quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O que é considerado um bom salário num país da Europa

 

Um bom salário pode variar muito consoante a profissão, a educação e as expetativas pessoais. Por isso, definir o que é um bom salário num país não é tão simples como parece. De acordo com Chris Chasteen, diretor de Investigação do ERI Economic Research Institute, a resposta depende de fatores como o local onde se vive, a experiência, a educação, a indústria, as necessidades e o estilo de vida.

Todavia, de acordo com as informações de Chris Chasteen, qualquer salário acima da média pode ser considerado bom. E Anubha Verma, no seu blogue no “Indeed”, sublinha que ganhar um salário acima da média pode ajudar o profissional a cobrir, confortavelmente, as suas necessidades básicas, tendo ainda o suficiente para desfrutar de atividades pessoais, como viagens e entretenimento, bem como para fazer poupanças.

Segundo a Talentup, um salário anual bruto entre 64 mil e 70 mil euros é considerado um bom salário na Alemanha. Isto traduz-se em cerca de 40 mil a 43 mil euros líquidos por ano ou entre 3300 e 3600 euros líquidos por mês, para uma pessoa solteira.

Os salários tendem a ser moderadamente mais elevados em Berlim, em comparação com outras cidades alemãs, se tivermos em conta as várias profissões. “Embora o custo de vida de Berlim tenha aumentado, nos últimos anos, continua a ser mais acessível do que o de outras grandes capitais europeias, como Londres e Paris”, considera Michael Stull, diretor-geral do ManpowerGroup UK, afirmando que Berlim oferece aos profissionais de colarinho branco, a meio da carreira, “salários entre 40 mil e 60 mil euros brutos por ano”.

Os profissionais a meio da carreira, em Londres, ganham, normalmente, entre 50 mil libras (£50.000) ou 59445 euros e £70.000 (€83235) brutos por ano.

A HousingAnywhere informou que o rendimento mensal médio líquido, no Reino Unido, era de 2297 libras (2725 euros). Em 2023, com o custo de vida de £1950 (€2314), o salário médio mensal líquido entre £2500 (€2962) e £3300 (€3915) era tido com um bom salário no Reino Unido.

Dado que a mediana dos ganhos semanais brutos, em Londres, era 23% superior à média do Reino Unido, segundo o Office for National Statistics (ONS), um bom salário na capital deveria situar-se, pelo menos, entre 3643 euros e 4815 euros. No entanto, deverá situar-se entre 3922 euros e 5183 euros, no interior de Londres, que inclui a cidade de Londres e treze bairros.

Uma vez que os salários variam consoante o setor, Michael Stull forneceu uma ampla gama: “Um bom e representativo salário bruto de colarinho branco para um profissional, a meio da carreira, em Londres, situa-se normalmente entre £50000 (€59455) e £70000 (€83235) por ano.”

A partir de 2024, o salário médio mensal líquido em França é de 2587 euros, enquanto o salário médio é de 1940 euros, de acordo com a HousingAnywhere. Normalmente, um bom salário para uma vida confortável em França é de cerca de 3200 euros por mês, para uma pessoa solteira ou 5600 euros por mês, para uma família de três pessoas. No entanto, devido ao custo de vida mais elevado em Paris, são necessários cerca de 3400 euros por mês para manter um estilo de vida confortável na capital.

De acordo com a HousingAnywhere, o salário líquido médio em Espanha, em 2024, é de 1785 euros por mês, ou 2250 euros brutos. Para uma vida confortável, estima-se que um bom salário líquido mensal, em Espanha, ronde os 2700 euros para uma pessoa solteira ou quatro mil euros para alguém que sustente uma família. E, dado que o salário médio em Madrid é 18% superior à média nacional, um bom salário líquido mensal, na capital espanhola, para uma pessoa solteira, deveria ser de, pelo menos, 3185 euros. “Um profissional, a meio da carreira, em Madrid, pode razoavelmente esperar ganhar entre 35 mil e 55 mil euros brutos por ano”, afirma Michael Stull, vincando: “Embora mais baixo do que em Londres ou Paris, este intervalo está alinhado com o custo de vida mais moderado da cidade”.

Na Irlanda, um salário bruto entre 4100 e seis mil euros por mês é considerado bom para uma vida confortável, segundo o Instarem. O salário médio bruto dos trabalhadores a tempo inteiro no país é de 3220 euros por mês.

De acordo com o ManpowerGroup, um bom salário para um trabalhador de colarinho branco, a meio da carreira, situa-se normalmente entre 35 mil e 50 mil euros brutos por ano. Porém, como afirmou Stull, “os salários em Roma são geralmente mais baixos, em comparação com os das cidades do Norte da Europa, mas este facto é parcialmente compensado por um custo de vida mais baixo”. Um bom salário bruto, em Roma varia, normalmente entre 3750 e 5690 euros, de acordo com o Salary Explorer.

O Salary Explorer fornece estimativas de um bom salário mensal bruto para outras capitais da seguinte forma: Atenas, entre 2250 e 3410 euros; Helsínquia entre 4510 euros e 6830 euros; Copenhaga, entre 5400 e 8180 euros; e Estocolmo, entre 3900 e 5900 euros.

Contudo, um bom salário não se resume ao salário base. De acordo com Michael Stull, é preciso considerar “todo o pacote de compensação, incluindo bónus, opções de compra de ações, seguro de saúde, contribuições para a reforma, férias pagas e outras regalias”, pois, em alguns casos, estes benefícios podem tornar mais atrativo um salário base mais baixo”.

Pawel Adrjan, responsável pela pesquisa EMEA no Indeed Hiring Lab, sublinhou que o Mundo atravessa uma transformação histórica do trabalho. “Os nossos dados mostram que a procura de trabalho remoto e híbrido está em máximos históricos em França, na Alemanha, em Espanha e no Reino Unido”, afirmou.

O Inquérito 2023 sobre a Qualidade de Vida nas Cidades Europeias, da Direção-Geral da Política Regional e Urbana da Comissão Europeia, revela variações significativas na satisfação financeira das famílias em toda a União Europeia (UE): Atenas, 39%; Lisboa, 52%; Madrid, 55%; Budapeste, 56%; Riga e Zagreb, 58%; Bucareste e Sofia 60%; Nicósia, 65%; Bratislava, 66%; Roma, 68%; Vilnius, 69%; Varsóvia e Dublin, 70%; Bruxelas e Ljubljana, 73%; Tálin e Paris, 74%; Helsínquia e Amesterdão, 75%; Praga, 76%; Viena e Berlim, 79%; Estocolmo, 82%; Copenhaga, 83%; Oslo, 85%; e Luxemburgo (cidade), 87%.

A percentagem de pessoas satisfeitas com a situação financeira do seu agregado familiar varia entre 39%, em Atenas, e 87%, no Luxemburgo. A satisfação é geralmente mais elevada nas cidades localizadas nos países do Norte e do Oeste da UE.

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A magreza de salários e o elevado custo de vida cria problemas aos cidadãos europeus que não consigam um bom salário.

De acordo com um estudo do Banco Central Europeu (BCE), um número crescente de Europeus com baixos rendimentos previa, em janeiro, atrasar-se no pagamento das principais faturas nos meses seguintes, mercê do aumento das taxas de juro, das rendas e dos custos dos serviços públicos. “A capacidade das famílias para fazer face aos custos relacionados com a habitação e com o pagamento das hipotecas é uma fonte de preocupação, especialmente para as famílias com rendimentos mais baixos”, escreveram os investigadores num artigo do boletim económico do BCE, que apresenta uma panorâmica dos “encargos com a habitação das famílias” nas 11 maiores economias da Zona Euro.

Desde que o BCE começou a aumentar a taxa de juro, em julho de 2022, os custos globais com a habitação aumentaram 6%, para os proprietários, a título definitivo, mas 12% e 9%, para os que têm hipotecas e arrendamentos, respetivamente, revelou o relatório de Omiros Kouvavas e de Desislava Rusinova. Em janeiro de 2024, as famílias pagavam uma média de 765 euros por mês em custos totais conexos com a habitação, incluindo serviços públicos (como gás, eletricidade e água), manutenção da casa e custos de arrendamento ou hipoteca.

As despesas com a habitação absorvem cerca de 40% do rendimento dos inquilinos, 35% dos que têm hipotecas e 20% dos proprietários a título definitivo. Entretanto, as pessoas com rendimentos mais baixos que têm de arrendar casa enfrentam custos de cerca de metade do salário mensal.

Das três categorias principais, as pessoas que têm hipoteca são as que enfrentam os custos mais elevados, mercê do aumento das taxas de juro, com prestação mensal média superior a 1100 euros.

A subida das taxas de juro também deixou marca no mercado de arrendamento. O aumento dos custos dos empréstimos travou os novos investimentos, enquanto o mercado de arrendamento, que enfrentava escassez de habitações disponíveis, viu os seus preços subirem em conformidade.

De acordo com o BCE, os inquilinos pagam, em média, mais de 800 euros nos 11 países analisados, enquanto os proprietários a título definitivo aproximam-se de um custo de 500 euros por mês, principalmente, devido ao aumento dos custos de manutenção das habitações. Os custos dos serviços de utilidade pública diminuíram recentemente.

De entre estes 11 países, os custos da habitação parecem ser os mais elevados na Irlanda, com cerca de 900 euros por mês, excluindo as hipotecas, mas mais de 1200 euros, se o pagamento da hipoteca for incluído. A fatura da habitação é a segunda e terceira mais elevada na Alemanha e na Áustria, rondando os 750 euros (900 euros com hipoteca). Os habitantes da Grécia e de Portugal são os que têm as despesas de habitação mais baixas desses 11 países.

Quando as despesas com a habitação são analisadas como o rácio do rendimento de um agregado familiar, a Áustria é o país mais dispendioso, com 29% (33%, se as hipotecas forem incluídas nos cálculos) do rendimento a ser aplicado nessas despesas.

O aumento do rendimento das famílias compensou largamente o aumento dos custos da habitação, nos últimos anos, embora tenha havido sempre famílias com baixos rendimentos (entre 5% e 10% dos 50% com rendimentos mais baixos) que se atrasaram nos pagamentos nos meses anteriores. Porém, o índice prospetivo do BCE sugeria, em janeiro, que as expectativas para os meses se tinham agravado. “A proporção de famílias que preveem efetuar um pagamento em atraso nos próximos três meses aumentou substancialmente entre as famílias com rendimentos mais baixos”, refere o relatório. Por outro lado, o rácio de pessoas com baixos rendimentos que previam atrasos nos pagamentos de serviços públicos ou de rendas nos três meses seguintes aumentou de 15% para 20% e quase duplicou para 30%, no caso de atrasos nos pagamentos de hipotecas.

Estando a inflação a diminuir na Zona Euro, eram grandes as expectativas de que o BCE começasse a reduzir a sua taxa de juro historicamente elevada em junho, o que aconteceu, trazendo alívio ao mercado imobiliário, permitindo o aumento dos investimentos e uma maior seleção de imóveis, levando a que os custos das hipotecas e das rendas tenham acabado por baixar.

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Os peritos sugerem que os sistemas fiscais e as taxas de propriedade de habitação desempenham um papel significativo nas disparidades de riqueza entre ricos e pobres. Com efeito, a desigualdade de riqueza é evidente em todo o Mundo, e a Europa não é exceção: os 10% mais ricos do continente detêm 67% da riqueza, enquanto a metade inferior da população adulta possui apenas 1,2% da mesma.

O grau de desigualdade na distribuição da riqueza também varia consideravelmente de país para país. E o património líquido ou “riqueza” define-se como o valor dos ativos financeiros mais os ativos reais (principalmente habitação) que as famílias possuem, menos as suas dívidas.

Entre os 36 países europeus estudados, a desigualdade de riqueza em 2022 variava entre 50,8%, na Eslováquia, e 87,4%, na Suécia. Excluindo a Islândia, a desigualdade de riqueza era bastante elevada nos países nórdicos. A Finlândia, a Dinamarca, a Noruega e a Suécia ocupam todos os lugares da metade superior da tabela, com a Suécia a encabeçar a lista. Entre as quatro grandes potências económicas da UE, a Alemanha registou a maior desigualdade de riqueza (77,2%), seguida da França (70,3%), da Espanha (68,3%) e da Itália (67,8%). O Reino Unido, um dos “quatro grandes” do continente europeu, registou uma pontuação de 70,2%. Já a Bélgica (59,6%), Malta (60,9%) e a Eslovénia (64,4%) seguiram-se à Eslováquia como os países menos desiguais.

Enfim, todos habitam a Europa, mas as desigualdades crescem.

2024.09.12 – Louro de Carvalho

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