Um bom salário pode variar muito
consoante a profissão, a educação e as expetativas pessoais. Por isso, definir
o que é um bom salário num país não é tão simples como parece. De acordo com
Chris Chasteen, diretor de Investigação do ERI Economic Research Institute, a
resposta depende de fatores como o local onde se vive, a experiência, a
educação, a indústria, as necessidades e o estilo de vida.
Todavia, de acordo com
as informações de Chris Chasteen, qualquer salário acima da média pode ser
considerado bom. E Anubha Verma, no seu blogue no “Indeed”, sublinha que ganhar
um salário acima da média pode ajudar o profissional a cobrir, confortavelmente,
as suas necessidades básicas, tendo ainda o suficiente para desfrutar de
atividades pessoais, como viagens e entretenimento, bem como para fazer
poupanças.
Segundo a Talentup, um
salário anual bruto entre 64 mil e 70 mil euros é considerado um bom salário na
Alemanha. Isto traduz-se em cerca de 40 mil a 43 mil euros líquidos por ano ou
entre 3300 e 3600 euros líquidos por mês, para uma pessoa solteira.
Os salários tendem a
ser moderadamente mais elevados em Berlim, em comparação com outras cidades
alemãs, se tivermos em conta as várias profissões. “Embora o custo de vida de
Berlim tenha aumentado, nos últimos anos, continua a ser mais acessível do que
o de outras grandes capitais europeias, como Londres e Paris”, considera
Michael Stull, diretor-geral do ManpowerGroup UK, afirmando que Berlim oferece
aos profissionais de colarinho branco, a meio da carreira, “salários entre 40
mil e 60 mil euros brutos por ano”.
Os profissionais a meio
da carreira, em Londres, ganham, normalmente, entre 50 mil libras (£50.000) ou
59445 euros e £70.000 (€83235) brutos por ano.
A HousingAnywhere
informou que o rendimento mensal médio líquido, no Reino Unido, era de 2297
libras (2725 euros). Em 2023, com o custo de vida de £1950 (€2314), o salário
médio mensal líquido entre £2500 (€2962) e £3300 (€3915) era tido com um bom
salário no Reino Unido.
Dado que a mediana dos
ganhos semanais brutos, em Londres, era 23% superior à média do Reino Unido,
segundo o Office for National Statistics (ONS), um bom salário na
capital deveria situar-se, pelo menos, entre 3643 euros e 4815 euros. No entanto,
deverá situar-se entre 3922 euros e 5183 euros, no interior de Londres, que
inclui a cidade de Londres e treze bairros.
Uma vez que os salários
variam consoante o setor, Michael Stull forneceu uma ampla gama: “Um bom e
representativo salário bruto de colarinho branco para um profissional, a meio
da carreira, em Londres, situa-se normalmente entre £50000 (€59455) e £70000
(€83235) por ano.”
A partir de 2024, o
salário médio mensal líquido em França é de 2587 euros, enquanto o salário
médio é de 1940 euros, de acordo com a HousingAnywhere. Normalmente, um bom
salário para uma vida confortável em França é de cerca de 3200 euros por mês,
para uma pessoa solteira ou 5600 euros por mês, para uma família de três
pessoas. No entanto, devido ao custo de vida mais elevado em Paris, são necessários
cerca de 3400 euros por mês para manter um estilo de vida confortável na
capital.
De acordo com a
HousingAnywhere, o salário líquido médio em Espanha, em 2024, é de 1785 euros
por mês, ou 2250 euros brutos. Para uma vida confortável, estima-se que um bom
salário líquido mensal, em Espanha, ronde os 2700 euros para uma pessoa
solteira ou quatro mil euros para alguém que sustente uma família. E, dado que
o salário médio em Madrid é 18% superior à média nacional, um bom salário
líquido mensal, na capital espanhola, para uma pessoa solteira, deveria ser de,
pelo menos, 3185 euros. “Um profissional, a meio da carreira, em Madrid, pode
razoavelmente esperar ganhar entre 35 mil e 55 mil euros brutos por ano”,
afirma Michael Stull, vincando: “Embora mais baixo do que em Londres ou Paris,
este intervalo está alinhado com o custo de vida mais moderado da cidade”.
Na Irlanda, um salário
bruto entre 4100 e seis mil euros por mês é considerado bom para uma vida
confortável, segundo o Instarem. O salário médio bruto dos trabalhadores a
tempo inteiro no país é de 3220 euros por mês.
De acordo com o
ManpowerGroup, um bom salário para um trabalhador de colarinho branco, a meio
da carreira, situa-se normalmente entre 35 mil e 50 mil euros brutos por ano.
Porém, como afirmou Stull, “os salários em Roma são geralmente mais baixos, em
comparação com os das cidades do Norte da Europa, mas este facto é parcialmente
compensado por um custo de vida mais baixo”. Um bom salário bruto, em Roma
varia, normalmente entre 3750 e 5690 euros, de acordo com o Salary Explorer.
O Salary Explorer
fornece estimativas de um bom salário mensal bruto para outras capitais da
seguinte forma: Atenas, entre 2250 e 3410 euros; Helsínquia entre 4510 euros e
6830 euros; Copenhaga, entre 5400 e 8180 euros; e Estocolmo, entre 3900 e 5900
euros.
Contudo, um bom salário
não se resume ao salário base. De acordo com Michael Stull, é preciso
considerar “todo o pacote de compensação, incluindo bónus, opções de compra de
ações, seguro de saúde, contribuições para a reforma, férias pagas e outras
regalias”, pois, em alguns casos, estes benefícios podem tornar mais atrativo
um salário base mais baixo”.
Pawel Adrjan,
responsável pela pesquisa EMEA no Indeed Hiring Lab, sublinhou que o Mundo
atravessa uma transformação histórica do trabalho. “Os nossos dados mostram que
a procura de trabalho remoto e híbrido está em máximos históricos em França, na
Alemanha, em Espanha e no Reino Unido”, afirmou.
O Inquérito 2023 sobre
a Qualidade de Vida nas Cidades Europeias, da Direção-Geral da Política Regional
e Urbana da Comissão Europeia, revela variações significativas na satisfação
financeira das famílias em toda a União Europeia (UE): Atenas, 39%; Lisboa,
52%; Madrid, 55%; Budapeste, 56%; Riga e Zagreb, 58%; Bucareste e Sofia 60%;
Nicósia, 65%; Bratislava, 66%; Roma, 68%; Vilnius, 69%; Varsóvia e Dublin, 70%;
Bruxelas e Ljubljana, 73%; Tálin e Paris, 74%; Helsínquia e Amesterdão, 75%;
Praga, 76%; Viena e Berlim, 79%; Estocolmo, 82%; Copenhaga, 83%; Oslo, 85%; e
Luxemburgo (cidade), 87%.
A percentagem de
pessoas satisfeitas com a situação financeira do seu agregado familiar varia
entre 39%, em Atenas, e 87%, no Luxemburgo. A satisfação é geralmente mais
elevada nas cidades localizadas nos países do Norte e do Oeste da UE.
***
A magreza de salários e
o elevado custo de vida cria problemas aos cidadãos europeus que não consigam
um bom salário.
De acordo com um estudo
do Banco Central Europeu (BCE), um número crescente de Europeus com baixos
rendimentos previa, em janeiro, atrasar-se no pagamento das principais faturas
nos meses seguintes, mercê do aumento das taxas de juro, das rendas e dos
custos dos serviços públicos. “A capacidade das famílias para fazer face aos
custos relacionados com a habitação e com o pagamento das hipotecas é uma fonte
de preocupação, especialmente para as famílias com rendimentos mais baixos”,
escreveram os investigadores num artigo do boletim económico do BCE, que
apresenta uma panorâmica dos “encargos com a habitação das famílias” nas 11
maiores economias da Zona Euro.
Desde que o BCE começou
a aumentar a taxa de juro, em julho de 2022, os custos globais com a habitação
aumentaram 6%, para os proprietários, a título definitivo, mas 12% e 9%, para
os que têm hipotecas e arrendamentos, respetivamente, revelou o relatório de
Omiros Kouvavas e de Desislava Rusinova. Em janeiro de 2024, as famílias
pagavam uma média de 765 euros por mês em custos totais conexos com a
habitação, incluindo serviços públicos (como gás, eletricidade e água),
manutenção da casa e custos de arrendamento ou hipoteca.
As despesas com a
habitação absorvem cerca de 40% do rendimento dos inquilinos, 35% dos que têm
hipotecas e 20% dos proprietários a título definitivo. Entretanto, as pessoas
com rendimentos mais baixos que têm de arrendar casa enfrentam custos de cerca
de metade do salário mensal.
Das três categorias
principais, as pessoas que têm hipoteca são as que enfrentam os custos mais
elevados, mercê do aumento das taxas de juro, com prestação mensal média
superior a 1100 euros.
A subida das taxas de
juro também deixou marca no mercado de arrendamento. O aumento dos custos dos
empréstimos travou os novos investimentos, enquanto o mercado de arrendamento,
que enfrentava escassez de habitações disponíveis, viu os seus preços subirem
em conformidade.
De acordo com o BCE, os
inquilinos pagam, em média, mais de 800 euros nos 11 países analisados,
enquanto os proprietários a título definitivo aproximam-se de um custo de 500
euros por mês, principalmente, devido ao aumento dos custos de manutenção das
habitações. Os custos dos serviços de utilidade pública diminuíram
recentemente.
De entre estes 11
países, os custos da habitação parecem ser os mais elevados na Irlanda, com
cerca de 900 euros por mês, excluindo as hipotecas, mas mais de 1200 euros, se
o pagamento da hipoteca for incluído. A fatura da habitação é a segunda e
terceira mais elevada na Alemanha e na Áustria, rondando os 750 euros (900
euros com hipoteca). Os habitantes da Grécia e de Portugal são os que têm as
despesas de habitação mais baixas desses 11 países.
Quando as despesas com
a habitação são analisadas como o rácio do rendimento de um agregado familiar,
a Áustria é o país mais dispendioso, com 29% (33%, se as hipotecas forem
incluídas nos cálculos) do rendimento a ser aplicado nessas despesas.
O aumento do rendimento
das famílias compensou largamente o aumento dos custos da habitação, nos
últimos anos, embora tenha havido sempre famílias com baixos rendimentos (entre
5% e 10% dos 50% com rendimentos mais baixos) que se atrasaram nos pagamentos nos
meses anteriores. Porém, o índice prospetivo do BCE sugeria, em janeiro, que as
expectativas para os meses se tinham agravado. “A proporção de famílias que preveem
efetuar um pagamento em atraso nos próximos três meses aumentou
substancialmente entre as famílias com rendimentos mais baixos”, refere o
relatório. Por outro lado, o rácio de pessoas com baixos rendimentos que previam
atrasos nos pagamentos de serviços públicos ou de rendas nos três meses seguintes
aumentou de 15% para 20% e quase duplicou para 30%, no caso de atrasos nos
pagamentos de hipotecas.
Estando a inflação a diminuir na Zona Euro, eram grandes as
expectativas de que o BCE começasse a reduzir a sua taxa de juro historicamente elevada
em junho, o que aconteceu, trazendo alívio ao mercado imobiliário,
permitindo o aumento dos investimentos e uma maior seleção de imóveis, levando
a que os custos das hipotecas e das rendas tenham acabado por baixar.
***
Os peritos sugerem que os sistemas
fiscais e as taxas de propriedade de habitação desempenham um papel
significativo nas disparidades de riqueza entre ricos e pobres. Com efeito, a desigualdade de
riqueza é evidente em todo o Mundo, e a Europa não é exceção: os 10% mais ricos
do continente detêm 67% da riqueza, enquanto a metade inferior da população
adulta possui apenas 1,2% da mesma.
O grau de desigualdade
na distribuição da riqueza também varia consideravelmente de país para país. E
o património líquido ou “riqueza” define-se como o valor dos ativos financeiros
mais os ativos reais (principalmente habitação) que as famílias possuem, menos
as suas dívidas.
Entre os 36 países
europeus estudados, a desigualdade de riqueza em 2022 variava entre 50,8%, na
Eslováquia, e 87,4%, na Suécia. Excluindo a Islândia, a desigualdade de riqueza
era bastante elevada nos países nórdicos. A Finlândia, a Dinamarca, a Noruega e
a Suécia ocupam todos os lugares da metade superior da tabela, com a Suécia a
encabeçar a lista. Entre as quatro grandes potências económicas da UE, a
Alemanha registou a maior desigualdade de riqueza (77,2%), seguida da França
(70,3%), da Espanha (68,3%) e da Itália (67,8%). O Reino Unido, um dos “quatro
grandes” do continente europeu, registou uma pontuação de 70,2%. Já a Bélgica
(59,6%), Malta (60,9%) e a Eslovénia (64,4%) seguiram-se à Eslováquia como os
países menos desiguais.
Enfim, todos habitam a Europa, mas as
desigualdades crescem.
2024.09.12 – Louro de Carvalho
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