O secretário
de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, que tinha passado os dias 11,12
e 23 de agosto em Angola, onde presidiu à ordenação episcopal do arcebispo Penemote,
designado Núncio Apostólico no Paquistão, chegou a Juba, no dia 14, para uma
visita ao Sudão do Sul, que se estendeu até ao dia 17. O cardeal passou o
primeiro dia da visita em Juba.
O arcebispo
Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba, falou dos objetivos da visita do
cardeal Secretário de Estado, em entrevista à media local, que foi transmitida
no Facebook pela Rádio Bakhita, a
estação de rádio católica da Arquidiocese de Juba.
O arcebispo
Ameyu disse que o principal objetivo da passagem de Parolin pelo Sudão do Sul é
visitar a Diocese de Malakal, visto que foi convidado pelo bispo Stephen Nyodho
Ador Majwok para ver pessoalmente a situação local.
“Todos nós
estamos familiarizados com a situação em Malakal: a questão dos desastres
naturais, inundações e muitas outras coisas, juntamente com os desastres
causados pelo homem”, disse o arcebispo, que assegurou: “Mas, agora, há também
uma janela de oportunidade para a paz.”
E, vincando
que o cardeal Parolin está a dar continuidade à missão de trabalhar pela paz
que o Santo Padre confiou à Igreja e aos líderes políticos do Sudão do Sul, observou
que esta é a segunda visita individual de Parolin à nação africana, chamando-a
de expressão do amor do Papa pelo povo do Sudão do Sul. Com efeito, o Bispo de
Roma visitou o país em fevereiro de 2023, após grandes esforços da parte da
Igreja para procurar a paz entre as fações rivais.
O arcebispo
de Juba lembrou o convite do Papa para que o governo e o povo do Sudão do Sul
trabalhassem juntos. “Ele [o Papa] proferiu esta palavra – ‘juntos, juntos,
juntos’ – três vezes, porque juntos significa unidade, disse o arcebispo, ‘juntos’
significa que somos capazes de experimentar a paz entre nós.”
Com relação
ao processo de paz em andamento, o arcebispo Ameyu disse que a Igreja procura,
constantemente, encorajar todos a aderirem aos protocolos do acordo de paz e
convida os políticos a incorporarem a paz no tecido da sociedade do país. “Nós
informamos as pessoas de que desempenhamos muitos papéis para concretizar a paz
e a reconciliação entre o nosso povo. […] Não gritamos como profetas da desgraça.
Gostaríamos de nos comprometer numa diplomacia tranquila.” E, referindo que as
eleições devem ocorrer antes do final de 2024, observou que as eleições são “um
dos componentes do acordo de paz revitalizado”.
Na manhã do
primeiro dia da visita, Parolin encontrou-se com o cardeal Gabriel Zubeir Wako,
arcebispo emérito de Cartum, na Nunciatura Apostólica, em Juba; depois,
inaugurou uma placa memorial a lembrar a permanência do Papa Francisco na
Nunciatura, de 3 a 5 de fevereiro de 2023, durante a sua Viagem Apostólica ao
Sudão do Sul. E, à tarde, encontrou-se, em separado, com o presidente Salva
Kiir Mayardit, com o primeiro vice-presidente Riek Machar e com o arcebispo
Stephen Ameyu; e participou da cerimónia de plantio da árvore da paz.
Na verdade,
na reunião com o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, entregou-lhe uma
mensagem do Papa. E, de acordo com fontes do governo local, ambos discutiram “uma
ampla gama de questões relacionadas com a implementação da paz e com a
preparação do país para as eleições gerais do próximo ano”. Parolin “convidou o
povo do Sudão do Sul a abraçar o espírito de paz e de reconciliação, para
construir uma sociedade harmoniosa no país”. Também na Catedral de Santa
Teresa, em Juba, Parolin esteve e rezou com o Conselho de Igrejas do Sudão do
Sul, órgão que reúne representantes católicos, presbiterianos, pentecostais e
episcopais. E, depois, com a juventude ecuménica e crianças do país, plantou
árvores num gesto de paz, destinado a ser um símbolo poderoso de esperança e de
unidade para as gerações futuras.
***
No dia 15 de
agosto, o cardeal Secretário de Estado celebrou a missa na Catedral de Malakal.
Malakal
abriga um campo para pessoas deslocadas sob a proteção da Missão das Nações
Unidas no Sudão do Sul (UNMISS). O local foi construído, há quase 10 anos, para
acolher até 12 mil deslocados internos, mas, hoje, tem 37 mil residentes. Com
efeito, a crise de refugiados no país, continua a ser a maior da África, com
2,3 milhões de pessoas a viver como refugiados em países vizinhos e outros 2,2
milhões de deslocados internos. O país continua a sofrer o legado da guerra
civil, dos conflitos étnicos persistentes e, mais recentemente, dos impactos
devastadores da mudança climática, deixando milhões de pessoas necessitadas de
assistência.
Durante a
missa na Catedral de Malakal, Parolin exprimiu a proximidade do Papa, o
pensamento nos milhares de pessoas deslocadas e a oração pelo fim dos conflitos.
“Maria
Assunta ao céu é um sinal de consolação e esperança e devemos olhar para Ela
enquanto peregrinamos na terra, enquanto experimentamos a ação do mal, como a
guerra em curso na Ucrânia, no Sudão e em tantas outras partes da África, bem
como o mal da guerra civil sofrida pelo Sudão do Sul, um país que ainda está a
lutar pela cura das suas feridas”. Foram palavras o secretário de Estado do
Vaticano, falando aos Sudaneses do Sul, durante a missa celebrada no Dia da
Assunção, na Catedral de Malakal, durante o segundo dia de visita a este país.
Aos
presentes na missa, entre outros os deslocados de Malakal e os repatriados que
fugiram do conflito no Sudão, o cardeal levou a proximidade, as orações e a
bênção do Papa Francisco: falou-lhes das recordações que o Papa tem da sua
visita e de como o Bispo de Roma traz este povo no seu coração, com as suas
dificuldades e feridas, as suas expectativas e esperanças.
“Aqui”, disse
Parolin, na homilia, “vós sofrestes e experimentastes, em primeira mão,
conflitos, tensões, fome, insegurança, enchentes, conflitos étnicos, lutas pelo
poder e jogos políticos”. E interpelou Deus: “Até quando, Senhor, teremos
que sofrer todos esses males? Quando a paz e a serenidade voltarão às
nossas comunidades? Os gritos das mães, avós e inocentes rasgam os céus.
Por quanto tempo, Senhor?” O cardeal pensa nos milhares de pessoas deslocadas e
cita a “grande chaga da vingança” que está a destruir as comunidades. Foi em Malakal
que 13 pessoas morreram no início de junho, num violento confronto
intercomunitário dentro de um campo para pessoas deslocadas, administrado pela Unimiss.
Não
obstante, quis tranquilizar os fiéis com as suas palavras: o mal não tem a
última palavra e não vence sempre. A figura da Assunção é uma garantia disso
perante o Mundo: é “um sinal de consolação e de esperança que hoje ilumina as
trevas e a obscuridade da vida”. E a esperança é “muito necessária” em
Malakal, como no resto do país, no vizinho Sudão e em todo o Mundo. Novamente, recordou
o encontro do Papa com as pessoas deslocadas em Juba, quando Francisco lhes
pediu que fossem sementes de esperança, “a semente de um novo Sudão do Sul, uma
semente para o crescimento fértil e florescente deste país”. O convite do
Papa foi para não “responder ao mal com mais mal”, para escolher a fraternidade
e o perdão, para cultivar “um amanhã melhor”, para cooperar e iniciar caminhos
de reconciliação, com qualquer pessoa que, embora diferente “por etnia e origem”,
continua a ser um vizinho.
No dia 16, pela
manhã, o cardeal Parolin celebrou a missa na residência do bispo, em Malakal,
visitou a escola e o seminário menor St. Charles Lwanga e reuniu-se com as
comunidades dos chefes tradicionais do Alto Nilo. À tarde, encontrou-se com
autoridades e com funcionários da UNMISS, a missão de paz das Nações Unidas no
Sudão do Sul; e, depois, encontrou-se com padres, religiosos, religiosas e
seminaristas da Diocese de Malakal.
No dia 17, quarto
e último dia no Sudão do Sul para o cardeal secretário de Estado, que chegou a
Juba no dia 14, de manhã, procedeu-se ao acolhimento em Rumbek, no Estado dos
Lagos, seguido da Missa pela paz e pela reconciliação, animada por cânticos e
danças tradicionais.
“É tempo de
virar a página”, para dar espaço à justiça e à paz. O cardeal Pietro Parolin
citou o Papa Francisco e pronunciou palavras cheias de esperança em Rumbek, no
Sudão do Sul, durante a Missa pela paz e pela reconciliação.
No Senhor
Jesus – que, após a sua morte na cruz e a ressurreição, apareceu entre os
discípulos assustados dizendo-lhes “a paz convosco” – todo o medo pode ser
transformado. Hoje essas palavras, continuou o cardeal, “são dirigidas a nós”.
A ausência
de justiça e de paz, observou, gera “medos e sentimentos de impotência”: quando
o medo prevalece, cede-se à tentação de “colocar a confiança mais nas próprias armas
do que no poder do perdão”, de confiar “mais nos nossos meios do que na
transformação que vem do Senhor ressuscitado”, tornando-nos incapazes de nos
comprometermos com a justiça e com a paz, para construirmos uma comunidade mais
fraterna. Alargam-se as causas da discórdia, como as desigualdades económicas,
cedemos à ira, à desconfiança, ao orgulho e ao egoísmo.
“O medo
também pode surgir de dentro de nós mesmos, da realidade do pecado, mas Cristo
expulsou o pecado, venceu o medo, revelou o amor perfeito, frisou o cardeal
Parolin, fazendo um apelo à comunidade eclesial que “faz parte da sociedade
humana e traz consigo a mesmas dificuldades e contradições”.
“A Igreja é
a esposa de Cristo, não uma agência humanitária ou uma empresa”, continuou:
“Fazemos parte da Igreja, porque Deus nos chamou, confiando-nos o ministério da
reconciliação”. Alguém não se torna membro da Igreja por contrato, como numa empresa,
ou por atribuições de projetos no âmbito da educação ou da saúde. “Somos
servidores do Evangelho – afirmou Parolin – pertencemos uns aos outros pela
nossa fé cristã”, “independentemente da nossa proveniência ou tribo de
pertença”. Assim, qualquer dano causado a uma única pessoa, “a um irmão ou a
uma irmã, prejudica toda a sociedade”, continuou, exortando a renunciar à
violência como meio de resolver as diferenças: “é o perdão, obtido de Cristo na
cruz, a chave para a justiça e a paz”. A não-violência “é a única forma de
superar as divisões dentro de uma comunidade”.
O cardeal
Parolin recordou – citando as palavras do Papa Francisco na sua visita ao
país, em fevereiro passado – que, fazendo-se pequeno e deixando espaço
para o próximo no qual se reconhece um irmão, torna-se grande aos olhos do
Senhor.
Forte foi o
apelo a abandonar os ídolos da honra pessoal e do prestígio, para ir além das
diferenças e da pertença a grupos étnicos. Ser Igreja, acrescentou Parolin, não
significa apenas ter recebido o batismo ou participar passivamente nalguma
celebração. Daí a exortação a receber, com frequência, os sacramentos da
Eucaristia e da Reconciliação, a valorizar o compromisso cristão no matrimónio
ou na vida consagrada: “A família é a primeira escola da sociedade e a vida
religiosa é vital para a missão da Igreja, chamada para servir, não para mandar.”
“Tende
coragem”, exortou o secretário de Estado: “Este é o momento de vos comprometerdes,
vejo o vosso entusiasmo, o vosso potencial e o desejo de vos envolverdes.”
***
Na manhã do
último dia, assim que desceu do avião, em Rumbek, Parolin foi acolhido com
aplausos e homenageado pelos habitantes da diocese, com expressões de afeto e
coroas de flores. Interpelado por um jornalista, logo expressou a sua alegria
por estar, novamente, no país: “Estou a tornar-me um cidadão do Sudão do Sul. É
sempre um prazer estar aqui”, afirmou, especificando que a sua viagem se realiza
no seguimento da visita ecuménica do Papa Francisco, em fevereiro passado com o
arcebispo de Canterbury e com o moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia, “para
promover, fortalecer e encorajar o processo de paz, reconciliação e paz no
Sudão do Sul”.
O secretário
de Estado recordou, então, que, no dia 15, Solenidade da Assunção de Maria,
estivera em Malakal, local onde “o problema dos deslocados e refugiados é muito
crítico”. Em seguida, explicou que aceitou, com alegria, o convite do bispo de
Rumbek para visitar a sua diocese para um “momento de fé, oração, comunhão na
Igreja”. É a solidariedade eclesial na hierarquia!
2023.08.17 – Louro de Carvalho
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