Uma estátua de bronze do Titanic,
que, há muito, se pensava estar perdida para sempre, foi redescoberta numa
recente expedição efetuada pela RMS
Titanic Inc., sediada na Geórgia, que detém, legalmente, os direitos de salvamento
sobre o naufrágio que ocorreu há 112
anos,
A empresa completou a sua primeira expedição
desde 2010 e revelou, a 4 de setembro, novas imagens do local.
A expedição ao Oceano Atlântico Norte, onde o Titanic se afundou, coincidiu com a investigação da Guarda Costeira
dos Estados Unidos da América (EUA) sobre a implosão, em junho de 2023, do Titan, submersível pertencente a outra
empresa e que matou as cinco pessoas a bordo, incluindo Paul-Henri Nargeolet,
diretor de investigação subaquática do RMS Titanic.
A RMS Titanic descreveu os resultados da viagem deste verão como uma “mistura
agridoce de preservação e [de] perda”.
Um dos principais destaques foi a redescoberta da estátua “Diana de
Versalhes”, que não era vista desde 1986. A empresa divulgou, agora, uma imagem
clara e atualizada da mesma. Porém, uma secção significativa do corrimão que
rodeia o convés de proa do navio caiu, disse o RMS Titanic. O corrimão ainda
estava de pé em 2022, disse a empresa. “A descoberta da estátua de Diana foi um
momento emocionante, mas estamos tristes com a perda da icónica balaustrada da
proa e [com] outras provas de decadência que apenas reforçaram o nosso
compromisso de preservar o legado do Titanic”,
afirmou Tomasina Ray, diretora de coleções do RMS Titanic, Inc..
A tripulação passou 20 dias no local e regressou a Providence, Rhode Island,
a 9 de agosto. Capturou mais de dois milhões de imagens do naufrágio com a mais
alta resolução jamais obtida. A equipa também cartografou completamente o
naufrágio e o seu campo de destroços utilizando equipamento avançado que será
utilizado para melhorar a compreensão do local.
Entretanto, a investigação da Guarda Costeira sobre a tragédia do
submersível Titan será objeto de uma
audiência pública no final de setembro.
A família de Nargeolet intentou uma ação judicial por homicídio culposo
contra a OceanGate, a operadora do submarino Titan, que suspendeu, entretanto, as operações.
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A 26 de
fevereiro de 2023, soube-se que os investigadores da organização
não-governamental (ONG) Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI) produziram um documentário de 80
minutos, com imagens inéditas
recolhidas na primeira visita, em 1986, aos destroços do mítico navio de
cruzeiro, o Titanic, afundado em abril de 1912. Tais imagens raras
foram, então, divulgadas por esse documentário.
A expedição,
liderada por Robert Ballard foi realizada em 1986, em parceria com o Instituto
Francês para a Exploração do Mar.
Ballard,
conceituado arqueólogo submarino, ficou conhecido pela descoberta dos destroços
do Titanic e do couraçado alemão, Bismarck.
O RMS Titanic foi
um navio de passageiros britânico operado pela White Star
Line e construído pelos estaleiros da Harland anda Wolff, em Belfast.
Segunda embarcação da Classe Olympic de transatlânticos, depois do RMS Olympic e seguido pelo HMHA Britannic, foi projetado pelos
engenheiros navais Alexander Carlisle e Thomas Andrews. A sua construção
começou em março de 1909 e o lançamento ao mar ocorreu em maio de 1911. O Titanic foi
pensado para ser o navio mais luxuoso e mais seguro da época,
gerando lendas segundo as quais era “inafundável”. A sua viagem inaugural
iniciou-se a 12 de abril de
1912, partindo do porto de Southampton, em
Inglaterra, em direção a Nova Iorque. Porém, ao quarto dia de viagem, o navio
colidiu com um iceberg e naufragou, tendo morrido mais de 1500 pessoas, da 2200
que iam a bordo.
A divulgação
das imagens inéditas em referência foi programada para coincidir com o
lançamento de uma versão “remasterizada” em 4K 3D do grande êxito do cinema, o
filme Titanic, de James Cameron,
estreado há 27 anos.
***
A
26 de março de 2024, a comunicação social revelava que vários adereços do filme Titanic,
de James Cameron, de 1997, foram vendidos em leilão.
A famosa e infame
porta do Titanic ou placa de madeira de balsa que manteve Rose
(Kate Winslet) a flutuar, mas deixou Jack (Leonardo DiCaprio) em situação
fatídica e fria, foi vendida por elevado preço (718750 dólares: 663 mil euros),
durante o evento Heritage Auction’ Treasures from Planet Hollywood, superando
outros adereços icónicos, como o chicote de Indiana Jones de Temple of
Doom e o machado ameaçador de Jack Nicholson de The Shining.
Porém, como de deixou entrever, não foi o único adereço vendido. Desde logo, o vestido usado por Winslet na cena culminante
da trama foi vendido por 118750 dólares (110 mil euros).
Apesar de ser referida
como uma porta, o leilão especifica que a intrincada estrutura era uma parte da
moldura da porta localizada mesmo por cima da entrada do salão de primeira
classe do navio.
Desde o lançamento do
filme que se tem debatido entre os fãs se o pedaço de madeira poderia ter
acomodado, confortavelmente, Rose e Jack. Numa tentativa de resolver a questão,
de uma vez por todas, o realizador James Cameron conduziu o que chamou de
“estudo científico”, em 2022, com um especialista em hipotermia e duplos para
Kate e Leo. A conclusão de Cameron e da sua equipa foi de que não havia espaço
suficiente para os dois na porta.
Outros objetos
cinematográficos que estavam à venda incluíam vários adereços da saga Indiana
Jones. O icónico chicote de Harrison Ford em Temple of Doom estabeleceu
o recorde de leilão com o seu exorbitante preço de venda de 525 mil dólares
(484 mil euros).
O Santo Graal, famoso
por ser apelidado de “taça de carpinteiro”, de A Última Cruzada,
também atingiu o impressionante valor de 87500 dólares (81 mil euros).
Entretanto, o icónico
machado de Jack Nicholson, “Here’s Johnny!”, de The Shining,
de Kubrick, foi vendido por 127537,58 dólares (115 mil euros). E, para não
ficar atrás, a bola de bowling de
Bill Murray, de Kingpin, foi vendida por 350 mil dólares (323 mil
euros) e o elegante fato preto de simbionte de Tobey Maguire, de Spider-Man
3, foi vendido por 125 mil dólares:115 mil euros.
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A
29 de abril de 2024, sobressaíam outros objetos notáveis em leilão, já não do
filme, mas do navio de cruzeiro, famoso, mas de vida efémera. O leilão realizou-se, a 27 de abril, em
Henry Aldridge & Son, em Devizes, Wiltshire, e, de acordo com os leiloeiros,
marcou o valor mais elevado alguma vez pago por recordações do Titanic.
O relógio de bolso em ouro recuperado do corpo do passageiro mais rico do Titanic foi vendido por 1,2 milhões de
libras, ou 1,4 milhões de euros, a um colecionador particular nos EUA.
O relógio, que pertenceu a John Jacob Astor IV, da abastada família Astor,
atingiu um valor dez vezes superior ao preço de leilão previsto de 100 mil a
150 mil libras (117 mil a 175 mil euros).
Na altura do naufrágio, o Astor, de 47 anos, era uma das pessoas mais ricas
do Mundo e possuía propriedades incluindo o Waldorf-Astoria Hotel. Fez a viagem
no Titanic com a jovem esposa
Madeleine Astor, de 18 anos, e a socialite Molly Brown. Quando a sua mulher e
Brown foram transportadas para os barcos salva-vidas, Astor foi informado de
que tinha de esperar que todas as mulheres e crianças estivessem a salvo para se
juntar a elas. Afastou-se e fumou um cigarro, enquanto elas eram levadas para
um local seguro.
Juntamente com o relógio de Astor, outros itens notáveis foram leiloados,
incluindo a mala que continha o violino tocado pelo líder da banda, Wallace
Hartley, quando o navio se afundou, e um livro de bolso que detalhava as
viagens do Titanic. A mala foi
vendida por 360 mil libras (421 mil euros) e o violino foi leiloado por 1,1
milhões de libras (1,28 milhões de euros) pela mesma casa de leilões, em 2013.
Até à venda do relógio de bolso de Astor, o violino detinha o recorde de artigo
mais vendido do Titanic.
“O violino de Wallace Hartley é a peça mais icónica de recordações do Titanic alguma vez vendida em leilão”,
disse o leiloeiro Andrew Aldridge, explicando: “No entanto, não teria
sobrevivido, se não fosse esta mala feita de pele de diligência inglesa. As
longas correias teriam sido utilizadas por Wallace, para prender a mala a si
próprio, enquanto o Titanic se
afundava. Serviu para proteger o instrumento da água salgada do mar.”
***
Em agosto de 2019, uma equipa de
mergulhadores captou imagens do navio submerso, há mais de cem anos, a ser devorado
por bactérias no fundo do mar e deteriorado pelas fortes correntes e
pelo sal, podendo desaparecer completamente.
A missão, a mais de três mil metros de profundidade e realizada no início
de agosto, foi a primeira a visitar o navio nos últimos 14 anos, até àquele ano.
O explorador Victor Vescovo destacava a dimensão dos destroços: “Primeiras impressões: É grande. Os destroços
são enormes. Eu não estava preparado para o tamanho. E, quando o navio apareceu
no radar, foi impressionante.”
Os destroços do navio afundado em 1912 só
foram encontrados 73 anos depois, em 1985, a cerca de 600 quilómetros da costa
do Canadá. E, mais de 112 anos depois, ele descansa no fundo do oceano. Entretanto, já desapareceram algumas
das áreas históricas do navio e, segundo esta expedição, vão continuar a
desaparecer, e mais depressa.
Os especialistas indicam que as principais estruturas do navio
desaparecerão por volta do ano 2100. A culpa é das correntes, da pressão do oceano e das bactérias
que comem ferro.
São
várias as expedições feitas, ano após ano, aos destroços do navio e imagens
recentes dão conta de que o Titanic
está a deteriorar-se cada vez mais.
Segundo
um trabalho da BBC, baseado em
informações de especialistas, nos últimos dois anos, parte significativa da
estrutura do caiu, nomeadamente na zona da proa. “É uma indicação muito visual
de como o ambiente extremo nas profundezas do oceano está a destruir o que
resta do navio mais famoso do Mundo. A pressão do oceano acima dele, as
correntes de água no fundo do mar e as bactérias que comem ferro estão a causar
o colapso da estrutura”, lê-se na peça da BBC.
No
fundo do mar, o Titanic suporta
pressões de água 390 vezes maiores do que as da superfície, daí que a corrosão
esteja gradualmente a enfraquecer a estrutura do navio, “à medida que placas de
aço, vigas e outros elementos de suporte de carga se tornam mais finos”.
Além
da pressão, quem também provoca esta grande corrosão são as bactérias. Segundo
a BBC, “o Titanic está coberto por um biofilme – um cobertor vivo de
bactérias, de fungos marinhos e de outros micróbios – que está a alimentar-se
do navio. Inicialmente, os materiais orgânicos, como estofos, almofadas,
toalhas e móveis, forneceram um rico suprimento de nutrientes para micróbios
que passavam nas profundezas do oceano”. Agora é a vez de se alimentaram da estrutura
no navio.
Depois,
há as correntes. Parte da estrutura do Titanic
está sobre uma secção do fundo do mar afetada por uma corrente de água fria que
flui para o Sul, a Subcorrente do Limite Ocidental. O fluxo dessa “corrente de
fundo” cria dunas migratórias e ondulações que levam à destruição de alguma
parte do navio. “Até mesmo correntes geradas por submersíveis podem causar o
colapso de estruturas fracas”, disse um especialista à BBC.
“Estimo
que os principais locais do Titanic,
como a sua superestrutura, nomeadamente, o pátio da Grande Escadaria, a Sala
Marconi, os quartos dos oficiais, desaparecerão por volta do ano 2100, tornando
os desembarques submersíveis a bordo do Titanic
mais desafiadores”, diz outro especialista.
***
Enfim,
o navio que despertou tanto interesse, graças à quantidade de passageiros (e à
qualidade social e económica de muitos), às suas caraterísticas técnicas inovadoras,
à sua grandiosidade e ao facto de ter sucumbindo na viagem inaugural, contribuiu
para a oceanografia e para a arte cinematográfica. Porém, parte da icónica proa
já cedeu. E a boa notícia é que foi localizada a estátua de bronze que decorava o salão
principal do navio e que se julgava perdida.
2024.09.08 – Louro de Carvalho
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