A 15 de janeiro,
foi anunciado um acordo de cessar-fogo e de troca de reféns e de prisioneiros entre
Israel e o Hamas, para entrar em vigor a 19 de Janeiro, com desenvolvimento em três
fases.
O anúncio
ocorreu no Catar, país onde decorreram intensas negociações. “O Catar, o Egito
e os Estados Unidos da América [EUA] têm o prazer de declarar o sucesso dos
esforços conjuntos de mediação, depois de as partes em conflito, em Gaza, terem
chegado a um acordo para a troca de prisioneiros e reféns”, afirmou Mohammed
bin Abdulrahman Al Thani, primeiro-ministro do Catar, numa conferência de
imprensa, em Doha, sem especificar as horas exatas a que a trégua será levada a
efeito, mas vincando: “Esperemos que esta seja a última página [da guerra].”
Só falta a
ratificação por parte do governo israelita, sendo expectável que a maioria dos
ministros aprove o acordo, embora isso possa custar a demissão de dois ministros,
mas, segundo o Times of Israel, estava
previsto o gabinete de segurança de Israel reunir-se, no dia 16, pelas 11h00
locais, para aprovar o acordo mediado por altos responsáveis cataris e egípcios
com apoio dos EUA.
Joe Biden, o ainda
presidente dos EUA, confirmou que foi alcançado um acordo de cessar-fogo,
após 15 meses de conflito entre Israel e o Hamas, e avançou que está previsto
um cessar-fogo total e completo,
bem como a retirada das forças
israelitas da faixa de Gaza e de todos os reféns detidos pelo Hamas. “Em
breve, os reféns regressarão a casa para junto das suas famílias”, asseverou Joe
Biden, acrescentando que, em contrapartida, “Israel libertará os prisioneiros
palestinianos”.
Durante
a primeira fase do
acordo, os Palestinianos podem regressar aos seus bairros e será reforçada a
assistência humanitária na Faixa de Gaza.
As
autoridades norte-americanas adiantaram, antes do anúncio do acordo, que, na
fase inicial, haverá trégua de 42 dias e a libertação do primeiro grupo de 33
reféns. E, segundo o Washington Post,
um funcionário israelita, que falou sob anonimato, disse, no dia 14, que os
reféns libertados, na primeira fase, seriam crianças, mulheres, feridos e
pessoas com 50 anos ou mais.
Israel e o
Hamas iniciarão novas negociações, na segunda fase, com vista ao fim permanente da guerra. Se as
negociações demorarem mais de seis semanas, o cessar-fogo manter-se-á. E, na terceira fase, os restos mortais dos
reféns mortos às mãos do Hamas serão devolvidos às famílias e iniciar-se-á o
plano de reconstrução da Faixa de Gaza, território que foi devastado pela
campanha militar israelita, da qual resultaram 46 mil mortos.
Joe Biden
deixa claro que o acordo “não foi fácil”, considerando-o uma das negociações
mais difíceis. Questionado sobre a influência do presidente eleito neste
desfecho, Biden puxou os méritos para si: “Apresentei os contornos exatos do
plano, em 31 de maio de 2024, o qual foi depois aprovado por unanimidade pelo
Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]. A minha
diplomacia nunca parou nos seus esforços para conseguir isto.”
Abordando a
situação global do Médio Oriente, o presidente dos EUA disse que o Irão está
mais fraco do que alguma vez esteve em décadas e que o Hezbollah está
“gravemente debilitado”.
A União Europeia UE) aplaudiu o
cessar-fogo. “Congratulo-me com
o acordo de cessar-fogo e com o acordo sobre os reféns entre Israel e o Hamas,
que trará o alívio tão necessário às pessoas afetadas pelo conflito devastador”,
escreveu, na rede social X, Dubravka
Suica, Comissária europeia para o Mediterrâneo, vincando: “A UE continua empenhada em apoiar
todos os esforços no sentido de uma paz e de uma recuperação duradouras.”
O presidente
eleito dos EUA, que segue com proximidade o processo das negociações,
também confirmou, na rede social Truth
Social, que foi alcançado um acordo de libertação de reféns e cessar-fogo. “Temos
um acordo para os reféns no Médio Oriente. Eles serão libertados em breve.
Obrigado!”, escreveu Donald Trump.
Steve
Witkoff, enviado especial de Trump para o Médio Oriente, terá tido papel
importante, tendo estado reunido com o primeiro-ministro, israelita Benjamin
Netanyahu, durante o fim de semana anterior, para dar conta do interesse do presidente
eleito em conseguir um acordo antes da tomada de posse da nova administração
norte-americana, marcada para 20 de janeiro.
O secretário-geral
da ONU, António Guterres, outra das vozes que se congratulam com o acordo, elogia
os mediadores, mas enfatiza a necessidade de respeitar, na íntegra, os termos
do cessar-fogo. “Apelo a todos para que respeitem os seus compromissos e
assegurem a plena aplicação deste acordo”, escreveu o líder da ONU na rede
social X, pedindo que se estabeleça
uma “via política credível para um futuro melhor para Palestinianos, Israelitas
e toda a região”, e reiterando o apelo a uma solução de dois Estados.
“O fim da
ocupação e a obtenção de uma solução negociada para a coexistência de dois
Estados, com Israel e a Palestina a viverem lado a lado em paz e segurança, em
conformidade com o direito internacional, as resoluções pertinentes da ONU e os
acordos anteriores, continuam a ser uma prioridade urgente. Só através de uma
solução viável que preveja a coexistência de dois Estados será possível
satisfazer as aspirações de ambos os povos”, finalizou.
***
As reações
dos líderes mundiais têm sido abundantes, saudando o acordo de cessar-fogo em
Gaza.
Os
mediadores afirmam que foi alcançado um acordo histórico para interromper a
guerra de 15 meses na Faixa de Gaza. E Israel afirmou que o acordo está na sua
fase final.
O
primeiro-ministro israelita recusou-se a comentar o acordo, até que todos os
pormenores e artigos do acordo estejam finalizados. O seu gabinete, em
comunicado, afirmou que os últimos pormenores estão a ser resolvidos e
manifestou a esperança de que o acordo esteja concluído no dia 16, após o que o
primeiro-ministro israelita dará reconhecimento formal do assunto.
O presidente
israelita, Isaac Herzog, elogiou Netanyahu e a sua equipa de negociadores pelos
esforços envidados para chegar a um acordo. Numa declaração transmitida pela
televisão, Herzog disse que é preciso fazer mais, instando Netanyahu a aceitar
o acordo em cima da mesa e a trazer os reféns para casa.
O Hamas,
após o anúncio do acordo, declarou que o grupo “não perdoará” a Israel pelo
sofrimento que causou a Gaza e ao seu povo, durante a guerra. “Em nome de todas
as vítimas, de cada gota de sangue derramada e de cada lágrima de dor e
opressão, dizemos: Não esqueceremos e não perdoaremos”, disse Khalil al-Hayya,
negociador-chefe do Hamas.
O presidente
dos EUA, Joe Biden, afirma que, o acordo foi conseguido, graças a meses de
trabalho intensivo da parte da sua diplomacia, apesar de a sua equipa e a de
Trump o terem negociado como uma só. Assim, foi “desenvolvido para negociar”
durante a sua administração, mas será implementado, em grande parte, pela de
Trump.
Donald
Trump, por seu lado, não deixou de aproveitar o momento para reivindicar o
crédito pelo acordo “épico”. “Este acordo de cessar-fogo épico só poderia ter
acontecido como resultado da nossa vitória histórica, em novembro, uma vez que
sinalizou ao Mundo inteiro que a minha administração iria procurar a paz e negociar
acordos para garantir a segurança de todos os americanos e dos nossos aliados.
Estou entusiasmado com o facto de os reféns americanos e israelitas regressarem
a casa para se reunirem com as suas famílias e entes queridos.”
“Conseguimos
tanto sem sequer estarmos na Casa Branca. Imaginem todas as coisas maravilhosas
que irão acontecer quando eu regressar à Casa Branca e a minha Administração
estiver totalmente confirmada, para que possam assegurar mais vitórias para os
Estados Unidos”, acrescentou.
Além das
óbvias congratulações governos mediadores, bem como da UE e da ONU, são de
registar os elogios do chanceler alemão, Olaf Scholz, que está a preparar as
próximas eleições no seu país, sustentando que “o cessar-fogo abre a porta a um
fim definitivo da guerra e à melhoria da má situação humanitária em Gaza”.
Keir Starmer
emitiu uma declaração pouco depois de o primeiro-ministro do Qatar ter
anunciado o acordo. Depois de meses de derramamento de sangue devastador e de
inúmeras vidas perdidas, esta é a notícia há muito esperada pelos povos
israelita e palestiniano”, afirmou o primeiro-ministro britânico.
Pedro
Sánchez, primeiro-ministro espanhol, congratulou-se com o acordo, sublinhando
que esta evolução positiva deve pôr termo ao conflito e permitir que a ajuda
humanitária possa aliviar, imediatamente, os inúmeros Palestinianos que
necessitam urgentemente de bens e de assistência básicos. E considerou que
todos os reféns detidos em Gaza devem ser libertados em segurança, salientando
que o acordo é um passo crucial e indispensável no caminho para uma paz
permanente, numa solução de dois Estados.
O presidente
turco saudou o acordo agora alcançado. “Esperamos que o acordo seja benéfico
para a nossa região e para toda a Humanidade, especialmente, para os nossos
irmãos palestinianos, e que abra a porta a uma paz e estabilidade duradouras”,
escreveu Recep Tayyip Erdoğan, num post no X,
vincando: “Como Türkiye, nunca deixámos os nossos irmãos palestinianos sozinhos,
nem por um momento, na sua luta contra a opressão e a tirania.”
A ONU e
organizações, como a Oxfam e a Amnistia Internacional (AI), há muito que
criticam Israel pela sua conduta de guerra e acusam-no de fabricar uma crise
humanitária.
A ONU informou
que a sua investigação indicava que cerca de 1,9 milhões, dos 2,1 milhões de
habitantes de Gaza, tinham sido deslocados, algumas vezes, durante os 15 meses
de combates. E mais de um milhão de pessoas, em Gaza, correm o risco de passar
fome e dependem de ajuda alimentar, que, por vezes, não é garantida.
A Oxfam
congratulou-se com o anúncio do tão esperado cessar-fogo em Gaza. Em comunicado,
Sally Abi Khalil, diretora regional do grupo para o Médio Oriente e Norte de
África (Oxam MENA), afirmou: “A Oxfam congratula-se com o anúncio de um
cessar-fogo, com o acordo inicial sobre a libertação dos reféns israelitas e de
alguns dos detidos palestinianos, e com o cessar-fogo temporário na Faixa de
Gaza, após 15 meses de uma guerra sem tréguas.”
“Israel
aplicou um terrível castigo coletivo aos Palestinianos em Gaza, incluindo
crimes contra a Humanidade – utilizando alimentos e água como armas de guerra,
deslocando à força, praticamente, toda a população, sitiando o Norte de Gaza e
tornando Gaza praticamente inabitável”, continuou Khalil, frisando: “Milhares
de palestinianos foram ilegalmente detidos e torturados sem um processo justo.
Estas ações não devem ficar sem resposta – o direito e as normas internacionais
devem ser aplicados universalmente, incluindo a Israel, que deve ser
responsabilizado pelos seus crimes de guerra, para garantir justiça às vítimas
e impedir futuras violações.”
Também a AI comentou
que “a notícia de que foi alcançado um acordo de cessar-fogo trará algum alívio
às vítimas palestinianas do genocídio de Israel”, mas já devia ter sido feito
há muito tempo. “Para os Palestinianos que perderam inúmeros entes queridos e
que, em muitos casos, viram as suas famílias inteiras dizimadas ou viram as
suas casas reduzidas a escombros, o fim dos combates não começa a reparar as
suas vidas destroçadas nem a curar o seu trauma”, sustenta o grupo humanitário,
vincando que, enquanto não forem abordadas as causas profundas do conflito,
Palestinianos e Israelitas “não podem sequer começar a ter esperança num futuro
melhor, assente em direitos, igualdade e justiça”.
A AI diz que
Israel tem de desmantelar os sistemas brutais de apartheid que impõe para dominar e oprimir os palestinianos e pôr
fim à ocupação ilegal dos territórios ocupados. Só então os Palestinianos terão
verdadeiramente motivos para celebrar.
***
Nas 24 horas
subsequentes ao delineamento do acordo, os negociadores israelitas e do Hamas
deveriam apresentar aos seus dirigentes, para aprovação final, uma proposta de
acordo de cessar-fogo que, sendo aceite, porá fim a mais de um ano de guerra.
Um
funcionário familiarizado com as negociações revelou que houve um avanço e que
cada lado estava a levar um projeto de acordo formal aos seus líderes, para
aprovação final. E um funcionário dos EUA ao corrente das negociações disse que
todas as partes estavam “mais próximas do que alguma vez estiveram, mas ainda
podem desencontrar-se”, pois há uma série de pontos de atrito no acordo entre
Israel e o Hamas. Os dirigentes norte-americanos, que há mais de um ano tentam
mediar um acordo com o Egito e o Catar, afirmaram, várias vezes, ao longo do
ano passado, que estavam prestes a chegar a um acordo, mas que as discussões se
atrasaram. O acordo tinha sido travado por uma série de questões controversas,
incluindo pormenores sobre a retirada das tropas israelitas e a troca de reféns
por prisioneiros palestinianos.
O Hamas
afirmava que não libertaria um certo número de reféns israelitas detidos em
Gaza, sem que Israel retirasse as suas tropas. E Israel prometia continuar a
luta, até à “vitória total”.
***
Entretanto,
a 16 de janeiro, o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu,
afirmou que o governo não se
reuniria para aprovar o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e a
libertação de dezenas de reféns, até que o Hamas recuasse perante a “crise de
última hora”. Com efeito, acusou, sem dar pormenores, o Hamas de renegar certas partes do acordo para
“extorquir concessões de última hora”. Porém, Izzat al-Rashq, alto funcionário
do Hamas, disse que o grupo “está empenhado em respeitar o acordo de
cessar-fogo, que foi anunciado pelos mediadores”.
Enfim, apos
a euforia do dia 15, à noite, a manhã do dia 16 lançou para o terreno um balde
de água fria. Parece que Israel e/ou o Hamas, surdos aos elogios e aos apelos
de tantos países e de tantas organizações, estão a gozar com o Mundo.
2025.01.16 – Louro de Carvalho
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