sexta-feira, 13 de setembro de 2024

BCE decidiu corte de juros da Zona Euro para 3,5%

 

O conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), sob a liderança de Christine Lagarde, decidiu avançar, na sua reunião de 12 de setembro com o segundo corte consecutivo de 25 pontos-base na taxa de juro diretora, que desceu dos 3,75% para os 3,5%. É o segundo alívio nos juros desde junho, altura em que o BCE pôs fim a um ciclo de subidas. A descida da taxa da inflação foi decisiva para a medida.

O conselho de governadores do BCE decidiu, por unanimidade, esta redução de 25 pontos-base na taxa de juro de referência, o que reflete a política monetária adotada em junho pela instituição europeia, quando o primeiro corte de 25 pontos-base inverteu a escalada do juro, que se iniciou em 2022, para conter o avanço da inflação na zona euro. Por outro lado, a taxa de refinanciamento dos bancos comerciais foi cortada em 60 pontos-base (0,6 pontos percentuais), ficando em 3,65%.

Assim, o BCE acabou por cortar os juros em meio ponto percentual, ainda antes da Reserva Federal norte-americana (FED) iniciar o ciclo de descida da sua taxa diretora. Os mercados dão uma probabilidade de 87% para um corte de 25 pontos-base nos Estados Unidos da América (EUA).

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), e apologista da descida radical da taxa de juro do BCE, havia antecipado esta decisão, considerando-a “fácil”, visto que a inflação na Zona Euro se situou nos 2,2%, em agosto, segundo o Eurostat, aproximando-se da meta de 2% fixada pelo BCE.

No decorrer da conferência de imprensa, após o anúncio da decisão, a presidente da autoridade monetária da Zona Euro justificou a descida, considerando: “Os dados confortam-nos, estamos a caminho da meta dos 2%”, notando que “a trajetória descendente das taxas de juro é bastante óbvia”, pois as pressões inflacionistas estão a diminuir gradualmente.

Contudo, Christine Lagarde reforçou a mensagem presente no comunicado do conselho de governadores do BCE, destacando a inexistência de um compromisso com eventuais novas descidas das taxas de referência, até ao final do ano.

No entanto, após esta decisão, os mercados projetam um terceiro corte na reunião de 12 de dezembro, a última do ano, atribuindo só uma probabilidade de 35% para um terceiro corte na próxima reunião a 17 de outubro, segundo as previsões do banco alemão Commerzbank.

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A inflação anual da Zona Euro caiu, em agosto de 2024, para 2,2%, o seu nível mais baixo, em mais de três anos, mas a inflação subjacente, impulsionada pela persistência dos custos dos serviços, continua a ser teimosa. Por isso, o BCE apela à prudência, relativamente a potenciais cortes nas taxas.

De acordo com os dados preliminares do Eurostat, o índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) em todo o bloco monetário registou um aumento anual de 2,2%, em agosto de 2024. Este valor representa a taxa de inflação anual mais baixa desde julho de 2021, antes de atingir um pico de 10,6%, em outubro de 2022, o que representa um abrandamento, em relação ao aumento de 2,6% registado em julho, alinhando-se com as expectativas dos economistas. Numa base mensal, o índice global subiu 0,2%, após uma leitura estagnada em julho. A descida da inflação homóloga foi impulsionada, principalmente, pela queda acentuada de 3% nos preços da energia e por efeitos de base favoráveis.

Excluindo componentes voláteis, como a energia e os produtos alimentares, a inflação subjacente diminuiu ligeiramente de 2,9% para 2,8%, em termos anuais, atingindo o nível mais baixo desde abril de 2024. No entanto, numa base mensal, a inflação subjacente registou um aumento de 0,3%, principalmente, devido ao aumento dos preços dos serviços. As despesas relacionadas com os serviços, que constituem quase 45% do índice harmonizado da Zona Euro, aumentaram 4,2% em agosto, em comparação com os 4% anteriores, e registaram um aumento mensal de 0,4%.

“A política deve prosseguir de forma gradual e cautelosa, uma vez que o atual nível de inflação global subestima os desafios que a política monetária ainda enfrenta”, afirmou Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE, durante um discurso na Estónia, a 30 de agosto. Isabel Schnabel salientou que a inflação interna permanece elevada, em 4,4%, em grande parte devido às persistentes pressões sobre os preços no sector dos serviços, onde a desinflação estagnou efetivamente, desde novembro passado.

Numa publicação separada, o Eurostat informou que a taxa de desemprego na Zona Euro diminuiu de 6,5% para 6,4%, em agosto, abaixo das previsões do mercado de 6,5%.

Entre os estados-membros da Zona Euro, a Alemanha foi um fator significativo no arrefecimento da inflação global da região em agosto. O IHPC, para a Alemanha, desceu para 2%, em agosto, ficando muito abaixo dos 2,3% previstos. Numa base mensal, a Alemanha registou deflação, com as pressões sobre os preços a contraírem-se em 0,2%, impulsionadas pela redução acentuada dos preços da energia.

Outros estados-membros que registaram inflação mensal negativa, em agosto, foram a Lituânia (-0,5%), a Finlândia (-0,5%), a Letónia (-0,4%), a Itália (-0,1%), a Áustria (-0,1%) e Portugal (-0,1%). Em contrapartida, a Bélgica registou aumento notável das pressões inflacionistas, durante o mês, com a taxa de inflação harmonizada a subir 1,6%, em comparação com julho de 2024. Este aumento marcou uma viragem significativa em relação à descida de 0,6%, registada em julho, e representou o aumento mensal mais acentuado desde fevereiro de 2024. Numa base anual, a Bélgica registou a taxa de inflação mais elevada, com 4,5%, embora tenha diminuído em relação aos 5,4% de julho, seguida da Estónia, com 3,4%, e dos Países Baixos, com 3,3%.

O euro manteve-se firme, face ao dólar, após a divulgação dos dados sobre a inflação, provavelmente impulsionado pela inflação persistente no setor dos serviços. Às 11h15 (hora da Europa Central) de 30 de agosto, a moeda única estava a ser negociada a 1,1080 dólares (USD), mantendo a estabilidade, após duas sessões consecutivas de queda.

As taxas de rendibilidade das obrigações soberanas a 10 anos mantiveram-se praticamente inalteradas na Alemanha, após o declínio de 29 de agosto, enquanto caíram ligeiramente em três pontos base na França, na Itália e na Espanha.

As ações europeias continuaram a sua tendência ascendente, com o Euro Stoxx 50 a ganhar 0,6%, posicionando-se para uma quarta semana consecutiva de ganhos. Entre as empresas com melhor desempenho no Euro Stoxx 50 contam-se a Adidas, a LVMH e a Amadeus IT, que subiram 1,6%, 1,4% e 1,1%, respetivamente. Nos índices nacionais, o CAC 40 de França subiu 0,6%, o FTSE MIB de Itália 0,5% e o DAX da Alemanha 0,1%, com este último a atingir novos máximos históricos, acima dos 18950 pontos, durante a sessão da manhã de 30 de agosto.

Porém, é de recordar que, a 1 de agosto, o corte de juros ora efetuado, estava em risco, pois a inflação na Zona Euro subiu para 2,6%, em julho, em grande parte graças aos preços da energia. Ficaram lançadas dúvidas sobre potenciais cortes nas taxas de juro do BCE em setembro.

O IHPC aumentou 2,6%, em termos anuais, em julho, ligeiramente acima dos 2,5% do mês anterior, de acordo com as estimativas preliminares do Eurostat. Em particular, a taxa de inflação anual de julho excedeu as previsões de uma descida para 2,4%.

Os custos da energia foram um fator significativo, com os preços a subirem 1,3%, numa base mensal, um aumento acentuado em relação ao aumento de 0,2%, em junho. Os bens industriais não energéticos também registaram um aumento mais rápido, de 0,8%, em comparação com 0,7% em junho. Os serviços registaram a taxa anual mais elevada em julho, com 4,0%, em comparação com 4,1%, em junho, seguidos pelos produtos alimentares, álcool e tabaco, com 2,3%, em comparação com 2,4%, em junho. Excluindo os produtos alimentares e a energia, a inflação subjacente manteve-se estável em 2,9% em termos anuais em julho, ultrapassando as expetativas do mercado de uma descida para 2,8%.

Entre os membros da Zona Euro, a Bélgica continuou a registar a taxa de inflação anual mais elevada, em julho, com 5,6%, a mais elevada desde janeiro de 2023. No entanto, numa base mensal, a inflação na Bélgica desacelerou 0,6%, invertendo um aumento de 0,5%, em junho. Na Alemanha, o IHPC subiu 2,6%, em comparação com julho de 2023, registando ligeiro aumento, em relação à taxa anterior de 2,5%. Numa base mensal, a inflação na Alemanha acelerou 0,5%, em comparação com um aumento de 0,2% em junho. Os Países Baixos também registaram uma subida da inflação de 3,5% para 3,6%, atingindo o nível mais elevado desde julho de 2023. Em contraste, os preços ao consumidor caíram significativamente em Espanha e Portugal. A taxa de inflação anual harmonizada de Espanha caiu de 3,6% para 2,9%, enquanto a de Portugal caiu de 3,1% para 2,7%. Ambos os países registaram as maiores descidas mensais, com Espanha e Portugal a registarem descidas de 0,7% e 0,8%, respetivamente. A França registou apenas um ligeiro aumento da inflação anual, passando de 2,5% para 2,6%.

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O ‘staff’ do BCE reviu em baixa a estimativa de crescimento da economia da Zona Euro para 0,8%, neste ano, mantendo a projeção de uma taxa de inflação de 2,5%. No comunicado divulgado a 12 de setembro, o conselho de governadores do BCE anuncia que decidiu baixar as taxas de juro em 25 pontos-base, dada a atualização das projeções económicas, a dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária – que está a arrefecer a economia.

É nesse sentido que o ‘staff’ do BCE decidiu rever, ligeiramente, em baixa a estimativas de crescimento económico da Zona Euro, para este ano e os dois próximos. Se, em junho, esperava que a economia dos 20 países da moeda única crescesse, em conjunto, 0,9%, agora antecipa que avance 0,8% este ano. A revisão em baixa em 0,1 pontos percentuais ocorre também na projeção para 2025 (de 1,4% para 1,3%) e em 2026 (de 1,6% para 1,5%).

A revisão em baixa deve-se a “uma contribuição mais fraca da procura interna nos próximos trimestres”, explica o BCE. Isto, porque a inflação doméstica continua elevada e os salários estão a subir de forma elevada, mas as condições de financiamento continuam restritivas (pela política monetária em vigor) e a atividade económica está limitada, refletindo um consumo privado e investimento fracos. Os analistas já esperavam que o ‘staff’ de Frankfurt reduzisse as estimativas de crescimento, e apontavam para a revisão em baixa da taxa de inflação para este ano. Porém, o BCE decidiu manter inalteradas as estimativas para a inflação. “Os dados recentes chegaram praticamente como esperado e as últimas projeções do ‘staff’ confirmam as previsões anteriores”, refere o comunicado. Os economistas contam que a taxa de inflação acelere na segunda metade do ano, porque parte das quedas acentuadas nos preços da energia serão diluídas nas taxas anuais. 

Assim, tal como em junho, Frankfurt estima que os preços subam 2,5%, neste ano, abrandando o ritmo de crescimento para 2,2%, em 2025, e que só, em 2026 (na média do ano) ficará abaixo do objetivo de médio prazo (2%), mais precisamente em 1,9%.  Por outro lado, as projeções para a inflação subjacente (que exclui os bens energéticos e alimentares e que, por isso, é considerada menos volátil e mais persistente) subiram ligeiramente (0,1 ponto percentual, em 2024 e em 2025), à boleia da inflação nos serviços, “que tem estado mais elevada do que o esperado”.

O BCE estima, agora, que a inflação subjacente seja de 2,9%, neste ano, e de 2,3% em 2025, mantendo a previsão de 2%, em 2026.

Enfim, o BCE desce juros, mais uma vez. É um novo sinal de descompressão e uma nova ajuda para as famílias, mas o impacto pode ser menos do que o esperado, segundo os analistas.

2024.09.13 – Louro de Carvalho

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