sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Luís Montenegro pretende que o Português seja língua oficial da ONU

 

O primeiro-ministro (PM) de Portugal, Luís Montenegro, participou, pela primeira vez, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque – a 79.ª sessão – e, num discurso de cerca de 15 minutos, proferido em língua portuguesa, levantou várias lebres, em que tem especial destaque a pretensão de que “o Português passe a ser língua oficial da ONU”.

Com efeito, os demais quesitos foram apresentados em nome de Portugal, ao passo que este representa uma aspiração da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). 

“É com muito orgulho que falo em Português. Além de ser o quarto idioma mais falado no Mundo, a língua portuguesa é a língua oficial em 33 organizações internacionais. É legítima a aspiração desta comunidade de que o Português passe a ser língua oficial da ONU”, vincou.

Entretanto, revelou que Portugal vai candidatar-se a membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, no biénio 2027-28. “Move-nos contribuir para uma ordem mundial mais justa e inclusiva”, afirmou, recordando que Portugal integrou o Conselho de Segurança, como membro eleito não permanente, nos biénios 1979-1980, 1997-1998 e 2011-2012.

Ainda sobre o Conselho de Segurança, Luís Montenegro defendeu uma “reforma”, sugerindo que a “sua composição está desatualizada”, pois “algumas regiões não estão representadas”, por exemplo a Índia e o Brasil, que querem ser membros permanentes.

O líder do governo português também quer maior escrutínio do direito de veto – a que podem recorrer os membros permanentes: Estados Unidos da América (EUA), Federação Russa, França, Reino Unido e República Popular da China –, para que nenhuma parte do conflito seja julgador e julgado e para “que o Conselho de Segurança seja eficaz”, pois tem estado quase paralisado.

Luís Montenegro, que iniciou a sua intervenção a dizer que o incansável “António Guterres pode contar com o apoio de Portugal”, falou sobre o “momento exigente” em que vivemos, “marcado pela confluência de múltiplos desafios e crescentes tensões geopolíticas”.

Salientou que a “agressão da Rússia à Ucrânia é uma violação do direito internacional” e manifestou profunda preocupação “com a situação humanitária e [com] a escalada no Médio Oriente”. “Condenamos os ataques terroristas do Hamas e não nos conformamos com o crescimento de vítimas em Gaza. É um urgente um cessar-fogo”, afirmou, defendendo uma solução de dois Estados na Palestina. 

Enfim, Montenegro considerou que a paz deve ser o objetivo principal da ONU e apontou o dedo à comunidade internacional, que acusou de não ter sido capaz de resolver conflitos “que se prolongam por décadas”, nem de evitar novos focos de tensão. E condenou, “de forma veemente”, a agressão da Rússia à Ucrânia e lamentou os efeitos negativos desta guerra: a crise alimentar, energética e inflacionista que se alastrou pelo Mundo inteiro.

Pediu uma limitação e um maior escrutínio ao direito de veto – questão que já tinha sido levantada por Zelensky, em relação à Rússia – para evitar que “uma parte num conflito se constitua simultaneamente como juiz e julgado”. E criticou ainda o silêncio do Conselho de Segurança, em relação a esta guerra, apelando a que a ONU possa ter um papel mais ativo, agora, com a escalada do conflito no Médio Oriente, com o qual também manifestou profunda preocupação.

Disse, a este respeito, “condenar firmemente os horríveis ataques terroristas” levados a cabo pelo Hamas a 7 de outubro de 2023, exigindo, além da libertação dos reféns, que cessem todas as hostilidades, de forma que também seja possível a entrada de ajuda humanitária em Gaza.

Luís Montenegro reafirmou apoio à solução de dois Estados, que considerou ser a única que poderá “trazer paz e estabilidade à região”. “É imperativo cessar, incondicionalmente, as hostilidades, garantir a entrada de ajuda humanitária e o respeito pelo Direito Internacional Humanitário. É, igualmente, imperativo retomar negociações com vista à implementação da solução dos dois Estados – a única que poderá trazer paz e estabilidade”, disse.

No entanto, o líder do governo português manifestou esperança, recordando que, neste ano, se celebra o 50.º aniversário da liberdade em Portugal: “Temos confiança na força da liberdade, do multilateralismo e da responsabilidade coletiva.”

“Portugal é um defensor intransigente do multilateralismo, por isso apoiamos o Pacto do Futuro, que reflete uma renovada fonte de esperança nos pilares das Nações Unidas: desenvolvimento sustentável e paz”, acrescentou, apostando, ainda, na “mediação de conflitos em África” e na
vontade de “erradicar a fome e a pobreza” e de combater o aumento das “clivagens socioeconómicas” e a fragilização da proteção dos direitos humanos.

Sobre a crise climática, referiu que Portugal apoia a “gestão sustentável dos oceanos” e está “empenhado em investir em renováveis”, porque as “alterações climáticas são ameaça existencial”. “Portugal mantém-se empenhado em investir em energias renováveis e na supressão dos combustíveis de origem fóssil. Queremos incorporar 47% de renováveis no consumo final de energia até 2030”, revelou.

Parte do discurso foi ainda dedicada a apelar a um “combate sem tréguas” a todas as formas de discriminação e de ódio que “minam as sociedades”, sobretudo o desrespeito pelos direitos das mulheres e as “perseguições por motivos religiosos ou sexuais”, que têm vindo a acentuar-se.

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“Tem sido, francamente, muito favorável a Portugal o acordo de mobilidade com os países da comunidade lusófona”, afirmou Luís Montenegro. Disse que o governo tenciona “abrir mais capacidade” nos postos consulares, para as respostas aos pedidos de visto serem “mais rápidas”.

O primeiro-ministro elogiou o acordo de mobilidade na CPLP, considerando que tem sido muito favorável a Portugal, e disse esperar conseguir, também com o apoio do Brasil, que o Português se torne língua oficial da ONU.

Luís Montenegro, em Nova Iorque para participar na 79.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, assumiu estas posições em entrevista à ONU News, gravada no dia 26 de setembro.

Nesta entrevista, o chefe do governo referiu que contava “aflorar esses assuntos”, da imigração e da língua portuguesa, com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, num evento comum na sede da ONU. “Não seria má altura para nós podermos dar um passo que nunca conseguimos, mas que, creio, o presidente Lula tem carinho pela ideia, que era conseguirmos que o Português fosse também uma língua oficial das Nações Unidas”, declarou.

Interrogado sobre que balanço faz do acordo de mobilidade na CPLP, respondeu: “Tem sido, francamente, muito favorável a Portugal o acordo de mobilidade com os países da comunidade lusófona.”

“Este governo não alterou – e é bom que isto fique muito claro, de uma vez por todas, para toda a comunidade lusófona –, não alterou as regras [do acordo], e tenciona, inclusivamente, abrir mais capacidade nos nossos postos consulares, para que as respostas aos pedidos de visto sejam mais rápidas e para que a mobilidade possa ser mais célere também”, realçou.

O PM mencionou que o governo português tem tentado, com vários governos da CPLP, que haja “mecanismos de formação profissional nos países de origem”, no quadro deste acordo de mobilidade, para aumentar a “facilidade de integração no mercado de trabalho”.

Luís Montenegro fez questão de dizer que “isso também era uma estratégia que já vinha do anterior Governo, e boa”. “Nós temos já um bom exemplo em Cabo Verde, com uma escola profissional que forma pessoas na área do turismo, e que, quando chegam a Portugal, já têm um emprego garantido, já vão, digamos, com a sua perspetiva de vida adiantada. Estamos, agora, também a desenvolver isso em Angola, já falei com o presidente de Moçambique”, acrescentou.

O PM de Portugal defendeu que falar a mesma língua é uma condição “facilitadora da integração de alguém que vem do estrangeiro trabalhar para um outro país”, assim como conhecer a História e a Cultura, mas ressalvou que não quer “fechar a porta a pessoas de outras nacionalidades” não falantes de Português.

Em concreto sobre “a intensificação muito grande do fluxo migratório” do Brasil para Portugal, nos últimos anos, fez uma avaliação positiva da cooperação com as autoridades brasileiras e resumiu: “As coisas, globalmente, sinceramente, têm corrido muito bem.”

Luís Montenegro justificou as mudanças legais feitas em matéria de imigração, argumentando que “as regras estavam muito facilitadoras, de uma forma generalizada”, e que o seu executivo herdou “400 mil processos pendentes no âmbito do acolhimento de imigrantes”.

O PM disse que a sua política é “regulamentar mais para valorizar a dignidade das pessoas, para as pessoas estarem seguras”, chegarem, quando uma “oportunidade esteja disponível”, e não “de olhos fechados à procura de uma coisa que não sabem o que é e, depois, ficarem completamente abandonadas”.

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O primeiro-ministro pediu, no dia 26, ao Conselho de Segurança da ONU que seja ativo para conter a violência no Líbano e defendeu um uso restrito do direito de veto e maior responsabilização deste órgão.

Numa intervenção num debate aberto do Conselho de Segurança sobre liderança para a paz, na sede da ONU, Luís Montenegro criticou a inação deste órgão em relação a conflitos violentos. “Enquanto a guerra prossegue, com consequências terríveis, dentro e fora da Ucrânia, o Conselho de Segurança tem estado, muitas vezes, em silêncio. Em relação a Gaza, pouco diz e sempre demasiado tarde. Esperamos que, agora, na situação do Líbano, o Conselho de Segurança possa ser ativo nos esforços de contenção que evitem uma escalada de violência”, declarou.

Segundo o PM de Portugal, este órgão da ONU “encontra-se, frequentemente, paralisado”, graças ao “uso indiscriminado do direito de veto” – a que podem recorrer os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. O chefe do governo português deu eco aos “apelos à restrição do uso do veto”, no quadro mais alargado da ONU, que tem 193 países membros, e considerou que é evidente “um consenso crescente sobre a necessidade de restringir o uso do veto, no estrito respeito pela Carta [das Nações unidas]”.

Luís Montenegro salientou que “a Carta prevê, no artigo 27.º, uma abordagem de boa-fé, em que as partes em litígio devem abster-se de votar”, mas que se tem assistido “a um aumento do uso do veto, bem como a situações em que membros do Conselho se tornam parte de um conflito, sendo simultaneamente juiz e jurado”. “O direito de veto, à semelhança da assunção de um lugar à mesa do Conselho de Segurança, antes de constituir um privilégio, representa uma responsabilidade e é assim que deve ser exercido. É também necessário reforçar a responsabilização deste órgão perante a Assembleia Geral e [perante] a comunidade internacional”, explicitou.

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Para lá de aplaudir, genericamente, as opções do PM em relação à ONU, é de relevar a importância a língua portuguesa. Penso que deve ser língua oficial nos diversos areópagos internacionais em que participem países da CPLP e, obviamente na ONU. Contudo, é de exigir a todos os escalões da sociedade, mormente aos decisores políticos e ao setor académico, o culto e a promoção do Português. É execrável que rodem cursos superiores em Inglês e se obriguem alunos a fazer trabalhos académicos, fora do ensino das línguas estrangeiras, em Inglês, alegadamente por a ciência e a técnica se escreverem em Inglês, bem como institutos politécnicos, faculdades e outras escolas universitárias exporem em Inglês as suas designações identitárias.

Os Gregos diziam que o Latim não tinha capacidade para exprimir conceitos filosóficos. Contudo, os filósofos medievais e os renascentistas souberam utilizar o Latim neste campo. E os nomes científicos das espécies e dos géneros da fauna e da flora são latinos. Assim se vê a fragilidade de alguns mitos convenientes!

2024.09.27 – Louro de Carvalho

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