domingo, 1 de setembro de 2024

Morreram cinco dos seis ocupantes de helicóptero caído no rio Douro

 

Um helicóptero do dispositivo de combate a incêndios caiu, no fim da manhã de 30 de agosto, no rio Douro, na área da freguesia de Samodães, do concelho de Lamego (distrito de Viseu), que partilha as águas fluviais com o concelho de Peso da Régua (distrito de Vila Real), tendo a bordo seis ocupantes: o piloto e cinco militares da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da Guarda Nacional Republicana (GNR), supostamente por avaria.

O alerta foi dado pelas 12h30 e mobilizou mais de uma centena de bombeiros e elementos da GNR, com cerca de 49 viaturas. Acorreram ao local o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco. Mais tarde, compareceram também o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, e o chefe do Estado Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo.

A bordo da aeronave seguiam seis pessoas que, regressando de um incêndio florestal em Gestaçô, do concelho de Baião, do distrito do Porto, se dirigiam para o centro de comando das operações, em Armamar, do distrito de Viseu.

O piloto foi resgatado com vida, embora com ferimentos ligeiros, por uma embarcação de recreio que navegava nas imediações do local do acidente e divisou o homem junto à frente do helicóptero, que foi partido no embate com a corrente forte do leito do rio. O sobrevivente foi, de imediato, transportado para o Hospital de Vila Real, onde foi estabilizado e deixou de correr perigo de vida. Ainda naquela tarde, foram localizados e resgatados quatro corpos, mas uma vítima permaneceu desaparecida até ao meio da tarde do dia 31.

Os militares falecidos eram todos do distrito de Viseu, sendo três de freguesias do concelho de Lamego; e, dos outros, um era de Moimenta da Beira e outro de Castro Daire. 

De acordo com informação da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), a aeronave fazia parte da primeira intervenção das operações de combate ao incêndio rural que lavrava em Gestaçô, no concelho de Baião.

O governo, em articulação com o Presidente da República, decretou um dia de luto nacional, a observar no dia 31. De modo semelhante agiram as autarquias de Lamego, de Moimenta da Beira e de Castro Daire, deliberando luto municipal. Além disso, a Câmara Municipal de Lamego anunciou ainda que decidiu suspender todas as atividades das Festas em Honra à Nossa Senhora dos Remédios agendadas para esse mesmo dia, bem como para o dia seguinte, “nomeadamente a 13.ª Marcha e Corrida da Mulher Duriense, o Cortejo Etnográfico e o espetáculo comemorativo do Dia das Bandas Filarmónicas, na Av. Dr. Alfredo de Sousa”.

 Em comunicado, a ANEPC informou que o aparelho “sofreu um acidente, obrigando à amaragem do meio aéreo no rio douro, próximo da localidade de Samodães”. Foram mobilizados vários meios para o local, tendo o piloto, de 44 anos, sido resgatado com vida por uma embarcação de recreio nas imediações. A vítima foi avaliada por uma equipa médica e não corre risco de vida, tendo sido transportado para o hospital de Vila Real. E, sabendo do destino dos militares da GNR, lamentou ter deixado para trás os “rapazes”.

De acordo com o balanço das autoridades, realizado ao final da tarde do dia 30, no local, pelo comandante Rui Silva Lampreia, quatro corpos foram localizados e retirados da aeronave. Um militar da GNR estava ainda dado como desaparecido. Os primeiros dois corpos foram encontrados no interior do helicóptero e os outros dois estavam junto à cauda do aparelho, que se dividiu em dois no momento da queda.

Os cinco militares da GNR tinham entre 29 e 45 anos, disse à agência Lusa um porta-voz da GNR.

As operações de resgate, que decorrem a cerca de seis metros de profundidade, mantiveram-se até às 21h00, segundo informou o comandante.

Dezenas de operacionais estiveram no local, com equipas de mergulhadores e com apoio de drones. E equipas de psicólogos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foram acionadas para dar apoio às famílias das vítimas.

Luís Montenegro deslocou-se ao local para acompanhar as operações. Em declarações aos jornalistas, o primeiro-ministro informou que seria decretado dia de luto nacional no dia 31. Enviou condolências às famílias das vítimas e salientou o trabalho das autoridades na resposta ao acidente. “Quero exprimir o nosso reconhecimento à forma como todas as autoridades envolvidas nas operações, prontamente, responderam à solicitação e ao alerta que foi emitido”, afirmou o chefe do governo.

Durante a tarde, o primeiro-ministro entrou numa lancha para acompanhar as diligências nas águas do Douro. A ação de Montenegro motivou críticas de vários comentadores na imprensa e nas redes sociais, levando os jornalistas a questionarem, diretamente, o governante sobre o ocorrido. Em resposta, Luís Montenegro justificou-se, dizendo que tinha de mostrar apreço pelo trabalho dos mergulhadores. “Foi-me permitido estar pessoalmente com os mergulhadores, que estão a desempenhar uma missão muito perigosa, e mostrar-lhes o nosso apreço” explicou. “O rio Douro tem uma grande dificuldade de visibilidade, com operações de mergulho complexas e a minha obrigação é, enquanto representante do povo português, estar ao lado de quem desempenha essas funções”, considerou.

“A presença do primeiro-ministro não foi motivo de nenhuma perturbação das operações – fazer disso crítica ou caso, acho que é um desrespeito pelas instituições”, defendeu o Luís Montenegro.

O Presidente da República, que esteve em Peso da Régua na tarde do dia do acidente, cancelando a sua presença na Vindouro, em São João da Pesqueira, e na Feira de São Mateus, em Viseu, numa nota, publicada no site da Presidência, dizia-se “consternado” com o sucedido.

“O Presidente da República dirige as sentidas condolências aos familiares dos militares falecidos, bem como a todos os profissionais da GNR, em particular aos militares da UEPS, relembrando o valor do serviço e do compromisso que transcende o dever, de quem se dedica e dá vida pela segurança de todos os Portugueses”, é possível ler na nota publicada no referido site.

Fonte do Gabinete de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) disse à agência noticiosa Lusa que iria enviar uma equipa para o local para iniciar as investigações ao acidente. Porém, as buscas foram e são coordenadas pela Polícia Marítima.

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Centenas de pessoas marcaram presença na igreja de Santa Cruz (dentro e no adro), em Lamego, no distrito de Viseu, a 1 de setembro, nas cerimónias fúnebres de dois dos cinco militares que morreram vítimas da queda do helicóptero no rio Douro. Entre as pessoas que deram o último adeus, em Lamego, no dia 1 de setembro, aos militares da GNR que perderam a vida no Douro, estiveram altas figuras do Estado, como o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro e a ministra da Administração interna, bem como outros representantes políticos. Nenhuma das altas figuras do Estado prestou declarações.

Junto dos familiares esteve, desde cedo, o comandante operacional da GNR, tenente-coronel Rui Ribeiro Veloso, que acompanha, igualmente os restantes funerais, que têm honras de Estado.

A Igreja de Santa Cruz, em Lamego esteve lotada, entre familiares e amigos dos dois militares da GNR, que morreram na sequência da queda do helicóptero, sobressaindo o grande número de camaradas, bem como uma considerável força da homóloga polícia espanhola, em manifestação de solidariedade. O helicóptero fora alugado a uma empresa do país vizinho  

Na cerimónia religiosa, presidida pelo bispo de Lamego, António Couto, marcam também presença diversas entidades civis e militares, assim como representantes de partidos políticos, que se dirigiram de vários pontos do país para prestar homenagem.

À chegada à igreja de Santa Cruz, as altas entidades foram recebidos pelo comandante Comando Territorial de Viseu da GNR, tenente-coronel Adriano Resende.

No exterior da igreja da diocese de Lamego, mas afeta à diocese das Forças Armadas e de Segurança, contígua ao quartel da do Centro de Tropas de Operações Especiais (CTOE), que prepara Forças de Operações Especiais (FOE), sucessores dos Rangers, juntaram-se camaradas dos militares da UEPS (os canarinhos, nome devido à cor da farda) e centenas de populares.

Também se realizou um terceiro funeral em Lamego, na freguesia de Sande, às 18 horas; e, à mesma hora, um quarto funeral na freguesia de Rua, em Moimenta da Beira. Para o quinto militar, cujo corpo foi encontrado mais tarde, as cerimónias fúnebres foram marcadas, para o dia 2, pelas 16 horas, em Castro Daire, com a presença do primeiro-ministro.

Marcelo Rebelo de Sousa disse aos jornalistas, em Aveiro, na manhã de 1 de setembro, que marcaria presença para “apresentar às famílias e às comunidades [...] o pesar do povo português, que compreende a importância daquele contributo daqueles militares, daqueles servidores de segurança, que estavam em missão, a missão não tinha terminado”.

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O organismo responsável pela investigação à queda do helicóptero de combate a incêndios no rio Douro já ouviu o piloto e testemunhas e concluiu “o essencial da fase de trabalhos de campo”.

Em comunicado, o GPIAAF diz ter concluído “o essencial da fase de trabalhos de campo da investigação ao acidente”. “Tendo procedido à recolha de evidências no local do acidente, nomeadamente, entrevistas ao piloto [único sobrevivente] e a testemunhas, bem como do essencial dos destroços da aeronave, os quais estão em trânsito para o hangar de investigação do GPIAAF, no aeródromo de Viseu, durante a manhã de domingo ainda se tentará proceder à localização e recuperação de alguns destroços secundários”, indicou este organismo público.

O GPIAAF acrescentou que, “em conformidade com a legislação e práticas internacionais” foram notificadas “as autoridades aeronáuticas internacionais interessadas, as quais designaram peritos para cooperar com a investigação, incluindo do fabricante da aeronave, que participarão na peritagem aos destroços da aeronave”. “O GPIAAF tenciona publicar ao final da próxima terça-feira uma nota informativa dando conta das constatações iniciais e do caminho a prosseguir pela investigação”, lê-se ainda no comunicado enviado à agência Lusa.

Apesar de encontrados todos os corpos, as buscas no rio prosseguiram para tentar encontrar duas peças importantes em falta, que podem ser úteis para a investigação das causas do acidente. O último corpo foi encontrado durante as buscas subaquáticas na zona onde o helicóptero caiu. “O desfecho não era o esperado, mas acho que foi o melhor que se conseguiu, com todos os meios que tínhamos à nossa disponibilidade, foi que o rio devolvesse, no fundo, o conforto às nossas famílias, à família da guarda também, e temos os cinco militares connosco para, agora, conseguirmos prestar as devidas cerimónias e honras fúnebres que merecem e que nós teremos todo o respeito em lhes atribuir”, disse aos jornalistas a tenente-coronel Mafalda Almeida.

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Foi uma tragédia que chocou as gentes de Lamego, em que tenho algumas antigas raízes, a nível da formação e do convívio, bem como de as de Moimenta da Beira e de Castro Daire, de que me considero próximo. Porém, não esqueço outras tragédias que ensombraram o ambiente naquelas paragens, como os 14 bombeiros que morreram no combate a um fogo rural no concelho de Armamar, um gigantesco acidente de viação com um autocarro lotado de passageiros que caiu ao Douro, a partir da ponte da Régua ou um brutal acidente numa oficina de pirotecnia.

São factos que ceifam vidas que as populações prezam e que no consternam a todos. Todavia, este acidente brutal mexe com o que há de mais humanitário e simbólico: os que zelam pela segurança das populações rurais, as mais afastadas de tudo. E deixa os militares da GNR em luto.

Condolências às famílias das vítimas e paz perpétua aos mortos!

2024.09.01 – Louro de Carvalho

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