sábado, 21 de setembro de 2024

Nova variante XEC COVID está a surgir na Europa

 

Os peritos médicos advertem que uma nova variante do coronavírus que está a propagar-se na Europa e no Mundo poderá, em breve, tornar-se dominante. Trata-se da variante XEC COVID atualmente dominante na Europa, um híbrido das anteriores subvariantes ómicron KS.1.1 e KP.3.3, mas cujas mutações podem contribuir para que se propague mais facilmente, neste outono, segundo afirmaram os especialistas a vários meios de comunicação social.

Esta variante foi registada em, pelo menos, 11 países europeus, depois de ter surgido na Alemanha, mas, até agora, não preenche os critérios para ser considerada uma variante de preocupação ou de interesse, para as autoridades de saúde pública, de acordo com um porta-voz do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). “Até à data, foi comunicado um número muito limitado de deteções de XEC”, afirmou o porta-voz do ECDC.

Os cientistas identificaram, pela primeira vez, a variante XEC em Berlim, em junho, tendo sido, desde então, detetada em, pelo menos, 11 países europeus e em quatro outros em todo o Mundo.

De acordo com dados atualizados, no início de setembro, do Scripps Research, instituto sem fins lucrativos norte-americano, a XEC representa, pelo menos, 1% de todas as amostras sequenciadas na Eslovénia, na Bélgica, na Alemanha e nos Países Baixos, mas também foi identificada no Reino Unido, na Dinamarca, na França, na Irlanda, na Suécia, na Itália e na Espanha.

Os dados de sequenciação têm algumas ressalvas. As amostras virais que são submetidas a sequenciação genómica não são uma representação direta dos casos que circulam na comunidade e nem todos os laboratórios estão a proceder à sequenciação ao mesmo ritmo. Isto significa, segundo o Scripps Research, que as estirpes que aparecem nos dados de sequenciação “podem não representar a verdadeira prevalência das mutações na população”.

Em todo o caso, a sequenciação pode oferecer pistas precoces sobre a forma como o vírus está a evoluir, dando aos investigadores e às agências médicas tempo para decidirem se são necessárias contramedidas específicas, como vacinas alteradas ou recomendações de saúde pública.

Os especialistas acreditam que as vacinas existentes contra a covid-19 devem ser eficazes contra a variante XEC, informou a BBC News. “Prevemos que a XEC tenha propriedades semelhantes às das variantes atualmente em circulação, sem alterações na gravidade da infeção ou na eficácia da vacina contra a doença grave”, considerou um porta-voz do ECDC.

O ECDC recomenda a vacinação antes da época de inverno, visto que a proteção diminui com o tempo. “A vacinação é a medida mais eficaz de proteção contra as formas mais graves da covid-19 e da gripe sazonal”, afirmou o mesmo porta-voz.

***

De acordo com os cientistas, a utilização do molnupiravir, um medicamento antiviral, para tratar os doentes de risco com covid-19 coincide com as mutações do coronavírus, que se suspeita serem, depois, transmitidas a outras pessoas. Os cientistas mapearam as mutações da covid-19 ao longo do tempo, para verem como e quando é que o vírus evoluiu, e detetaram “eventos mutacionais” invulgares que estavam associados a doentes que tinham tomado o molnupiravir, um dos primeiros antivirais a ser disponibilizado para o tratamento da covid-19, durante a pandemia, e que funciona, induzindo mutações no genoma do vírus, o que, essencialmente, o impede de se multiplicar, reduzindo a carga viral. Isto ajuda o sistema imunitário do organismo a controlar a infeção.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou o molnupiravir para o tratamento de pacientes com alto risco de hospitalização, em março de 2022, tornando-o o primeiro medicamento antiviral oral do seu guia de tratamento para a infeção. 

Os investigadores do Instituto Francis Crick do Reino Unido, da Universidade de Cambridge, do Imperial College London, da Universidade de Liverpool, da Universidade da Cidade do Cabo e da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) analisaram as bases de dados de sequenciação global do vírus da covid-19, verificando uma “árvore genealógica” de 15 milhões de sequências. Isto ajudou-os a seguir a evolução do vírus, identificando quando ocorreram as mutações, e permitiu-lhes afirmar que, embora os vírus estejam sempre a sofrer mutações, identificaram “eventos mutacionais” que eram diferentes dos padrões normais de mutação e que estavam “fortemente associados a indivíduos que tinham tomado molnupiravir”.

Os investigadores, que publicaram as suas conclusões na revista “Nature”, afirmaram que as mutações aumentaram em 2022, numa altura que coincidiu com a introdução do molnupiravir, e descobriram que as mutações tendiam a ser mais encontradas em pacientes mais velhos, que eram mais propensos a receber a prescrição do medicamento, pois eram considerados em maior risco de hospitalização.

“O molnupiravir é um dos vários medicamentos que estão a ser utilizados para combater a covid-19. Pertence a uma classe de medicamentos que pode provocar uma mutação tão grande do vírus que o enfraquece fatalmente”, afirmou Christopher Ruis, do Departamento de Medicina da Universidade de Cambridge, acrescentando: “Mas o que descobrimos é que, em alguns doentes, este processo não mata todos os vírus e alguns vírus mutantes podem propagar-se. É importante ter isto em conta, quando se avaliam os benefícios e riscos globais do molnupiravir e de medicamentos semelhantes.”

Os investigadores descobriram que, pelo menos, 30% dos “eventos de mutação”, em Inglaterra, envolviam a utilização de molnupiravir. Observaram pequenos grupos de mutações que sugeriam que outros doentes estavam infetados com o vírus mutado.

No entanto, nenhuma variante preocupante está atualmente ligada a este contexto. “A covid-19 continua a ter um efeito importante na saúde humana e algumas pessoas têm dificuldade em eliminar o vírus, pelo que é importante desenvolvermos medicamentos que visem encurtar a duração da infeção”, frisou Theo Sanderson, autor principal e investigador de pós-doutoramento no Instituto Francis Crick, mas considerando: “As nossas provas mostram que um medicamento antiviral específico, o molnupiravir, também provoca novas mutações, aumentando a diversidade genética da população viral sobrevivente.”

Os resultados são úteis para a avaliação em curso do molnupiravir e o desenvolvimento de novos medicamentos deve ter em conta a possibilidade de as mutações serem causadas pelos antivirais.

“O nosso trabalho mostra que a dimensão, sem precedentes, dos conjuntos de dados de sequências pós-pandémicas, construídos, em colaboração, por milhares de investigadores e profissionais de saúde em todo o Mundo, cria um enorme poder para revelar conhecimentos sobre a evolução do vírus, que não seriam possíveis a partir da análise de dados de qualquer país individual”, explanou Theo Sanderson.

***

Uma nova investigação (que faz parte do Human Cell Atlas, um grupo colaborativo internacional lançado em 2016, para mapear todas as células humanas), infetando deliberadamente um pequeno número de indivíduos saudáveis em condições altamente controladas (36 voluntários adultos), analisou a razão pela qual há pessoas que não ficam doentes com a covid-19. Os investigadores administraram o vírus através do nariz, analisaram as células do nariz e do sangue dos participantes e publicaram as conclusões na revista “Nature”.

Depois, utilizaram uma tecnologia chamada sequenciação de célula única, para analisar a informação genética – ADN (ácido desoxirribonucleico) e ARN (ácido ribonucleico) – de cada célula. “Esta foi uma oportunidade incrivelmente única para ver como são as respostas imunitárias, quando se deparam com um novo agente patogénico – em adultos sem história prévia de covid-19, num contexto em que fatores como o tempo de infeção e as comorbilidades podiam ser controlados”, afirmou o Dr. Rik Lindeboom, coautor do estudo do Instituto do Cancro dos Países Baixos, em comunicado.

Os indivíduos que eliminaram rapidamente o vírus não apresentaram uma resposta imunitária generalizada típica. Em vez disso, apresentaram respostas imunitárias subtis.

Níveis elevados de atividade de um gene chamado HLA-DQA2, antes da exposição, poderiam ter ajudado estes participantes a evitar uma infeção prolongada, segundo os investigadores. Por outro lado, seis indivíduos que desenvolveram uma infeção prolongada tiveram uma resposta imunitária rápida no sangue, mas mais lenta no nariz, o que permitiu que o vírus se estabelecesse aí. “Estas descobertas lançam uma nova luz sobre os eventos iniciais cruciais que permitem que o vírus se instale ou o eliminem rapidamente, antes que os sintomas se desenvolvam”, observou o Dr. Marko Nikolić, outro dos autores do estudo da University College London.

Os investigadores também encontraram padrões comuns nos recetores de células T ativados (TCR), as proteínas à superfície das células T concebidas para reconhecer antigénios específicos. Quando um TCR se liga a um agente patogénico apresentado por uma célula infetada ou anormal, desencadeia a ativação da célula T. Em seguida, as células T podem matar diretamente as células infetadas, ativando outras células imunitárias e contribuindo para a imunidade a longo prazo, ao recordar o agente patogénico. Assim, dispõe-se de informações sobre a forma como as células imunitárias comunicam, o que poderá ajudar a desenvolver terapias com células T direcionadas não só para a covid-19, mas também para outras doenças. “Agora temos uma compreensão muito maior de toda a gama de respostas imunológicas, o que poderia fornecer uma base para o desenvolvimento de potenciais tratamentos e vacinas que imitam essas respostas protetoras naturais”, verificou Nikolić.

***

Sem falar, ainda, da variante XEC COVID, a OMS sublinhava, no início de agosto, que as infeções por covid-19 estão a aumentar, a nível mundial, não sendo provável que diminuam tão cedo, e que, na Europa, a taxa de positividade é superior a 20%, acima da média global (10%).

“O vírus está a circular em todos os países. Os dados do nosso sistema de vigilância baseado em sentinelas, em 84 países, indicam que a percentagem de testes positivos para o SARS-CoV-2 tem vindo a aumentar ao longo das últimas semanas”, alertou Maria Van Kerkhove, diretora técnica da OMS, vincando: “Em geral, a positividade dos testes é superior a 10%, mas este valor varia consoante a região. Na Europa, a percentagem de positividade é superior a 20%.”

A OMS avisa que variantes mais graves do SARS-CoV-2 podem estar no horizonte, tendo os Jogos Olímpicos contribuído para a sua propagação. “Nos últimos meses, independentemente da estação do ano, muitos países registaram surtos de covid-19, incluindo nos Jogos Olímpicos. Há, pelo menos, 40 atletas que testaram positivo”, adiantou a epidemiologista.

Por isso, a OMS está a exortar os governos a reforçarem as suas campanhas de vacinação, assegurando que os grupos de maior risco sejam vacinados, uma vez, em cada 12 meses, o que Portugal está a fazer.

Acresce anotar que um estudo da OMS-Europa, publicado a 8 de agosto, no “The Lancet Respiratory Medicine”, conclui que as vacinas contra a covid-19 salvaram 1,6 milhões de pessoas durante a pandemia, uma revelação num verão em que se regista um aumento de casos. Mais refere que o número de mortes por covid-19, na Europa, atualmente de 2,2 milhões, poderia ter chegado aos quatro milhões sem as vacinas. A maioria dos pacientes salvos tinha 60 anos ou mais, sendo o grupo com maior risco de doença grave e morte por SARS-CoV-2.

***

Enfim, é preciso observar as indicações da OMS, pois o coronavírus ainda não foi embora. Temos de nos habituar.

2024.09.21 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário