terça-feira, 17 de setembro de 2024

Ursula von der Leyen constituiu a equipa de comissários europeus

 

A recém-eleita presidente da Comissão Europeia, já em exercício, revelou, a 17 de setembro, a sua equipa de comissários europeus e as áreas políticas ou “pastas” que dirigirão nos próximos cinco anos, chegando ao fim um período de semanas de especulação. A proposta foi divulgada à imprensa, após a reunião com a Conferência de Presidentes do Parlamento Europeu (estrutura que junta a líder da assembleia europeia e os responsáveis dos partidos políticos), na qual Ursula von der Leyen propôs o colégio de comissários do próximo ciclo institucional (2024-2029).

Para os seis cargos de vice-presidente executivo, que formarão, com Ursula von der Leyen, o topo da hierarquia do executivo comunitário, foram nomeados os comissários francês, finlandês, estoniano, letão, romeno e espanhol.

Em declarações aos jornalistas, em Estrasburgo, na manhã de 17 de setembro, a presidente da Comissão descreveu o novo colégio de comissários como tendo uma estrutura mais “enxuta” e mais “interativa e interligada”, centrada nos princípios fundamentais da “prosperidade, segurança e democracia”. Com efeito, Ursula von der Leyen nomeou seis vice-presidentes executivos – quatro mulheres e dois homens – que terão um maior poder de influência sobre as atividades do executivo e supervisionarão o trabalho de um grupo de comissários. Entre os/as vice-presidentes, contam-se a espanhola Teresa Ribera, o francês Stéphane Séjourné e o italiano Raffaele Fitto, apesar de os socialistas europeus terem advertido Ursula von der Leyen contra a entrega de uma vice-presidência à escolha de Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, de extrema-direita.

O enfraquecimento da competitividade da Europa, face a potências mundiais como os Estados Unidos da América (EUA) e a China é o fio condutor das vice-presidências executivas.

A lista de pastas inclui funções recém-criadas, incluindo um comissário europeu para a Defesa e Segurança (Andrius Kubilius, antigo primeiro-ministro da Lituânia), para o Mediterrâneo (Dubravka Šuica, da Croácia) e para a Habitação e Energia (Dan Jørgensen, da Dinamarca).

A presidente da Comissão irá agora enviar as “cartas de missão” a cada um/a dos/as candidatos/as, descrevendo a sua visão para o respetivo mandato. Estes/as devem depois ser submetidos/as a um exame jurídico, a um inquérito por parte das comissões parlamentares e a um voto de confirmação, antes de assumirem funções, podendo ser rapidamente eliminados/as, se não reunirem o apoio de um parlamento mais fraturado politicamente do que em mandatos anteriores. Os governos dos países da União Europeia (UE) seriam então obrigados a propor um/a candidato/a alternativo/a.

Eis como Ursula von der Leyen propôs a distribuição das pastas políticas, segundo a “Euronews”:

Áustria – Magnus Brunner, Comissário para os Assuntos Internos e a Migração;

Bélgica – Hadja Lahbib, Comissária para a Preparação e Gestão de Crises;

Bulgária – Ekaterina Zaharieva, Comissária para as startups, a Investigação e a Inovação;

Croácia – Dubravka Šuica, Comissária para o Mediterrâneo;

Chipre – Costas Kadis, Comissário para as Pescas e os Oceanos;

República Checa – Jozef Sikela, Comissário para as Parcerias Internacionais;

Dinamarca – Dan Jørgensen, Comissário para a Energia e a Habitação;

Estónia – Kaja Kallas, vice-presidente para a Política Externa e de Segurança e Alta Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Defesa;

Finlândia – Henna Virkkunen, vice-presidente para a Soberania Tecnológica, Segurança e Democracia, Comissária para as Tecnologias Digitais e de Fronteira;

França – Stéphane Séjourné, vice-presidente para a Prosperidade e Estratégia Industrial, Comissário para a Indústria, PME e Mercado Único;

Alemanha – Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia;

Grécia – Apostolos Tzitzikostas, Comissário para os Transportes Sustentáveis e o Turismo;

Hungria – Olivér Várhelyi, Comissário para a Saúde e o Bem-Estar dos Animais;

Irlanda – Michael McGrath, Comissário para a Democracia, a Justiça e o Estado de Direito;

Itália – Raffaele Fitto, vice-presidente para a Coesão e Reformas, Comissário para a Política de Coesão, Desenvolvimento Regional e Cidades;

Letónia – Valdis Dombrovskis, Comissário para a Economia e Produtividade, Implementação e Simplificação;

Lituânia – Andrius Kubilius, Comissário para a Defesa e Espaço;

Luxemburgo – Christophe Hansen, Comissário para a Agricultura e Alimentação;

Malta – Glenn Micallef, Comissário para a Equidade Intergeracional, Cultura, Juventude e Desporto;

Países Baixos – Wopke Hoekstra, Comissário para o Clima, Crescimento Limpo e Fiscalidade;

Polónia – Piotr Serafin, Comissário para o Orçamento, a Luta Antifraude e a Administração Pública;

Portugal – Maria Luís Albuquerque, Comissária para os Serviços Financeiros e a União da Poupança e do Investimento;

Roménia – Roxana Mînzatu, vice-presidente para as Pessoas, as Competências e a Preparação, Comissária para as Competências, a Educação, o Emprego de Qualidade e os Direitos Sociais;

Eslováquia – Maroš Šefčovič, Comissário para o Comércio e a Segurança Económica; Relações Interinstitucionais e Transparência;

Eslovénia – Marta Kos, Comissária para o Alargamento, também responsável pela vizinhança oriental e pela reconstrução da Ucrânia;

Espanha – Teresa Ribera, vice-presidente para uma Transição Limpa, Justa e Competitiva, Comissária para a Concorrência;

Suécia – Jessika Roswall, Comissária para o Ambiente, a Resiliência da Água e uma Economia Circular Competitiva.

Ursula von der Leyen afirmou que esta equipa é o resultado de “semanas intensas de negociações” com os governos da UE. Na verdade, as negociações políticas atrasaram a apresentação da equipa de comissários, depois de a presidente da Comissão ter sido forçada a pressionar os estados-membros a substituírem os seus candidatos masculinos por mulheres, para aumentar a paridade de género no colégio.

Dos 26 nomeados, onze (40%) são mulheres – um retrocesso em relação à paridade de género do colégio anterior, mas grande melhoria em relação à lista original de candidatos que surgiu depois de os governos terem apresentado os seus candidatos no verão. “Quando recebi o primeiro conjunto de candidaturas e de candidatos, estávamos a caminho de ter cerca de 22% de mulheres e 78% de homens”, declarou Ursula von der Leyen, explicitando: “Isso era inaceitável. Trabalhei com os estados-membros e conseguimos melhorar o equilíbrio para 40% de mulheres e 60% de homens. E isso mostra que, por muito que tenhamos conseguido, ainda há muito trabalho a fazer.”

A disputa pela pasta mais privilegiada também atrasou as nomeações. “Pelo menos vinte estados-membros pediram uma pasta económica forte. Não é possível ter vinte comissários com pastas económicas fortes”, afirmou a presidente da Comissão, acrescentando que os comissários, que são nomeados pelos governos nacionais, devem representar os interesses de toda a Europa.

O francês Stéphane Séjourné recebeu o poderoso cargo de vice-presidente executivo para a Prosperidade e a Estratégia Industrial, com amplas responsabilidades no domínio da indústria, das pequenas e médias empresas (PME) e do mercado único. A sua nomeação surge apenas um dia depois de ter sido nomeado candidato substituto da França, na sequência de uma decisão de última hora de Thierry Breton de se retirar da corrida.

O prestigiado cargo terá sido oferecido a Paris “como contrapartida política” pela destituição de Breton, conhecido como o mais feroz crítico interno de Ursula von der Leyen.

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Luís Montenegro destacou a “pasta crucial” dos Serviços Financeiros atribuída à comissária europeia proposta por Portugal, Maria Luís Albuquerque, considerando que será “um setor vital para a competitividade da economia europeia”. 

Em comunicado, o primeiro-ministro congratula-se com “a qualidade e a coerência da composição do colégio de comissários que a presidente Ursula von der Leyen acaba de apresentar”. “Realçamos a pasta crucial atribuída à comissária Maria Luís Albuquerque, indicada por Portugal. Será um setor vital para a competitividade da nossa economia, a concretização da União do Mercado de Capitais, o fomento do investimento privado e o reforço da capacidade de inovação europeia”, defende o chefe do governo, realçando que os temas que ficarão sob a alçada da ex-ministra das Finanças “foram considerados fulcrais na estratégia da União aprovada pelo Conselho Europeu e foram evidenciados, com especial destaque, pelos recentes relatórios Letta e Draghi, em particular este último”.

“Trata-se de uma matéria central para a Europa e para Portugal, tendo em vista a diversificação das fontes de financiamento, com o objetivo de promover o crescimento e o investimento económicos. Isto é essencial ao progresso, à sustentabilidade do projeto social e económico da Europa, e à capacidade da União para corresponder às expetativas, necessidades e interesses dos cidadãos europeus e portugueses”, conclui o comunicado.

Por sua vez, nas declarações aos jornalistas, Ursula von der Leyen vincou que “Maria Albuquerque será excelente nessa pasta, porque tem uma vasta experiência como ministra das Finanças, mas também uma enorme experiência no setor privado”. “Portanto, ela combina tudo, sabe o quão difícil é o campo político, mas também sabe que o setor privado [é importante] para o capital privado ou [para] o investimento privado. [...] E isso será possível com uma União dos Mercados de Capitais aprofundada e consolidada”, argumentou.

Questionada sobre a sua experiência no privado, após ter exercido um cargo público, a líder do executivo comunitário, reeleita no cargo, salientou que tal será “muito relevante, porque toda a legislação [europeia] deve refletir o interesse de todos os Europeus e ter em conta os diferentes pontos de vista das diferentes partes interessadas”. “Por isso, penso que reforça a posição”, vincou, sublinhando estar em causa uma decisão, em conjunto na UE, “como gerir e financiar as necessidades crescentes”. Admitiu que “será difícil” avançar com a ideia da União da Poupança e do Investimento, após várias tentativas nos últimos anos, mas salientou que “a pressão está a aumentar”, nomeadamente, face aos concorrentes como os EUA e a China.

Dados do Banco Central Europeu (BCE) indicam que, todos os anos, a UE perde 470 mil milhões de euros de investimento que não é feito na UE, devido à falta de uma União dos Mercados de Capitais. “Por isso, existe agora uma enorme urgência e pressão para que o assunto seja resolvido, e ela é a pessoa certa, com vastos conhecimentos nesta matéria”, adiantou Ursula von der Leyen.

Após a covid-19, a UE dispõe de 33 biliões de euros em poupanças privadas, predominantemente detidas em moeda e em depósitos. Em 2022, por exemplo, a poupança das famílias da UE foi de 1390 mil milhões de euros, em comparação com 840 mil milhões de euros nos EUA. Nos relatórios sobre a competitividade da economia europeia elaborados pelos antigos primeiros-ministros italianos Enrico Letta e Mario Draghi foi, precisamente, defendida a criação de uma União da Poupança e do Investimento, com o objetivo de, não só manter as poupanças privadas europeias na UE, mas também de atrair recursos adicionais do estrangeiro.

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Oxalá que a antiga ministra das Finanças se liberte do estigma austeritário com que obedeceu à troika, sendo boa aluna de Durão Barroso e de Christine Lagarde (não tanto de Mario Draghi), campeou privatizações a esmo e sobrecarregou os Portugueses de impostos e taxas. Espero que, liderando a poupança e o investimento, na UE, seja uma grande mestra de Luís Montenegro.

2024.09.17 – Louro de Carvalho

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