O conselho
de governadores do Banco Central
Europeu (BCE), sob a liderança de Christine Lagarde, decidiu avançar, na sua reunião de 12 de setembro com o segundo corte consecutivo de 25 pontos-base
na taxa de juro diretora, que desceu dos 3,75% para os 3,5%. É o segundo alívio
nos juros desde junho, altura em que o BCE pôs fim a um ciclo de subidas. A descida
da taxa da inflação foi decisiva para a medida.
O conselho de governadores do BCE decidiu, por unanimidade, esta redução
de 25 pontos-base na taxa de juro de referência, o que reflete a política monetária adotada em junho pela instituição
europeia, quando o primeiro corte de 25 pontos-base inverteu a escalada do
juro, que se iniciou em 2022, para conter o avanço da inflação na zona euro. Por
outro lado, a taxa de
refinanciamento dos bancos comerciais foi cortada em 60 pontos-base (0,6 pontos
percentuais), ficando em 3,65%.
Assim, o BCE
acabou por cortar os juros em meio ponto percentual, ainda antes da Reserva
Federal norte-americana (FED) iniciar o ciclo de descida da sua taxa
diretora. Os mercados dão uma
probabilidade de 87% para um corte de 25 pontos-base nos Estados Unidos da
América (EUA).
Mário
Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), e apologista da descida radical
da taxa de juro do BCE, havia antecipado esta decisão, considerando-a
“fácil”, visto que a inflação na
Zona Euro se situou nos 2,2%, em agosto, segundo o Eurostat,
aproximando-se da meta de 2% fixada pelo BCE.
No decorrer
da conferência de imprensa, após o anúncio da decisão, a presidente da autoridade
monetária da Zona Euro justificou a descida, considerando: “Os dados confortam-nos, estamos a caminho da
meta dos 2%”, notando que “a trajetória descendente das taxas de juro é
bastante óbvia”, pois as pressões inflacionistas estão a diminuir
gradualmente.
Contudo,
Christine Lagarde reforçou a mensagem presente no comunicado do conselho de governadores
do BCE, destacando a inexistência de um compromisso com eventuais novas
descidas das taxas de referência, até ao final do ano.
No entanto,
após esta decisão, os mercados projetam um terceiro corte na reunião de 12 de
dezembro, a última do ano, atribuindo só uma probabilidade de 35% para um
terceiro corte na próxima reunião a 17 de outubro, segundo as previsões do
banco alemão Commerzbank.
***
A inflação anual da Zona Euro caiu, em agosto de
2024, para 2,2%, o seu
nível mais baixo, em mais de três anos,
mas a inflação subjacente, impulsionada pela persistência dos custos dos
serviços, continua a ser teimosa. Por isso, o BCE apela à prudência, relativamente
a potenciais cortes nas taxas.
De acordo com
os dados preliminares do Eurostat, o índice harmonizado de preços no consumidor
(IHPC) em todo o bloco monetário registou um aumento anual de 2,2%, em agosto
de 2024. Este valor representa a taxa de inflação anual mais baixa desde julho
de 2021, antes de atingir um pico de 10,6%, em outubro de 2022, o que
representa um abrandamento, em relação ao aumento de 2,6% registado em julho,
alinhando-se com as expectativas dos economistas. Numa base mensal, o índice
global subiu 0,2%, após uma leitura estagnada em julho. A descida da inflação
homóloga foi impulsionada, principalmente, pela queda acentuada de 3% nos
preços da energia e por efeitos de base favoráveis.
Excluindo componentes voláteis, como
a energia e os produtos alimentares, a inflação subjacente diminuiu
ligeiramente de 2,9% para 2,8%, em termos anuais, atingindo o nível mais baixo
desde abril de 2024. No entanto, numa base mensal, a inflação subjacente
registou um aumento de 0,3%, principalmente, devido ao aumento dos preços dos
serviços. As despesas relacionadas com os serviços, que constituem quase 45% do
índice harmonizado da Zona Euro, aumentaram 4,2% em agosto, em comparação com
os 4% anteriores, e registaram um aumento mensal de 0,4%.
“A política deve prosseguir de forma
gradual e cautelosa, uma vez que o atual nível de inflação global subestima os
desafios que a política monetária ainda enfrenta”, afirmou Isabel Schnabel,
membro da Comissão Executiva do BCE, durante um discurso na Estónia, a 30 de
agosto. Isabel Schnabel salientou que a inflação interna permanece elevada, em
4,4%, em grande parte devido às persistentes pressões sobre os preços no sector
dos serviços, onde a desinflação estagnou efetivamente, desde novembro passado.
Numa
publicação separada, o Eurostat informou que a taxa de desemprego na Zona Euro
diminuiu de 6,5% para 6,4%, em agosto, abaixo das previsões do mercado de 6,5%.
Entre os estados-membros da Zona
Euro, a Alemanha foi um fator significativo no arrefecimento da inflação global
da região em agosto. O IHPC, para a Alemanha, desceu para 2%, em agosto,
ficando muito abaixo dos 2,3% previstos. Numa base mensal, a Alemanha registou
deflação, com as pressões sobre os preços a contraírem-se em 0,2%,
impulsionadas pela redução acentuada dos preços da energia.
Outros estados-membros que registaram
inflação mensal negativa, em agosto, foram a Lituânia (-0,5%), a Finlândia
(-0,5%), a Letónia (-0,4%), a Itália (-0,1%), a Áustria (-0,1%) e Portugal
(-0,1%). Em contrapartida, a Bélgica registou aumento notável das pressões
inflacionistas, durante o mês, com a taxa de inflação harmonizada a subir 1,6%,
em comparação com julho de 2024. Este aumento marcou uma viragem significativa
em relação à descida de 0,6%, registada em julho, e representou o aumento
mensal mais acentuado desde fevereiro de 2024. Numa base anual, a Bélgica
registou a taxa de inflação mais elevada, com 4,5%, embora tenha diminuído em
relação aos 5,4% de julho, seguida da Estónia, com 3,4%, e dos Países Baixos,
com 3,3%.
O euro manteve-se firme, face ao
dólar, após a divulgação dos dados sobre a inflação, provavelmente impulsionado
pela inflação persistente no setor dos serviços. Às 11h15 (hora da Europa
Central) de 30 de agosto, a moeda única estava a ser negociada a 1,1080 dólares
(USD), mantendo a estabilidade, após duas sessões consecutivas de queda.
As taxas de
rendibilidade das obrigações soberanas a 10 anos mantiveram-se praticamente
inalteradas na Alemanha, após o declínio de 29 de agosto, enquanto caíram
ligeiramente em três pontos base na França, na Itália e na Espanha.
As ações
europeias continuaram a sua tendência ascendente, com o Euro Stoxx 50 a ganhar
0,6%, posicionando-se para uma quarta semana consecutiva de ganhos. Entre as
empresas com melhor desempenho no Euro Stoxx 50 contam-se a Adidas, a LVMH e a
Amadeus IT, que subiram 1,6%, 1,4% e 1,1%, respetivamente. Nos índices
nacionais, o CAC 40 de França subiu 0,6%, o FTSE MIB de Itália 0,5% e o DAX da
Alemanha 0,1%, com este último a atingir novos máximos históricos, acima dos 18950
pontos, durante a sessão da manhã de 30 de agosto.
Porém, é de recordar que, a 1 de
agosto, o corte de juros ora efetuado, estava em risco, pois a inflação na Zona Euro subiu para 2,6%, em
julho, em grande parte graças aos preços da energia. Ficaram lançadas dúvidas
sobre potenciais cortes nas taxas de juro do BCE em setembro.
O IHPC
aumentou 2,6%, em termos anuais, em julho, ligeiramente acima dos 2,5% do mês
anterior, de acordo com as estimativas preliminares do Eurostat. Em particular,
a taxa de inflação anual de julho excedeu as previsões de uma descida para
2,4%.
Os custos da
energia foram um fator significativo, com os preços a subirem 1,3%, numa base
mensal, um aumento acentuado em relação ao aumento de 0,2%, em junho. Os bens
industriais não energéticos também registaram um aumento mais rápido, de 0,8%,
em comparação com 0,7% em junho. Os serviços registaram a taxa anual mais
elevada em julho, com 4,0%, em comparação com 4,1%, em junho, seguidos pelos
produtos alimentares, álcool e tabaco, com 2,3%, em comparação com 2,4%, em
junho. Excluindo os produtos alimentares e a energia, a inflação subjacente
manteve-se estável em 2,9% em termos anuais em julho, ultrapassando as
expetativas do mercado de uma descida para 2,8%.
Entre os membros da Zona Euro, a
Bélgica continuou a registar a taxa de inflação anual mais elevada, em julho,
com 5,6%, a mais elevada desde janeiro de 2023. No entanto, numa base mensal, a
inflação na Bélgica desacelerou 0,6%, invertendo um aumento de 0,5%, em junho.
Na Alemanha, o IHPC subiu 2,6%, em comparação com julho de 2023, registando
ligeiro aumento, em relação à taxa anterior de 2,5%. Numa base mensal, a
inflação na Alemanha acelerou 0,5%, em comparação com um aumento de 0,2% em
junho. Os Países Baixos também registaram uma subida da inflação de 3,5% para
3,6%, atingindo o nível mais elevado desde julho de 2023. Em contraste, os
preços ao consumidor caíram significativamente em Espanha e Portugal. A taxa de
inflação anual harmonizada de Espanha caiu de 3,6% para 2,9%, enquanto a de
Portugal caiu de 3,1% para 2,7%. Ambos os países registaram as maiores descidas
mensais, com Espanha e Portugal a registarem descidas de 0,7% e 0,8%,
respetivamente. A França registou apenas um ligeiro aumento da inflação anual,
passando de 2,5% para 2,6%.
***
O ‘staff’ do BCE reviu em baixa a estimativa de crescimento da economia da Zona Euro para
0,8%, neste ano, mantendo a
projeção de uma taxa de inflação de 2,5%. No comunicado
divulgado a 12 de setembro, o conselho de governadores do BCE anuncia que
decidiu baixar as taxas de juro em 25 pontos-base, dada a atualização das
projeções económicas, a dinâmica da inflação subjacente e da força da
transmissão da política monetária – que está a arrefecer a economia.
É nesse sentido que o ‘staff’ do BCE decidiu rever, ligeiramente, em baixa a estimativas
de crescimento económico da Zona Euro, para este ano e os dois próximos.
Se, em junho, esperava que a economia dos 20 países da moeda única crescesse,
em conjunto, 0,9%, agora antecipa que avance 0,8% este ano. A revisão em baixa
em 0,1 pontos percentuais ocorre também na projeção para 2025 (de 1,4% para
1,3%) e em 2026 (de 1,6% para 1,5%).
A revisão em baixa deve-se a “uma contribuição mais fraca da procura
interna nos próximos trimestres”, explica o BCE. Isto, porque a inflação
doméstica continua elevada e os salários estão a subir de forma elevada, mas as
condições de financiamento continuam restritivas (pela política monetária em
vigor) e a atividade económica está limitada, refletindo um consumo privado e
investimento fracos. Os analistas já esperavam que o ‘staff’ de Frankfurt
reduzisse as estimativas de crescimento, e apontavam para a revisão em baixa da
taxa de inflação para este ano. Porém, o BCE decidiu manter inalteradas as estimativas para a inflação. “Os
dados recentes chegaram praticamente como esperado e as últimas projeções do ‘staff’
confirmam as previsões anteriores”, refere o comunicado. Os economistas contam
que a taxa de inflação acelere na segunda metade do ano, porque parte das
quedas acentuadas nos preços da energia serão diluídas nas taxas
anuais.
Assim, tal como em junho, Frankfurt estima que os preços subam 2,5%, neste ano, abrandando
o ritmo de crescimento para 2,2%,
em 2025, e que só, em
2026 (na média do ano) ficará abaixo do objetivo de médio prazo (2%), mais
precisamente em 1,9%. Por outro lado, as projeções para a inflação
subjacente (que exclui os bens energéticos e alimentares e que, por isso, é
considerada menos volátil e mais persistente) subiram ligeiramente (0,1 ponto
percentual, em 2024 e em 2025), à boleia da inflação nos serviços, “que tem estado mais elevada do que o esperado”.
O BCE estima, agora, que a
inflação subjacente seja de 2,9%, neste ano, e de 2,3% em 2025, mantendo a
previsão de 2%, em 2026.
Enfim, o BCE desce juros,
mais uma vez. É um novo sinal de descompressão e uma nova ajuda para as
famílias, mas o impacto pode ser menos do que o esperado, segundo os analistas.
2024.09.13 –
Louro de Carvalho
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