O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (NATO), Jens Stoltenberg, esteve em Kiev, a 20 de abril, no âmbito da sua
primeira visita à Ucrânia, depois da invasão russa iniciada em fevereiro de
2022, como revelou um alto responsável da Aliança Atlântica, confirmando as
notícias referentes à visita, publicadas, na manhã daquele dia, pelo jornal
ucraniano Kyiv Independent, que
divulgou fotografias de Stoltenberg no centro da capital.
As imagens divulgadas pelo portal do jornal mostram
Stoltenberg na Praça de São Miguel, em Kiev, durante uma homenagem aos
militares ucranianos mortos em combate.
Efetivamente, numa altura em que as
tropas ucranianas tentam manter as suas posições na cidade de Bakhmut,
claramente o alvo imediato das forças russas, a visita surpresa de Jens
Stoltenberg a Kiev significa a reafirmação do apoio da NATO à
Ucrânia contra nova invasão da Rússia, sendo certo que os Estados
que fazem parte da Aliança Atlântica fornecem à Ucrânia equipamento militar,
muito embora, para a Rússia, o apoio da Aliança Atlântica e dos Estados Unidos
da América (EUA) configure o envolvimento “numa guerra por procuração”.
“A NATO está convosco hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário”, disse Stoltenberg, numa conferência
de imprensa conjunta com o presidente ucraniano, sublinhando que “a agressão
russa segue um padrão tóxico que precisa de ser interrompido” e que a NATO deve
“continuar a reforçar as Forças Armadas ucranianas”. E, garantindo que os
Aliados concordam que o futuro de Kiev está na NATO, frisou que a prioridade é
que a Ucrânia “prevaleça”
na guerra, pois só então continuará a ser uma nação
independente e fará sentido considerar a adesão.
Por seu turno, o presidente ucraniano,
Volodymir Zelenskyy, expressou a certeza de que a Ucrânia se tornará membro da
NATO e pediu que, até que isso aconteça, a
Aliança estenda as garantias de segurança ao país, algo que, “se
surgir a possibilidade”, poderá acontecer já na cimeira realizar em Vílnius, na
Lituânia, no próximo mês de julho, pois, como vincou, “não há nenhum
obstáculo objetivo que impeça a adoção de decisões políticas sobre o convite da
Ucrânia para a Aliança. “Agora, quando a maioria das pessoas
nos países da NATO e a maioria dos ucranianos apoiam a entrada do nosso país na
Aliança, é tempo de tomar a decisão apropriada”, defendeu Zelenskyy.
Entretanto, o Kremlin aproveitou a
presença do secretário-geral da NATO em Kiev para reconhecer que um dos
objetivos da campanha militar russa é precisamente impedir a entrada da Ucrânia na Aliança Atlântica. “Sem
dúvida. Caso contrário, representaria uma séria ameaça ao nosso país, à sua
segurança”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, numa conferência de
imprensa, em resposta a uma pergunta sobre a questão, mas evitando comentar a
forma como a Rússia encara as perspetivas de adesão da Ucrânia à NATO, uma vez
que “o Kremlin não tem qualquer avaliação destas perspetivas”.
E, no dia 21 de abril, a adesão da
Ucrânia à NATO e
o reforço da ajuda militar para travar a invasão russa foram temas centrais na
reunião da Aliança Atlântica, promovida pelos EUA, na base aérea de Ramstein,
na Alemanha, no âmbito do encontro do Grupo de Contacto para a Defesa da
Ucrânia, que, para lá do tema abordado, assinalou o primeiro aniversário da sua
criação.
Com efeito, à chegada a Ramstein, Jens Stoltenberg,
falou sobre a adesão da Ucrânia à NATO. “Eu disse ontem, em Kiev, que o futuro
da Ucrânia está na família euro-atlântica e todos os aliados concordam que a
Ucrânia se tornará membro da NATO. Mas o mais importante agora, claro, é garantir
que a Ucrânia prevaleça.”
O secretário-geral da NATO relatou
que, no dia 20, estivera com Volodymyr
Zelenskyy na capital da Ucrânia, tendo ouvido os
argumentos que deve transmitir aos aliados, entre eles, o forte desejo ucraniano
de receber um convite formal na cimeira de julho da NATO, que decorrerá em
Vílnius, onde os Estados-membros vão debater uma maior integração da Ucrânia vão debater uma maior
integração da Ucrânia. Na verdade, este país candidatou-se à “adesão acelerada”
à NATO a 30 de setembro. Veremos se virá a aderir ao bloco atlântico
em breve.
Para Zelenskyy, esse caminho é óbvio: “Nem a maioria dos ucranianos, nem a maioria dos europeus, nem a maioria das pessoas da NATO compreenderão os líderes da Aliança, se a cimeira de Vilnius não incluir um convite político bem merecido, para que a Ucrânia adira à Aliança. A Ucrânia fez tudo para assegurar que a nossa candidatura seja concedida”, afirmou.
O presidente da Ucrânia, que também participou na reunião de Ramstein, tem vindo a pedir aviões, tanques e, agora, também armas de longo alcance para a Ucrânia se proteger dos ataques aéreos russos. E Zelenskyy, que falou a vários Parlamentos de vários países europeus a pedir ajuda e visitou o Reino Unido e a sede da União Europeia (UE), nomeadamente a Comissão e o Parlamento, ora agradece a ajuda, ora diz que deveria ser maior, como pede mais determinação ou critica o facto de a UE nem sempre se mostrar unida em torno do apoio ao seu país.
***
Segundo o
Portal do Governo, a ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, também
esteve presente em Ramstein, na dita reunião do Grupo de Contacto para a Defesa
da Ucrânia.
Nesse encontro,
a governante portuguesa anunciou que Portugal vai enviar para a Ucrânia um
conjunto de cinco viaturas blindadas de socorro e de apoio médico no teatro de
operações. Trata-se de três blindados do tipo M113, em versão preparada para o
transporte de feridos, e de dois blindados do tipo M577, em versão médica, isto
é, vocacionada para a montagem de postos avançados de socorro.
Com esta
nova doação, que se encontra em preparação para envio, eleva-se para cerca de
770 toneladas o total de equipamento militar, letal e não letal, fornecido por
Portugal à Ucrânia desde o início da agressão perpetrada pela Rússia.
Em
articulação com as nossas Forças Armadas, o Governo português enviou para a
Ucrânia carros de combate Leopard 2A6, viaturas blindadas M113, veículos aéreos
não tripulados de vigilância, armamento e munições, geradores de grande
capacidade para produção de energia elétrica, equipamento de proteção
individual e de comunicações, equipamento médico e sanitário, e kits de
primeiros socorros em combate.
Além disso,
Helena Carreiras informou da disponibilidade de Portugal para fornecer às
Forças Armadas ucranianas munições de calibre 105mm.
Perante os
parceiros e aliados reunidos em Ramstein, a ministra portuguesa reafirmou o
compromisso do país com a defesa da soberania e da integridade da Ucrânia, estando
o Ministério da Defesa Nacional (MDN) e o Estado-Maior-General das Forças
Armadas (EMGFA) em constante contacto com as autoridades ucranianas e
analisando as solicitações de Kiev, a que Portugal corresponderá na medida das
suas capacidades e disponibilidades.
Durante a
manhã, os ministros da Defesa da NATO (ou os seus representantes) dos países
que têm carros de combate Leopard reuniram-se para discutir formas de apoiar a
Ucrânia na sustentação logística da capacidade militar recém-formada pelas
doações dos parceiros e aliados, através da criação de um centro de apoio e
manutenção.
No âmbito da
missão da UE de assistência militar à Ucrânia (EUMAM-UA), cinco militares
portugueses estão a providenciar formação e treino na área médica a soldados
ucranianos, na Alemanha, até final de abril. Anteriormente, em fevereiro, três
militares integraram um primeiro grupo de observadores. E, de acordo com o
planeamento da EUMAM-UA, prevêem-se, para junho, novas ações de formação por
militares portugueses, nas áreas de instrução militar e de inativação de
engenhos explosivos.
***
Está visto que o grande móbil da guerra, além da
disputa do patrulhamento do Ártico, que já tenho referido (intensificada pelo
degelo daquele Oceano polar) é, para a Rússia, travar/impedir o avanço da NATO para
Leste e assegurar o monopólio da utilização do Mar Negro; e, para a Ucrânia, tornada
ponta de lance da NATO e dos EUA, a que a UE se subordina, é consolidar e
estender a NATO o mais possível. Isto não tira nada ao ónus que impende sobre a
Rússia enquanto país agressor e invasor. Apenas significa o testemunho da ambição
mútua.
Todavia, há outro dado. A Ucrânia pretende ser incluída
na NATO e, contando com a cooperação ativa da Roménia e da Moldávia,
quer assumir-se, com estes países, como um bloco unido face à ameaça da Rússia, com a qual fazem
fronteira.
Assim, na Conferência sobre a segurança do Mar
Negro, que decorreu em Bucareste,
a 14 de abril, os três países assinaram acordos de cooperação para fortalecer a
proteção regional.
Com efeito, Mais
de 250 líderes políticos e militares, não só da Europa, tentaram encontrar uma
forma de restaurar a ordem internacional natural na região do Mar Negro. O
problema, para muitos, tem uma solução simples: a retirada da Rússia da Ucrânia e a recuperação de
todos os territórios ocupados, incluindo a Península da Crimeia. Isso
permitiria nova configuração da segurança no Mar
Negro. Até lá, a Roménia,
como muitos outros países, fica do lado da Ucrânia.
A
vice-ministra dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Emine Dzhaparova, pediu aos Estados
parceiros para serem “mais decididos ao sancionar a Rússia”. “Como dizemos
na Ucrânia: tudo começou na Crimeia
e tudo se deve resolver na Crimeia. A Crimeia ensinou-nos a lição de que Vladimir Putin considera uma
fraqueza a linguagem de apaziguamento. A sugestão que vem da Ucrânia e tem sido apoiada
pela Roménia e [pela] Moldávia, [bem como por]
muitos outros países, é que temos de ser um pouco mais decididos quando se
trata de isolar e sancionar a Rússia.”
A região
do Mar Negro é vital para o
futuro da segurança europeia e para a defesa coletiva da NATO. Por isso, a este propósito,
o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro
Kuleba, pediu a desmilitarização do Mar
Negro, mas, por outro lado, referiu que chegou o momento de este se
tornar um “mar da NATO”, tal
como o Mar Báltico.
Por seu turno,
o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, diz que isso nunca
acontecerá e fala em contradições de Kiev. Lembrou que a alegação de que
o Mar Negro deve ser
desmilitarizado e tornar-se um mar da NATO “são
conceitos opostos”.
Enquanto se mantiverem
estes objetivos por parte da Rússia e por parte da NATO, a Ucrânia ficará
enredada no conflito, que nunca deveria ter começado. E as tentativas de mediação
de uma paz negociada – seja da China e da França, seja do Brasil e do G20
preconizado por Lula da Silva – pouco adiantarão. Mas a paz é desejável e,
desde que haja disponibilidade à cedência, é possível.
2023.04.21 – Louro de Carvalho
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