Começou,
a 6 de março, prolongando-se até ao dia 17, na sede da Organização das Nações
Unidas (ONU), em Nova Iorque, a 67.ª Sessão da Comissão da ONU sobre o
Estatuto da Mulher (CSW, na sigla em Inglês), que mobiliza mulheres de
todo o mundo para debater o progresso relacionado com a igualdade de género e com
o empoderamento feminino.
Mathu
Joyini, presidente do Comité sobre o Estatuto da Mulher, prevê que haja, neste
ano, um número recorde na participação de mulheres, vindas de diferentes partes
do Mundo. A última sessão totalmente presencial, em 2019, reuniu 7.000
participantes, sendo 2.000 representantes de Estados-membros, 5.000 da
sociedade civil e 86 ministras e ministros.
Centenas
de pessoas participam em reuniões plenárias ministeriais e em eventos paralelos
do tido como o maior evento global de mulheres. Entre os representantes estão
delegações de Estados-membros, entidades das Nações Unidas (ONU) e de organizações
não-governamentais (ONG).
O
tema do encontro deste ano é “inovação, mudança tecnológica e educação na era
digital para alcançar a igualdade de género e o empoderamento de todas as
mulheres e meninas”.
Mathu
Joyini, que também é representante permanente da África do Sul na ONU, lembra
que, entre os assuntos abordados, estão problemas de segurança e de proteção
enfrentados por mulheres em diferentes plataformas.
Durante
a sessão, a CSW adotará programas de trabalho, avaliará os progressos
alcançados e fará recomendações para acelerar a implementação da Plataforma de
Ação de Pequim, com vista ao empoderamento das mulheres, examinará e adotará
uma resolução do tema prioritário e acompanhará as metas da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável para o avanço da igualdade de género.
De
acordo com a ONU Mulheres – que funciona como secretariado da CSW –, nas taxas
atuais, serão necessários mais 300 anos para trazer igualdade para mulheres e
meninas. Prejudicadas por desigualdades persistentes, cerca de 383 milhões
delas vivem em extrema pobreza e, a cada 11 minutos, uma mulher ou menina é
morta por alguém da sua própria família.
Criada
em 1946, a Comissão sobre o Estatuto da Mulher é o principal órgão
intergovernamental global dedicado exclusivamente à promoção da igualdade de género
e ao empoderamento feminino. E é o segundo maior evento no calendário da
ONU, depois da Assembleia Geral.
Todos os
anos, mulheres de todo o mundo se reúnem na sede da ONU, em Nova Iorque, para
debater o progresso relacionado com a igualdade de género e com o empoderamento
feminino.
A CSW é uma
das maiores reuniões anuais de lideranças mundiais, ONG, empresas, parceiras e
parceiros das Nações Unidas e ativistas de todo o mundo, para discutir a
situação dos direitos das mulheres e o empoderamento de todas as mulheres e
meninas em todas as partes do Mundo.
A ONU
Mulheres atua como secretariado da CSW, que se reúne, no mês de março, em Nova
Iorque, há 67 anos. Essa é uma das principais instâncias de negociação e de
monitoramento de compromissos internacionais sobre direitos humanos das
mulheres. Participam nos encontros anuais, as autoridades dos mecanismos das
mulheres, sociedade civil e especialistas, que discutem os temas, tomam
decisões e planeiam ações em conformidade. Com efeito, ao invés do desejável, de
acordo com a ONU, a igualdade de género regista, na atualidade, atrasos de
centenas de anos.
***
Na sessão
inaugural da CSW, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o
progresso conquistado ao longo de décadas nos direitos das mulheres está a
desaparecer no Mundo atual e a igualdade de género está “cada vez mais distante”.
Perante a
Comissão das Nações Unidas sobre o Estatuto da Mulher – órgão
intergovernamental dedicado exclusivamente à promoção da igualdade de género e
ao empoderamento das mulheres –, António Guterres defendeu que o evento assume
um significado ainda maior neste momento, visto que os direitos das mulheres
estão a ser “abusados, ameaçados e violados em todo o Mundo”.
“No
Afeganistão, mulheres e meninas foram apagadas da vida pública. Em muitos
lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão a ser
revertidos. Em alguns países, as meninas que vão à escola correm o risco de
serem sequestradas e agredidas. Em outros, a polícia ataca mulheres vulneráveis
que juraram proteger”, vincou.
Segundo a
ONU, a igualdade de género regista, na atualidade, atrasos de centenas de anos,
com alguns países a oporem-se à inclusão de uma perspetiva de género nas
negociações multilaterais.
“O
patriarcado está a dar luta. Mas nós também. Estou aqui para dizer alto e
claro: as Nações Unidas estão com as mulheres e meninas em todos os lugares”,
frisou o líder da ONU.
Com o olhar
nos conflitos que emergem ao redor do Mundo, António Guterres observou que, da
Ucrânia ao Sahel, as crises e os conflitos afetam, primeiro e pior, as mulheres
e as meninas.
Todavia, um
dos focos do discurso foi a situação do Afeganistão, onde o regime talibã,
atualmente no poder, tem deteriorado os direitos das mulheres, com restrições,
como a segregação por sexo em lugares públicos, a imposição do véu, a obrigação
de serem acompanhadas por um familiar do sexo masculino em viagens longas e a
proibição das meninas de estudarem. E António Guterres sublinhou que a ONU tem
estado empenhada em levar às autoridades do Afeganistão uma mensagem clara de
que mulheres e meninas têm direitos humanos fundamentais e que a organização
“nunca desistirá de lutar por eles”.
Vincando que
as estruturas globais precisam de mudar, porque não estão a funcionar para as
mulheres do mundo, frisou que as iniciativas do secretário-geral da ONU de
estímulo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à reforma do
sistema financeiro global “visam aumentar os recursos para investimento em
mulheres e meninas em nível nacional”.
Ao verificar
que, “à medida que a tecnologia avança, mulheres e meninas estão a ser deixadas
para trás”, explanou: “A matemática é simples: sem os ‘insights’ e a
criatividade dessa metade do Mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas
metade do seu potencial.” E apontou que três mil milhões de pessoas ainda não
estão ligadas à Internet, a maioria
mulheres e meninas em países em desenvolvimento, estando online, nos países
menos desenvolvidos, apenas 19% das mulheres.
Globalmente,
o sexo feminino representa apenas um terço dos alunos em Ciências, em Tecnologia,
em Engenharia e em Matemática; e, na indústria de tecnologia, os homens superam
as mulheres na proporção de dois para um.
“Séculos de
patriarcado, discriminação e estereótipos nocivos criaram uma enorme lacuna de
género na Ciência e na Tecnologia. As mulheres representam apenas 3% dos
vencedores do Prémio Nobel nas categorias científicas”, frisou António
Guterres, concluindo: “A desigualdade de género é uma questão de poder. Hoje,
apelo a uma ação urgente para equalizar o poder […]. Vamos lutar contra a
misoginia e avançar em prol das mulheres, meninas e do nosso Mundo.”
***
Por
ocasião da revisão dos 20 anos da Declaração e Plataforma de Ação da IV
Conferência Mundial Sobre a Mulher (Pequim, 1995), os Estados verificaram que a
plena igualdade de género não é realidade em nenhum país do Mundo. No mesmo
ano, a adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável refletiu estes
dados e a necessidade de combater as desigualdades e as discriminações contra
mulheres e meninas, que resultam em violência e limitam o seu acesso ao
trabalho decente, à participação política, à educação e à saúde.
Pela
relevância da questão, o 5.º dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), da Agenda 2030, estipula como meta o alcance da igualdade de género e o
empoderamento de todas as mulheres e meninas. Além dele, outros dozes ODS
incorporam explicitamente metas desagregadas por sexo, podendo todos ser lidos
a partir da perspetiva de género.
A
Agenda 2030 reafirma os princípios contidos nas principais normas
internacionais relativas aos direitos humanos das mulheres, tais como a
Convenção para Eliminar Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW) e a Plataforma de Ação de Pequim. Além destas, destaca-se uma série de
convenções adotadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que
definem as normas internacionais mínimas do trabalho; o Plano de Ação de Cairo
adotado na Conferência Mundial de População e Desenvolvimento; e a Declaração
Universal de Direitos Humanos. Documentos como a Convenção pela Eliminação da
Discriminação Racial, Declaração dos Povos Indígenas e a Declaração e Plano de
Ação da III Conferência Mundial pela Eliminação do Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, versam sobre a forma como
mulheres negras e indígenas vivenciam, de forma diferenciada, o racismo e o
sexismo.
No
campo do ensino, há extenso ordenamento jurídico que garante o compromisso com
um ambiente de ensino livre de discriminações e de preconceitos, capaz de
atender a todos/as em suas necessidades básicas de aprendizagem – destacando-se
a Agenda 2030, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos e Convenção sobre
os direitos das pessoas com deficiência (2006).
Nestes
termos, importa cuidar do empoderamento económico das mulheres, pelo acesso ao
trabalho e aos cargos de liderança, pela igualdade salarial e pelo reconhecimento
do trabalho não remunerado que desenvolvem; do empoderamento político e de
representatividade, pela participação na vida pública e na política, em pé de
igualdade com os homens, no quadro da observância da democracia paritária; da educação
inclusiva e equitativa, garantindo a todos e a todas as condições de acesso a
todos os níveis de ensino e de formação profissional, com especial atenção às
pessoas em situação de maior vulnerabilidade; da saúde integral e inclusiva, progredindo
na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, com ampla
divulgação de informações e com agilidade na assistência médica e
medicamentosa; e da prevenção e combate a todas as formas de violência feminina,
definindo-se políticas públicas que garantam o acesso das mulheres à segurança
pública, à justiça, à saúde e à segurança social, para lá da necessária especialização
para o atendimento humanizado que incorpore a perspetiva de género na atenção
para as mulheres em situação de violência, bem como da debelação e da eliminação
das causas da violência com base na desigualdade das relações sociais motivada
pelo género.
Para
o sucesso dos ODS e da Agenda 2030 (de que um dos princípios-chave é que
ninguém deve ser deixado para trás, com foco nas pessoas que estão mais atrás),
é importante transversalizar a perspetiva de género e adotar medidas para o
empoderamento das mulheres, assim como ter em conta as discriminações cruzadas
e uma perspetiva de interseccionalidade de género e etnia.
***
Muito
bons propósitos e intenções, que a prática vem contradizendo e obrigando a retroceder.
Não pode ser. O Mundo, a cultura, a civilização não podem andar para trás. A
tarefa é de todos!
2023.03.06 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário