Na manhã do
passado dia 11 de agosto, no Vaticano, celebraram-se as solenes exéquias do
cardeal eslovaco Jozef Tomko, Prefeito Emérito da Congregação para a Evangelização
dos Povos e Presidente emérito do Pontifício Comité para os Congressos
Eucarísticos Internacionais, que faleceu, aos 98 anos de idade, no dia 8 do
mesmo mês.
Foi criado
cardeal pelo Papa São João Paulo II em 1985 e, desde a morte do cardeal Albert Vanhove, a 29
de julho de 2021, Tomko era o membro vivo mais velho do Colégio dos
Cardeais.
Presidiu à
missa fúnebre, no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, o cardeal Giovanni
Battista Re, decano do Colégio cardinalício, que fez a homilia em homenagem ao
purpurado falecido. Francisco, também presente, presidiu ao rito da Ultima
Commendatio e da Valedictio.
Na sua
homilia, o cardeal Re lembrou que “toda a longa e intensa vida útil do cardeal
Tomko foi consagrada ao serviço de Deus e dos seus irmãos e quase inteiramente
dedicada ao serviço na Cúria Romana”. Tendo, ao longo dos anos, desempenhado inúmeros
cargos, sempre se considerou um “chamado para servir”. Com ele desaparece uma figura que fez honra
à Cúria pela sólida fé que o caraterizava, pela genuína espiritualidade, pelo
animado sensus Ecclesiae e pelo grande equilíbrio nos seus julgamentos, na
sua calma, bom senso, amabilidade e gentileza.
No termo da
homilia, o cardeal Re afirmou:
“Em oração, confiamos este nosso irmão a Deus, para que, na imensidade
do seu amor, lhe dê aquela alegria e paz, que ganhou pelo seu serviço fiel e
generoso à Igreja, ao Papa e à Santa Sé”.
E, considerando que ouvimos no Evangelho
“credes em Deus, crede também em mim; vou preparar-vos um lugar, e quando eu me
for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, para
que, onde eu estiver, estejais vós também”, frisou que são palavras
pronunciadas na Última Ceia, quando os apóstolos estavam prestes a enfrentar o
aparente fracasso de Jesus com a morte de cruz. E, atido ao desafio do Mestre
“Tendes fé em Deus, tende fé também em mim”, declarou que “também nós nos
agarramos a estas palavras ao oferecer a Santa Missa pelo falecido cardeal,
pedindo a Deus que nos conceda, também a nós, completar a nossa jornada terrena
em fidelidade e em zelo inabalável no serviço da Igreja e dos nossos irmãos, de
que o Cardeal Tomko nos deixou um testemunho edificante”.
No seu
testamento espiritual, de 26 de fevereiro de 2007, Tomko afirma que o seu ministério
como prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos “tinha tomado posse
do seu coração” e explicita: “Sentia este serviço como uma contribuição para a
construção e crescimento do Corpo Místico da Igreja e amava as jovens igrejas
missionárias com toda a sua beleza e fragilidade: as celebrações, os bispos e
os missionários, os seminaristas, as religiosas, o povo muitas vezes pobre. Foi
muito lindo labutar e sofrer por esta Igreja missionária viva!”
Após ser
internado no Hospital Gemelli, a 25 de junho, devido a uma lesão na vértebra
cervical, passou seis semanas no hospital e, desde o dia 6 de agosto,
continuava o tratamento em casa com a assistência de um enfermeiro do Vaticano.
Durante a estadia no hospital, recebeu a visita do Cardeal Secretário de Estado
Pietro Parolin.
No passado dia
30 de abril, o Papa encontrou-o na Sala Paulo VI por ocasião do encontro com os
participantes da peregrinação eslovaca e, no seu discurso, disse: “Saúdo
cordialmente o cardeal Jozef Tomko, cuja presença nos faz sentir que a Igreja é
uma família que sabe honrar os idosos como um dom. Mas eu tenho uma dúvida, ele
parece mais jovem do que eu!”
Ao anunciar a
sua morte, a Conferência Episcopal Eslovaca convidou os fiéis a rezar pelo
cardeal, anunciando que o enterro seria realizado após a cerimónia fúnebre, em
Roma, na Catedral de Santa Elisabeth em Košice.
Após a morte
do Cardeal Tomko, o Colégio dos Cardeais fica constituído da seguinte forma:
206 cardeais, dos quais 116 são eleitores e 90 não eleitores.
***
Jozef Tomko
nasceu em Udavské, na arquidiocese eslovaca de Košice, a 11 de março de 1924.
Estudou na
Faculdade Teológica de Santos Cirilo e Metódio, em Bratislava,
entre 1943 e 1944. No outono de 1945, foi enviado para Roma,
para estudar no Pontifício Ateneu Lateranense e na Pontifícia Universidade
Gregoriana, tendo obtido o doutoramento em teologia, direito canónico e ciências
sociais, com a dissertação De Sancti Spiritus habitatione secundum B.
Petrum de Tarantasia, em 1951. Depois de 1948, por causa
do Golpe de Praga, a que se seguiu a perseguição do governo comunista, não
conseguiu retornar à Tchecoslováquia.
Recebeu
a ordem de presbítero, a 12 de março de 1949, em Roma, das mãos de
Lugi Traglia, arcebispo-titular de Cesareia da Palestina e
vice-gerente da Diocese de Roma. Prestou serviço pastoral na diocese
de Roma e na de Porto e Santa Rufina, sendo camareiro privado
supernumerário, prelado de honra de Sua Santidade, membro do corpo docente da
Pontifícia Universidade Gregoriana e subsecretário da Congregação para os
Bispos, de 1974 a 1979. Porém, durante 15 anos (1950-1965), foi vice-reitor do Pontifício Colégio Nepomuceno, em
Roma, e do internato adjacente para padres de vários países, incluindo países
de missão e da América Latina.
Foi
cofundador de uma revista religiosa e do Instituto dos Santos Cirilo e Metódio
de Roma.
Eleito arcebispo-titular de Dóclea e
nomeado secretário-geral do Sínodo dos Bispos em 12 de julho de 1979,
recebeu a ordenação episcopal a 15 de setembro, festa de Nossa Senhora das Dores, Padroeira da Eslováquia,
na Capela
Sistina, das mãos do Papa São João Paulo II, assistido por Eduardo
Martínez Somalo, arcebispo-titular de Tagaste, substituto do Secretário de
Estado, e por Andrew Gregory Grutka, bispo de Gary, nos Estados
Unidos. Foi nomeado pró-prefeito da Congregação
para a Evangelização dos Povos em 24
de abril de 1985. Foi criado cardeal-diácono no Consistório de
25 de maio de 1985, pelo Papa São João Paulo II, recebendo o barrete
cardinalício e a diaconia de Jesus Bom Pastor em Montagnola. Nomeado
prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e grão-chanceler
da Pontifícia Universidade Urbaniana, trabalhou neste múnus de 27 de
maio de 1985 a 9 de abril de 2001 (16 anos). Tornou-se cardeal-presbítero,
optando pelo título de Santa Sabina, em 29 de janeiro de 1996. Em
1998, foi nomeado presidente da
Assembleia Especial para a Ásia do Sínodo dos Bispos.
Em 23 de
outubro de 2001, foi nomeado presidente do Pontifício Comité para os
Congressos Eucarísticos Internacionais, resignando do cargo em 1 de
outubro de 2007.
Foi membro da
Comissão de Cardeais para investigar a divulgação de documentos reservados
e confidenciais na televisão, em jornais e em outros meios de comunicação,
em 24 de abril de 2012. A sua última atividade pública como cardeal
ocorreu a 28 de junho de 2014, quando foi o enviado papal especial para o 25.º
aniversário da liberdade recuperada da Eparquia Greco-Católica de
Mukachevo, programada no Seminário Maior de Uzhlorod, na Ucrânia.
No seu tempo
de cardeal o correu conclave de 2005, para a eleição de Bento XVI, e no de
2013, para a eleição de Francisco, mas não participou por já ter ultrapassado
os 80 anos de idade.
Durante os
seis anos em que foi Secretário-geral do Sínodo dos Bispos, preparou e
supervisionou a realização de dois Sínodos Gerais Ordinários (1980 e 1983) e o
Sínodo Particular dos Bispos da Holanda (1980). Também empreendeu a preparação
do Sínodo Extraordinário convocado para o outono de 1985 por ocasião do 20.º
aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II e do Sínodo Ordinário de 1987
sobre a vocação e missão dos leigos, iniciando, com a publicação dos
“Lineamenta”, uma ampla consulta na Igreja católica.
A sua
atividade ao lidar com os problemas religiosos de seus compatriotas eslovacos
deu frutos tangíveis. Cofundou uma revista religiosa e o Instituto dos Santos
Cirilo e Metódio em Roma. Visitou várias vezes as comunidades eslovacas nos
Estados Unidos, no Canadá e em vários países europeus. A sua atividade cultural
também foi intensa, com inúmeras publicações sobre temas que vão da teologia ao
direito, da história à espiritualidade.
Foi enviado pela
Santa Sé a várias reuniões de bispos: em 1970, à Conferência Pan-Asiática de
Bispos em Manila; em 1973, à Assembleia Plenária dos Episcopados da Oceânia em
Sydney; em 1979, à Conferência de Puebla; em 1980, às celebrações do 25.º
aniversário de fundação do Conselho Episcopal
Latino-Americano (CELAM) no
Rio de Janeiro; em 1981, à reunião do SECAM em Yaoundé.
Estes
encontros e as numerosas visitas que fez a diferentes países junto com as
Assembleias Sinodais permitiram-lhe adquirir um profundo conhecimento da
realidade de muitas Igrejas particulares e experimentar uma colegialidade
efetiva e afetiva. Assim, a Providência preparou-o para alargar o coração à
dimensão da Igreja universal e para liderar a Congregação para a Evangelização
dos Povos, tarefa que lhe foi confiada por São João Paulo II, a 24 de abril de
1985, com a nomeação como pró-prefeito.
***
O cardeal
Tomko foi um dos príncipes da Igreja com uma vida espiritual, académica, administrativa,
pedagógica e pastoral mais ativa nos últimos tempos – um perfil e uma ação a
não esquecer.
2022.08.13 – Louro de Carvalho
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