Na
apresentação das conclusões do Relatório-Síntese
do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), António
Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), advertiu que
“a humanidade caminha sobre gelo fino”, que se está a derreter “rapidamente”. O
relatório confirma a necessidade de uma ação global e imediata para garantir um
futuro habitável para os humanos e para outras espécies, mas julga que ainda há
esperança.
E, no Dia Mundial da Água (22 de março), António Guterres
assinou o prefácio de um relatório sobre a água, avisando que “o superconsumo e
o superdesenvolvimento vampírico, a exploração insustentável dos recursos
hídricos, a poluição e o aquecimento global descontrolado estão a esgotar, gota
a gota, esta fonte de vida da humanidade”.
Por outro lado, o uso desenfreado dos plásticos e a acumulação
de plásticos nos oceanos estão a causar problemas ambientais de enorme dimensão.
Neste contexto, surgem as empresas amigas do ambiente, do
social e da boa gestão – ESG (environment, social, governance). E o presidente
da Confederação Empresarial de Portugal
(CIP), António Saraiva, refere que Rui Nabeiro, o recém-falecido líder do grupo
Delta, “sem estes conceitos académicos e de modas,
sempre incorporou, na sua organização, estes mesmos princípios, estes mesmos
valores, e com muita preocupação no social”.
Efetivamente, num estudo de mercado, da empresa
Merco, sobre as empresas mais responsáveis a atuar em Portugal, a Delta Cafés é
a primeira no ranking de 100, obtendo
este feito pelo segundo ano consecutivo. E ocupa a posição cimeira nas três
vertentes do ESG e lidera o ranking
das empresas mais responsáveis em Portugal, com 10 mil pontos, quase o dobro da
média da pontuação das 100 empresas referidas no estudo (5.326 pontos), em que
participaram 252 executivos de grandes empresas, 41 jornalistas de informação
económica, 31 membros do Governo, 39 analistas financeiros, 35 responsáveis de organizações
não-governamentais (ONG), 38 dirigentes sindicais, 30 dirigentes de associações
de consumidores e 800 cidadãos.
Na segunda posição surge a Sonae e, depois, a
EDP. A Ikea, empresa sueca que vende móveis em Portugal, a Jerónimo Martins, a
Vodafone, o Lidl, a Galp, a Microsoft e o Google completam o top 10. A
nível setorial, a Delta Cafés lidera na categoria da alimentação, a Vieira de
Almeida nos advogados, a Accenture na Auditoria e Consultoria, o Grupo
Volkswagen nos automóveis, o Santander na banca e o grupo Impresa (da SIC e do Expresso) nos meios de comunicação social.
Em comunicado, José María San, CEO do Merco, alerta
que, “analisando a perceção dos consumidores sobre as empresas portuguesas,
percebe-se que as duas variáveis com as classificações mais baixas são a
responsabilidade social e a responsabilidade ambiental”. Por isso, “este é um
desafio para as empresas, que deverão estar conscientes de que, apesar dos
grandes progressos alcançados, as expectativas dos consumidores estão mais
avançadas do que os progressos reais realizados”. Porém, comparando as
conclusões do estudo feito em Portugal com o mesmo feito em Espanha conclui-se
que, “do ponto de vista dos consumidores, as empresas portuguesas pontuam
melhor do que as empresas espanholas”. Na mesma comparação, mas tendo em conta
a opinião dos gestores e não dos consumidores, observa-se o inverso: “quando se
trata de variáveis como a ética e boa governação, os gestores portugueses são
mais críticos em relação às empresas portuguesas do que o são os gestores em
Espanha”.
***
Um relatório da ONU, de 2014, calculava
que a indústria dos brinquedos gasta 40 toneladas de plástico por cada milhão
de dólares de receitas. Um relatório, de 2021, publicado na revista Environment International e citado pela
agência Bloomberg, calculava que, nos países ocidentais, cada casa compra,
por ano e por criança, uma média de 18,3 quilos de brinquedos de plástico.
E a revista Environmental Pollution
divulgou em 2020 um estudo segundo o qual as peças da Lego atiradas aos oceanos
levam 1.300 anos a decompor-se. Ora, isto não é sustentável. Por
isso, a indústria já começou a transição: por exemplo, a Mattel fabrica as bonecas
Barbie com plástico recolhido dos oceanos, e a dinamarquesa Lego produz peças
de lego com um composto plástico de base vegetal, processado a partir da
cana-de-açúcar.
Ao mesmo tempo, o polietileno verde, a borracha
natural e a cortiça são alguns dos produtos que a indústria tem usado para
substituir os plásticos.
Neste contexto, a Corticeira
Amorim, empresa líder mundial no setor da cortiça, juntou-se à alemã Hape,
líder mundial na área dos brinquedos de madeira, para criar uma joint venture, a Korko que fabrica e
vende brinquedos de cortiça. E Carlos Duarte, diretor executivo da
Amorim Cork Composites, revelou que, no ano passado, o primeiro ano desta
parceria, foram vendidos mais de 100 mil brinquedos de cortiça e já estão
prontos mais sete protótipos de brinquedos para serem lançados no mercado no
Natal deste ano.
Um dos produtos que também está a ser
comercializado no mercado são os building blocks que receberam do Itecons (Instituto de
Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente
e Sustentabilidade) avaliação carbónica negativa.
Por sua vez, a Greenvolt implementou uma Unidade
de Produção para Autoconsumo na Essilor Portugal. Através da Greenvolt Next,
foram instalados mais de mil painéis solares fotovoltaicos que permitem uma redução
na fatura energética e reforçam os esforços da filial da empresa
franco-italiana de lentes oftálmicas no sentido da redução da sua pegada
carbónica.
O grupo industrial Sodecia e o BPI fizeram um acordo de 40 milhões de euros
para refinanciar um programa de papel comercial existente, convertendo-o em
financiamento sustentável, que apresenta condições indexadas ao desempenho da
Sodecia, no atinente à redução da pegada de carbono e ao crescimento das vendas
de produtos destinados a veículos elétricos.
A empresa sueca Klarna,
uma das maiores fintech do Mundo, tem uma funcionalidade que permite saber se a
loja que vende um aparelho eletrónico é ou não amiga do ambiente. E
já tem 400 mil utilizadores com conta ativa em Portugal, mercado onde regista
mil transações por dia, com um valor médio de compra de 114 euros.
Sines anda num corrupio de visitas institucionais,
entre diplomatas e delegações vindas do estrangeiro, que querem perceber o que este
concelho do litoral alentejano tem para oferecer. O hidrogénio verde concentra
boa parte da curiosidade, mas há outros projetos em desenvolvimento
para transformar o antigo polo de combustíveis fósseis numa plataforma global
alinhada com a nova agenda verde.
Todavia, estão no ar algumas ambiguidades. Por
exemplo, o Credit Suisse, que foi absorvido pelo rival UBS, era considerado o
maior dinamizador do mercado debt-for-nature swaps, um instrumento financeiro que ajuda os países
mais pobres a obter fundos em troca de projetos para garantir a
sustentabilidade ambiental. Apesar disso, segundo a agência Reuters, o banco compara mal com o até
agora rival UBS que está em fase mais avançada do processo de transição
climática. Dados da Bloomberg mostram
que, desde o Acordo de Paris, o Credit Suisse deu empréstimos de 21,7 mil
milhões dólares a empresas ligadas aos combustíveis fósseis, ao passo que o UBS,
no mesmo período, emprestou só 6,4 mil milhões.
Por outro lado, a União Europeia (UE)
queria que os carros com motores a combustão deixassem de ser vendidos, nos 27,
a partir de 2035 (quer a neutralidade carbónica em 2050). Mas, na reta final,
já com a aprovação no Parlamento Europeu (PE), em fevereiro, culminando
processo legislativo que implica o acordo prévio entre os países, a Alemanha pediu
à Comissão Europeia (CE) que os carros movidos a combustíveis sintéticos fossem
excluídos da meta de 2035. E, a 25 de março, foi anunciado acordo entre a
Alemanha e a CE, abrindo espaço à concessão exigida por Berlim: a de que os
carros com motor de combustão movidos a eletrocombustíveis (combustíveis
sintéticos) possam circular além de 2035.
A indústria automóvel da Alemanha é a maior da
Europa e das suas construtoras dependem milhares de postos de trabalho em todo
o continente. Marcas como a Porsche não estão tão empenhadas a investir nos
motores elétricos e estão a apostar em alternativas aos combustíveis fósseis
como os eletrocombustíveis (e-fuels), os quais, apesar de representarem
emissões de dióxido de carbono, são produzidos com base em energia renovável,
através da captura de CO2 da atmosfera, que é combinado com hidrogénio.
A proposta da CE, apresentada em julho de 2021
para banir a venda de carros com motores de combustão, foi debatida e aprovada
pelos 27, no final de 2022; e, tendo ido a votos em fevereiro deste ano, foi
aprovada pelos eurodeputados. Porém, o veto da Alemanha foi apoiado por países
com indústrias automóveis relevantes, como a Polónia, a Eslováquia, a República
Checa, e Itália – que fez saber que só levantaria as suas objeções, se as
exceções abrangessem, não só os e-fuels, mas também os biocombustíveis.
A perda do motor de combustão a partir de 2035 –
para os carros vendidos até então saírem do mercado em 2050 – representa uma
mudança estrutural para as marcas que, há vários anos, investem somas
astronómicas para mudarem a forma de produção e modelos de negócio. A
alternativa é manter o motor de combustão e descarbonizar a economia: os
eletrocombustíveis.
Porém, algumas construtoras de automóveis, como
a norte-americana Ford e a sueca Volvo, com mais 45 empresas, assinaram
uma carta a apelar a que a UE mantivesse a proibição total de venda de carros
com motores a combustão a partir de 2035, medida que “demorou quase dois anos a
ser negociada”. Sob a égide do
Climate Group, ONG que pugna pela limitação dos impactos das alterações
climáticas, a carta defendia que “avançar com a proibição de acordo com o
planeado dará estabilidade legal, algo vital para que as empresas possam
avançar com os seus planos de descarbonização e investir em veículos elétricos.” “Recuar agora daria origem a um
precedente perigoso e a comprometer a confiança no processo legislativo da UE”,
alegam, dizendo que as concessões (à data da divulgação da carta ainda não
anunciadas) iriam atrasar a transição para veículos puramente elétricos.
***
Entretanto, depois de quase 15 anos de
negociações foi aprovado, pelos Estados-membros da ONU, o Tratado sobre os Recursos
Biológicos do Alto-Mar, incidindo sobre a larga porção de mar que fica além das
áreas de jurisdição marítimas dos Estados costeiros. É uma vitória do
multilateralismo e do direito internacional, quando os impasses geopolíticos
que decorrem da tensão Ocidente/Rússia e Estados Unidos da América (EUA)/China
e os velhos antagonismos Norte/Sul não são superiores à vontade coletiva da
comunidade internacional, onde muitos países em desenvolvimento foram determinantes
para a adoção do Tratado.
O
Tratado regula a exploração dos recursos biológicos e genéticos do mar, prevendo
de normas e mecanismos que visam proteger e conservar estes recursos, cada vez
mais escassos. Assim, é essencialmente um tratado sobre a conservação do
alto-mar. Desde logo, prevê a criação de áreas marinhas protegidas no alto-mar,
determinante para a sua proteção e para o cumprimento do compromisso mundial de
chegarmos a 2030 com pelo menos 30% do mar coberto por áreas marinhas
protegidas.
E, para Portugal, tem um significado especial: Portugal
começa a compreender que uma das riquezas principais do mar assenta na sua
diversidade biológica, que é a matéria-prima da nascente indústria de
biotecnologia marinha; e precisa de criar as suas áreas marinhas protegidas,
criação que incentiva o cumprimento da obrigação internacional inerente à sua posição
de país do mar.
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Terá,
a sério, o ambiente melhores dias e será mais promissor o futuro?
2023.03.29 – Louro de Carvalho
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