A 12 de julho, o Instituto Nacional de
Estatística (INE) confirmou que a variação homóloga do Índice de Preços no
Consumidor (IPC) foi de 8,7% em junho, acima dos 8,0% do mês anterior e o valor
mais alto desde dezembro de 1992 – valores que avançara na estimativa de 30 de
junho.
Também
o indicador de inflação subjacente (índice total excluindo produtos alimentares
não transformados e energéticos) acelerou, registando a variação homóloga de
6,0%, taxa superior em 0,4% à de maio de 2022 e “o valor mais elevado registado
desde junho de 1994”. A variação do índice relativo aos produtos energéticos
aumentou para 31,7%, face aos 27,3% do mês precedente, sendo o “valor mais elevado
desde agosto de 1984”. E o índice referente aos produtos alimentares não
transformados apresentou a variação de 11,9%, face aos 11,6% de maio.
Por
classes de despesa e face ao mês precedente, destacam-se os aumentos das taxas
de variação homóloga das classes dos “transportes” e dos “restaurantes e hotéis”,
com variações de 14,3% e 14,2%, respetivamente (10,8% e 10,9% no mês anterior).
Em sentido oposto, a “saúde” e o “vestuário e calçado” tiveram uma diminuição
da taxa de variação homóloga para -3,6% e -0,5% respetivamente (1,4% e 0,0% no
mês anterior).
Em
junho, nas classes com maiores contribuições positivas para a variação homóloga
do IPC, destacam-se os “bens alimentares e bebidas não alcoólicas”, os “transportes”
e a “habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis”. E, nas classes
com contribuições negativas, salienta-se a “saúde”, pelo alargamento dos
critérios de isenção de taxas moderadoras no SNS.
Comparando
com o mês anterior, sobressai o aumento das contribuições para a variação homóloga
do IPC das classes dos “transportes” e dos “restaurantes e hotéis”. Em sentido
inverso, sobressai a redução da contribuição da classe da “saúde”.
Em
junho, o IPC registou uma variação mensal de 0,8% (1,0% no mês precedente e
0,2% em junho de 2021), enquanto a variação média dos últimos 12 meses foi de
4,1% (3,4% em maio). E o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC)
apresentou a variação homóloga de 9,0%, sendo este “o quarto mês consecutivo em
que é ultrapassado o valor mais elevado registado em Portugal desde o início da
série do IHPC, em 1996”. Esta taxa é superior em 0,9% à do mês anterior e superior
em 0,4% ao valor estimado pelo Eurostat para a área do Euro (em maio, tinha
sido nula esta diferença).
Excluindo
produtos alimentares não transformados e energéticos, o IHPC atingiu uma
variação homóloga de 6,6% em junho (5,8% em maio), superior à taxa
correspondente para a área do Euro, estimada em 4,6%, “mantendo o perfil
marcadamente ascendente verificado nos últimos meses”.
O
IHPC registou uma variação mensal de 1,1% (1,0% no mês anterior e 0,2% em junho
de 2021) e uma variação média dos últimos 12 meses de 4,1% (3,3% no mês
precedente).
Cerca de 40% dos portugueses (percentagem correspondente a quase 373 mil
contratos de arrendamento) pagam uma renda mensal que varia entre 200 a 399,99
euros, pelo que terão de gastar, em janeiro, mais 10 a 20 euros por mês com a
casa. E mais de 20% dos inquilinos (a segunda maior fatia populacional)
encontra-se no escalão seguinte, a pagar rendas de 400 a 649,99 euros, pelo
que, a confirmar-se o aumento de 5% relevante para o cálculo, no início do
próximo ano, terão de pagar mais 20 a 32,50 euros por mês.
Face à iminência destes aumentos, as associações dos
inquilinos pedem ao Governo que adote solução semelhante à anunciada em
Espanha: colocar um travão de 2% na subida das rendas, independentemente do
valor da inflação deste ano.
***
Por seu turno, a Comissão Europeia (CE) anteviu, a 14 de julho, no âmbito das previsões
macroeconómicas de verão, uma inflação a bater “máximos históricos”, neste ano,
de 7,6% na Zona Euro e de 8,3% na União Europeia (UE) – uma nova revisão em
alta, “puxada” pelos preços da energia e dos alimentos, mas devendo abrandar em
2023 para 4% e 4,6%, respetivamente.
Nas suas
previsões da primavera, publicadas em maio, o executivo comunitário já tinha
projetado uma revisão considerável em alta da taxa de inflação na Zona Euro, neste
ano, para 6,1%, impulsionada pelos preços energéticos e alimentares, com pico
no segundo trimestre e descida em 2023.
Nos dados agora anunciados, Bruxelas
recorda que “a inflação global, até junho, atingiu máximos recordes à medida
que os preços da energia e dos alimentos continuaram a crescer e as pressões
sobre os preços se alargaram aos serviços e outros bens”, o que levou a nova
revisão em alta face à projeção da primavera.
***
Não obstante, a alta dos preços imobiliários e a subida
das taxas de juro – quer as taxas diretoras do Banco Central Europeu (BCE),
quer as da Euribor – não travaram a compra de casa, com as vendas de
imobiliário a bater sucessivos recordes. De facto, os bancos estão cada vez
mais disponíveis para conceder crédito, e a concorrência é grande. Para captar
clientes, têm recorrido a diferentes estratégias que passam desde a devolução
de parte do valor dos empréstimos até condições mais vantajosas no caso de imóveis
mais amigos do ambiente. Contudo, a principal arma é a redução de spread, componente da taxa de juro que
consiste na margem de lucro das instituições financeiras, situação que promove
a concorrência entre bancos e resulta em propostas mais apelativas para o
potencial comprador, mas que, em caso de redução excessiva, pode ferir a
sustentabilidade da banca.
Em 2021, a banca concedeu 14,7 mil milhões de euros às
famílias, fechando um total de 116,6 mil contratos – crescimento de 36,5% e
28,7%, respetivamente (o maior desde 2017). E a tendência continua. Só nos
primeiros cincos meses foram feitos empréstimos de 7 mil milhões de euros, um incremento
de quase 20% face ao período homólogo anterior. Isto, apesar do travão do Banco
de Portugal (BdP) para prevenir que se repitam os excessos que levaram a crise
passadas. Com efeito, desde abril, vigoram novas regras para limitar os prazos
máximos de pagamento dos contratos consoante a idade dos titulares, medida que
se juntou a outras limitações relacionadas com o montante do empréstimo e valor
do imóvel e também às taxas de esforço.
O spread médio
cobrado pela banca nas novas transações, ao longo de 2021, situou-se nos 1,14%,
valor ligeiramente inferior ao de 2020 (1,19%), e que segue em linha
descendente desde 2015, quando a média se situou em 2,31%. E, olhando para os
dados por banco, cedidos pelo portal “ComparaJá”, verifica-se que, neste
ano, a tendência continua a ser de queda, havendo até algumas entidades com a
média de spread abaixo de 1%, como é
o caso do Abanca e do BPI. Mas os valores cobrados pelos restantes principais
bancos a operar em Portugal não estão muito distantes.
O diretor de crédito à habitação do portal refere que o spread é uma das nuances mais importantes
e mais faladas na contratação de crédito à habitação, apesar de a Taxa Anual de
Encargos Efetiva Global (TAEG) – que mede o custo do empréstimo para o cliente,
por ano, em percentagem do montante emprestado – “ser uma taxa mais conclusiva
e indicativa da qualidade da proposta em si. Por outro lado, embora os bancos
queiram apresentar a melhor taxa possível para atraírem o máximo de clientes,
quanto maior essa taxa for, maior será a margem de lucro. Porém, é verdade que há clara concorrência entre bancos no atinente ao spread, do que são testemunho as
constantes ações de publicidade bancárias.
A estratégia de baixar spreads face à pressão concorrencial atrai clientes, mas pode ter
um reverso da medalha, numa altura de incerteza económica por causa da alta
inflação e da crise energética causada pela guerra na Ucrânia e sobre a
dimensão da subida das taxas de juro por parte do BCE.
E dentro do próprio setor há quem tema esta estratégia
agressiva. Assim, o Novo Banco (NB) entende que a redução excessiva de spreads no crédito à habitação prejudica
“a rentabilidade do setor financeiro a curto, médio e longo prazo”. Por sua
vez, o Bankinter diz que a concorrência é algo que natural no setor bancário em
geral e no produto de crédito à habitação em particular e comentou que os spreads “são mais um ponto a ter em
conta no processo de tomada de decisão no que diz respeito à proposta de valor
que disponibilizamos neste produto”.
Já o BPI referiu que, “por princípio, vê a concorrência
como um facto positivo e nesse quadro, cada banco saberá definir como deve
posicionar-se em cada momento” – posição partilhada pelo Crédito Agrícola, a
defender que “haverá sempre algumas Instituições com estratégias um pouco mais
arrojadas, eventualmente com um pricing mais
reduzido, mas isso não implica que todas as outras Instituições tenham de
seguir, exatamente, a mesma estratégia”.
Seja como for, quando os prazos para comprar casa estão
mais curtos e os juros sobem, os bancos vêm lançando ofertas mais vantajosas
para captar clientes. Em junho, o Banco Montepio lançou uma campanha que
possibilita a devolução aos clientes de 1,5% do valor do empréstimo, quer na
compra, quer na transferência do crédito para a instituição financeira, além da
redução do spread mínimo para 0,95% e
da contemplação de uma componente ambiental, social e solidária. Nestes termos,
“se o imóvel a adquirir tiver certificado energético A ou A+, a devolução ao
cliente sobe de 1,5% para 1,7%, sendo a devolução do empréstimo feita através
de cartão pré-pago que tem associado um programa de donativos”, que, por cada
vez que o cliente o usar, contribui para a Cáritas Portugal. As campanhas
associadas à sustentabilidade, com desconto nos spreads para o financiamento de imóveis mais amigos do ambiente,
como a que o Banco CTT tem em curso com uma redução de 10 pontos base, tem sido
uma tendência do setor.
Recentemente, o Bankinter lançou uma nova campanha de redução
de spread, que é acompanhada de perto
pela concorrência. O Crédito Agrícola, por exemplo, esclarece que a sua
estratégia é manter a oferta atrativa e garante estar preparado “para responder
aos vários movimentos que se venham a verificar no mercado, por forma a
mantermos o mesmo rumo”.
No entanto, alguns bancos excluem a possibilidade de
novos cortes dos spreads, já que têm
uma oferta competitiva. O BPI, por exemplo, ao ter “uma oferta muito competitiva
em taxa fixa e variável”, “não prevê alterar essa oferta” – visão partilhada
pelo NB, que garante não ter em vista “qualquer redução do preçário de spreads”, por “ter soluções de crédito
muito favoráveis a clientes e que vão além da redução de spreads”. E o Santander apresenta uma oferta competitiva, com soluções
adequadas a cada caso, dispondo de uma plataforma de wokflow integrado de crédito à habitação que reduz o tempo de
contratação de crédito à habitação (cerca de 25 dias versus 70 dias no passado) e melhora a experiência dos clientes,
pois, a qualquer momento, têm acesso ao estado do pedido. E a CGD “não comenta
política comercial”, dizendo apenas que “continuará a apoiar as famílias
portuguesas que procuram soluções para a realização dos seus sonhos” (digo,
estribada no alargado painel de clientes, muitos fragilizados pela condição de
funcionários públicos, pela velhice e pelas pensões cinzentas, que são
explorados até ao tutano).
***
Entretanto, Vítor Bento, presidente da Associação
Portuguesa de Bancos (APB) disse ao “Dinheiro Vivo”, neste dia 16, que “a banca
tem de subir lucros para ser saudável e ajudar a economia a crescer”. Nestes
termos, a subida de juros é o regresso à normalidade, cabendo o papel social ao
Estado, não à banca. Viram?!
2022.07.16 –
Louro de Carvalho
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