segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Redescoberta estátua perdida do Titanic na primeira expedição de décadas

 

Uma estátua de bronze do Titanic, que, há muito, se pensava estar perdida para sempre, foi redescoberta numa recente expedição efetuada pela RMS Titanic Inc., sediada na Geórgia, que detém, legalmente, os direitos de salvamento sobre o naufrágio que ocorreu há 112 anos,

A empresa completou a sua primeira expedição desde 2010 e revelou, a 4 de setembro, novas imagens do local.

A expedição ao Oceano Atlântico Norte, onde o Titanic se afundou, coincidiu com a investigação da Guarda Costeira dos Estados Unidos da América (EUA) sobre a implosão, em junho de 2023, do Titan, submersível pertencente a outra empresa e que matou as cinco pessoas a bordo, incluindo Paul-Henri Nargeolet, diretor de investigação subaquática do RMS Titanic.

A RMS Titanic descreveu os resultados da viagem deste verão como uma “mistura agridoce de preservação e [de] perda”.

Um dos principais destaques foi a redescoberta da estátua “Diana de Versalhes”, que não era vista desde 1986. A empresa divulgou, agora, uma imagem clara e atualizada da mesma. Porém, uma secção significativa do corrimão que rodeia o convés de proa do navio caiu, disse o RMS Titanic. O corrimão ainda estava de pé em 2022, disse a empresa. “A descoberta da estátua de Diana foi um momento emocionante, mas estamos tristes com a perda da icónica balaustrada da proa e [com] outras provas de decadência que apenas reforçaram o nosso compromisso de preservar o legado do Titanic”, afirmou Tomasina Ray, diretora de coleções do RMS Titanic, Inc..

A tripulação passou 20 dias no local e regressou a Providence, Rhode Island, a 9 de agosto. Capturou mais de dois milhões de imagens do naufrágio com a mais alta resolução jamais obtida. A equipa também cartografou completamente o naufrágio e o seu campo de destroços utilizando equipamento avançado que será utilizado para melhorar a compreensão do local.

Entretanto, a investigação da Guarda Costeira sobre a tragédia do submersível Titan será objeto de uma audiência pública no final de setembro.

A família de Nargeolet intentou uma ação judicial por homicídio culposo contra a OceanGate, a operadora do submarino Titan, que suspendeu, entretanto, as operações.

***

A 26 de fevereiro de 2023, soube-se que os investigadores da organização não-governamental (ONG) Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI) produziram um documentário de 80 minutos, com imagens inéditas recolhidas na primeira visita, em 1986, aos destroços do mítico navio de cruzeiro, o Titanic, afundado em abril de 1912. Tais imagens raras foram, então, divulgadas por esse documentário.

A expedição, liderada por Robert Ballard foi realizada em 1986, em parceria com o Instituto Francês para a Exploração do Mar.

Ballard, conceituado arqueólogo submarino, ficou conhecido pela descoberta dos destroços do Titanic e do couraçado alemão, Bismarck.

RMS Titanic foi um navio de passageiros britânico operado pela White Star Line e construído pelos estaleiros da Harland anda Wolff, em Belfast. Segunda embarcação da Classe Olympic de transatlânticos, depois do RMS Olympic e seguido pelo HMHA Britannic, foi projetado pelos engenheiros navais Alexander Carlisle e Thomas Andrews. A sua construção começou em março de 1909 e o lançamento ao mar ocorreu em maio de 1911. O Titanic foi pensado para ser o navio mais luxuoso e mais seguro da época, gerando lendas segundo as quais era “inafundável”. A sua viagem inaugural iniciou-se a 12 de abril de 1912, partindo do porto de Southampton, em Inglaterra, em direção a Nova Iorque. Porém, ao quarto dia de viagem, o navio colidiu com um iceberg e naufragou, tendo morrido mais de 1500 pessoas, da 2200 que iam a bordo.

A divulgação das imagens inéditas em referência foi programada para coincidir com o lançamento de uma versão “remasterizada” em 4K 3D do grande êxito do cinema, o filme Titanic, de James Cameron, estreado há 27 anos.

***

A 26 de março de 2024, a comunicação social revelava que vários adereços do filme Titanic, de James Cameron, de 1997, foram vendidos em leilão.

A famosa e infame porta do Titanic ou placa de madeira de balsa que manteve Rose (Kate Winslet) a flutuar, mas deixou Jack (Leonardo DiCaprio) em situação fatídica e fria, foi vendida por elevado preço (718750 dólares: 663 mil euros), durante o evento Heritage Auction’ Treasures from Planet Hollywood, superando outros adereços icónicos, como o chicote de Indiana Jones de Temple of Doom e o machado ameaçador de Jack Nicholson de The Shining. Porém, como de deixou entrever, não foi o único adereço vendido. Desde logo, o vestido usado por Winslet na cena culminante da trama foi vendido por 118750 dólares (110 mil euros).

Apesar de ser referida como uma porta, o leilão especifica que a intrincada estrutura era uma parte da moldura da porta localizada mesmo por cima da entrada do salão de primeira classe do navio.

Desde o lançamento do filme que se tem debatido entre os fãs se o pedaço de madeira poderia ter acomodado, confortavelmente, Rose e Jack. Numa tentativa de resolver a questão, de uma vez por todas, o realizador James Cameron conduziu o que chamou de “estudo científico”, em 2022, com um especialista em hipotermia e duplos para Kate e Leo. A conclusão de Cameron e da sua equipa foi de que não havia espaço suficiente para os dois na porta.

Outros objetos cinematográficos que estavam à venda incluíam vários adereços da saga Indiana Jones. O icónico chicote de Harrison Ford em Temple of Doom estabeleceu o recorde de leilão com o seu exorbitante preço de venda de 525 mil dólares (484 mil euros).

O Santo Graal, famoso por ser apelidado de “taça de carpinteiro”, de A Última Cruzada, também atingiu o impressionante valor de 87500 dólares (81 mil euros).

Entretanto, o icónico machado de Jack Nicholson, “Here’s Johnny!”, de The Shining, de Kubrick, foi vendido por 127537,58 dólares (115 mil euros). E, para não ficar atrás, a bola de bowling de Bill Murray, de Kingpin, foi vendida por 350 mil dólares (323 mil euros) e o elegante fato preto de simbionte de Tobey Maguire, de Spider-Man 3, foi vendido por 125 mil dólares:115 mil euros.

***

A 29 de abril de 2024, sobressaíam outros objetos notáveis em leilão, já não do filme, mas do navio de cruzeiro, famoso, mas de vida efémera. O leilão realizou-se, a 27 de abril, em Henry Aldridge & Son, em Devizes, Wiltshire, e, de acordo com os leiloeiros, marcou o valor mais elevado alguma vez pago por recordações do Titanic.

O relógio de bolso em ouro recuperado do corpo do passageiro mais rico do Titanic foi vendido por 1,2 milhões de libras, ou 1,4 milhões de euros, a um colecionador particular nos EUA.

O relógio, que pertenceu a John Jacob Astor IV, da abastada família Astor, atingiu um valor dez vezes superior ao preço de leilão previsto de 100 mil a 150 mil libras (117 mil a 175 mil euros). 

Na altura do naufrágio, o Astor, de 47 anos, era uma das pessoas mais ricas do Mundo e possuía propriedades incluindo o Waldorf-Astoria Hotel. Fez a viagem no Titanic com a jovem esposa Madeleine Astor, de 18 anos, e a socialite Molly Brown. Quando a sua mulher e Brown foram transportadas para os barcos salva-vidas, Astor foi informado de que tinha de esperar que todas as mulheres e crianças estivessem a salvo para se juntar a elas. Afastou-se e fumou um cigarro, enquanto elas eram levadas para um local seguro.

Juntamente com o relógio de Astor, outros itens notáveis foram leiloados, incluindo a mala que continha o violino tocado pelo líder da banda, Wallace Hartley, quando o navio se afundou, e um livro de bolso que detalhava as viagens do Titanic. A mala foi vendida por 360 mil libras (421 mil euros) e o violino foi leiloado por 1,1 milhões de libras (1,28 milhões de euros) pela mesma casa de leilões, em 2013. Até à venda do relógio de bolso de Astor, o violino detinha o recorde de artigo mais vendido do Titanic.

“O violino de Wallace Hartley é a peça mais icónica de recordações do Titanic alguma vez vendida em leilão”, disse o leiloeiro Andrew Aldridge, explicando: “No entanto, não teria sobrevivido, se não fosse esta mala feita de pele de diligência inglesa. As longas correias teriam sido utilizadas por Wallace, para prender a mala a si próprio, enquanto o Titanic se afundava. Serviu para proteger o instrumento da água salgada do mar.”

***

Em agosto de 2019, uma equipa de mergulhadores captou imagens do navio submerso, há mais de cem anos, a ser devorado por bactérias no fundo do mar e deteriorado pelas fortes correntes e pelo sal, podendo desaparecer completamente.

A missão, a mais de três mil metros de profundidade e realizada no início de agosto, foi a primeira a visitar o navio nos últimos 14 anos, até àquele ano. O explorador Victor Vescovo destacava a dimensão dos destroços: “Primeiras impressões: É grande. Os destroços são enormes. Eu não estava preparado para o tamanho. E, quando o navio apareceu no radar, foi impressionante.”

Os destroços do navio afundado em 1912 só foram encontrados 73 anos depois, em 1985, a cerca de 600 quilómetros da costa do Canadá. E, mais de 112 anos depois, ele descansa no fundo do oceano. Entretanto, já desapareceram algumas das áreas históricas do navio e, segundo esta expedição, vão continuar a desaparecer, e mais depressa.

Os especialistas indicam que as principais estruturas do navio desaparecerão por volta do ano 2100. A culpa é das correntes, da pressão do oceano e das bactérias que comem ferro.

São várias as expedições feitas, ano após ano, aos destroços do navio e imagens recentes dão conta de que o Titanic está a deteriorar-se cada vez mais.

Segundo um trabalho da BBC, baseado em informações de especialistas, nos últimos dois anos, parte significativa da estrutura do caiu, nomeadamente na zona da proa. “É uma indicação muito visual de como o ambiente extremo nas profundezas do oceano está a destruir o que resta do navio mais famoso do Mundo. A pressão do oceano acima dele, as correntes de água no fundo do mar e as bactérias que comem ferro estão a causar o colapso da estrutura”, lê-se na peça da BBC.

No fundo do mar, o Titanic suporta pressões de água 390 vezes maiores do que as da superfície, daí que a corrosão esteja gradualmente a enfraquecer a estrutura do navio, “à medida que placas de aço, vigas e outros elementos de suporte de carga se tornam mais finos”.

Além da pressão, quem também provoca esta grande corrosão são as bactérias. Segundo a BBC, “o Titanic está coberto por um biofilme – um cobertor vivo de bactérias, de fungos marinhos e de outros micróbios – que está a alimentar-se do navio. Inicialmente, os materiais orgânicos, como estofos, almofadas, toalhas e móveis, forneceram um rico suprimento de nutrientes para micróbios que passavam nas profundezas do oceano”. Agora é a vez de se alimentaram da estrutura no navio.

Depois, há as correntes. Parte da estrutura do Titanic está sobre uma secção do fundo do mar afetada por uma corrente de água fria que flui para o Sul, a Subcorrente do Limite Ocidental. O fluxo dessa “corrente de fundo” cria dunas migratórias e ondulações que levam à destruição de alguma parte do navio. “Até mesmo correntes geradas por submersíveis podem causar o colapso de estruturas fracas”, disse um especialista à BBC.

“Estimo que os principais locais do Titanic, como a sua superestrutura, nomeadamente, o pátio da Grande Escadaria, a Sala Marconi, os quartos dos oficiais, desaparecerão por volta do ano 2100, tornando os desembarques submersíveis a bordo do Titanic mais desafiadores”, diz outro especialista.

***

Enfim, o navio que despertou tanto interesse, graças à quantidade de passageiros (e à qualidade social e económica de muitos), às suas caraterísticas técnicas inovadoras, à sua grandiosidade e ao facto de ter sucumbindo na viagem inaugural, contribuiu para a oceanografia e para a arte cinematográfica. Porém, parte da icónica proa já cedeu. E a boa notícia é que foi localizada a estátua de bronze que decorava o salão principal do navio e que se julgava perdida.

2024.09.08 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário