Na noite de 3 de janeiro, o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk,
juntamente com o presidente do Conselho Europeu, António Costa, participou na
gala oficial que marcou a abertura da presidência polaca do Conselho da União
Europeia. Durante o evento no Teatr Wielki – Ópera Nacional Polaca, Radzimir
Dębski, conhecido como Jimek e aclamado pelos seus arranjos inovadores,
apresentou uma peça composta especialmente para a ocasião.
No seu discurso, Donald Tusk, relevou a
liderança da Polónia no Conselho da União Europeia e delineou as principais
prioridades da presidência. “A Europa tem a sorte de que, neste momento tão desafiador
da nossa História, a Polónia está a cumprir a missão da presidência e sabe bem
que precisamos de encontrar, dentro de nós mesmos, força, fé e esperança, e de redescobrir
o significado da liberdade e a essência do que a Europa realmente representa”, enfatizou.
***
Efetivamente, durante o primeiro semestre de 2025, cabe à Polónia exercer
a presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE), tendo recebido a
passagem de testemunho da parte da presidência húngara, que vigorou no segundo
semestre do ano transato, sob contestação pelo facto de o primeiro-ministro da
Hungria, Victor Orban, ter estabelecido contactos especiais com o Kremlin, incluindo
uma visita de Estado.
A presidência
polaca, iniciada a 1 de janeiro, fica marcada pelo clima de incerteza e de preocupação.
A Europa está a lidar com as consequências da agressão armada da Rússia à
Ucrânia e com a necessidade de fortalecer a sua própria capacidade de defesa. A
UE testemunha tensões geopolíticas crescentes e a erosão da ordem internacional
baseada em regras e ataques híbridos, visando a democracia e a segurança
europeias. Tem de tomar consciência de que este é o momento de julgamento e de
decisão, devendo proteger-se a si mesma e aos seus cidadãos e cuidar da sua
vizinhança imediata. E deve criar a sensação de segurança e perspetivas de
desenvolvimento.
A
responsabilidade pelas gerações futuras exige a unidade da UE e a vontade de
trabalhar com parceiros que compartilham os nossos valores, em particular os
membros aspirantes, e obriga à defesa dos valores-base da Comunidade, como a
democracia, a liberdade e o estado de direito.
Portanto, a
presidência polaca apoiará atividades que fortaleçam a segurança europeia em
todas as suas dimensões: externa,
interna, informacional, económica, energética, alimentar e sanitária.
São sete as
dimensões de segurança:
·
Defesa e
segurança.
Precisamos de
ação concertada e ambiciosa na defesa europeia, complementando os esforços da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (NATO); de impulso à prontidão da defesa, com
base no aumento dos gastos militares, a indústria de defesa mais forte e ao
enfrentamento das lacunas de capacidade de defesa, o que a presidência apoiará,
enquanto pressionará para um debate aprofundado sobre o financiamento da defesa
na UE; e de forte apoio às capacidades de defesa e à indústria de defesa,
o que beneficiará entidades de todos os tamanhos de todos os estados-membros,
sendo importante o apoio à infraestrutura de defesa e de uso duplo, como East
Shield e Baltic Defence Line (a Linha de Defesa do Báltico e
a Iniciativa do Escudo Leste).
·
Proteção de
pessoas e fronteiras
A Europa deve
continuar os esforços para garantir um nível ideal de segurança interna para os
seus cidadãos; a busca de novas soluções, para abordar de forma abrangente, os
desafios da migração e da segurança nas fronteiras externas da UE, para
trabalhar em reduzir a migração irregular e fortalecer a eficácia da política
de retorno; o trabalho em direção a uma resposta adequada da UE às ameaças híbridas,
em particular, a instrumentalização da migração; e o desafio de garantir que o
Espaço Schengen funcione adequadamente.
·
Resistência
à interferência estrangeira e à desinformação
A UE e os
estados-membros devem fortalecer a
resiliência da democracia para conter a polarização e a radicalização, o que postula a
capacidade de reconhecer e de eliminar a desinformação e a manipulação
estrangeira, requerendo esforços de longo prazo na educação cívica e no fortalecimento
da sociedade civil. Por outro lado, é importante lidar com situações de crise
que envolvam interferência de países terceiros com sistemas de informação da
UE.
·
Garantia da
segurança e da liberdade de negócios
É preciso
resolver desafios conexos com a rápida mudança tecnológica, com a transição
energética e climática, bem como com tensões geopolíticas; aprofundar o Mercado Único,
removendo as barreiras à atividade transfronteiriça, sobretudo, no setor de
serviços; tomar medidas que melhorem o acesso ao capital privado para empresas
que desejam crescer; e investir.
A presidência
promoverá a redução de encargos burocráticos e concentrar-se-á em
melhorar os mecanismos de suporte para a indústria em áreas importantes para a
segurança e construção de vantagens económicas, mantendo um campo de jogo
nivelado na UE. Além disso, restaurará uma competição justa para a indústria, na
arena global, melhorará os instrumentos de política comercial, a execução
quando os bens entram no mercado da UE e fará melhor uso dos pontos fortes do
amplo fluxo de compras públicas da UE.
·
Transição
energética
A Polónia enfatiza que a
confiabilidade e a certeza do fornecimento de recursos energéticos são
cruciais para a segurança energética da UE. Foi a agressão em larga escala da
Rússia à Ucrânia que gerou a redução na importação de gás e de petróleo russos,
em cerca de dois terços e ao completo afastamento das importações de carvão
russo. Porém, há muito a ser feito. Hoje, a segurança energética da UE deve
garantir que cidadãos e empresas tenham acesso à energia em quantidades
suficientes e a um preço acessível. Portanto, a presidência promoverá ações com
vista à retirada
total das importações de fontes de energia russas, tomará
medidas para reduzir os preços da energia na UE, para rever a estrutura de
segurança energética da UE, para aumentar a segurança física e a segurança
cibernética da infraestrutura energética na UE e a sua vizinhança e para garantir
condições equitativas para o desenvolvimento de cada fonte de energia limpa na
UE.
·
Agricultura
competitiva e resiliente
A Europa deve
garantir o fortalecimento da posição dos agricultores nas cadeias de valor e a
estabilidade do seu rendimento. Precisamos de agricultura europeia
competitiva e resiliente que forneça segurança alimentar
aos europeus. Todas as ações da UE devem levar em conta setores agrícolas vulneráveis
e garantir que os produtores não pertencentes à UE cumpram os padrões de
qualidade, de segurança e de sustentabilidade dos alimentos da UE. A
presidência esforçar-se-á por moldar uma forte Política Agrícola
Comum (PAC) que apoie os agricultores e o desenvolvimento das
áreas rurais. A política deve encorajar, em vez de forçar, os agricultores a
tomar medidas para proteger o meio ambiente e para mostrar os benefícios de
combater e de prevenir os efeitos das mudanças climáticas, como enchentes e
secas.
·
Segurança
sanitária
A presidência concentrar-se-á na transformação
digital dos cuidados de saúde e na necessidade de melhorar
a segurança dos medicamentos, com foco particular na perspetiva dos pacientes. Desempenham
um papel fundamental tanto a diversificação das cadeias de fornecimento de
medicamentos como o suporte à sua produção na UE.
***
Convém
recordar que a presidência deve contribuir para a aplicação, nos estados-membros,
da Diretiva Equilíbrio de Género nos Conselhos de Administração das Empresas,
que entrou em vigor no final de 2024, visando mais equilibrada representação de
género na administração das empresas cotadas em todos os estados-membros da UE.
A diretiva
estabelece, para as grandes empresas cotadas da UE, a meta de 40% do sexo
sub-representado entre os administradores não executivos e 33% entre todos os
administradores.
O prazo para
a transposição era 28 de dezembro de 2024, e as empresas devem cumprir as metas
até 30 de junho de 2026.
A
percentagem de mulheres nos conselhos de administração das empresas é de 34%,
em média, na UE. Desde 2010, a representação das mulheres nesses órgãos
melhorou na maioria dos estados-membros da UE, mas a extensão do progresso
varia consideravelmente e, em alguns, estagnou. Assim, em 2024, as mulheres
representavam 39,6% dos membros dos conselhos de administração das maiores
empresas cotadas em países com quotas de género vinculativas, em comparação com
33,8% em países com medidas suaves e apenas 17% em países que não tomaram
qualquer medida.
Neste
momento, os estados-membros já devem ter transposto as regras da diretiva para
a sua legislação nacional, incluindo: medidas vinculativas específicas para o
processo de seleção dos administradores, com critérios transparentes e neutros,
em termos de género; regra de preferência para o candidato do sexo
sub-representado, no caso de candidatos igualmente qualificados de ambos os
sexos; divulgação dos critérios de qualificação, caso seja solicitada por
candidato reprovado; compromissos individuais das empresas cotadas, para
alcançarem o equilíbrio de género entre os administradores executivos; relatórios
sobre a composição dos conselhos e os obstáculos para cumprir a meta da
Diretiva, quando aplicável, e sobre as ações para superá-los; e sanções
eficazes, proporcionais e dissuasivas para as empresas que não cumpram as
obrigações transparentes de seleção e apresentação de relatórios, sanções que
são definidas pelos estados-membros, podendo incluir multas e nulidade ou anulação
da nomeação dos administradores contestados, se necessário.
São
metas claras de representação-nomeação transparente para melhorar o equilíbrio
de género.
A
Diretiva também exige que os estados-membros publiquem uma lista de empresas
que atingiram as metas de equilíbrio de género, e que designem um ou mais
órgãos para a promoção, análise, monitorização e apoio ao equilíbrio de género
nos conselhos de administração.
A
Comissão Europeia – que, ao longo do período de transposição, apoiou os estados-membros
para garantir a transposição correta, por exemplo, através de workshops e de consultas bilaterais – verificará
as notificações dos estados-membros sobre as suas medidas de transposição e se
essas medidas transpõem corretamente as disposições da diretiva, podendo
iniciar processos por infração contra os estados-membros que não notifiquem a
transposição ou não transponham corretamente a diretiva.
O
Eurobarómetro Especial sobre Estereótipos de Género de 2024 mostra que os
cidadãos da UE apoiam a igualdade de género como benéfica para todos. Foram
observados progressos positivos, com três em cada quatro entrevistados a
concordar que os homens também beneficiam da igualdade de género. Assim, 55%
dos cidadãos da UE são a favor da introdução de medidas para superar a
sub-representação das mulheres na tomada de decisões. Em toda a UE, as mulheres
representam 34% da percentagem de membros dos conselhos de administração das
maiores empresas cotadas, conselhos de supervisão ou conselhos de
administração. O Índice do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE)
de 2024 classificou o empoderamento das mulheres na tomada de decisões
económicas em 57,6%, ou seja, 2,9% acima do registado em 2023.
A
ação legislativa para abordar o desequilíbrio de género continua a impulsionar
o progresso, e as evidências mostram que o desequilíbrio de género é duas vezes
mais grave em países que não tomaram medidas substanciais, em comparação com os
países que introduziram medidas. Os países com quotas nacionais têm a maior
percentagem de mulheres como membros dos conselhos de administração de empresas
cotadas.
A
Comissão propôs esta Diretiva em novembro de 2012. Após dez anos de discussões,
o Parlamento Europeu (PE) e o Conselho chegaram a acordo político, em junho de
2022. O prazo para transpor as disposições da Diretiva terminou dois anos depois,
a 28 de dezembro de 2024.
Para
aproveitar os progressos obtidos na Estratégia para a Igualdade de Género
2020-2025, a Comissão adotará, em 2026, o Roteiro para os Direitos das Mulheres
para reforçar o compromisso com a União da Igualdade e para lançar as bases do
reforço dos direitos das mulheres e da sua capacitação no mercado de trabalho e
em posições de liderança.
***
Só
se espera pelo êxito da presidência polaca e da UE, no seu conjunto.
2025.01.05 – Louro de Carvalho
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