Durante o mês
de outubro (do dia 4 ao dia 29), bispos de vários países, padres, leigos e
religiosos reunir-se-ão, no Vaticano, para o Sínodo da Sinodalidade, que tem
por tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
A XVI
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos constitui a primeira fase do culminar
da caminhada eclesial iniciada, na cidade de Roma, em 2021 e que passou pela
etapa diocesana, pela etapa nacional e pela etapa continental; a segunda fase
ocorrerá em outubro de 2024.
Pela
primeira vez, na História da Igreja, leigos (homens e mulheres) terão direito
de voto no documento final que o sínodo deve preparar.
A novidade das
participações muda o orçamento e o investimento necessários para lançar um
evento desta magnitude. Como disse Thierry Bonaventura, chefe de comunicação do
Sínodo dos Bispos, à ACI Prensa,
agência em Espanhol do grupo ACI, “as
coisas diversificaram-se”.
O custo
total do Sínodo ainda não foi definido e a Santa Sé não comunicou um valor
oficial das despesas, cálculo difícil de estimar devido principalmente ao
número de pessoas que viajam para a capital italiana.
O
investimento do Sínodo cabe, em grande parte, à Santa Sé, encarregada de
financiar os custos da Sala Paulo VI, bem como os das refeições e os do alojamento
dos participantes de nomeação pontifícia, ou seja, os escolhidos pelo papa
Francisco. Nos Sínodos anteriores, como foi confirmado, as dioceses de cada
país foram responsáveis pelo financiamento dos bispos que enviaram a Roma,
bem como as respetivas associações foram responsáveis por cobrir as despesas
dos seus representantes. E assim continuará a ser, em princípio. Os leigos, por
sua vez, assumem os seus próprios custos. Porém, além de pagar para os
escolhidos pelo papa Francisco, a Santa Sé oferece ajuda a quem tem
dificuldades financeiras e não consegue cobrir tudo o que significa viver quase
um mês numa das cidades mais visitadas do mundo.
Thierry
Bonaventura recordou que a Santa Sé segue o princípio da “subsidiariedade” e
disse que “quem pode, pode, e se não, nós ajudamos”. É o caso da Argentina,
onde, segundo a Conferência Episcopal Argentina (CEA), os bispos participantes
costumam receber passagens aéreas da Secretaria-Geral do Sínodo. Porém, os
bispos brasileiros escolhidos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
para o sínodo terão os seus custos pagos pelas próprias dioceses.
O Conselho
Episcopal Latino-americano e Caribenho revelou que a etapa continental do
sínodo, em quatro assembleias, foi custeada pelas Conferências Episcopais de El
Salvador, do Equador, da República Dominicana e do Brasil. Cada participante
pagou a sua passagem. Agências que apoiam as missões na América Latina
colaboraram. Parte dos custos operacionais foi paga pela própria Secretaria-Geral
do Sínodo os Bispos.
Fontes da
Conferência do Episcopado Mexicano (CEM) disseram que, nas edições anteriores
da Assembleia Sinodal, era a Secretaria-Geral do Sínodo a encarregada de
financiar os bispos convidados pela Santa Sé, bem como o alojamento dos bispos,
na Casa Santa Marta, no Vaticano, ou em outro local. No caso dos bispos escolhidos
pelo Episcopado, foi a própria CEM que cobriu as despesas e os hospedou no
Colégio Mexicano de Roma.
A assessoria
de Comunicação da arquidiocese primaz do México revelou que cada diocese
convidada para o Sínodo é um caso diferente e que, no caso do seu arcebispo, o
cardeal Carlos Aguiar Retes, convidado diretamente pelo Papa, “o voo foi pago
pela arquidiocese do México e as despesas de hospedagem foram custeadas pela
Secretaria-Geral do Sínodo”.
A
Conferência Episcopal Peruana informou que, geralmente, a Santa Sé “cobre tudo:
viagens, estadia, alimentação, etc., porque é um evento da Igreja Católica que
dura quase um mês”.
A
Conferência Episcopal Espanhola (CEE) sustenta que a própria CEE “paga a viagem
dos três bispos espanhóis designados pela Assembleia Plenária e a sua estadia
em Roma”. Também é responsável pelo pagamento da “sua estadia no Colégio
Espanhol”, em Roma. E, no caso dos bispos portugueses, é a Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP) que se encarrega das despesas e os aloja no Colégio Português,
em Roma.
***
Efetivamente,
as coisas mudaram. A
7 de julho, foi apresentada, na Sala de Imprensa da Santa Sé, a lista dos nomes
que compõem a Assembleia Geral que se realizará no Vaticano em outubro. São 363
membros com direito a voto. As mulheres são 85, das quais 54 com direito a
voto: duas delas entre as presidentes delegadas. O número de delegados fraternos
sobe para 12. “Procuramos uma representação de todo o povo de Deus”. Foi o que
garantiu o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, que participou na
apresentação da lista dos participantes. Ao seu lado, estavam os subsecretários
Irmã Nathalie Becquart e monsenhor Luis Marín de San Martín, e um dos dois
secretários especiais da assembleia, o padre Riccardo Battocchio, reitor do
Almo Collegio Capranica, presidente da associação teológica italiana.
O critério que guiou a formulação da
lista, explicou o cardeal Grech, foi garantir a variedade em termos de
carismas, vocações, experiências eclesiais, idade, país de origem. Os membros, com
direito a voto, são no total 363: os representantes das várias Conferências
Episcopais do Mundo (África, 43; América, 47; Ásia, 25; Europa, 48; e Oceânia,
5) e os delegados da Igrejas Orientais Católicas (20), bem como os 50 membros
por nomeação pontifícia.
De
uma lista de 140 pessoas proposta pelos organismos continentais, o Papa
escolheu 70 fiéis não bispos (incluindo cinco consagrados e cinco consagrados),
selecionados sobretudo em virtude da participação em várias funções do processo
sinodal, metade homens e metade mulheres.
“A ‘representação’
é uma qualidade densa – declarou o padre Giuseppe Bonfrate, ordinário de
Dogmática na Gregoriana, um dos presidentes delegados – que não poderia ser
compreendida sem se sentir parte daquela efervescência do Espírito Santo que,
em união com Cristo e com todo o género humano, é a sacramentalidade, à qual o
Concílio Vaticano II associa a Igreja”.
“No Sínodo para a Amazónia – recorda
Irmã Becquart – as mulheres eram 10% da assembleia, desta vez são muito mais”. O
número de mulheres presentes na assembleia é de 85 (incluindo as mulheres da
Secretaria-Geral), das quais 54 têm direito a voto. Uma novidade é a
presença de duas mulheres entre os presidentes delegados, ou seja, os que
presidem a Assembleia do Sínodo em nome e por autoridade do Pontífice, quando
este não está presente. María de los Dolores Palencia Gómez, 74 anos, mexicana,
da Comunidade de Vida Cristã, está na Congregação das Irmãs de São José de
Lyon. O seu ministério focou-se na educação, pastoral das periferias, nas comunidades
eclesiais de base, na pastoral indígena, nas migrações. “No meu caminhar com os
migrantes – vincou – aprendi muito com eles, o impulso de um sonho que gera
liberdade, alegria, capacidade de risco, solidariedade recíproca e resiliência”.
Depois tem a Irmã Momoko Nishimura, Missionária das Servas do Evangelho da
Misericórdia de Deus, que traduziu para o Japonês a Encíclica Fratelli
tutti e fez parte da equipa de discernimento e de redação da
Assembleia Sinodal Continental Asiática em Bangkok, Tailândia.
Serão 12 delegados fraternos a
representar outras Igrejas e comunidades eclesiais. No passado eram oito.
Também esta é novidade a relevar a dimensão ecuménica que queremos dar ao evento.
Os nomes ainda não foram divulgados, mas os organizadores garantiam que a lista
referente a eles seria divulgada dentro de alguns dias. Há também os convidados
especiais (8), que participam na Assembleia, mas não das decisões. Entre estes,
destaca-se Luca Casarini, líder no-global,
de “Mediterranea Saving Humans”.
E, novamente, surgem os peritos e os facilitadores: os primeiros participam
como convidados, mas não são membros do Sínodo, cooperam com os secretários em
virtude das suas competências específicas; os segundos facilitam o intercâmbio
nos chamados círculos menores.
Também foi selecionado um
representante do “Sínodo Digital”, acrescentou o cardeal Grech, que disse ter
pedido ao Dicastério para os Leigos e Família que propusesse o envolvimento de
algumas pessoas com deficiência, mais uma prova da intenção de inclusão máxima.
Os
jornalistas presentes no briefing levantaram questões sobre a eventualidade de
que – tendo em conta o que podia ser considerado uma caraterização leiga do
Sínodo – a denominação do evento pudesse ser modificada. O cardeal Grech
respondeu, esclarecendo qualquer mal-entendido a esse respeito: “O Sínodo dos
Bispos permanecerá como tal na redação. Os bispos têm um ministério fundador,
são o guia do povo de Deus a eles confiado.” E assinala que os encontros
continentais eram também assembleias eclesiais nas quais puderam ser expressas
as diversas solicitações do povo de Deus. “O caráter episcopal do Sínodo deve
ser salvaguardado, não pode ser transformado em algo diferente”, afirmou.
A vincar este aspeto, falou aos microfones
da Rádio Vaticano o teólogo padre Riccardo Battocchio que, aliás, diz ver-se envolvido num momento “emocionante”
para a vida da Igreja. “Na Igreja existem diversos processos sinodais e
diversas estruturas sinodais – explicitou – que podem ser genericamente
definidos como sinodais. Esta é a Assembleia do Sínodo dos Bispos. É um
momento, não o único, em que os bispos expressam a sua responsabilidade. É
certo que a Assembleia Sinodal não esgota a sinodalidade da Igreja”.
“A teologia não vive de si mesma, mas
vive da fé do povo de Deus que nasce do livre, pleno e consciente acolhimento
do Evangelho, tal como é vivido pela tradição da Igreja e assim como é tutelado
também pelas intervenções do magistério, pela fé de todos. A teologia tem a
tarefa de ajudar a proteger a fé de todos, tentando responder às questões que
surgem do presente, articular uma linguagem que permita, não tanto a
comunicação publicitária, mas aquela interlocução com o pensamento, com a vida
das pessoas que habitam este mundo e este tempo, para que, na mudança, haja
uma vínculo com a origem que olha sempre para o futuro. Se houver ‘abalos’
o importante será enfrentá-los juntos, para que sejam um momento de vida e não
de morte”, disse.
A atenção aos jovens foi preocupação
marcante, desde o início, dos organizadores, que previram a participação de um
casal de jovens por continente.
De Itália destacam-se, entre outras
especialistas, Erica Tossani, da Caritas Ambrosiana.
Entretanto, vem de Moçambique a Secretária da Comissão para a Informação do
Sínodo, Sheila Leocadia Pires, jornalista, da equipa de coordenação das
comemorações do Jubileu de Ouro do Comité Episcopal Pan-Africano para a
Comunicação Social, que trabalhará ao lado do prefeito Paolo Ruffini, do
Dicastério para a Comunicação. “Não tenho a certeza se sou a primeira mulher a
ser nomeada para uma posição do género, mas certamente, como uma mulher
africana de Moçambique que vive e serve a Igreja na África do Sul, acho que o
Papa Francisco está a dar um bom sinal a todas as mulheres do Sul Global, especialmente
na África”, afirmou.
***
Entretanto, a 21 de setembro, foram divulgados
os nomes dos novos participantes do Sínodo, entre os quais o arcebispo de
Brasília e dois bispos da China. A assembleia será composta por 365 membros (não
363), incluindo o Papa.
Segundo
Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, esta não é a primeira
vez que bispos chineses viajam a Roma para participar numa Assembleia dos
bispos, como sucedeu, em 2018, no Sínodo dos Jovens. Contudo, então só
participaram em algumas sessões. Desta vez, Dom Antonio Yao Shun e Dom Joseph
Yang estarão presentes em todas as reuniões.
Para
Ruffini, a incorporação destes bispos demonstra “a importância do povo chinês”
e a sua presença é muito significativa para a Igreja. E Dom Luis Marín de San
Martín, subsecretário do Sínodo, disse que isto representa “a riqueza da
universalidade” da Igreja e que “todos os bispos estão incluídos nesta
dinâmica”. Não são os únicos nomes pertencentes a este país asiático. Na lista
inicial já constavam Dom Stephen Sau-Yan Chow, bispo de Hong Kong, China, e do
padre Andrea Ding Yang, da diocese de Chongqing, China Continental.
Também
participarão o cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília (DF), e Dom
Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida. Por sua vez, o
cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer solicitou, por razões desconhecidas, que o
Papa retirasse o seu nome.
***
Com vicissitudes
e com as despesas repartidas, solidária e subsidiariamente, o Sínodo avança.
2023.09.26 – Louro de Carvalho
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