De 8 a 15 de setembro, celebrou-se, em Quito, no Equador, o 53.º Congresso Eucarístico Internacional sob o tema “Fraternidade para curar o Mundo. ‘Todos vós sois irmãos.’ (Mt 23,8)”.
O número do programa que envolveu diretamente mais povo
foi a procissão eucarística do 14.
O centro histórico de Quito testemunhou grande expressão
de fé e devoção, quando milhares de fiéis se reuniram para acompanhar o Santíssimo
Sacramento em procissão.
O ambiente estava repleto de profunda reverência, cânticos
e de louvores, enquanto peregrinos de mais de 50 países dos cinco continentes
caminhavam ao lado de Jesus Eucarístico pelas ruas históricas da cidade, que é reconhecida
como património mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO). A procissão foi enquadrada por centenas de bispos,
sacerdotes, diáconos e seminaristas de diversas partes do Mundo.
Às 16h30 (horário local), na igreja de São Francisco, antes
da procissão, foi celebrada missa sob a presidência do arcebispo de Guayaquil,
Equador, D. Luis Gerardo Cabrera Herrera, OFM, presidente da Conferência
Episcopal Equatoriana.
Refletindo
sobre a passagem do Evangelho de João proclamada na missa (Jo 3,3-17), o prelado franciscano aprofundou o conceito do amor de
Deus Pai pelo Mundo, “um amor gratuito, um amor compassivo, um amor fiel que
não exclui ninguém por causa da sua condição social, religiosa, moral, económica”.
“Deus ama este Mundo – vincou – com a sua grandeza e a suas misérias, os seus
sucessos e erros, as suas alegrias e dores. Deus ama esta Terra, muitas vezes
poluída e explorada, mas também animada por grandes iniciativas de cuidado e
respeito”.
Retomando as palavras do Papa, o
prelado lembrou que a Eucaristia “não é o prémio dos santos, mas o pão dos
pecadores. Ela transforma-nos numa fraternidade para curar as feridas do mundo
pessoal e social, muitas vezes causadas pelo abandono, pela violência, doença e
morte”. Daí, o convite final aos fiéis a que sejam como o Bom Samaritano, que
cuida dos que são esmagados por todo o tipo de sofrimento.
“Jesus não só nos salva do pecado, mas também nos
oferece a vida eterna, para que possamos curar as feridas do Mundo, assim como
Ele nos redimiu entregando-se na cruz”, disse o prelado.
Por fim, D. Luís Cabrera apelou à ação: “Como
fraternidade comprometida com a salvação do Mundo, renovemos o nosso firme
propósito de trabalhar incansavelmente pela liberdade, pela justiça e pela paz,
tanto nos nossos países como em todo o Mundo.”
No final da missa, a procissão começou com centenas de
pessoas ajoelhadas a rezar antífonas de adoração. A jornada começou com o cântico
“Deus de Amor”, seguindo-se outros cânticos de adoração. Ao longo do percurso
de 1,3 km, mais de 120 tapetes de flores cuidadosamente confecionados adornavam
o caminho até à basílica do Voto Nacional.
A procissão prosseguiu de forma solene, acompanhada de
cânticos e parando em sete estações. Em cada estação foram feitas orações com
diferentes intenções: pelo papa e pela Igreja; pelo país, pela cidade e pelos
governantes; pela vida consagrada; pela família; pela paz; por crianças e
jovens; e por sacerdotes e agentes pastorais.
O ostensório, em todos os momentos, foi o centro de
todos os olhares e corações ao longo do caminho até à basílica. Das varandas,
esquinas ou peregrinos atrás da Eucaristia, os fiéis, uns com lágrimas e outros
com sorrisos, adoravam o Cristo vivo com cânticos clássicos como “Vamos cantar
ao amor dos amores”, “Pescador de homens”, “Um novo mandamento”, entre outros.
Ao chegar à basílica do Voto Nacional, o Santíssimo
Sacramento foi levado para o interior do templo. A bênção final com o
Santíssimo Sacramento foi dada pelo arcebispo emérito de Caracas, cardeal
Baltazar Porras, legado pontifício do 53.° Congresso Eucarístico Internacional.
Foi um momento de fervor, com o povo em oração e contemplação diante da
presença real de Cristo.
Após a bênção, os fiéis foram convidados a continuar o
culto ao Santíssimo Sacramento e à missa de encerramento, celebrada no dia 15,
no Parque Bicentenário, às 10h (horário local).
***
No quadro
prático do tema da fraternidade, foi objeto de conferência, no dia 9, no
Congresso Eucarístico, a jornada de crianças migrantes para os Estados Unidos
da América (EUA).
Leyden Rovelo,
diretora do ministério hispânico na diocese de Kansas City-St. Joseph, no Missouri,
falou do sofrimento de dezenas de milhares de crianças migrantes recém-chegadas
aos EUA, revelando que as agências de governo americanas não contabilizaram
entre 30 mil e 85 mil desses menores. “Eles não sabem onde estão as nossas
crianças”, lamentou.
Salientando que “a Igreja Católica reconhece
inequivocamente a autoridade legítima das nações soberanas para regular a suas
fronteiras e para administrar os fluxos migratórios”, considerou que tal
posição “não constitui um endosso de medidas draconianas ou práticas
desumanas”, antes ressalta o imperativo de defender a dignidade humana durante
todo o processo de controlo”.
Rovelo, que é
membro do Grupo Consultivo Hispânico do Departamento de Justiça, Paz e
Desenvolvimento Humano da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB),
falou sobre a declaração da USCCB de 1983 de “que a presença hispano-latina na
Igreja americana é uma bênção de Deus para a Igreja e para todo o país”. Com
efeito, desde 1565, quando a primeira missa no atual território dos EUA foi
celebrada em St. Augustine, na Flórida, os seus habitantes testemunham como os
imigrantes hispânicos “revitalizaram a vida paroquial em todo o país, muitos
deles em paróquias cuja população estava a envelhecer”.
Contou a
história de uma mulher que ajudou, cuja filha de cinco anos morreu na viagem
aos EUA e ela nem recorda em que país teve de a enterrar. “Esse delicado
equilíbrio entre soberania nacional e direitos humanos é a base e a abordagem
da Igreja Católica diante do dilema da migração”, disse Rovelo.
Rovelo apontou
o facto de os migrantes serem portadores do Evangelho e da imagem de Deus,
criados à sua imagem e semelhança. “Os migrantes são peregrinos na terra que
buscam, como todo a gente, o seu destino final no céu”, disse, apelando a que
as pessoas vissem os migrantes pela sua identidade humana, “restaurando os nossos
corações e mentes”, e não os vissem por rótulos políticos, pelo seu status legal ou fazendo juízos de
valor. “Estamos todos em fuga. Migrantes a caminho de casa. Assim como Cristo é
a ponte entre nós e o Pai, nós também somos a ponte entre os migrantes e um
lugar melhor”, disse Rovelo.
Por fim,
falou dos esforços da USCCB para aliviar o sofrimento inerente aos processos
migratórios, pedindo aos países de origem que “abordem as causas profundas da
migração”, ao mesmo tempo que promovem e fortalecem cada vez mais os seus
serviços de apoio aos migrantes e refugiados. “A Igreja escolheu focar-se na
intenção de ‘dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus’,
defendendo o desenvolvimento sustentável, instituições democráticas e políticas
que respeitem os direitos humanos e a dignidade humana nos países de origem”,
disse, precisando: “A Igreja procura criar um ambiente onde as pessoas possam
prosperar em seus países de origem, reduzindo, assim, a compulsão de empreender
viagens perigosas.”
***
Como
referido, foi o cardeal Baltazar Enrique Porras Cardozo, arcebispo emérito de Caracas,
que presidiu, no dia 15, em nome do Papa, à Missa de encerramento: “Cuidemos
daqueles que “têm fome de comida e dignidade”, foi a palavra de ordem.
As muitas cores das
bandeiras do Mundo inteiro, pontuadas pelo branco dos guarda-sóis abertos para
se proteger do sol e acompanhadas pela alegria dos cerca de 25 mil fiéis
presentes, emolduraram o Parque Bicentenário, que recebeu a celebração final do
53.º Congresso Eucarístico Internacional. A Statio Orbis foi
presidida pelo legado pontifício, acompanhado por uma missão composta pelo
padre Wilson Posligua Bran, vigário para a vida consagrada, e pelo padre Darwin
Salazar Calderón, chanceler arquidiocesano.
No 150.º
aniversário da consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus, de 8 a 15 de
setembro, o Congresso refletiu sobre o tema “Fraternidade para curar o Mundo”.
E foi nesse tema que o cardeal Porras centrou a sua homilia: “Para os cristãos –
disse ele – a fraternidade não é uma opção, mas um imperativo evangélico”, “é o
vínculo de união entre os seres humanos como expressão de autêntica filiação,
com respeito à dignidade da pessoa, à igualdade de direitos e à solidariedade
de uns para com os outros, a uma familiaridade radical com a paternidade
criativa e com a maternidade consoladora”.
Daí, a
evocação da Eucaristia, não como “mera memória, mas como memorial” da bondade
que nos atrai. “A Eucaristia – enfatizou – tira a fome de coisas materiais e
acende o desejo de servir, tira-nos do nosso confortável sedentarismo e lembra-nos
que não somos apenas bocas para saciar, mas também mãos para saciar a fome do
próximo”. Nessa ótica, é mais do que nunca “urgente que cuidemos daqueles que
têm fome de comida e de dignidade, daqueles que não têm trabalho e lutam para
ganhar a vida”, porque “a fraternidade do crente, que é alimentada pela
Eucaristia, reformula as relações com os outros, a dimensão do perdão e da
ajuda samaritana”.
O prelado
emérito destacou como o cuidado da casa comum é fruto da fraternidade: “A
partir da América Latina, um continente devastado pela exploração irracional da
natureza – explicou –, a dimensão ecológica assume a ‘cidadania’ de uma virtude
a ser construída, e os trabalhos sinodais sobre a Amazónia, com a sua proteção
da criação e do contexto em que vivemos, adquirem uma dimensão que não podemos
ignorar”.
Por fim, o
purpurado exortou os muitos fiéis presentes a partirem de Quito com “uma
bagagem rica em testemunhos cheios de esperança e com a certeza de que a
Eucaristia e a devoção ao Coração de Jesus ampliarão os horizontes das nossas
vidas para melhor servir a um Mundo contraditório, ferido, mas redimido em
Cristo, com a tarefa de transfigurá-lo”.
Enfim, o Congresso mostra que a Eucaristia amplia o horizonte da nossa
vida e que o Evangelho no Equador é história de um grão que deu fruto.
Antes da bênção
final, o legado pontifício anunciou que o 54.º Congresso Eucarístico
Internacional será realizado em Sydney, em 2028. A notícia foi recebida com
entusiasmo pela delegação australiana e seguida pela exibição de vídeo a
explicar como o país está a preparar-se para o evento que ocorrerá cem anos
após o primeiro Congresso realizado na Austrália, em 1928.
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