quinta-feira, 14 de julho de 2022

Peregrinos de Fátima desafiados a olhar o mundo pelos olhos de Deus

 

Decorreu, nos dias 12 e 13, sob a presidência de Dom João Lavrador, bispo de Viana do Castelo e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, a Peregrinação Internacional Aniversária de julho ao Santuário de Fátima, comemorativa da Terceira Aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos.

Fizeram-se anunciar, nesta peregrinação, 27 grupos organizados do Vietname, Espanha, Polónia, Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos da América, França, Itália, Alemanha, Costa do Marfim, Brasil, Croácia, Hungria e Portugal.

Na celebração da noite do dia 12, o prelado vianense convidou os peregrinos a rezar, em especial, por todas as vítimas, por todos os bombeiros e por todos quantos combatem os incêndios. E não esqueceu “o desespero do tempo presente que atinge as pessoas e tem o seu auge na guerra infame que todos estamos a sofrer, mas sobretudo os nossos irmãos Ucranianos”, e que “não se restringe a ela porque está presente nas famílias, nas sociedades e na cultura de morte”, teimosamente a imperar, “suportada pelas iniciativas contra a vida e contra a dignidade humana, por ideologias dominadoras que de todos os meios se servem para calar as vozes que clamam pela verdade, pela justiça, pela fraternidade autêntica e pelo bem”.

Lembrando que o peregrino não traz consigo apenas as suas “dores e anseios, mas sim um mundo de sofrimento que nos rodeia e, mais ainda, nos atinge”, Dom João Lavrador frisou que nos dirigimos a Nossa Senhora, “que invocamos como Saúde dos enfermos para pedir a sua intercessão, não só para as pessoas e grupos, povos ou nações, mas para o mundo que está doente”.

Observou que a liturgia daquele dia apresenta “a experiência do sofrimento, da dor, da perplexidade e da angústia”, para vincar que a comunhão com Deus impele cada um a deslocar-se “ao encontro dos irmãos para lhes oferecer, por palavras e por gestos, a renovação que Deus quer operar no mundo”. Na verdade, no dizer do prelado do Alto Minho, “a fé é encontro de cada um com a pessoa de Jesus Cristo, estimula à participação ativa numa comunidade cristã, provoca o diálogo com o mundo, escutando o clamor dos pobres e dos que sofrem e atuando concretamente na promoção da dignidade humana e do bem comum”. Por isso, “como fizeram os pastorinhos neste mesmo local”, com o olhar em Nossa Senhora, temos de aprender “o gesto salvífico que nos impele a deixarmo-nos conduzir pelo Espírito de Deus para levarmos, em gestos concretos, a esperança que o mundo de hoje anseia e que o sofrimento de muita gente parece contrariar”.

A “longa história de atrocidades e de flagelos” deveria levar-nos, na ótica do bispo, a reconhecer que as sendas que a humanidade tem trilhado, fruto de uma cultura de morte, afastada de Deus e da comunhão com o outro como irmão, conduziram ao sofrimento e ao desespero”.

A Vigília continuou pela noite fora, animada pelos jovens e comités organizadores da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, terminando com a Procissão Eucarística às 7 horas.  Às 9 horas, rezou-se o Terço do Rosário e, às 10 horas, celebrou-se a Missa com a palavra ao doente.

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Dom João Lavrador, alertando para a abundância de sentimentos de hostilidade, desprezo, desconfiança, ódios raciais e preconceitos ideológicos que dividem os homens, vincou, na sua homilia do dia 13, a “particular responsabilidade” dos cristãos na construção da paz e afirmou que a paz continua a ser um dos problemas “mais urgentes da cultura dos nossos tempos”, seja do ponto de vista do relacionamento entre países, seja entre os homens. Com efeito, até parece que nada mudou, de há um século até hoje, visto que “a humanidade continua a viver numa ameaça permanente de guerra, de conflito, de violência e de destruição”, quando, na ênfase que o prelado vianense dá às palavras, a Paz, de que todo o mundo carece, “continua como um dos problemas mais urgentes na cultura dos nossos tempos”, face às “dores e angústias” derivadas da guerra ou da sua ameaça, “das hostilidades, do desprezo e desconfiança, dos ódios raciais e dos preconceitos ideológicos” que dividem os homens e os opõem uns aos outros.

Por isso, ante milhares de peregrinos, que participaram nesta peregrinação, apesar do calor, o presidente da peregrinação vincou a “responsabilidade particular” dos cristãos de serem “arautos e construtores da paz” numa sociedade em que “o requinte das possibilidades de destruição a que nos levou a tecnologia bélica coloca a humanidade perante a possibilidade da sua autodestruição”. E aduziu que, se “todos somos chamados a edificar a paz” e se a paz exige a participação de todos os homens, os cristãos têm uma responsabilidade particular”, enquanto seres especialmente vocacionados para a edificação da paz, a paz que Jesus nos dá, a paz que Jesus nos deixou. Dito de outro modo, “se nos preocupa a paz a nível mundial, não é menos importante reconhecermos e atuarmos nos contextos de vida onde se move a nossa existência, na família, nos vizinhos, nas associações, nas empresas, nas escolas e universidades, na participação politica e cívica”, de modo que paz seja acolhida como “ um dom”, assumida como “uma tarefa” e tomada como estilo.

A partir da narrativa das Aparições, mormente da que ocorreu em julho, Dom João Lavrador, evocando as palavras de Nossa Senhora aos três videntes, quando apelou à conversão, à oração e ao sacrifício para se alcançar a paz, explanou:

“É um forte apelo que terá de ressoar hoje como apelo à conversão do coração de cada pessoa, de cada comunidade, sociedade, povo e nação; à conversão da mente e da vontade de quem tem o dever de orientar os povos pelas sendas da paz”.

E, à luz da mensagem fatimita, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, defendeu que “todos nós temos de reformar o nosso coração, com os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade”. Por isso, disse implorar “de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que abençoe todos os povos fustigados pela guerra, nomeadamente o povo irmão da Ucrânia, e nos desperte para sermos missionários da esperança e da alegria”.

Efetivamente, durante a celebração, especialmente na Oração Universal, foram feitas várias referências à guerra que grassa na Europa, opondo a Rússia à Ucrânia e afetando globalmente o mundo inteiro,  tal como foi referida a situação de fogos que atravessam o país e o mundo.

Assim, no atinente aos fogos florestais, rezou-se explicitamente “pelas vítimas dos incêndios que assolam o nosso país e outras regiões do mundo e por todos os que estão empenhados em os combater: os bombeiros, a Proteção Civil e os voluntários... – para que sintam o apoio da nossa solidariedade e da nossa oração e todos em conjunto possamos agir de modo responsável na prevenção dos fogos, Oremos”.

Grupo especialmente contemplado nas peregrinações aniversárias é o dos doentes. E, desta vez, foram instados a experimentar a proximidade, ternura e compaixão através da “simplicidade do silêncio”. Efetivamente, no momento de adoração Eucarística, a isso os exortou o padre Daniel Mendes, capelão do Santuário de Fátima e assistente nacional do Movimento da Mensagem de Fátima, que explanou, dirigindo-se ao doente e à doente, “tu a tu”:

“Neste momento de sofrimento e de dor, que Jesus Se faça presente, se aproxime de ti, para te consolar e animar e te diga: vinde a Mim, todos os que andais cansados e abatidos e Eu vos aliviarei (..) Hoje, aqui e agora e sobretudo nos momentos de desesperança, não hesites nem temas em Lhe estender a mão, porque também a ti Jesus não cessa de dizer: levanta-te e anda!

O sacerdote convidou ao amparo mútuo no sofrimento, que é sinal da misericórdia de Deus:

“Querido irmão e irmã, a proximidade e presença amorosa de Jesus e a humildade de te deixares tocar por Ele são a expressão mais bela da ternura e compaixão de Deus, que veio para os doentes e pecadores. Jesus, que ofereceu Maria como nossa Mãe, saúde dos enfermos, ensina-te hoje, como aos Pastorinhos, a redescobrir a força das palavras: Ó Jesus, é por vosso amor!

Como conclusão da peregrinação, Dom José Ornelas Carvalho, bispo de Leiria-Fátima, convidou os peregrinos a consagrarem-se, em silêncio, a Maria, “assumindo a vontade de tornar realidade a Palavra e o projeto de Deus no mundo”.

Começou por saudar o presidente da celebração, a quem agradeceu a presença e reflexão sobre a Palavra de Deus que deixou, por estes dias, na Cova da Iria, e agradeceu a presença do bispo de Bérgamo, Itália, também presente em Fátima.

Dirigiu-se, depois, aos peregrinos portugueses e estrangeiros, a quem desafiou a “tomar em mãos todas as preocupações, alegrias e projetos que ali trouxeram, em particular pela pandemia, pela guerra e pelos incêndios, confiando-os ao carinho de Maria e à proteção e Palavra de Deus escutada” e sublinhando a importância da oração nesta atitude devocional. E, recordando que “rezar significa olhar todas estas realidades com os olhos de Deus, pedindo a Sua proteção, a Sua força e o Seu Amor”, tomou a Virgem de Fátima como “modelo para se construir uma Igreja melhor, sinodal e em que todos participam, como Ela, para transformar este mundo e ir ao encontro daqueles que mais precisam”.

Enfim, no dizer do prelado do Lis, somos desafiados a olhar o mundo através dos olhos de Deus.

2022.07.14 – Louro de Carvalho

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