Os peritos
médicos advertem que uma nova variante
do coronavírus que está a propagar-se na Europa e no Mundo poderá,
em breve, tornar-se dominante. Trata-se
da variante XEC COVID atualmente dominante na Europa, um híbrido das
anteriores subvariantes ómicron KS.1.1 e KP.3.3, mas cujas mutações podem
contribuir para que se propague mais facilmente, neste outono, segundo afirmaram
os especialistas a vários meios de comunicação social.
Esta variante foi registada em, pelo menos, 11 países europeus, depois de
ter surgido na Alemanha, mas, até agora, não preenche os critérios para ser
considerada uma variante de preocupação ou de interesse, para as autoridades de saúde pública, de acordo com um
porta-voz do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). “Até à data, foi comunicado um número
muito limitado de deteções de XEC”, afirmou o porta-voz do ECDC.
Os
cientistas identificaram, pela primeira vez, a variante XEC em Berlim, em junho,
tendo sido, desde então, detetada em, pelo menos, 11 países europeus e em
quatro outros em todo o Mundo.
De acordo
com dados atualizados, no início de setembro, do Scripps Research, instituto
sem fins lucrativos norte-americano, a XEC representa, pelo menos, 1% de todas
as amostras sequenciadas na Eslovénia, na Bélgica, na Alemanha e nos Países
Baixos, mas também foi identificada no Reino Unido, na Dinamarca, na França, na
Irlanda, na Suécia, na Itália e na Espanha.
Os dados de
sequenciação têm algumas ressalvas. As amostras virais que são submetidas a
sequenciação genómica não são uma representação direta dos casos que circulam
na comunidade e nem todos os laboratórios estão a proceder à sequenciação ao
mesmo ritmo. Isto significa, segundo o Scripps Research, que as estirpes que
aparecem nos dados de sequenciação “podem não representar a verdadeira prevalência
das mutações na população”.
Em todo o
caso, a sequenciação pode oferecer
pistas precoces sobre a forma como o vírus está a evoluir, dando aos
investigadores e às agências médicas tempo para decidirem se são necessárias contramedidas
específicas, como vacinas alteradas ou recomendações de saúde pública.
Os especialistas acreditam que as vacinas existentes contra a covid-19
devem ser eficazes contra a variante XEC, informou a
BBC News. “Prevemos que a XEC tenha
propriedades semelhantes às das variantes atualmente em circulação, sem
alterações na gravidade da infeção ou na eficácia da vacina contra a doença
grave”, considerou um porta-voz do ECDC.
O ECDC
recomenda a vacinação antes da
época de inverno, visto que a proteção diminui com o tempo. “A vacinação
é a medida mais eficaz de proteção contra as formas mais graves da covid-19 e da gripe sazonal”,
afirmou o mesmo porta-voz.
***
De acordo com os cientistas, a utilização do molnupiravir, um medicamento antiviral, para tratar os doentes de risco com covid-19 coincide com as mutações do coronavírus,
que se suspeita serem, depois, transmitidas a outras pessoas. Os cientistas mapearam as mutações da
covid-19 ao longo do tempo, para verem como e quando é que o vírus evoluiu, e
detetaram “eventos mutacionais” invulgares que estavam associados a doentes que
tinham tomado o molnupiravir, um dos primeiros antivirais a ser disponibilizado
para o tratamento da covid-19, durante a pandemia, e que funciona, induzindo
mutações no genoma do vírus, o que, essencialmente, o impede de se multiplicar,
reduzindo a carga viral. Isto ajuda o sistema imunitário do organismo a
controlar a infeção.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou o molnupiravir para o tratamento
de pacientes com alto risco de hospitalização, em março de 2022, tornando-o o
primeiro medicamento antiviral oral do seu guia de tratamento para a
infeção.
Os
investigadores do Instituto Francis Crick do Reino Unido, da Universidade de
Cambridge, do Imperial College London, da Universidade de Liverpool, da
Universidade da Cidade do Cabo e da Agência de Segurança da Saúde do Reino
Unido (UKHSA) analisaram as bases de dados de sequenciação global do vírus da
covid-19, verificando uma “árvore genealógica” de 15 milhões de sequências. Isto
ajudou-os a seguir a evolução do vírus, identificando quando ocorreram as
mutações, e permitiu-lhes afirmar que, embora os vírus estejam sempre a sofrer
mutações, identificaram “eventos mutacionais” que eram diferentes dos padrões
normais de mutação e que estavam “fortemente associados a indivíduos que tinham
tomado molnupiravir”.
Os
investigadores, que publicaram as suas conclusões na revista “Nature”,
afirmaram que as mutações aumentaram em 2022, numa altura que coincidiu com a
introdução do molnupiravir, e descobriram que as mutações tendiam a ser mais
encontradas em pacientes mais velhos, que eram mais propensos a receber a
prescrição do medicamento, pois eram considerados em maior risco de
hospitalização.
“O
molnupiravir é um dos vários medicamentos que estão a ser utilizados para
combater a covid-19. Pertence a uma classe de medicamentos que pode provocar
uma mutação tão grande do vírus que o enfraquece fatalmente”, afirmou
Christopher Ruis, do Departamento de Medicina da Universidade de Cambridge, acrescentando:
“Mas o que descobrimos é que, em alguns doentes, este processo não mata todos
os vírus e alguns vírus mutantes podem propagar-se. É importante ter isto em
conta, quando se avaliam os benefícios e riscos globais do molnupiravir e de
medicamentos semelhantes.”
Os
investigadores descobriram que, pelo menos, 30% dos “eventos de mutação”, em
Inglaterra, envolviam a utilização de molnupiravir. Observaram pequenos grupos
de mutações que sugeriam que outros doentes estavam infetados com o vírus
mutado.
No entanto,
nenhuma variante preocupante está atualmente ligada a este contexto. “A covid-19
continua a ter um efeito importante na saúde humana e algumas pessoas têm
dificuldade em eliminar o vírus, pelo que é importante desenvolvermos
medicamentos que visem encurtar a duração da infeção”, frisou Theo Sanderson,
autor principal e investigador de pós-doutoramento no Instituto Francis Crick,
mas considerando: “As nossas provas mostram que um medicamento antiviral
específico, o molnupiravir, também provoca novas mutações, aumentando a
diversidade genética da população viral sobrevivente.”
Os
resultados são úteis para a avaliação em curso do molnupiravir e o
desenvolvimento de novos medicamentos deve ter em conta a possibilidade de as
mutações serem causadas pelos antivirais.
“O nosso
trabalho mostra que a dimensão, sem precedentes, dos conjuntos de dados de
sequências pós-pandémicas, construídos, em colaboração, por milhares de
investigadores e profissionais de saúde em todo o Mundo, cria um enorme poder
para revelar conhecimentos sobre a evolução do vírus, que não seriam possíveis
a partir da análise de dados de qualquer país individual”, explanou Theo
Sanderson.
***
Uma nova
investigação (que faz parte do Human Cell Atlas, um grupo colaborativo
internacional lançado em 2016, para mapear todas as células humanas), infetando
deliberadamente um pequeno número de indivíduos saudáveis em condições
altamente controladas (36 voluntários adultos), analisou a razão pela qual há
pessoas que não ficam doentes com a covid-19. Os investigadores administraram o
vírus através do nariz, analisaram as células do nariz e do sangue dos
participantes e publicaram as conclusões na revista “Nature”.
Depois,
utilizaram uma tecnologia chamada sequenciação de célula única, para analisar a
informação genética – ADN (ácido desoxirribonucleico) e ARN (ácido ribonucleico) – de cada
célula. “Esta foi uma oportunidade incrivelmente única para ver como são as
respostas imunitárias, quando se deparam com um novo agente patogénico – em
adultos sem história prévia de covid-19, num contexto em que fatores como o
tempo de infeção e as comorbilidades podiam ser controlados”, afirmou o Dr. Rik
Lindeboom, coautor do estudo do Instituto do Cancro dos Países Baixos, em
comunicado.
Os
indivíduos que eliminaram rapidamente o vírus não apresentaram uma resposta
imunitária generalizada típica. Em vez disso, apresentaram respostas
imunitárias subtis.
Níveis
elevados de atividade de um gene chamado HLA-DQA2, antes da exposição, poderiam
ter ajudado estes participantes a evitar uma infeção prolongada, segundo os
investigadores. Por outro lado, seis indivíduos que desenvolveram uma infeção
prolongada tiveram uma resposta imunitária rápida no sangue, mas mais lenta no
nariz, o que permitiu que o vírus se estabelecesse aí. “Estas descobertas
lançam uma nova luz sobre os eventos iniciais cruciais que permitem que o vírus
se instale ou o eliminem rapidamente, antes que os sintomas se desenvolvam”,
observou o Dr. Marko Nikolić, outro dos autores do estudo da University College
London.
Os
investigadores também encontraram padrões comuns nos recetores de células T ativados
(TCR), as proteínas à superfície das células T concebidas para reconhecer
antigénios específicos. Quando um TCR se liga a um agente patogénico
apresentado por uma célula infetada ou anormal, desencadeia a ativação da
célula T. Em seguida, as células T podem matar diretamente as células infetadas,
ativando outras células imunitárias e contribuindo para a imunidade a longo
prazo, ao recordar o agente patogénico. Assim, dispõe-se de informações sobre a
forma como as células imunitárias comunicam, o que poderá ajudar a desenvolver
terapias com células T direcionadas não só para a covid-19, mas também para
outras doenças. “Agora temos uma compreensão muito maior de toda a gama de
respostas imunológicas, o que poderia fornecer uma base para o desenvolvimento
de potenciais tratamentos e vacinas que imitam essas respostas protetoras
naturais”, verificou Nikolić.
***
Sem falar, ainda, da variante XEC COVID,
a OMS sublinhava, no início de agosto,
que as infeções por covid-19 estão a aumentar, a nível mundial, não
sendo provável que diminuam tão cedo, e
que, na Europa, a taxa de positividade é superior a 20%, acima da média global
(10%).
“O vírus
está a circular em todos os países. Os dados do nosso sistema de vigilância
baseado em sentinelas, em 84 países, indicam que a percentagem de testes
positivos para o SARS-CoV-2 tem vindo a aumentar ao longo das últimas semanas”,
alertou Maria Van Kerkhove, diretora técnica da OMS, vincando: “Em geral, a positividade dos testes é
superior a 10%, mas este valor varia consoante a região. Na Europa, a
percentagem de positividade é superior a 20%.”
A OMS avisa
que variantes mais graves do SARS-CoV-2 podem estar no horizonte, tendo os
Jogos Olímpicos contribuído para a sua propagação. “Nos últimos meses, independentemente da estação do ano, muitos países
registaram surtos de covid-19, incluindo nos Jogos Olímpicos. Há, pelo menos,
40 atletas que testaram positivo”, adiantou a epidemiologista.
Por isso, a
OMS está a exortar os governos a reforçarem as suas campanhas de vacinação,
assegurando que os grupos de maior risco sejam vacinados, uma vez, em cada 12
meses, o que Portugal está a fazer.
Acresce
anotar que um estudo da OMS-Europa, publicado a 8 de agosto, no “The Lancet
Respiratory Medicine”, conclui que as vacinas contra a covid-19 salvaram 1,6
milhões de pessoas durante a pandemia, uma revelação num verão em que se
regista um aumento de casos. Mais refere que o número de mortes por
covid-19, na Europa, atualmente de 2,2 milhões, poderia ter chegado aos quatro
milhões sem as vacinas. A maioria dos pacientes salvos tinha 60 anos ou
mais, sendo o grupo com maior risco de doença grave e morte por SARS-CoV-2.
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Enfim, é preciso observar as indicações da
OMS, pois o coronavírus ainda não foi embora. Temos de nos habituar.
2024.09.21
– Louro de Carvalho
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