O conselho de governadores do Banco Central Europeu
(BCE), na reunião de 11 de
abril, à semelhança do que aconteceu nas quatro anteriores, voltou a deixar as suas taxas de juro inalteradas. Assim,
pela quinta vez, a instituição responsável pela política monetária da Zona Euro
não mexeu nas taxas diretoras do banco central.
Não obstante, o BCE mostrou-se mais otimista, moderou o discurso e abriu a
porta a uma descida, na reunião de 6 de junho, ocorrendo então o primeiro corte
de juros desde 2019.
Com a
inflação da Zona Euro a aliviar em direção à meta dos 2% e com a atividade
económica a permanecer débil, estão
reunidas as condições para o organismo liderado por Christine Lagarde começar a
baixar o nível restritivo da política monetária, mas ainda há
necessidade de maior certeza de que a inflação está controlada e de que não
surgirão efeitos secundários relacionados com a evolução dos salários e dos
preços das matérias-primas.
Contudo, existe um consenso cada vez mais forte de que o
mês de junho será marcado pelo primeiro corte de juros da Zona Euro, em quase
cinco anos. O BCE desceu os juros, pela última vez, em setembro
de 2019, quando colocou a taxa dos depósitos em -0,5%. Os juros ficaram em
mínimos históricos até julho de 2022, seguindo-se, depois, 10 agravamentos
consecutivos em pouco mais de um ano, num total de 450 pontos base, ou seja 4,5
pontos percentuais (4,5%).
O conselho
de governadores aproveitou a reunião de abril para reforçar esta perspetiva,
havendo a dúvida se o faria de forma explícita, pré-anunciando
o corte de juros, em junho, ou se deixaria apenas o terreno preparado avançar
daqui a dois meses. Já na reunião de março a presidente do BCE
deu um passo em ordem à baixa dos juros, mencionando que
“saberemos um pouco mais em abril, mas saberemos muito mais em junho”. E, agora,
a informação foi bastante contida.
Os dados revelados, desde
então, deram ao banco central maior confiança para inverter a política
monetária. A inflação de março baixou para 2,4%, um mínimo
desde julho de 2021. O indicador subjacente, que exclui
alimentos e energia, baixou duas décimas para 2,9%, o que representa o nível
mais baixo desde fevereiro de 2022.
No atinente à atividade económica, os dados mais recentes apontam para a continuação da estagnação, mas com sinais de melhoria em março. A indústria está a recuperar e os indicadores avançados sugerem que o ponto mais baixo do ciclo já ficou para trás. Porém, este progresso não deverá ser suficiente para impedir uma recessão técnica na Alemanha.
Até à reunião de 6 de
junho serão conhecidos os dados do produto interno bruto (PIB) dos países da
Zona Euro, no primeiro trimestre, os números da inflação de abril e maio e a
evolução dos salários. Será a última peça
do puzzle para o BCE avançar com cortes de juros, sendo expectável
que se acentue a tendência de abrandamento a tornar-se evidente no último
trimestre de 2024.
À espera destes dados, o Comité de Política Monetária do BCE optou pela
quinta manutenção da taxa dos depósitos, que está nos 4%, desde o último aumento,
em setembro de 2023. A taxa de juro aplicável às operações
principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade
permanente de cedência de liquidez devem permanecer nos 4,5% e 4,75%,
respetivamente.
As poucas dúvidas que existiam sobre
a abertura para o BCE baixar os juros, em junho, ficaram desfeitas, depois de Joachim Nagel (do Bundesbank) e Robert Holzmann
(do banco central da Áustria), dois dos membros mais conservadores (“falcões”)
do conselho do BCE, terem admitido este cenário. Alguns líderes
de outros bancos centrais de países da Zona Euro defenderam que o corte de
juros deveria estar em cima da mesa na reunião de abril, mas a probabilidade de
tal acontecer era considerada “minúscula” pelos economistas.
Os investidores estão a descontar um corte
acumulado entre 80 a 90 pontos base, em 2024, o que aponta para,
pelo menos, três cortes de 25 pontos base, até dezembro. O consenso dos
economistas emparceira com a sondagem da Bloomberg, que apontava para três
cortes de juros, neste ano, com uma redução em cada trimestre. Depois de junho,
o BCE tem reuniões agendadas para 18 de julho, para
12 de setembro, para 17 de outubro e para 12 de dezembro.
Alguns economistas não
esperavam um corte nas taxas, já em abril, mas acreditavam que o BCE deixaria
para junho o primeiro corte de 25 pontos base, já que o rumo da economia é propício a uma redução das
taxas, com a inflação a aproximar-se dos 2% (objetivo do banco central), sem
sinais de efeitos de segunda ordem que comprometam o objetivo, com
a atividade a estagnar num ambiente monetário restritivo, com elevada incerteza
e com fraca procura externa. Contudo, o BCE insiste
que os cortes não estão garantidos, dependendo da trajetória previsível da
inflação.
As perspetivas para a evolução da política
monetária mudam de forma célere, pelo que não se deve dar por
garantido que o BCE avance com um ciclo de corte de taxas de juro. A política
monetária da FED (reserva federal norte-americana) e a evolução dos preços do
petróleo representam a maior ameaça, embora os economistas descartem que seja
suficiente para demover o BCE de reduzir o nível restritivo das taxas de juro.
A
evolução robusta da economia norte-americana, a par da persistência da inflação
em níveis elevados nos Estados Unidos da América (EUA), levou o mercado a reduzir o número de cortes de juros
estimados para a FED, neste ano, para apenas dois, estando em
dúvida se a primeira baixa de juros acontece já em junho. O petróleo atingiu um máximo, desde outubro,
acima de 90 dólares por barril, acumulando uma subida de 16%, em 2024,
o que faz ressurgir o fantasma das pressões inflacionistas impulsionadas pelos
preços da energia.
É real a possibilidade de a FED esperar até à
segunda metade do ano para começar a cortar nas taxas de juro, bem como o risco
de nova crise energética provocada pela turbulência geopolítica.
Ora, a
economia da Zona Euro não tem a vitalidade da norte-americana, com a inflação a
estar também em níveis mais baixos. Não obstante, é provável que o BCE avance,
em junho, com um corte de 25 pontos base, e que repita, pelo menos, mais duas
vezes, até ao final do ano. Com efeito, se o
processo de desinflação não descarrilar, assistiremos a um progresso decente na
normalização da política monetária da Zona Euro, já neste ano.
O
Deutsche Bank entende que o BCE deve definir a política monetária em função dos
dados económicos. Ou seja, considerando “o
crescimento mais baixo, a inflação mais reduzida e as condições orçamentais
mais rigorosas, pode cortar os juros antes da FED e adotar uma magnitude e
frequência diferente, sobretudo no início do ciclo”, como referem
os seus economistas.
O cenário de o BCE descer
os juros antes da FED e de reduzir a política monetária de forma mais intensa saiu
reforçado no dia 10, depois de ter sido revelado que a inflação de março, nos
EUA, subiu para 3,5%, superando o estimado pelos economistas e o registado em
fevereiro (3,2%). O dólar reagiu em forte alta e vários analistas já admitem a possibilidade de o euro
regressar à paridade, face ao dólar (desvalorização de 8% face
aos níveis atuais).
***
“A inflação continuou a cair, liderada pela inflação mais baixa dos preços
dos produtos alimentares e dos bens”, refere o BCE, no comunicado com a decisão
de manutenção das taxas de juro, especificando: “A maior
parte das medidas da inflação subjacente estão a diminuir, o crescimento dos
salários está a moderar-se gradualmente e as empresas estão a absorver parte do
aumento dos custos laborais nos seus lucros.” É uma indicação de que
a entidade poderá estar a preparar o primeiro corte de juros em junho, como
esperado pelo mercado.
Tal como no anterior comunicado, o BCE reitera que “as condições de
financiamento são restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro
continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação”,
acrescentando, porém, que “as pressões internas sobre os preços são fortes e
mantêm a inflação dos preços dos serviços elevada”.
“Se a avaliação atualizada do Conselho do BCE relativamente às perspetivas
de inflação, a dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão da
política monetária aumentassem ainda mais a sua confiança em que a inflação
está a convergir para o objetivo de forma sustentada, seria apropriado reduzir o nível atual de restrição da política
monetária“, admite o conselho do BCE, abrindo, claramente, a porta a uma
descida de juros, o que vem dar força às expectativas dos mercados,
que estão a apontar para junho a primeira descida de juros.
Os investidores, como se disse já, estão a descontar um corte acumulado
entre 80 a 90 pontos base, em 2024, o que aponta para pelo menos três cortes de
25 pontos base, até dezembro. A sondagem da Bloomberg aponta
para três cortes de juros, neste ano, com uma redução em cada trimestre. Depois
de junho, o BCE tem reuniões agendadas para 18 de julho, 12 de setembro, 17 de
outubro e 12 de dezembro.
Para já, a taxa de facilidade permanente de depósito
permanece nos 4%,
mantendo-se no nível mais elevado de sempre. A taxa de juro aplicável às
operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à
facilidade permanente de cedência de liquidez mantém-se nos 4,5% e nos 4,75%,
respetivamente.
O conselho do BCE refere, porém, que continuará a decidir reunião a
reunião, com base nos dados económicos, “para determinar o nível e a duração
apropriados da restrição, e não se compromete previamente
com uma trajetória de taxas específica“.
Com a inflação a mostrar sinais de que está a convergir para o objetivo de
2% do banco central, os investidores estão mais confiantes numa mudança na
política monetária na Zona Euro. A inflação de março baixou para
2,4%, um mínimo desde julho de 2021. O indicador subjacente baixou
duas décimas para 2,9%, o que representa o nível mais baixo desde fevereiro de
2022.
Quanto ao programa de compra de ativos (APP) e do programa de compra de
ativos devido a emergência pandémica (PEPP), o BCE não fez alterações,
reiterando que a carteira do APP está a “diminuir a um ritmo comedido e
previsível” e que no primeiro semestre deste ano, “o Conselho do BCE tenciona
continuar a reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos
vincendos adquiridos ao abrigo do PEPP”.
Tal como no comunicado anterior, o BCE refere que, no segundo semestre,
pretende reduzir a carteira do PEPP, em média, em 7,5 mil milhões de euros por
mês e relembrou que “o Conselho do BCE tenciona descontinuar os reinvestimentos
no contexto do PEPP no final de 2024”.
***
O Banco Nacional da Suíça inaugurou o ciclo de corte de juros, tendo
decidido, na reunião de 21 de março, reduzir os juros em 25 pontos-base,
fixando a taxa em 1,5%, a segunda mais baixa depois do Japão (fixada entre 0% e
0,1%) nas economias desenvolvidas. Nas reuniões já realizadas em abril por
bancos centrais de economias desenvolvidas, o Banco do Canadá e o Banco da
Reserva da Nova Zelândia não mexeram nos juros. Na União Europeia (UE), entre
as economias emergentes fora do euro, a Chéquia e a Hungria cortaram juros, em
março.
O mercado da dívida norte-americana e Wall Street viveram um pequeno abalo
sísmico, a 10 de abril, depois de ser avançada a estimativa para a inflação, em
março, nos EUA, que subiu para 3,5%, com a inflação subjacente a manter-se, pelo
segundo mês, em 3,8%. E os juros da dívida, a 10 anos, subiram acima de 4,5% (o
que compara com 2,5% para as obrigações alemãs).
Entretanto, os mercados de futuros (mercado de futuro é um
ambiente de compra e venda de diversos ativos com data de vencimento
predeterminada) têm
negociado a taxa de remuneração dos depósitos, no caso do BCE, em vez da taxa
de refinanciamento (que é de 4,5%).
***
Vamos ver por quanto tempo se sentirão os governos a ajudar os detentores
de contratos de crédito à habitação a satisfazer os seus encargos com a banca. Por
outras palavras, quando teremos taxas decentes de juros de crédito à habitação?
a economia das famílias não pode ser asfixiada.
2024.04.13 – Louro de Carvalho
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