Na madrugada de 14 de abril, o Irão lançou, a partir de Teerão, um
ataque aéreo maciço contra Israel, tendo
danificado uma base militar no Sul do país, o que deixou a região em
alerta máximo.
As
Forças de Defesa Israelita (IDF) contaram “mais de 200” alvos, incluindo drones
kamikazes (os mesmos utilizados pela Rússia na Ucrânia), mísseis de cruzeiro e,
possivelmente, mísseis balísticos. Grande parte dos mísseis e drones que
sobrevoaram os céus do Iraque, da Síria, da Jordânia, da Cisjordânia e de
Israel foram intercetados pelas forças israelitas, americanas e jordanianas. A
imprensa local, citando “fontes não identificadas”, alegou que 99% dos alvos
foram abatidos. Já as IDF utilizaram a expressão “grande maioria” dos alvos
para afirmar o abate.
Entretanto,
Israel contabiliza, pelo menos, 12 feridos.
Contudo, as autoridades israelitas elogiaram o sucesso dos seus sistemas
de defesa, face a um ataque, sem precedentes, do governo iraniano.
Mais
tarde, as agências internacionais referiam que de acordo com as IDF, foram lançados cerca de 170 drones,
mais de 300 mísseis de cruzeiro e mais de 120 mísseis balísticos.
As forças
norte-americanas e britânicas ajudaram a abater drones iranianos sobre o espaço
aéreo da Jordânia, da Síria e do Iraque. Vários mísseis balísticos atingiram o
território israelita, causando danos numa base aérea.
Um dos
drones e mísseis iranianos que foram avistados nos céus da região do Curdistão
iraquiano, na madrugada de domingo, caiu na administração de Soran, no norte da
província de Erbil.
Em
conferência de imprensa realizada no dia 14, Hossein Amirabdollahian, ministro
dos Negócios Estrangeiros iraniano, afirmou que os países vizinhos do Irão tinham sido informados dos
ataques de retaliação contra Israel, com 72 horas de
antecedência.
Já no dia 14,
à noite, a missão iraniana na ONU escreveu nas redes sociais que “o assunto
pode ter sido considerado concluído. No entanto, se o regime israelita cometer
outro erro, a resposta do Irão será muito mais severa”, esclarecendo que se
trata de “um conflito entre o Irão e o regime israelita desonesto, do qual os
EUA devem manter-se afastados”.
Telavive ainda não anunciou qual será a sua resposta
ao ataque iraniano que
deixou 12 pessoas feridas, incluindo uma rapariga de 12 anos, na cidade de
Arad, no Sul do país.
Apesar
de décadas de inimizade, após 1979, este foi o primeiro ataque direto do território
iraniano contra Israel, ao passo que Israel atacou solo iraniano em anos
anteriores.
Autoridades
iranianas consideraram o ataque como retaliação pelo ataque de 1 de abril
contra o complexo diplomático iraniano, em Damasco, que tirou a vida a vários
oficiais iranianos. Por isso, milhares de pessoas celebraram o ataque a
Israel nas ruas de Teerão, a capital, enquanto muitos formaram longas filas em
postos de gasolina, para fazerem reservas em antecipação ao desenvolvimento dos
eventos.
O ataque estava previsto há vários
dias. Apenas algumas horas antes, Israel decidiu fechar as escolas para o
domingo (um dia útil no país). E, logo após o início do ataque, o espaço aéreo
israelita foi fechado ao tráfego civil. Dirigindo-se à nação, o
primeiro-ministro Netanyahu expressou esperança no apoio dos Estados Unidos da América
(EUA), do Reino Unido, da França e de outros países.
Os EUA
responderam, de imediato, alertando as suas forças na região. O presidente Joe
Biden, interrompendo umas pequenas férias, até regressou, logo, a Washington,
para se encontrar com os seus conselheiros de segurança, prometendo apoio “sólido”
a Israel contra os ataques do Irão.
O Reino Unido
e a França condenaram fortemente o ataque, classificando-o de “imprudente” e de
“ameaça à estabilidade regional”, no que foram acompanhados pela generalidade dos
países do Ocidente.
Por seu turno,
o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) também condenou os
ataques: “Estou profundamente alarmado com o perigo muito real de uma escalada
devastadora em toda a região”, escreveu António Guterres, acrescentando: “Tenho
enfatizado repetidamente que nem a região nem o Mundo podem suportar outra
guerra.”
No fim da
tarde do dia do ataque, altos comandantes militares iranianos anunciaram que
a “operação de retaliação” contra Israel se
encontrava “concluída”, tendo sido “mais bem-sucedida do que o
esperado”.
***
O Médio Oriente está, atualmente, em
alerta máximo, na sequência de um ataque iraniano, sem precedentes, contra
Israel, preparando-se para mais violência potencial entre Israel e o Irão. E a
questão que se levanta é: “O que está a
provocar a hostilidade entre Israel e o Irão?”
Um recente
ataque aéreo ao consulado iraniano na Síria reacendeu as hostilidades entre os
rivais regionais. Israel é suspeito de estar na origem do ataque, embora não
tenha reivindicado a responsabilidade. Vários oficiais superiores, incluindo
dois comandantes de topo da Guarda Revolucionária Iraniana, foram mortos no
ataque e o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, ameaçou “esbofetear” Israel, em
retaliação.
Porém, a ocorrência
daquele facto não é suficiente para a referida chuva de drones e de mísseis que
sobrevoaram os céus e se precipitaram sobre o território israelita. O incidente
veio evidenciar e sublinhar a profunda animosidade entre as duas nações,
enraizada em décadas de rivalidade geopolítica e diferenças ideológicas.
Inicialmente,
durante o reinado da dinastia Pahlavi, no Irão, as relações bilaterais eram
relativamente pacíficas. O Irão foi mesmo um dos primeiros países de maioria
muçulmana a reconhecer o estatuto de Estado de Israel. Este facto adequava-se à posição
diplomática de Israel, no sentido de criar laços com vizinhos não árabes, uma
vez que as nações árabes que rodeavam Israel eram hostis, após acontecimentos
como a “Nakba” (o êxodo palestino de 1948)
e a Guerra dos Seis Dias (entre Israel e o Egito, em 1967).
A dinâmica mudou drasticamente com a
Revolução Iraniana de 1979, que assistiu à criação da República Islâmica antiocidental,
sob o comando do Ayatollah Khomeini. Esta mudança de regime levou à rutura dos
laços diplomáticos entre o Irão e Israel, pois os novos governantes teocráticos
do Irão não reconheciam a legitimidade de Israel.
Os novos dirigentes iranianos, não
reconhecendo a legitimidade de Israel, apoiam os seus compatriotas muçulmanos
na Palestina e denunciam Israel como criação imperialista dos EUA.
Seguiu-se uma
paz fria. No entanto, com o início do governo de Yitzhak Rabin em Israel, em
meados da década de 1990, foi adotada uma posição mais assertiva, em relação ao
Irão. Uma das razões foi a derrota do Iraque pelos EUA, na Guerra do Golfo (motivada pela invasão do território kuwaitiano por
forças do Iraque), que deslocou o poder regional para Israel e
para o Irão.
A retórica entre as duas nações
intensificou-se durante a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no Irão, na
década de 2000, que fez declarações inflamadas contra Israel, exacerbando as
tensões bilaterais.
A procura de
tecnologia nuclear por parte do Irão, desde a década de 2000, fez soar o alarme
em Israel e não só, com receios de uma potencial corrida ao armamento nuclear
na região.
Um dos
principais fatores de conflito entre o Irão e Israel é a sua busca de
influência no Médio Oriente, através de guerras por procuração.
O Irão tem
um longo historial de apoio a grupos militantes como o Hezbollah, na guerra do
Líbano de 2006, e o Hamas, em Gaza, tendo ambos entrado em conflito armado com
Israel. E Israel conduziu numerosos ataques militares contra alvos iranianos na
Síria, considerando a presença de Teerão como uma ameaça direta à sua
segurança.
O Irão e
Israel têm estado envolvidos num prolongado conflito por procuração, desde
1985, moldando, significativamente, a paisagem geopolítica do Médio Oriente.
Ambos os países prestaram apoio a fações opostas na Síria e no Iémen. Na Síria,
o Irão apoiou o governo sírio, enquanto Israel apoiou grupos da oposição; e, no
Iémen, apoiou os rebeldes Houthi, enquanto Israel ajudou a coligação liderada
pela Arábia Saudita contra os rebeldes.
Estes
conflitos são motivados por interesses geopolíticos, com cada Estado a tentar
minar o outro ou a atingir objetivos que reforcem a sua posição. As
hostilidades estenderam-se a domínios como os ciberataques e a sabotagem,
visando as infraestruturas uns dos outros, incluindo instalações nucleares e
petroleiros.
O atual
conflito entre Israel e o Hamas, em Gaza, agravou ainda mais as tensões na
região. Os líderes iranianos têm criticado, abertamente, as operações militares
de Israel em Gaza, manifestando o seu apoio ao Hamas e a outros grupos
envolvidos em ataques contra alvos israelitas. A recente escalada de violência
em Gaza exacerbou a situação, já de si volátil, suscitando preocupações, quanto
à possibilidade de novos conflitos no Médio Oriente.
O conflito
entre o Irão e Israel tem implicações significativas, não só para a região, mas
também para atores internacionais como os Estados Unidos.
Sendo Israel
aliado fundamental dos EUA, qualquer escalada das tensões poderia levar ao
envolvimento americano, afetando interesses estratégicos mais vastos no Médio
Oriente.
Assim,
pode concluir-se que o ataque agora ocorrido tem como motivação próxima a
vingança sobre um ataque anterior da parte de Israel, mas que se entende no quadro
mais geral das diferenças ideológicas e das ambições geopolíticas de cada um
dos contendores.
***
O presidente Joe Biden, enquanto pede
moderação a Israel, no sentido de cometer mais excessos, diz que os EUA
continuam “dedicados” em
defender Israel e que o “Irão não terá sucesso”.
Israel estava
a preparar-se para um possível ataque
iraniano, depois de ter morto dois generais iranianos num
ataque aéreo a instalações da embaixada do Irão, na Síria. O Irão culpa Israel
pelas mortes e prometeu vingança. De acordo com a Associated Press, Israel ainda não tecera qualquer comentário sobre
esse ataque, que veio, afinal, a correr
Porém, Joe Biden, questionado sobre qual
era a sua mensagem para o Irão, ante a ameaça de um ataque a Israel, respondeu com
um firme: “Não o façam!” Estamos dedicados em defender Israel”, respondeu o presidente
dos EUA, sobre o envio de mais tropas norte-americanas para o Médio Oriente.
“Vamos apoiar Israel. O Irão não terá sucesso”, reforçou. Sem entrar em detalhes,
disse que tinha informações de que o Irão iria atacar e conjeturou que o
aparente ataque aéreo israelita na Síria e a prometida retaliação iraniana
podem levar a um conflito regional
mais profundo.
***
É mau os países em conflito estarem a
voltar-se para os EUA (que prega valores democráticos e age contra eles), em
vez de se voltarem para a ONU, que deveria merecer a confiança do Mundo para a prevenção
e dirimição dos conflitos. Porém, importa que o conflito surgido entre Irão e
Israel, aliás como os outros, não redunde em grande e alastrante confio
regional. E, se os EUA o conseguirem evitar, tanto melhor. Já são de mais os
existentes em várias partes do Mundo.
2024.04.14 – Louro de Carvalho
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