarem, diretamente, o governante sobre o ocorrido. Em resposta, Luís
Montenegro justificou-se, dizendo que tinha de mostrar apreço pelo trabalho dos
mergulhadores. “Foi-me permitido estar pessoalmente com os mergulhadores, que
estão a desempenhar uma missão muito perigosa, e mostrar-lhes o nosso apreço”
explicou. “O rio Douro tem uma grande dificuldade de visibilidade, com operações
de mergulho complexas e a minha obrigação é, enquanto representante do povo
português, estar ao lado de quem desempenha essas funções”, considerou.
“A presença do primeiro-ministro não foi motivo
de nenhuma perturbação das operações – fazer disso crítica ou caso, acho
que é um desrespeito pelas instituições”, defendeu o Luís Montenegro.
O Presidente
da República, que esteve em Peso da
Régua na tarde do dia do acidente, cancelando a sua presença na
Vindouro, em São João da Pesqueira, e na Feira de São Mateus, em Viseu, numa
nota, publicada no site da
Presidência, dizia-se “consternado” com o sucedido.
“O
Presidente da República dirige as sentidas condolências aos familiares dos
militares falecidos, bem como a todos os profissionais da GNR, em particular
aos militares da UEPS, relembrando o valor do serviço e do compromisso que
transcende o dever, de quem se dedica e dá vida pela segurança de todos os
Portugueses”, é possível ler na nota publicada no referido site.
Fonte do
Gabinete de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) disse
à agência noticiosa Lusa que iria
enviar uma equipa para o local para iniciar as investigações ao acidente.
Porém, as buscas foram e são coordenadas pela Polícia Marítima.
***
Centenas de
pessoas marcaram presença na igreja de Santa Cruz (dentro e no adro), em
Lamego, no distrito de Viseu, a 1 de setembro, nas cerimónias fúnebres de dois
dos cinco militares que morreram vítimas da queda do helicóptero no rio Douro. Entre as pessoas que deram o último adeus, em
Lamego, no dia 1 de setembro, aos militares da GNR que perderam a vida no
Douro, estiveram altas figuras do Estado, como o Presidente da República, o
presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro e a ministra da
Administração interna, bem como outros representantes políticos. Nenhuma
das altas figuras do Estado prestou declarações.
Junto dos
familiares esteve, desde cedo, o comandante operacional da GNR, tenente-coronel
Rui Ribeiro Veloso, que acompanha, igualmente os restantes funerais, que têm
honras de Estado.
A Igreja de
Santa Cruz, em Lamego esteve lotada, entre familiares e amigos dos dois
militares da GNR, que morreram na sequência da queda do helicóptero, sobressaindo
o grande número de camaradas, bem como uma considerável força da homóloga polícia
espanhola, em manifestação de solidariedade. O helicóptero fora alugado a uma
empresa do país vizinho
Na cerimónia
religiosa, presidida pelo bispo de Lamego, António Couto, marcam também
presença diversas entidades civis e militares, assim como representantes de
partidos políticos, que se dirigiram de vários pontos do país para prestar
homenagem.
À chegada à
igreja de Santa Cruz, as altas entidades foram recebidos pelo comandante
Comando Territorial de Viseu da GNR, tenente-coronel Adriano Resende.
No exterior
da igreja da diocese de Lamego, mas afeta à diocese das Forças Armadas e de
Segurança, contígua ao quartel da do Centro de Tropas de Operações Especiais
(CTOE), que prepara Forças de Operações Especiais (FOE), sucessores dos
Rangers, juntaram-se camaradas dos militares da UEPS (os canarinhos, nome
devido à cor da farda) e centenas de populares.
Também se
realizou um terceiro funeral em Lamego, na freguesia de Sande, às 18 horas; e,
à mesma hora, um quarto funeral na freguesia de Rua, em Moimenta da Beira. Para
o quinto militar, cujo corpo foi encontrado mais tarde, as cerimónias fúnebres foram
marcadas, para o dia 2, pelas 16 horas, em Castro Daire, com a presença do primeiro-ministro.
Marcelo
Rebelo de Sousa disse aos jornalistas, em Aveiro, na manhã de 1 de setembro,
que marcaria presença para “apresentar às famílias e às comunidades [...] o
pesar do povo português, que compreende a importância daquele contributo
daqueles militares, daqueles servidores de segurança, que estavam em missão, a
missão não tinha terminado”.
***
O organismo
responsável pela investigação à queda do helicóptero de combate a incêndios no
rio Douro já ouviu o piloto e testemunhas e concluiu “o essencial da fase de
trabalhos de campo”.
Em
comunicado, o GPIAAF diz ter concluído “o essencial da fase de trabalhos de
campo da investigação ao acidente”. “Tendo procedido à recolha de evidências no
local do acidente, nomeadamente, entrevistas ao piloto [único sobrevivente] e a
testemunhas, bem como do essencial dos destroços da aeronave, os quais estão em
trânsito para o hangar de investigação do GPIAAF, no aeródromo de Viseu,
durante a manhã de domingo ainda se tentará proceder à localização e
recuperação de alguns destroços secundários”, indicou este organismo público.
O GPIAAF
acrescentou que, “em conformidade com a legislação e práticas internacionais”
foram notificadas “as autoridades aeronáuticas internacionais interessadas, as
quais designaram peritos para cooperar com a investigação, incluindo do
fabricante da aeronave, que participarão na peritagem aos destroços da
aeronave”. “O GPIAAF tenciona publicar ao final da próxima terça-feira uma nota
informativa dando conta das constatações iniciais e do caminho a prosseguir
pela investigação”, lê-se ainda no comunicado enviado à agência Lusa.
Apesar de encontrados
todos os corpos, as buscas no rio prosseguiram para tentar encontrar duas peças
importantes em falta, que podem ser úteis para a investigação das causas do
acidente. O último corpo foi encontrado durante as buscas subaquáticas na zona
onde o helicóptero caiu. “O desfecho não era o esperado, mas acho que
foi o melhor que se conseguiu, com todos os meios que tínhamos à nossa
disponibilidade, foi que o rio devolvesse, no fundo, o conforto às nossas famílias, à
família da guarda também, e temos os cinco militares connosco para,
agora, conseguirmos prestar as devidas cerimónias e honras fúnebres que merecem
e que nós teremos todo o respeito em lhes atribuir”, disse aos
jornalistas a tenente-coronel Mafalda Almeida.
***
Foi uma tragédia que chocou as
gentes de Lamego, em que tenho algumas antigas raízes, a nível da formação e do
convívio, bem como de as de Moimenta da Beira e de Castro Daire, de que me
considero próximo. Porém, não esqueço outras tragédias que ensombraram o
ambiente naquelas paragens, como os 14 bombeiros que morreram no combate a um
fogo rural no concelho de Armamar, um gigantesco acidente de viação com um
autocarro lotado de passageiros que caiu ao Douro, a partir da ponte da Régua
ou um brutal acidente numa oficina de pirotecnia.
São factos que ceifam vidas que
as populações prezam e que no consternam a todos. Todavia, este acidente brutal
mexe com o que há de mais humanitário e simbólico: os que zelam pela segurança
das populações rurais, as mais afastadas de tudo. E deixa os militares da GNR em
luto.
Condolências às famílias das
vítimas e paz perpétua aos mortos!
2024.09.01
– Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário