Decorreu, nos dias 12 e 13, sob a presidência de Dom João Lavrador, bispo
de Viana do Castelo e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens
Culturais e Comunicações Sociais, a Peregrinação Internacional Aniversária de
julho ao Santuário de Fátima, comemorativa da Terceira Aparição de Nossa
Senhora aos pastorinhos.
Fizeram-se
anunciar, nesta peregrinação, 27 grupos organizados do Vietname, Espanha,
Polónia, Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos da América, França, Itália,
Alemanha, Costa do Marfim, Brasil, Croácia, Hungria e Portugal.
Na
celebração da noite do dia 12, o prelado vianense convidou os peregrinos a
rezar, em especial, por todas as vítimas, por todos os bombeiros e por todos
quantos combatem os incêndios. E não esqueceu “o desespero do tempo presente
que atinge as pessoas e tem o seu auge na guerra infame que todos estamos a
sofrer, mas sobretudo os nossos irmãos Ucranianos”, e que “não se restringe a
ela porque está presente nas famílias, nas sociedades e na cultura de morte”, teimosamente
a imperar, “suportada pelas iniciativas contra a vida e contra a dignidade
humana, por ideologias dominadoras que de todos os meios se servem para calar
as vozes que clamam pela verdade, pela justiça, pela fraternidade autêntica e
pelo bem”.
Lembrando que
o peregrino não traz consigo apenas as suas “dores e anseios, mas sim um mundo
de sofrimento que nos rodeia e, mais ainda, nos atinge”, Dom João Lavrador
frisou que nos dirigimos a Nossa Senhora, “que invocamos como Saúde dos enfermos para pedir a sua
intercessão, não só para as pessoas e grupos, povos ou nações, mas para o mundo
que está doente”.
Observou que
a liturgia daquele dia apresenta “a experiência do sofrimento, da dor, da
perplexidade e da angústia”, para vincar que a comunhão com Deus impele cada um
a deslocar-se “ao encontro dos irmãos para lhes oferecer, por palavras e por
gestos, a renovação que Deus quer operar no mundo”. Na verdade, no dizer do
prelado do Alto Minho, “a fé é encontro de cada um com a pessoa de Jesus
Cristo, estimula à participação ativa numa comunidade cristã, provoca o diálogo
com o mundo, escutando o clamor dos pobres e dos que sofrem e atuando
concretamente na promoção da dignidade humana e do bem comum”. Por isso, “como
fizeram os pastorinhos neste mesmo local”, com o olhar em Nossa Senhora, temos de
aprender “o gesto salvífico que nos impele a deixarmo-nos conduzir pelo
Espírito de Deus para levarmos, em gestos concretos, a esperança que o mundo de
hoje anseia e que o sofrimento de muita gente parece contrariar”.
A “longa
história de atrocidades e de flagelos” deveria levar-nos, na ótica do bispo, a
reconhecer que as sendas que a humanidade tem trilhado, fruto de uma cultura de
morte, afastada de Deus e da comunhão com o outro como irmão, conduziram ao
sofrimento e ao desespero”.
A Vigília
continuou pela noite fora, animada pelos jovens e comités organizadores da Jornada
Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, terminando com a Procissão Eucarística
às 7 horas. Às 9 horas, rezou-se o Terço do Rosário e, às 10 horas, celebrou-se
a Missa com a palavra ao doente.
***
Dom João
Lavrador, alertando
para a abundância de sentimentos de hostilidade, desprezo, desconfiança, ódios
raciais e preconceitos ideológicos que dividem os homens, vincou, na sua
homilia do dia 13, a “particular responsabilidade” dos cristãos na construção
da paz e afirmou que a paz continua a ser um dos problemas “mais urgentes da
cultura dos nossos tempos”, seja do ponto de vista do relacionamento entre
países, seja entre os homens. Com efeito, até parece que nada mudou, de há um
século até hoje, visto que “a humanidade continua a viver numa ameaça
permanente de guerra, de conflito, de violência e de destruição”, quando, na
ênfase que o prelado vianense dá às palavras, a Paz, de que todo o mundo carece,
“continua como um dos problemas mais urgentes na cultura dos nossos tempos”,
face às “dores e angústias” derivadas da guerra ou da sua ameaça, “das
hostilidades, do desprezo e desconfiança, dos ódios raciais e dos preconceitos
ideológicos” que dividem os homens e os opõem uns aos outros.
Por isso, ante
milhares de peregrinos, que participaram nesta peregrinação, apesar do calor, o
presidente da peregrinação vincou a “responsabilidade particular” dos cristãos
de serem “arautos e construtores da paz” numa sociedade em que “o requinte das
possibilidades de destruição a que nos levou a tecnologia bélica coloca a
humanidade perante a possibilidade da sua autodestruição”. E aduziu que, se “todos
somos chamados a edificar a paz” e se a paz exige a participação de todos os
homens, os cristãos têm uma responsabilidade particular”, enquanto seres especialmente
vocacionados para a edificação da paz, a paz que Jesus nos dá, a paz que Jesus
nos deixou. Dito de outro modo, “se nos preocupa a paz a nível mundial, não é
menos importante reconhecermos e atuarmos nos contextos de vida onde se move a
nossa existência, na família, nos vizinhos, nas associações, nas empresas, nas
escolas e universidades, na participação politica e cívica”, de modo que paz
seja acolhida como “ um dom”, assumida como “uma tarefa” e tomada como estilo.
A partir da
narrativa das Aparições, mormente da que ocorreu em julho, Dom João Lavrador,
evocando as palavras de Nossa Senhora aos três videntes, quando apelou à
conversão, à oração e ao sacrifício para se alcançar a paz, explanou:
“É um forte
apelo que terá de ressoar hoje como apelo à conversão do coração de cada
pessoa, de cada comunidade, sociedade, povo e nação; à conversão da mente e da
vontade de quem tem o dever de orientar os povos pelas sendas da paz”.
E, à luz da
mensagem fatimita, o presidente da
Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, defendeu
que “todos nós temos de reformar o nosso coração, com os olhos postos no
mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso
da humanidade”. Por isso, disse implorar “de Nossa Senhora do Rosário de Fátima
que abençoe todos os povos fustigados pela guerra, nomeadamente o povo irmão da
Ucrânia, e nos desperte para sermos missionários da esperança e da alegria”.
Efetivamente,
durante a celebração, especialmente na Oração Universal, foram feitas várias
referências à guerra que grassa na Europa, opondo a Rússia à Ucrânia e afetando
globalmente o mundo inteiro, tal como foi referida a situação de fogos
que atravessam o país e o mundo.
Assim, no atinente
aos fogos florestais, rezou-se explicitamente “pelas vítimas dos incêndios que
assolam o nosso país e outras regiões do mundo e por todos os que estão
empenhados em os combater: os bombeiros, a Proteção Civil e os voluntários... –
para que sintam o apoio da nossa solidariedade e da nossa oração e todos em
conjunto possamos agir de modo responsável na prevenção dos fogos, Oremos”.
Grupo especialmente contemplado nas peregrinações aniversárias
é o dos doentes. E, desta vez, foram instados a experimentar
a proximidade, ternura e compaixão através da “simplicidade do silêncio”. Efetivamente,
no momento de
adoração Eucarística, a isso os exortou o padre Daniel Mendes, capelão do
Santuário de Fátima e assistente nacional do Movimento da Mensagem de Fátima,
que explanou, dirigindo-se ao doente e à doente, “tu a tu”:
“Neste momento de sofrimento e de
dor, que Jesus Se faça presente, se aproxime de ti, para te consolar e animar e
te diga: vinde a Mim, todos os que andais cansados e abatidos e Eu vos
aliviarei (..) Hoje, aqui e agora e sobretudo nos momentos de desesperança, não
hesites nem temas em Lhe estender a mão, porque também a ti Jesus não cessa de
dizer: levanta-te e anda!”
O sacerdote
convidou ao amparo mútuo no sofrimento, que é sinal da misericórdia de Deus:
“Querido
irmão e irmã, a proximidade e presença amorosa de Jesus e a humildade de te
deixares tocar por Ele são a expressão mais bela da ternura e compaixão de
Deus, que veio para os doentes e pecadores. Jesus, que ofereceu Maria como
nossa Mãe, saúde dos enfermos, ensina-te hoje, como aos Pastorinhos, a redescobrir
a força das palavras: Ó Jesus, é por
vosso amor!”
Como
conclusão da peregrinação, Dom José Ornelas Carvalho, bispo de Leiria-Fátima,
convidou os peregrinos a consagrarem-se, em silêncio, a Maria, “assumindo a
vontade de tornar realidade a Palavra e o projeto de Deus no mundo”.
Começou por
saudar o presidente da celebração, a quem agradeceu a presença e reflexão sobre
a Palavra de Deus que deixou, por estes dias, na Cova da Iria, e agradeceu a
presença do bispo de Bérgamo, Itália, também presente em Fátima.
Dirigiu-se,
depois, aos peregrinos portugueses e estrangeiros, a quem desafiou a “tomar em
mãos todas as preocupações, alegrias e projetos que ali trouxeram, em particular
pela pandemia, pela guerra e pelos incêndios, confiando-os ao carinho de Maria
e à proteção e Palavra de Deus escutada” e sublinhando a importância da oração
nesta atitude devocional. E, recordando que “rezar significa olhar todas estas
realidades com os olhos de Deus, pedindo a Sua proteção, a Sua força e o Seu
Amor”, tomou a Virgem de Fátima como “modelo para se construir uma Igreja
melhor, sinodal e em que todos participam, como Ela, para transformar este
mundo e ir ao encontro daqueles que mais precisam”.
Enfim, no
dizer do prelado do Lis, somos desafiados a olhar o mundo através dos olhos de Deus.
2022.07.14
– Louro de Carvalho
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