O Estado vai
financiar a 100% a reconstrução de casas, até 150 mil euros, e 85% do valor
excedente, afetadas pelos incêndios deste mês, revelou Manuel Castro Almeida,
ministro Adjunto e da Coesão Territorial, em conferência de imprensa após o
Conselho de Ministros, a 26 de setembro. No total, serão disponibilizados 100 milhões de euros, para dar liquidez
às comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR), de forma a suportar as despesas
mais imediatas até ao final do ano.
Castro
Almeida salientou que as casas afetadas são, na sua maioria, pequenas e em
ambiente rural, e que a “esmagadora maioria” terá custos de reedificação
inferiores aos 150 mil euros.
A reconstrução e reabilitação das habitações ficarão a cargo do proprietário ou do município, optando o governo por não delegar essa tarefa nas CCDR, por considerar que a sua vocação “não é serem empreiteiros”, explicou.
O argumento é fraco, do meu ponto de vista, pois os municípios também não são empreiteiros. Os governos também não o são e gerem dinheiros públicos, abrem concursos e até fazem contratos por ajuste direto, em determinadas circunstâncias.
Castro Almeida
revelou que o levantamento dos danos causados pelos incêndios, que está a cargo
dos municípios, em articulação com as CCDR, está em curso em 69 municípios e em
291 freguesias. “Na próxima semana, teremos cerca de 90% dos levantamentos
concluídos”, estimou.
De acordo com
o governante, ainda não é possível precisar o número de casas e fábricas afetadas
pelos fogos, mas será “superior a 50 e bastante inferior a 100”.
Para as empresas, o
ministro Adjunto e da Coesão Territorial anunciou a criação de uma linha de
apoio à tesouraria e de apoio à reposição da produção (edifícios, matérias-primas
e maquinaria).
Quanto aos detalhes
sobre o nível do apoio, Castro Almeida disse que tal “é mais difícil de
concretizar”, pois “há regras europeias da concorrência que limitam os auxílios
de Estado e vamos ter de cumprir”. Ainda assim, assegurou que, dentro dos
limites legais, o governo vai “dar o apoio possível aos empresários e às empresas
que queiram reconstruir o seu caminho”.
Entre as
medidas anunciadas, destaca-se um “mecanismo diferenciado de ‘lay-off’
simplificado” para as empresas afetadas, que prevê a “redução ou suspensão de
contratos de trabalho” e um “regime de exceção nas Medidas Ativas de Emprego,
para favorecer pessoas que foram vítimas destes incêndios”, indicou o ministro,
destacando, ainda, medidas como ações de formação profissional para
desempregados e a “prorrogação do prazo de cumprimento de obrigações fiscais de
pessoas singulares e coletivas que não consigam cumprir por causa dos incêndios”.
Para os
agricultores, haverá um subsídio para compensar prejuízos agrícolas até seis
mil euros e apoio à capacidade produtiva agrícola, para a substituição ou
reparação de animais, de máquinas e equipamentos agrícolas e de armazéns
agrícolas.
Castro Almeida
apontou que “muitos agricultores que fazem agricultura de subsistência não têm
documentos, nem de compras nem de vendas, têm as sementes que recolhem no seu
próprio campo e, depois, vendem no mercado mais próximo”. E disse que esta é
uma forma de resolver o problema de muitos agricultores que não teriam como
sobreviver nos tempos mais próximos.
O governante
adiantou que, da avaliação que tem estado a ser feita no terreno, os danos
provocados pelos incêndios na agricultura “são maiores do que a maioria das
pessoas pensa”, ao contrário dos danos na indústria e na habitação, que são
menores do que se esperava.
Castro Almeida
prometeu, para daqui a três meses, a apresentação do plano para a floresta e,
para já, anunciou também apoios à recuperação florestal, para a estabilização e
recuperação de áreas afetadas e para a substituição ou reparação de máquinas, de
equipamentos florestais, de armazéns florestais e de outras construções de
apoio à atividade das florestas.
No total,
serão disponibilizados, como se disse, 100 milhões de euros para dar liquidez
às comissões de coordenação e desenvolvimento regional, de forma a suportar as despesas
mais imediatas até ao final do ano.
Nove pessoas
morreram e mais de 170 ficaram feridas em consequência dos incêndios que
atingiram, na semana de 16 a 21 de setembro, sobretudo, as regiões Norte e
Centro de Portugal. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEOC)
contabilizou oficialmente cinco mortos nos fogos.
Os incêndios
florestais consumiram, entre os dias 15 e 20 de setembro, cerca de 135 mil
hectares, totalizando este ano a área ardida em Portugal quase 147 mil
hectares, a terceira maior da década, segundo o sistema europeu Copernicus.
Antes de
Castro Almeida, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, anunciou um
conjunto de medidas (insere-se, aqui entre parêntesis o anúncio que fez de medidas,
por terem algumas a ver com pessoas que intervêm nos incêndios) para reforçar a
segurança e o controlo de fronteiras, nomeadamente um novo sistema de saída e
entrada de Portugal desde fora do espaço Schengen, com recolha dos dados
biométricos, a criação de Unidade de Estrangeiros e Fronteiras na Polícia de
Segurança Pública (PSP) e um novo regime de retorno e afastamento de cidadãos
em situação ilegal. É um alinhamento com a nova política da União Europeia (UE).
As agressões a
profissionais, como professores ou médicos ou a forças de segurança terão uma
moldura penal agravada, segundo diplomas aprovados em Conselho de Ministros.
O ministro da
Presidência explicou, no final da reunião, que foi aprovado um conjunto de diplomas
em matéria de segurança, com novas “regras sobre crimes de agressão contra
certos funcionários públicos e pessoas em funções de autoridade e serviços
públicos críticos”. Estão englobadas as agressões contra as forças de
segurança, guardas prisionais, professores e pessoal não docente das escolas,
profissionais de saúde e bombeiros.
Além do
agravamento da moldura penal, está contemplada a isenção de custas e tornar
parte desses crimes em crime público, dispensando, nomeadamente, a queixa da
vítima.
***
As medidas tomas e anunciadas pelo governo, no atinente
a incêndios, em Portugal, assentam numa almofada 500 milhões de euros em fundos
europeus para cobrir prejuízos
Efetivamente,
Portugal recebeu autorização, por parte
da Comissão Europeia, para aceder a 500 milhões de euros dos fundos de coesão.
O valor deverá ajudar a cobrir os prejuízos dos incêndios.
O
levantamento dos prejuízos nos municípios mais atingidos pelos incêndios já
arrancou, como revelou o ministro Castro almeida. Os danos nas habitações,
nas culturas agrícolas ou nas instalações industriais são vários, mas o governo
pretende que os esforços de
reconstrução sejam rápidos e pouco burocráticos. Para isso, conta com a
ajuda dos fundos europeus.
“Este
diálogo com a senhora presidente da Comissão Europeia desembocou na decisão de a
Comissão permitir que Portugal possa aceder a 500 milhões de euros dos fundos de coesão que nos estão
destinados, para os próximos anos, e possa[m] cobrir os prejuízos que teve com
uma taxa de comparticipação que, excecionalmente, pode ser mesmo de 100%",
anunciou o primeiro-ministro, em declarações aos jornalistas.
Segundo Luís
Montenegro, este será um “procedimento que, excecionalmente, a Comissão
permitirá que seja gerido, diretamente, pelo governo, sem nenhuma obrigação de pré-requisito ou [de]
pré-aprovação”.
Na região
Centro, o levantamento dos prejuízos causados pelos incêndios rurais deverá
estar concluído no final da próxima semana, revelou à Lusa Alexandra Rodrigues, vice-presidente da Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR-C).
Já na região
Norte, a CCDR-N disponibilizou “um formulário no Portal Geográfico da
Agricultura, para avaliar os prejuízos causados pelos incêndios rurais nas explorações
agrícolas da Região”.
As
declarações do primeiro-ministro surgem na sequência de uma reunião com as
ministras da Administração Interna e da Justiça, com a procuradora-geral da
República e com representantes da Polícia Judiciária (PJ), da PSP e da Guarda
Nacional Republicana (GNR).
Esta foi a
primeira reunião da equipa anunciada pelo executivo para investigar a eventual origem criminosa dos
incêndios.
O
primeiro-ministro também adiantou que será feito um levantamento exaustivo de
todos os inquéritos que estão a decorrer referentes ao crime de atear fogos
florestais. O objetivo é chegar às causas que motivam os que já foram detetados
e detidos na prática desse crime. “Será feito um aprofundamento da
correlação entre estas ocorrências, tentando aprofundar o estudo das causas dos
que foram detidos pela prática deste crime. Para termos a certeza de que nenhum interesse particular possa estar a
preponderar nas ignições que não são causadas por eventos naturais ou por atos
negligentes”, esclareceu o chefe do governo.
No dia 25 de
setembro, o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, também revelou que
está a ser preparado, desde maio, um pacto nacional para a floresta. “Nós estamos a trabalhá- lo. Amanhã
[dia 26], haverá o Conselho de Ministros com várias decisões que eu não vou
antecipar, mas já está em curso e nós queremos, até ao fim do ano, ter este
pacto” especificou.
Os incêndios
que atingiram as regiões Norte e Centro do país, o período em causa,
provocaram nove mortos e mais de
170 feridos. E, de acordo com a PSP, responsável pela gestão do 112, nos
dias em que lavraram os incêndios, entre 15 e 19 de setembro, foram recebidas, aproximadamente, nove mil
chamadas por dia relacionadas com os fogos florestais.
***
O primeiro-ministro, reagindo ao problema dos incêndios, atirou aos
incendiários (criminosos). É óbvio que devia, como figura pública e como chefe
de um órgão de soberania, respeitar a separação de poderes e não se dar ares de
“justiceiro”. Também, sem apresentar dados publicamente, apontou a interesses
instalados como estando na génese dos incêndios rurais.
De imediato, as autoridades vieram minimizar o volume de incendiários criminosos
e considerar que não há provas concretas de interesses por trás da praga incendiária.
E Manuel Catarino, no Tal & Qual,
de 25 de setembro, aconselha a ouvir o arquiteto Henrique Pereira dos Santos.
Porém, segundo o que li na página 6 do mesmo semanário, os fatores de deflagração
de incêndio que aponta, não anulam os que por aí se têm apresentado e de que
tenho feito eco.
Diz o especialista que a grande razão para os incêndios é a falta de
valor económico da floresta para os proprietários, bem como a gestão florestal.
Por isso, acumulam-se combustíveis finos que, em elevada quantidade e grande estrutura
volumétrica e conjugados com ventos fortes e secos, permitem a propagação rápida
do fogo. Fala também do abandono das atividades rurais: agricultura
(envelhecimento da população), agropecuária, pastorícia, procura de estrume (vieram
os adubos químicos) e lenha nos montes (veio a cozinha a gás ou a eletricidade).
E refere que as ignições noturnas não são necessariamente de origem criminosa (uma
trovoada ou um ave a chocar com linha elétricas podem provocar ignição).
Ora bem. É verdade o que diz o arquiteto paisagista, mas é inegável que
há pirómanos, negligentes e criminosos, na génese e no alastramento de incêndios;
há floresta desordenada; há queimas e queimadas e lançamento de foguetes; há comportamentos
pouco ortodoxos; o facto de não haver provas concretas não quer dizer que não
haja interesses: e não há suficiente prevenção e vigilância.
Enfim, não vale a pena negar alguns fatores de incêndio ou cingirmo-nos a
outros. E, havendo fogos, há que reparar ou minimizar os danos, como, aliás,
parece estar a ser feito.
2024.09.26
– Louro de Carvalho
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