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19 de janeiro, dia da entrada em vigor do acordo de cessar-fogo entre Israel e
o Hamas, foram entregues às autoridades israelitas,
através da Cruz Vermelha Internacional (CVI), três mulheres israelitas mantidas
reféns pelo Hamas, durante 15 meses (471 dias). As mães estavam à sua espera
para as receberem.
O Comité Internacional
da Cruz Vermelha (CICV) recebeu as reféns do Hamas, poucas horas após o início
do cessar-fogo, entre Israel e o Hamas, num local de recolha combinado e que,
depois, seriam (e foram) transportadas para território israelita num
helicóptero das Forças de Defesa Israelita (FDI).
Os meios de comunicação
social israelitas, com imagens em direto da Al
Jazeera, sediada no Qatar, mostraram as três mulheres a caminhar até aos
veículos da CVI, enquanto o seu comboio automóvel atravessava a cidade de Gaza,
acompanhado por homens armados que usavam fitas verdes do Hamas e lutavam para
proteger os carros de uma multidão indisciplinada que chegava aos milhares.
De acordo com as FDI,
as três mulheres – Romi Gonen, Emily Damari e Doron Steinbrecher, que estiveram
detidas em Gaza, durante 15 meses (471 dias) – foram entregues à CVI que, por
sua vez, as passou às forças especiais da Israel Securities
Authority (ISA). E, assim que chegassem a Telavive, seriam
submetidas a exames médicos, segundo indicaram as FDI.
Emily Damari, que tem
dupla nacionalidade (britânica e israelita), e Doron Steinbrecher foram
capturadas por homens armados do Hamas, no kibutz de Kfar Aza, onde viviam.
Damari foi baleada no momento do rapto. E Romi Gonen, de 24 anos, que foi
raptada durante o Festival de Música Nova, em 7 de outubro de 2023, tentou
fugir mas foi baleada enquanto era feita refém.
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Depois de terem surgido
algumas dúvidas sobre se o acordo seria aprovado pelo governo israelita (Israel
acusava o Hamas de fazer exigências de última hora, enquanto o Hamas dizia não
perdoar a Israel todo o sofrimento infligido a Gaza), o gabinete de segurança
de Israel recomendou, a 17 de janeiro, ao Conselho de Ministros a aprovação de
um acordo de cessar-fogo que interromperia os combates em Gaza e trocaria
dezenas de reféns detidos pelo Hamas por prisioneiros palestinianos em Israel. A
recomendação foi feita “depois de examinados todos os aspetos diplomáticos” do
acordo, referiu o gabinete do primeiro-ministro de Israel.
A seguir, o acordo, que tem sido adiado após vários atrasos, foi
submetido à aprovação final do Conselho de Ministros. De acordo com a agência
Reuters, 24 dos ministros do
executivo votaram a favor e oito contra.
A aprovação surge após
um atraso que provocou receios de que divergências de última hora entre o Hamas
e Israel pudessem travar o acordo. Por outro lado, o primeiro-ministro
israelita, Benjamin Netanyahu, enfrentou a oposição de membros da linha dura do
seu governo de coligação, que ameaçaram demitir-se, devido à proposta.
Está previsto que o Supremo Tribunal de Israel ouça petições contra diferentes aspetos do acordo, mas não se espera que intervenha.
Nos termos do acordo, o
Hamas deverá libertar 33 reféns, em troca de centenas de Palestinianos detidos
em Israel. No final da primeira fase, todos os reféns vivos, mulheres, crianças
e idosos, detidos pelo grupo militante, deverão ser libertados.
No primeiro dia oficial do cessar-fogo, o Hamas deverá libertar três reféns, seguindo-se outros quatro no sétimo dia. Depois disso, as libertações serão semanais.
Os restantes, incluindo
os soldados, deverão ser libertados numa segunda fase, que será negociada durante
a primeira. O Hamas afirmou que não libertará os restantes prisioneiros, sem um
cessar-fogo duradouro e uma retirada total de Israel.
A primeira fase do
cessar-fogo, com início no domingo, 19 de janeiro, deverá durar seis
semanas (42 dias): inclui a retirada gradual das
forças israelitas do centro de Gaza e o regresso dos Palestinianos deslocados ao Norte de
Gaza. Prevê-se, igualmente, que Israel liberte cerca de
dois mil prisioneiros detidos nas suas prisões.
Segundo o acordo, seiscentos camiões carregados de ajuda humanitária serão autorizados a
entrar em Gaza em
cada dia do cessar-fogo, cinquenta deverão transportar combustível e trezentos
destinam-se ao Norte da Faixa de Gaza. A Agência das Nações
Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) já anunciou que quatro mil camiões aguardam autorização
para entrar ali.
Segundo o governo
português, pelo menos um cidadão com nacionalidade portuguesa e dois com
ligações ou eventuais ligações a Portugal, feitos reféns em Gaza desde outubro
de 2023, poderiam ser libertados no dia 19. “Até este momento, com a informação
disponível, temos um cidadão com nacionalidade portuguesa e dois com ligações
ou eventuais ligações a Portugal confirmados na lista de reféns”, adiantara uma
fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) à Lusa, ressalvando que, no entanto, que estas informações estavam “sujeitas
a eventual retificação”.
Na verdade, tal libertação
não aconteceu no primeiro dia.
Ofer Kalderon, que tem
nacionalidade portuguesa, Or Levy e Tsahi Idan, que têm eventuais ligações a
Portugal, serão os três reféns em causa. Há, ainda, três homens que terão
ligações a Portugal que permanecem reféns em Gaza.
No dia 15, o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, e o mediador principal, o Qatar, anunciaram as tréguas, que levaram meses de negociações meticulosas. Se for aplicado, o acordo constituirá, pelo menos, uma pausa temporária nos combates que mataram dezenas de pessoas e devastaram a Faixa de Gaza.
***
Entretanto, o ministro da Segurança Nacional de
Israel, Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita, e dois outros ministros do partido
religioso Poder Judaico demitiram-se.
O partido do ministro da Segurança Nacional de Israel afirma que os seus
ministros apresentaram a sua demissão do governo, em oposição ao acordo
de cessar-fogo em Gaza. A saída do partido Poder Judaico do governo do
primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não faz cair a coligação, nem
afeta o cessar-fogo, mas a saída de
Ben-Gvir desestabiliza a coligação.
O acontecimento ocorreu pouco antes de o Hamas ter indicado os três reféns
que tencionava libertar no domingo, dia 19, abrindo assim caminho para o
cessar-fogo em Gaza.
Já no domingo, Israel tinha dito que não iria avançar com o cessar-fogo,
uma vez que não tinha recebido os nomes dos reféns – facto que ajudou ao atraso,
por horas, da vigência do cessar-fogo.
O início da vigência estava previsto para as 6h30, mas foi protelado para
as 9h30.
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O cessar-fogo na Faixa de Gaza (frágil, segundo alguns) entrou
em vigor e o Hamas libertou as três primeiras mulheres reféns que manteve
durante os 15 meses da guerra devastadora com Israel. Vários líderes mundiais, incluindo
Joe Biden, reagiram à trégua.
O ainda presidente dos
EUA, Joe Biden, durante uma visita a uma igreja em North Charleston, Carolina
do Sul, afirmou que “as armas em Gaza se calaram”, no âmbito de um acordo de
cessar-fogo que delineou em maio.
Falando das reféns que
estavam a ser libertadas ao abrigo do cessar-fogo, Joe Biden disse que tinha
acabado de receber uma chamada a dizer que as três estavam a ser libertadas,
acrescentando que “parecem estar de boa saúde”.
Joe Biden disse caber,
agora, à administração Trump ajudar a implementar o acordo. “Fiquei satisfeito
por a nossa equipa ter falado a uma só voz, nos últimos dias. Foi necessário,
eficaz e sem precedentes”, afirmou Biden, acrescentando que “o sucesso vai
exigir persistência e apoio contínuo aos nossos amigos, na região, e a crença
na diplomacia apoiada pela dissuasão”.
O presidente eleito,
Donald Trump, congratulou-se com a libertação das três reféns detidas por
militantes em Gaza, no âmbito de um acordo de cessar-fogo com Israel que teve
início no domingo. “Os reféns começam a sair hoje! Três jovens mulheres
maravilhosas serão as primeiras”, escreveu Trump, numa publicação na plataforma
de redes sociais Truth Social.
Também o presidente Conselho
Europeu demonstra “alívio” com a libertação dos reféns. “É com alívio que vejo,
finalmente, os primeiros reféns a serem libertados e a ajuda humanitária a
entrar, à medida que o cessar-fogo entra em vigor em Gaza. O acordo traz um
vislumbre de esperança muito necessário para a região. Todas as partes devem
aderir ao acordo. A paz é o único caminho a seguir”, escreveu António Costa, na
rede X.
A presidente da
Comissão Europeia também manifestou esperança ao ver a libertação das três
reféns, no domingo, à tarde: “Romi Gonen, Emily Damari e Doron Steinbrecher são
livres. Outros devem seguir-se. Ver o reencontro dos reféns com as suas famílias
enche-nos o coração de esperança. Que este seja o início de um novo capítulo,
para Israel e para o povo palestiniano. O cessar-fogo deve manter-se. A Europa
apoiá-lo-á”, escreveu von der Leyen, na rede X.
O Papa Francisco
expressou a sua gratidão pelo cessar-fogo, em Gaza, e elogiou o papel dos
mediadores.
Francisco agradeceu a
todos os envolvidos que trabalharam para tornar o acordo possível, rezando para
que todos os reféns possam regressar a casa e abraçar, novamente, os seus entes
queridos.
O Sumo Pontífice
referiu que continua a rezar para que o que foi acordado “seja respeitado”.
Francisco também rezou
para que a tão necessária ajuda humanitária possa chegar a Gaza, o mais
rapidamente possível, e para que a comunidade internacional continue a ajudar
ambas as partes a melhor promover “o diálogo, a esperança e a paz”. “Tanto os
Israelitas como os Palestinianos necessitam de sinais claros de esperança:
espero que as autoridades políticas de ambos, com a ajuda da comunidade
internacional, possam alcançar a solução adequada para os dois Estados. Que
todos possam dizer ‘sim’ ao diálogo, ‘sim’ à reconciliação, ‘sim’ à paz. E
rezemos por isso: pelo diálogo, pela reconciliação e pela paz”, pode ler-se no Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé,
de 19 de janeiro, que recolhe as palavras do Papa por ocasião da recitação do Angelus.
E o presidente francês,
Emmanuel Macron, afirma que a França tenciona trabalhar com outras nações para
garantir “a plena implementação” do cessar-fogo em Gaza.
Emmanuel Macron
“congratula-se com o facto de o Conselho de Ministros israelita ter aprovado o
acordo de cessar-fogo” e “agradece, calorosamente, aos mediadores egípcios, do
Qatar e americanos que contribuíram para esse acordo”.
O seu gabinete disse
que Macron falou, no dia 18, por telefone, com as famílias de dois reféns
franco-israelitas ainda em cativeiro, Ofer Kalderon e Ohad Yahalomi.
O comunicado refere que
as suas famílias “vivem, há 15 meses, numa angústia que toda a nação francesa
partilha. ... Ohad e Ofer estão agora na primeira lista de reféns a serem
libertados”.
O presidente francês
afirmou que os dois fazem parte da lista de 33 reféns a libertar na primeira
fase do acordo de cessar-fogo.
***
Enfim, calaram-se as
armas, esperamos que para sempre. Isto só revela que, se os decisores optarem
pelo diálogo, em vez do conflito, a paz está sempre ao alcance de todos. Não
havia necessidade de tanto sofrimento, de tanta destruição, de tantas mortes,
mas são os caprichos da guerra, que deixa tudo em cacos. Oxalá que a paz dure e
seja saborosa, pela reconstrução do território e pela construção de uma convivência
saudável!
2025.01.19 – Louro de Carvalho
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