O tema foi abordado por Solène Tadié, correspondente
europeia do National Catholic Register,
no ACI Digital, a 4 de abril, em artigo intitulado “Alta de conversões de muçulmanos
na França: como responde a Igreja?”.
A articulista é franco-suíça e cresceu em Paris, na França.
Depois de se formar em Jornalismo pela Universidade Roma III, começou a abordar
matérias sobre Roma e sobre o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore
Romano em 2015, onde trabalhou, sucessivamente, na secção francesa e nas
páginas culturais do jornal do Vaticano. Também colaborou com várias
organizações de media católicos de língua francesa. É também bacharel em Filosofia
pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.
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Estando
a crescer a preocupação com a ascensão do islão, que ameaça tornar-se a
principal religião em países historicamente católicos como a França, não se
pode ignorar este fenómeno de crucial relevância: o crescimento exponencial de
conversões de muçulmanos ao cristianismo.
Marie-Anne e
Nicolas são dois convertidos do islão batizados nesta Páscoa. Como a de muitos
outros catecúmenos que deixaram o islamismo, a sua caminhada é “desafiadora e
edificante”.
Enquanto Marie-Anne
(nome de batismo – segundo Solène Tadié, o
nome civil não é revelável por segurança) acompanhava o marido moribundo da
Argélia num hospital, na Bélgica, em 2015, ficou impressionada com a humanidade
e compaixão demonstradas por uma enfermeira católica, a ponto de querer saber
mais sobre Jesus, como explicou, em entrevista, ao jornal National Catholic Register, do grupo EWTN, a que pertence o ACI Digital.
A sede de Cristo, que se tornou insaciável, ao longo dos anos, despertou as suspeitas da família, na Argélia. Viúva e prometida a um homem que a “reeducaria” na fé muçulmana, abandonou uma posição de prestígio e o conforto material, para fugir para França com os dois filhos, onde completou o catecumenato.
Foi a mesma
atração pela distinta relação do cristianismo com a caridade e com o amor ao
próximo, sem distinções, que levou Nicolas, um francês que se converteu ao
islamismo, em 2008, aos 26 anos, e que, depois, emigrou para a Indonésia, a
abraçar a fé católica e voltar à sua terra natal. A sua conversão, que começou
a florescer em 2017 – e culminou numa experiência espiritual na basílica do
Sacré-Coeur, em Paris, ao rezar ao lado de uma estátua de santa Teresinha de
Lisieux – resultou no divórcio da esposa muçulmana e no afastamento dos dois
filhos, que permaneceram na Indonésia.
Nicolas disse
que o seu está longe de ser um caso isolado na Indonésia, onde conheceu muitos ex-muçulmanos
que se converteram ao cristianismo, sem conseguirem formalizar a sua nova
religião, uma vez que a conversão ao cristianismo é proibida no islamismo. “Pude
observar que a guerra civil na Síria e a ascensão do Estado Islâmico, em
particular, provocaram uma onda de apostasia, muitas vezes a favor do cristianismo”,
disse ao Register.
O missionário David Garrison mostra isso no estudo apresentado no seu livro de 2014 “A Wind in the House of Islam ” (Um vento na casa do islão, em tradução livre), estimando que, entre dois milhões e sete milhões de muçulmanos se converteram ao cristianismo, em todo o Mundo, nas últimas duas décadas, constituindo esse movimento “a maior conversão de muçulmanos a Cristo na História”.
Assim como as Igrejas locais, na Europa, começam a reconhecer a necessidade de responder de forma adequada ao retorno dos jovens ao catolicismo, através de comunidades tradicionalistas e carismáticas, também começam a pensar como acolher os vários convertidos do islamismo.
A arquidiocese
de Paris criou o serviço pastoral “Ananie”, em 2000, para encaminhar os novos
convertidos do islamismo para paróquias adequadas às suas necessidades e para
formar sacerdotes e fiéis para os acolherem da melhor forma possível.
O padre Ramzi
Saadé, que dirige o “Ananie”, em Paris, estima que 10% a 20% dos batismos na
Páscoa deste anom na arquidiocese de Paris, são de convertidos do islamismo. E
salienta que, embora a ausência de números oficiais impeça uma avaliação
precisa, o que está a acontecer é definitivamente um fenómeno exponencial. “Cerca
de 50 pessoas que passaram pelo “Ananie” serão batizadas, entre este ano e o
ano que vem, na arquidiocese de Paris, mas ouvi falar de muitos outros
catecúmenos do islão com os quais não tenho contacto”, revelou ao Register.
Esse aumento
nos batismos de convertidos do islamismo faz parte da tendência geral do
aumento acentuado nos batismos de jovens adultos, entre os 18 e os 25 anos, na
França, com o aumento do número de mais de 30% de novos catecúmenos, em 2024,
aumento que foi de 28%, em 2023.
Na
turbulência da sua conversão imprevista, Marie-Anne e Nicolas também
enfrentaram o desafio de se integrarem nas suas novas comunidades católicas. A
rede “Ananie” desempenhou papel crucial no processo, oferecendo aos novos
convertidos uma âncora valiosa, graças à missa semanal, à quarta-feira, seguida
de um tempo de estudo e de diálogo amigável entre ex-muçulmanos. “Senti uma
espécie de indiferença na minha nova paróquia por causa do meu passado”,
lembrou Nicolas. “Embora eu tenha nascido na França, demorei muito para me
sentir integrado. Senti-me muito isolada e conhecer a rede “Ananie” fez-me muito
bem.”
Precisamente
para compensar a falta de preparação de muitas paróquias católicas para acolher
os convertidos do islamismo, surgiu o serviço “Ananie”, a pedido do padre Saadé
ao então arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit. Cristão maronita do Líbano,
Saadé foi ordenado sacerdote, em 2018 na Igreja Maronita, que está em comunhão
com Roma, e traz a experiência de campo inestimável para o projeto. Além da
missão de acolher os novos convertidos e de os orientar para as paróquias
adequadas, oferece, através do site
da rede, “manuais” para paróquias e para acompanhantes dos catecúmenos, assim
como vídeos de formação.
“Percebi que
muitos novos convertidos do islamismo abandonaram a Igreja Católica, não porque
os fiéis foram indelicados com eles, mas porque, muitas vezes, querem
mostrar-se tão favoráveis ao islamismo que chegam a explicar que adoramos o
mesmo Deus e que, no final, não há necessidade de se tornar cristão para ter
acesso à salvação”, disse Saadé, ao destacar que esta abordagem equivocada diz
respeito tanto a clérigos como a leigos. “No entanto, muitos dos que se unem a
Cristo fazem-no arriscando a sua vida: alguns deixaram os seus países, foram
rejeitados pelas famílias; estão em perigo real – a última coisa que precisam é
de serem enviados de volta à sua identidade muçulmana.”
Em sua
opinião, o diálogo inter-religioso implementado pelas autoridades da Igreja nas
últimas décadas, que tem sido benéfico para a compreensão mútua das culturas e
dos povos, também pode, por vezes, ser fonte de mal-entendidos sobre o dever de
anunciar dos cristãos no Ocidente. “Muitas pessoas de origem islâmica que
chegam a uma paróquia para se tornarem cristãs são muitas vezes acolhidas de forma
inadequada à sua situação, como se ainda fossem muçulmanas, quando na verdade
já não o são”, observou.
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Uma pesquisa do historiador e
missionário David Garrison, que trabalhou com muçulmanos em vários países, mostra
que o número de convertidos do islão ao cristianismo é “sem precedentes” na História. Segundo
relatou, a esposa e ele passaram cerca de 30 anos como missionários evangélicos
comprometidos no mundo muçulmano, vivendo entre os islâmicos no Médio Oriente e
no sul da Ásia. No final da primeira década do século XXI, viu
relatos de conversões, em grande escala, de muçulmanos à fé cristã: “Dado o facto
de que a conversão do islão é uma ofensa capital em muitas comunidades
muçulmanas tradicionais, os relatos de movimentos substanciais merecem atenção.
No seu artigo, na Newsweek, Garrison escreveu que decidiu
investigar vários “fenómenos relatados”, a fim de compreender porque essas
pessoas arriscaram as suas vidas para mudarem a sua lealdade religiosa.
“Como historiador da Igreja, precisaria de explorar o
contexto histórico dos movimentos muçulmanos para Cristo para ver o que estava a
ocorrer”, disse o diretor executivo da agência missionária Global Gates e PhD
pela Universidade de Chicago em História do Cristianismo
Foi assim que aconteceu a pesquisa de Garrison, que
passou a entrevistar, pelo menos, mil muçulmanos de cada comunidade
etnolinguística, que se converteram e que foram batizados voluntariamente, correndo
grandes riscos.
Mesmo com as pesquisas a
apontar para o islão como a religião que mais cresce hoje, no Mundo, e com
pesquisas populacionais a indicar que, até 2060, também poderá ser a maior
religião do mundo, há controvérsias.
O pesquisador mostrou que é enorme o número de
muçulmanos convertidos ao cristianismo, nas últimas décadas, e descobriu que, nos
primeiros 1400 anos, desde que o islão foi fundado e estabelecido, houve 15
movimentos registados de muçulmanos que se tornaram cristãos.
Garrison define “movimento” como, pelo menos, mil
muçulmanos de uma determinada comunidade que não apenas professam a sua fé em
Cristo, mas também a demonstram voluntariamente, por meio do ato do batismo. “Apenas
nas duas primeiras décadas do século XXI, já houve 70 movimentos de conversão
florescentes”, revelou.
Segundo o historiador, ex-muçulmanos têm repetidamente
compartilhado como Deus usou sonhos para vir até eles. Segundo estimativas, até
25% dos muçulmanos convertidos tiveram um sonho ou visão. Os resultados da
pesquisa mostram que, para alguns, o próprio Jesus falou das Escrituras para eles, mesmo que
eles nunca tivessem ouvido nada a respeito disso, antes.
Outros disseram que Jesus lhes pediu
para fazerem algo. Muitos relataram sonhos com Jesus e sentiram-se em paz. E há
os que tiveram uma visão física de “um homem de branco”.
“A maneira como Deus falou com o seu povo, há dois mil
anos, é a maneira como Ele fala agora. Está a usar os mesmos meios para atrair a
sua criação para Si mesmo”, concluiu o historiador.
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Recentemente, mais de 200 muçulmanos na Faixa de Gaza
tomaram a decisão de se converterem ao cristianismo, após relatarem terem
sonhado com Jesus na mesma noite, em meio ao conflito com Israel. O professor
de Teologia da Huston Christian University e presidente do ministério Risen
Jesus, Michael Licona, compartilhou esse movimento sobrenatural nas suas redes
sociais, destacando a atuação de ministérios cristãos clandestinos na região.
Segundo Licona, esses ministérios realizaram
atividades humanitárias, oferecendo ajuda a pais palestinianos que perderam os
filhos no conflito. Além disso, compartilharam a mensagem de esperança do
Evangelho, proporcionando momentos de leitura da Bíblia e abordando o
caminho da paz por meio de Jesus. De acordo com a CBN News, o professor expressou a sua gratidão por ver a
intervenção divina a acontecer no meio da guerra, vincando que Deus está a agir
mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Encorajou os cristãos a orarem, não só
pela situação em Israel, mas também pelos Palestinianos inocentes que estão a
sofrer no conflito.
Licona compartilhou a sua perspetiva sobre a guerra em
Israel, expressando o seu apoio a Israel no conflito, não só por razões
teológicas, mas por considerar o Hamas e seus apoiantes como agentes do mal. Reconhecendo
que nem todos os Palestinianos apoiam o Hamas, destacou a importância de orar
pela paz na região. E, no final, da sua mensagem, pediu orações pela rápida
conclusão da guerra e expressou a esperança de que Israel possa eliminar a
ameaça representada pelo Hamas, proporcionando a liberdade aos Palestinianos.
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Fica, pois, demonstrado que a tendência geral não é o
abandono do cristianismo. Isso ocorre, basicamente, nos países cansados da
riqueza e do poder, nomeadamente em termos da hegemonia político-militar e/ou
económica. Esses países tendem a utilizar a religião em favor dos seus
desígnios de afirmação e de expansão. Já foi assim na História!
2024.04.04 – Louro de Carvalho
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