quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Alguns dos factos mais marcantes do ano de 2024

 

Como os demais anos, 2024 deixa para a posteridade factos que marcam as vidas de pessoas e de povos. Um olhar retrospetivo sobre o ano transato faz aflorar um conjunto de situações, a nível nacional e internacional, que influenciam o devir do Orbe, em cores de negrume, umas, e de esperança, outras.

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Em Portugal, a 10 de março, as eleições legislativas antecipadas, por dissolução parlamentar apesar de haver maioria absoluta, deram a vitória, por estreita margem, à Aliança Democrática (AD), face ao Partido Socialista (PS), tornando-se o Chega, partido de extrema-direita, a 3.ª força política do país – do que resultou um governo com apoio parlamentar minoritário, liderado por Luís Montenegro, presidente do Partido Social Democrata (PSD), que tomou posse a 2 de abril. O governo, apesar de criticar o anterior, por apresentar leis PowerPoint, passou a fazer o mesmo, supostamente como propaganda eleitoral para as eleições europeias e/ou para eventuais eleições antecipadas, caso de o PS não viabilizasse o Orçamento do Estado para 2025.   

A 23 de abril, pela primeira vez (e pela voz do chefe de Estado), se admitiu responsabilidade por escravidão de negros e por genocídio de indígenas, no período colonial, bem como o dever de restituição de património recebido das ex-colónias.

De 31 de maio a 2 de junho, decorreu, em Braga, sob a presidência do cardeal Tolentino de Mendonça, enviado especial do Papa, o V Congresso Eucarístico Nacional. E 2024 foi o epicentro das celebrações do 50.º aniversário do 25 de Abril, do 5.º centenário do nascimento de Luís de Camões e do centenário do nascimento de Mário Soares.

Detetou-se uma enorme crise no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com défice nas urgências hospitalares e com descontentamento e com falta de meios no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM); cinco reclusos evadiram-se do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus (foram apanhados três); Odair Moniz morreu, após ter sido baleado por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP), o que suscitou reações díspares; um triplo homicídio em Lisboa levou a um conjunto de atos violentos; foram desencadeadas várias operações de vulto, para garantir a perceção de segurança, destacando-se o escândalo do Martim Moniz, com a PSP a revistar cidadãos que obrigou a encostar à parede; oito computadores portáteis foram furtados, numa noite, da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna; dez anos após o seu colapso, iniciou-se o julgamento do caso Banco Espírito Santo (BES), reunindo 18 arguidos no Campus de Justiça, em Lisboa, entre eles, o banqueiro Ricardo Salgado, a quem foi diagnosticada a doença de Alzheimer; e Ruben Amorim trocou o Sporting pelo Manchester United.

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Na Europa, de 6 a 9 de junho, os eleitores dos 27 países da União Europeia (UE) elegeram os 720 membros do Parlamento Europeu (PE), de que resultou o reforço da direita, a recondução da alemã Ursula von der Leyen, do Partido Popular Europeu (PPE) como presidente da Comissão Europeia e a eleição do socialista português António Costa para presidente do Conselho Europeu.

Em maré de reviravoltas, a Nova Frente Popular (NFP), da esquerda, em França, conseguiu o maior número de assentos na Assembleia Nacional, na segunda volta das eleições legislativas antecipadas, que ocorreu em 7 de julho, o que surpreendeu a extrema-direita, que havia estado à frente na primeira volta. Apesar da vitória, a NFP não conseguiu maioria para governar. Gabriel Attal pediu a demissão de primeiro-ministro, mas o presidente, Emmanuel Macron, solicitou que esperasse até ao fim dos Jogos Olímpicos. Com 67% de votantes, o pleito registou a maior participação do eleitorado, desde 1981. Segundo os resultados, a NFP, obteve 182 assentos; a coligação Juntos, de Macron, 168; e o partido de direita Reagrupamento Nacional (RN), 143. Já se seguiram dois governos minoritários. O país conheceu quatro primeiros-ministros em 2024.

Na sua 33.ª edição, os Jogos Olímpicos tiveram como palco a cidade de Paris, na França, e foram inaugurados, não em estádio, mas na cidade, no rio Sena e nas suas margens. O maior evento desportivo do Mundo contou com mais de 40 modalidades. Os Estados Unidos da América (EUA) a China e o Japão destacaram-se, conquistando 126, 91 e 45 medalhas, respetivamente.

Os Venezuelanos foram às urnas, em julho, para escolherem o novo presidente, mas o pleito foi marcado por falta de transparência e por troca de acusações entre o ditador Nicolás Maduro e o candidato da oposição, Edmundo González. Mais de 21,3 milhões de Venezuelanos estavam aptos a votar, mas dos cerca de 4,5 milhões que vivem no exterior, apenas 69,1 mil foram autorizados a participar no ato eleitoral. O número estimado de eleitores foi de 16,8 milhões. O voto, não obrigatório, foi feito por meio de cédulas de papel. No dia seguinte à votação, Elvis Amoroso, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão alinhado pelo regime autoritário do ditador, confirmou a vitória de Maduro (que ficará no cargo, mais seis anos), com 51,2% dos votos. A vitória foi contestada por González e pela comunidade internacional.

Ressaltou o facto de a cédula de votação conter 13 fotos de Maduro e apenas três imagens do rival. Além da quantidade muito maior de fotos de Maduro nas urnas, foi contestada também a posição das fotos: todas as fotos de Maduro estavam no topo da cédula eleitoral e dispostas sequencialmente, ao passo que as de González estavam fora de ordem, na segunda e na terceira linha. O eleitor teria de assinalar uma das opções, para confirmar o seu voto.

Em 2024, a comunidade internacional presenciou a escalada dos ataques de Israel contra o Hezbollah. As tensões começaram a subir, após o grupo ter iniciado uma série de ataques contra Israel, desde o fim de 2023, em apoio ao Hamas, que atua na Faixa de Gaza.

Em setembro, foi morto, o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, após os bombardeios no Líbano, emitidos por Israel. Muhammad Ali Ismail, responsável pela unidade de mísseis do grupo no Sul do Líbano, também foi morto na operação. Além da morte dos comandantes do Hezbollah, no mês seguinte, o exército israelita confirmou a morte do líder do grupo terrorista Hamas, Yahya Sinwar, em ação de rotina na cidade de Rafah, na Faixa de Gaza.

Ao mesmo tempo, a situação na Faixa de Gaza agravou-se em todos os aspetos: bombas, mísseis, fome, doenças ferimentos, mortes, falta de assistência médica e medicamentosa, destruição genocida, deslocações forçadas. Um precário acordo de cessar-fogo foi violado várias vezes. E esta guerra estendeu-se ao Irão e ao Mar Vermelho (com o grupo dos Houthis).⠀⠀⠀

O cantor Liam Payne, ex-integrante da banda britânica One Direction, morreu ao cair do terceiro andar da sacada de um hotel, em Buenos Aires, na Argentina, a 16 de outubro. A polícia foi acionada para conter “um homem agressivo” que estaria sob o efeito de drogas ou de álcool. Cinco pessoas estão a ser investigadas pela morte do artista, entre elas funcionários do hotel e um amigo de Payne. Segundo a Justiça argentina, o cantor, de 31 anos, havia consumido álcool, cocaína e um antidepressivo, antes de morrer.

Quatro anos após deixar a Casa Branca, o empresário republicano dos EUA, Donald Trump, foi eleito, novamente, presidente. Os resultados eleitorais deram-lhe 312 votos do Colégio Eleitoral, contra 226 da adversária Kamala Harris, que liderou a campanha dos democratas, por desistência de Joe Biden, presidente em funções. Com a vitória, Trump prometeu uma agenda mais protecionista, focada em medidas sobre economia e impostos. O perdão aos manifestantes do 6 de janeiro de 2021 (invasão do Capitólio) e a deportação de imigrantes ilegais também estão entre as suas prioridades. A corrida presidencial foi marcada por reviravoltas. A 13 de julho, quando enfrentava o candidato Joe Biden, Trump sofreu um atentado a tiros, num comício, na Pensilvânia. Em meio da comoção com o ocorrido, passou a ganhar destaque, influenciando na pressão para que Joe Biden desistisse da eleição, que sucedeu, semanas após o episódio.

Em termos da agenda protecionista, o presidente eleito defendeu a aplicação de tarifas às importações de produtos chineses e, como retaliação, a China anunciou novos impostos aos americanos. Essa possível guerra comercial abre espaço para outros países, que podem beneficiar de uma aproximação com a China, mas cuja economia está em decréscimo.

A Austrália tornou-se o primeiro país a proibir a presença de menores de idade nas redes sociais. As empresas terão pelo menos 12 meses para se adaptar, caso contrário, poderão ser multadas em até 190 milhões de dólares australianos. O principal objetivo é proteger os jovens dos riscos de exposição a conteúdos prejudiciais e da pressão psicológica gerada pelas plataformas digitais. A matéria foi aprovada em novembro. Com a nova legislação, as empresas que gerem as plataformas devem verificar a idade dos usuários, antes de permitirem o cadastro.

No Brasil, 83% das crianças e adolescentes que usam a Internet têm algum perfil nas redes sociais. A maioria acede à Internet pelo telemóvel, o que dificulta a monitorização dos pais, e ampliar os riscos de exposição para assédios ou outras práticas ilícitas.

Após 25 anos, os líderes do Mercosul e da União Europeia (UE) concluíram, a 6 de dezembro, as negociações do acordo entre os dois blocos. O tratado, que envolve a formação da maior área de livre comércio do Mundo, pretende diversificar as parcerias comerciais e promover maior fluxo de investimentos. A expectativa é que o acordo fomente o comércio, impulsione economias e alinhe os padrões regulatórios entre os dois blocos. O acordo estava a enfrentar entraves por anos, principalmente, no atinente aos desafios estruturais, para tentar harmonizar interesses tão distintos. Por exemplo, a França e a Polónia estavam entre as nações que mostraram insatisfação com os termos sugeridos, provocando o adiamento da conclusão das negociações. Em geral, o tratado propõe a taxa zero nas tarifas de 91% dos produtos exportados pelo Mercosul para a UE e de 95% nas das exportações do bloco europeu para os Sul-americanos. As mudanças seriam feitas num período de transição, de 10 a 15 anos, a dependendo do setor. Também está prevista a redução de tarifas alfandegárias e o aumento de exportações, especialmente no setor agrícola.

No início de dezembro, o grupo Hayat Tahrir al-Sham tomou Damasco, a capital da Síria, pondo fim ao regime de Bashar al-Assad. O ex-ditador fugiu para Moscovo, onde recebeu asilo político. Numa entrevista, a 17 de dezembro, a primeira declaração política, após a ocorrência, sublinha que jamais considerou a fuga como uma renúncia ao cargo na Síria.

Além de constituírem o novo governo, os novos líderes enfrentam o desafio de tranquilizar a comunidade internacional. O grupo que assumiu o poder prometeu um Estado de direito, em que as decisões dos governantes são limitadas pelas leis, e garantiu que não haverá vingança contra os antecessores, mas que as pessoas que cometeram crimes serão julgadas e punidas. Um enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria pediu ajuda humanitária para o país e reforçou o desejo de que o novo governo evite os erros de Bashar al-Assad.

A influência externa será crucial no futuro da Síria, sobretudo a dos países vizinhos e das grandes potências. Os Estados árabes prometem trabalhar para que a queda de Assad não desencadeie nova onda de agitação contra os governos da região e o ressurgimento de grupos extremistas. “Há muitos traumas na região. Boas notícias transformam-se em más notícias muito rapidamente. […] Não queremos que o que aconteceu em outras nações após a Primavera Árabe aconteça na Síria. Gostaríamos muito de ver uma transição para um Estado viável que dê apoio ao povo”, disse Majed al-Ansari, conselheiro sénior do primeiro-ministro do Catar.

O presidente da Argentina, Javier Milei, completou um ano no cargo, a 10 de dezembro, com índices positivos de avaliação, mas enfrenta críticas pela crescente pobreza e pela diminuição do poder de compra. Milei avisou, ainda na campanha, que “o remédio seria amargo”, já que adotaria uma política de choque com reduções drásticas nos gastos públicos. No primeiro aniversário, a aprovação do atual governo era de 50%.

Regiane Bressan, professora de relações internacionais, sustenta que Milei está a cumprir algumas promessas de campanha, mas a pobreza permanece e a situação da classe média, que contava com subsídios em alguns setores, como os transportes, está cada vez mais difícil.

Sobre a pobreza, Milei atribuiu a responsabilidade ao governo anterior, que emitiu dinheiro para pagar um défice equivalente a 13% do produto interno bruto (PIB). “Foi um desastre. Para mim, é crime, mas não é classificado como tal. Emitir dinheiro deveria ser considerado crime, porque é falsificação. Mas essa é uma discussão em outro nível”, afirmou, advertindo que faltam produtos nos supermercados, por mais dinheiro de que se disponha.

Quito, no Equador, celebrou, de 8 a 15 de setembro, o 53.º Congresso Eucarístico Internacional, sob a presidência do cardeal Baltazar Porras, legado do Papa Francisco. E, a 24 de dezembro, o Papa abriu a Porta Santa da Basílica Vaticana para as celebrações do Ano Jubilar de 2025, apelando ao perdão das dívidas, sobretudo em favor dos países mais pobres.

A 29.ª Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, conhecida como COP29, foi realizada, de 11 a 22 de novembro, no Estádio Olímpico de Baku, no Azerbaijão. O lema “Solidariedade para um Mundo Verde” marcou essa reunião de alto nível, na qual foram firmados acordos de financiamento climático e mercados de carbono.

Um terrorista saudita atropelou, a 20 de dezembro, grande número de pessoas num mercado de Natal em Magdeburg, na Alemanha, e deixando cinco mortos e mais de 200 feridos.

Há, ainda, que destacar a escalada da guerra entre a Rússia e a Ucrânia (num impasse), os incêndios na América do Sul as brutais inundações em Valência e em Málaga, na Espanha, como em Itália e no Sul de França, as quedas de aviões (por erro humano ou por ataques aéreos), as eleições de que resultam líderes de duvidosa índole democrática, a destituição de dois presidentes na Coreia do Sul, a modificação da doutrina nuclear russa, as várias situações de cerceamento ou de limitação das liberdades e os muitos casos de perigosa desinformação.

O panorama de 2024 não é globalmente satisfatório. Esperamos que 2025 nos ofereça um ambiente melhor, Trump garantiu que a guerra na Ucrânia iria acabar e Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, prometeu fazer tudo para que ela acabe em 2025.  

2025.01.01 – Louro de Carvalho

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