Após
dois anos de festejos de carnaval restringidos pelo confinamento, em virtude da
pandemia de covid-19, o Carnaval regressou às ruas e às praças um pouco por
toda a parte, com especial relevo no Brasil, assumindo o protagonismo que a
tradição e a criatividade lhe emprestam.
Também
em Portugal, estes dias foram prolíferos em iniciativas: desfiles, corsos, cortejos,
bailes e concertos. Os festejos mobilizaram autarquias, associações, foliões,
artistas, satíricos, momos, crianças e jovens em idade escolar. Pontificaram os
exageros e as exorbitâncias no traje, no palavreado, nos gestos, na comida e na
bebida – contra o frio e contra a chuva.
Registaram-se
números tão interessantes como exóticos.
Por
exemplo, em Loures, sobressaíram o Baile Trapalhão, a Noite Jovem Trapalhona e
o Cortejo Fúnebre de Enterro do Carnaval.
Sesimbra, além de desfiles e cortejos, ofereceu o desfile das
escolas de samba.
No Funchal, o Carnaval desenvolveu atividades para crianças,
peças de teatro, concertos e cortejos; várias atuações
diárias na baixa citadina, com bandas filarmónicas e
concertos; workshops sobre iguarias
e produtos da Madeira para divulgação de tradições da
época; o cortejo alegórico de Carnaval, com
cerca de 1500 foliões e mais de uma dezena de carros alegóricos; e, por fim, o Cortejo Trapalhão.
Vila Nova de Famalicão exibiu a 3.ª edição
da exposição
“Máscaras e Caretos”; organizou vários desfiles pela cidade; promoveu
vários concertos; e realizou, no dia
de Carnaval, os desfiles
de Fradelos e a Queima de Galheiros.
O Carnaval é particularmente intenso, expressivo
e diversificado em Caminha, em Ovar, em Estarreja, em Albergaria-a-Velha, na Mealhada,
na Figueira da Foz, na Nazaré, em Alcobaça, em Torres Vedras (um dos Carnavais
mais antigos e autênticos do país) e em Loulé.
Relevam os caretos de Lazarim (concelho de Lamego)
e os de Podence (concelho de Macedo de Cavaleiros), tal como o enterro do Rico
Irmão no Touro (concelho de Vila Nova de Paiva).
Imperdíveis são o Dança dos Cus, tradição secular em Cabanas de Viriato, o Entrudo
Tradicional das Aldeias do Xisto de Góis ou o Carnaval de Canas de Senhorim e o
Carnaval de Nelas.
A Praça Central de Coja, no concelho de
Arganil, encheu-se de música, com artistas convidados, e houve bailes de
máscaras. No dia 21, acolheu o Desfile de Carnaval acompanhado de
fogo-de-artifício e o tradicional Enterro do Entrudo.
Esteve de volta o Carnaval de Vale de Ílhavo,
tendo marcado a diferença com a folia e com a irreverência que lhe são
peculiares. Nos dois dias, os cortejos percorreram as ruas de Vale de Ílhavo
com Suas Majestades o Rei D. Carlitos XXIII e a Rainha D. Ritinha I, ao leme.
No concelho
de Pedrógão Grande, decorreu o tradicional Desfile de Carnaval com a Filarmónica
Pedroguense, com Bombos, Cabeçudos, máscaras, prémios para as melhores máscaras
e carros e muita animação, que encheram a tarde do dia 19, em Vila Facaia; e,
no dia 21, procedeu-se à 2.ª edição do Passeio D’Entrudo, em Pedrógão Grande, e
o Enterro do Entrudo, em Vila Facaia.
E não é de passar em claro o Carnaval em Vila
Velha de Ródão, cujo desfile encheu a tarde do dia 19, no Campo das Feiras, com
o tema da Biodiversidade. E, além do Desfile, decorreu, em simultâneo, a Feira
do Domingo Gordo. Foi um Carnaval com prémios, música e
muita animação.
***
O termo “carnaval” vem do Latim carnem levare, que significa “abster-se, afastar-se da
carne”.
Segundo a Grande Enciclopédia Larousse
Cultural: “... no Latim medieval, carnelevarium,
carnilevaria, carnilevamem, véspera de Quarta-Feira de
Cinzas, tempo em que se iniciava a abstinência da carne.” O afastamento da
carne é uma exigência da sobriedade quaresmal.
Segundo o dicionário Houaiss: “...do Latim
clássico carnem levare (...) fixa-se no Italiano carnevale (século XIV) e daí no Francês carneval (em 1552) e no Português carnaval (em 1680), passando às demais línguas
europeias ainda no século XVII.”
O primeiro elemento vem do latim caro, carnis (=carne), e o segundo elemento vem do
verbo latino levare (= levantar, tirar, sustar, afastar). Há quem
suponha que a segunda parte do vocábulo pertença ao domínio popular, do
latim vale (=adeus); daí carnevale (=adeus à
carne).
A origem do
Carnaval remontará à Grécia, em meados dos anos 600 a 520 a. C., na celebração
dos deuses gregos, valorizando a inversão da ordem, com as pessoas a poderem
esconder a identidade, trocar de identidade ou adquirir funções socialmente
diferentes das que tinham.
Com a
ascensão do Cristianismo, as festas pagas ganharam novo significado, de tal
forma que, na Idade Média, as festas do Carnaval se iniciavam no Natal e se
prolongavam até à Quaresma.
Assim, o
Carnaval terá surgido na Idade Média, mas alguns elementos foram herdados de celebrações da antiguidade, o que ajuda a entender alguns dos seus elementos e práticas.
Esses
elementos antigos foram herdados de celebrações de diferentes povos,
destacando-se os Mesopotâmicos, os Gregos e os Romanos. A ideia que
marcava o Carnaval medieval era a do “mundo
de cabeça para baixo”, ou seja, em que a ordem das coisas foi invertida
temporariamente, encontrando-se tal caraterística encontrada numa festa
mesopotâmica. Gregos e romanos festejavam Dioniso (Baco, para os romanos),
promovendo bebedeiras e outros prazeres carnais.
No decurso
da Idade Média e com a consolidação da Igreja Católica, buscou-se o controlo
dos ímpetos festivos da população, pois as festas eram tidas como exageros e
propensas a práticas vistas como pecaminosas. Assim, durante a Alta Idade
Média, a Igreja estabeleceu a Quaresma
– período de 40 dias que antecede a Semana Santa e é marcado pela
contrição e pelo jejum.
A existência
de um período de 40 dias de rigidez e de restrição conseguiu condensar o ímpeto
festivo da população para as semanas e meses anteriores à Quaresma. O carne
vale surgiu como o período em que as pessoas extravasavam os seus instintos
e desejos antes de iniciarem a Quaresma. A expressão significa “retirar a carne” e representa o
Carnaval como o momento de preparação para os prazeres carnais serem retirados.
Lembro-me de se rezar nas igrejas em desagravo pelos pecados dos dias de
Carnaval. E algumas paróquias celebram as Quarenta Horas: adora-se Cristo na
Hóstia, há pregação e missa solene, com a comunhão geral.
Foi no século
XVIII que surgiram, em Itália, os Bailes de Máscaras.
E cidades como Florença e Veneza competem pelas mais exuberantes festas de Carnaval, realizadas em magníficos
palácios, construídos e decorados pelos mestres renascentistas. Porém, afirmam
os historiadores, que o conceito do Carnaval Moderno
– com desfiles, danças e fantasias –,
nasceu em Paris, de onde foi exportado para o mundo.
Dantes, era o Entrudo (do Latim, introitus, entrada, pois é à entrada
da Quaresma, preparação para a Páscoa). Os primeiros registos do
Carnaval português datam de 1252, no reinado de D. Afonso III. E, hoje, faz
parte da identidade cultural lusitana e, sobretudo, no Centro de Portugal, encontra-se um vasto e rico conjunto
de celebrações carnavalescas,
com registos muito diferentes, que são o reflexo da cultura de cada uma das
suas comunidades. Do litoral ao interior, em cidades, vilas ou aldeias, as
pessoas unem-se em torno destas celebrações. Prepararam carros alegóricos,
ensaiam em escolas de samba, preparam disfarces, cartazes e músicas com sátiras
políticas, sociais e religiosas. E as críticas, por vezes, são mordazes, mas
muito divertidas. Porém, como diz o povo, “É Carnaval, ninguém leva
a mal!”
Não é somente entre nós. O Carnaval
festeja-se por toda a parte e é uma das festas populares mais do mundo ocidental, sendo a maior festividade
do Brasil. Com as caraterísticas análogas às de hoje, radica na Idade
Média, associado diretamente
com o cristianismo, e chegou ao Brasil, durante o período colonial, caraterizado
por diversas brincadeiras, como o entrudo.
Ao longo do
século XX, uma série de ritmos e danças passaram a fazer parte do Carnaval
brasileiro. Atualmente, ritmos como o samba, o maracatu e
o frevo são os seus
símbolos mais peculiares. Transformou-se na principal festa popular brasileira
a partir da década de 1930 e, atualmente, conta com os blocos de rua que acontecem nos
grandes centros do país, assim como os desfiles das escolas
de samba.
O Carnaval,
durante a Idade Média, podia estender-se por meses, logo após o Natal e
antes da Quaresma, como podia ocorrer só por algumas semanas antes da Quaresma.
Eram comuns as brincadeiras e zombarias públicas, bem como peças teatrais, tudo com muita
bebida e fartura de
alimento, incluindo carne, alimento inacessível à maioria das pessoas
durante o resto do ano.
O Carnaval
no Brasil é a maior festa popular. É uma festa móvel cuja data joga com os critérios que
definem a data da Páscoa. Estabelecidos os dias da Páscoa, é possível
definir os do Carnaval, já que a Terça-feira
de Carnaval é exatamente 47 dias antes da Páscoa.
O Carnaval
brasileiro leva milhões de pessoas para as ruas e constitui um momento muito importante para a economia,
uma vez que movimenta biliões de reais todos os anos. As maiores festas de rua
do Brasil ocorrem nas cidades de São
Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Também são importantes as
festas de estados do
interior, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
O Carnaval
foi levado para o Brasil pelos colonizadores portugueses. Os historiadores afirmam
que a festividade se estabeleceu no país entre os séculos XVI e XVII e teve
como primeira prática o entrudo, brincadeira que se fixou, primeiro, no
Rio de Janeiro, antes do início da Quaresma.
O entrudo –
realizado tanto pelas classes altas como pelas camadas populares – tinha o
clima de zombaria pública que regia o Carnaval e foi brincadeira comum até
meados do século XIX. A sua manifestação mais tradicional era conhecida como “molhadelas”: as pessoas atiravam umas
às outras ovos, farinha, lama, água e líquidos malcheirosos. Porém, também eram
usadas águas aromatizadas. Além disso, era um momento de flertes, sobretudo quando mais privado, isto é, entre
famílias. Com o passar do tempo, essa prática foi sendo substituída, nas elites,
por elaboradas práticas carnavalescas, em evidência na aristocracia europeia no
século XVIII. E, assim, surgiram os bailes de máscaras no Brasil. A partir do século XIX, os
bailes começaram a popularizar-se, e, com a criação de sociedades
carnavalescas, foram levados para as ruas. Consolidava-se, assim, o hábito de se
mascarar durante o Carnaval brasileiro.
As
sociedades carnavalescas também passaram a desfilar publicamente. A partir do
século XX, o envolvimento popular contribuiu para a consolidação de ritmos que
incorporavam a influência da cultura africana na capital carioca. Assim, na
década de 1930, o samba e os desfiles
das escolas de samba tornaram-se elemento fundamental do Carnaval
brasileiro, que passou a influenciar outros carnavais. O sucesso das escolas de
samba levou à construção e à inauguração, em 1984, do Sambódromo, local dos desfiles na
cidade do Rio de Janeiro.
***
Enfim, foi Carnaval,
espero que ninguém me tenha levado a mal.
2023.02.21 – Louro de Carvalho
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