Celebrou-se, a 22 de fevereiro, a festa da Cátedra
de São Pedro, Apóstolo, a quem o Senhor disse: “Tu és Pedro e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja”. No dia em que os Romanos honravam a memória
dos defuntos, celebra-se o dia natal de São Pedro na cátedra apostólica, que é
venerada com o seu monumento no Vaticano, pois, São Pedro, o primeiro papa
tinha a missão de presidir à assembleia universal da caridade, que se replica
nos seus sucessores, os Bispos de Roma.
A cátedra ou cadeira (ambos os termos se formaram a partir do nome latino “cathedra,
ae”, o primeiro, por via erudita, e o segundo por via popular) é apenas o
símbolo da missão petrina e não o objeto material do louvor e da veneração.
O Vatican News, o site oficial de notícias da Santa Sé,
refere que a festa da Cátedra de Pedro já se celebrava em Roma no século III.
Todavia, assinala que a primeira cátedra ou sede (outra palavra que vem do
termo latino “sedes”, que significa assento, cadeira, trono) da Igreja foi o
Cenáculo, em Jerusalém, onde Jesus celebrou a Última Ceia e visitou os
apóstolos, após a ressurreição, e onde os apóstolos com Nossa Senhora receberam
a efusão do Espírito Santo.
Também se sabe que Pedro, antes de se tornar bispo de Roma, foi o primeiro
bispo de Antioquia. Segundo tradições antigas, recolhidas no livro Legenda
Áurea de Jacopo de Varazze, foi estabelecida, em Antioquia, uma Igreja,
em cujo templo (a Igreja é a assembleia dos crentes que podem reunir-se num
templo ou em outro lugar) foi colocada, numa parte alta e visível, uma cadeira,
para que o apóstolo pudesse falar da fé a partir de lá.
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É de recordar que foi em Antioquia que os seguidores de Jesus Cristo
passaram a denominar-se “cristãos”. Até aí, eram chamados “santos” e o seu
identificativo era o peixe (em Grego, IKHTHYS, entendido como acrónimo de Iesoûs
Khristhòs Theoû Yiòs Sôthêr – Jesus Cristo, filho de Deus, Salvador). O símbolo
identificativo, o peixe, continuou até ao édito de Milão, em 313, ano em que
foi substituído pela cruz, pois Constantino reconheceu a religião cristã, mas a
invocação “Jesus Cristo, filho de Deus, Salvador” mantém-se e deve ser valorizada.
Embora os cristãos, pelo batismo participem da santidade radical de Jesus
Cristo, pois só Ele é verdadeiramente santo. Os cristãos deveriam poder
chamar-se santos, mas o termo “santo” ficou reservado, em termos teológicos, para
as pessoas que vivem e morrem na graça divina e, em termos técnicos, para as
pessoas que a autoridade da Igreja declara “santos/as” e inscreve, pela canonização,
no catálogo dos santos e santas. Antes disso, há uma situação intermédia, em que
a autoridade da Igreja declara “beato/a” alguém que já fora declarado venerável
pelo martírio, pela heroicidade de vida ou pela oferta extraordinária da vida à
causa do Evangelho. Este último motivo é inovação do Papa Francisco.
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No passado, a Cátedra de São Pedro era celebrada em 18 de janeiro e também
em 22 de fevereiro. A primeira era para a sede do Apóstolo em Roma e a segunda
para a de Antioquia. De facto, esta última tinha a sua festa própria. Assim, a Cátedra de Pedro celebrava-se duas
vezes por ano.
Porém, em 1960, o Papa são João XXIII uniu as duas festas e estabeleceu a festa
da Cátedra petrina só no dia 22 de fevereiro.
O beato Jacopo de Varazze indica, no seu livro, que existem três tipos de
cátedras. A primeira é a “régia” (real), como a do rei David; a segunda é a
sacerdotal, como a de Eli, que, segundo a Enciclopédia
Católica, foi juiz e “sumo sacerdote” no Antigo Testamento; e, finalmente,
a terceira é magisterial (ensino e governo), como a de Moisés.
“A cátedra de Pedro foi régia, sacerdotal e magisterial; régia, porque
Pedro é o príncipe de todos os reis; sacerdotal, porque foi pastor de todos os
bispos, os sacerdotes e diáconos; e magisterial, porque foi mestre de todos os
cristãos”, discrimina o beato.
O beato Jacopo acrescenta que há quem defenda que a festa da Cátedra de São
Pedro em Antioquia estaria associada à tonsura que os monges e os clérigos realizavam.
Esta prática consistia em raspar o topo da cabeça em forma de círculo, podendo
a sua origem estar relacionada com Pedro.
Diz-se que um dia o apóstolo estava a pregar em Antioquia e que um grupo de
pessoas que perseguiam os cristãos o agarrou e lhe raspou o topo da cabeça. A
Enciclopédia Católica diz que, nos tempos romanos e gregos, a tonsura era um
sinal de escravidão. Porém, o que, para outros, era motivo de ridículo e de desprezo
tornou-se, mais tarde, uma espécie de “coroa” simbólica do príncipe dos
Apóstolos. E os clérigos adotaram-na, posteriormente, como sinal da cleronomia
ou seja, da sua entrega total à Igreja.
Desde tempos remotos, um indivíduo tornava-se clérigo com a cerimónia da
prima tonsura (ficava tonsurado, já era tratado por reverendo e alguns já o
chamavam padre): o bispo, em contexto de celebração litúrgica, recebia-o no
grémio dos clérigos. Depois, receberia sucessivamente, mas depois de ter
exercido, ainda que por tempo diminuto, a respetiva ordem, as ordens de
ostiário, de leitor, de exorcista e de acólito (eram quatro ordens menores); as
ordens de subdiácono (já era obrigado a recitar o breviário, hoje dito, Liturgia das Horas), de diácono e de
presbítero ou padre ou sacerdote (as três ordens maiores); e alguns padres eram
escolhidos para bispos (dotados com a plenitude do sacerdócio).
Com a Carta Apostólica em forma de motu
proprio “Ministeria Quaedam” de 15 de agosto de 1972, foi abolida a prima
tonsura e as ordens menores. Em seu lugar, foram instituídos os ministérios de
leitor e de acólito (este podia ser designado, mas regiões que o desejassem,
por subdiácono), extensivos a homens, que se manteriam leigos, mas obrigatórios
para candidatos ao diaconado e ao sacerdócio. Os, desde então, designados por “ministérios
ordenados” passaram a ser a ordem de diácono (que assinala entrada na clerezia),
a ordem de presbítero (padre ou sacerdote) e a ordem episcopal (de bispo).
Obviamente, a bispo só chegam alguns e passou a existir, ao lado dos diáconos
que pretendem ascender ao presbiterado, o grupo dos diáconos permanentes, que
podem, mesmo na Igreja Católica latina ser e continuar casados (mas não
recasáveis, nem pela viuvez). E, como dantes, o Bispo de Roma é o Papa.
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Monsenhor Florian Kolfhaus, sacerdote, escritor e funcionário da Secretaria
de Estado do Vaticano, refletiu sobre a importância Cátedra de Pedro, tanto na
Igreja como no Mundo inteiro.
A Santa Sé, cujo conceito remonta ao banco de madeira do pescador a quem o
Senhor nomeou Pastor da sua Igreja, é a mais alta autoridade moral em todo o
Mundo. Na verdade, como escreveu
Kolfhaus, a 22 de fevereiro de 2017, numa coluna publicada em CNA Deutsch – agência alemã do Grupo ACI “também os não cristãos prestam
atenção às palavras do Papa sobre paz, migração e proteção climática”, entre outros
temas.
O Papa “goza do reconhecimento de cerca de 170 Estados e 20 organizações
internacionais” e “é reconhecido em virtude das suas relações de séculos com
ouros Estados”, observou o especialista, lembrando que o Papa é um soberano
sujeito de direito internacional.
“O Papa, e só ele, entre todos os demais líderes religiosos, é quem goza da
autoridade de um chefe de Estado […]. E tudo isso se deve, por assim dizer, ao
banquinho de madeira sobre o qual se sentou Pedro, quando ensinava à comunidade
de Roma”, acrescentou.
Entretanto, mais importante do que os temas políticos é “a preservação e
autêntica interpretação da fé, que foi confiada a Pedro e aos seus sucessores”.
“A ele foi prometida – tal como belamente mostra o altar em são Pedro – a
especial assistência do Espírito Santo, ao explicar o Evangelho de Cristo a
partir da Tradição da Igreja e dos seus padres”, clarificou o especialista.
O Papa tem o poder das chaves, fechar e abrir para atar e desatar. Tem
poder direto, imediato, limitado só pela Lei divina sobre toda a Igreja. É o
pastor supremo a quem é confiada a totalidade do rebanho do Senhor. E a Igreja
celebra este elevado serviço do Servo dos servos de Deus.
Apesar dessas caraterísticas, Monsenhor Kolfhaus sublinha que cada papa
deve ter consciência de que é “homem frágil e débil” e “precisa, constantemente,
de purificação e conversão”. E deve ter consciência de que lhe vem do Senhor a
força para confirmar os seus irmãos na fé e mantê-los unidos na confissão de
Cristo crucificado e ressuscitado. Por outro lado, o Bispo de Roma senta-se na cátedra
para dar “testemunho de Cristo”; e esse poder conferido por Cristo a ele e a
seus sucessores “é, nesse sentido absoluto, um mandato para servir”.
O poder de ensinar, na Igreja, implica um compromisso ao serviço da
obediência à fé.
Além disso, como vincou o especialista, o Papa “não é um soberano cujo
pensamento e vontade são lei”. Ao invés, o ministério papal é garantia da
obediência a Cristo e à sua Palavra, não devendo o Sumo Pontífice proclamar as suas
próprias ideias, mas vincular-se, constantemente, a si e a Igreja à obediência
à Palavra de Deus, frente a todas as tentativas de adaptação e de alteração,
assim como frente a todo o oportunismo.
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A
festa da Cátedra de São Pedro é, ao fim de contas, o reconhecimento e a exaltação
do primado e da autoridade do apóstolo Pedro e dos seus sucessores. Ao mesmo
tempo, recorda a autoridade conferida por Cristo ao apóstolo, quando lhe diz,
conforme relatam os Evangelhos: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”. Cristo é a pedra
angular de todo o edifício eclesial e Pedro é essa mesma pedra com Cristo,
construindo a unidade, promovendo o acolhimento de todos na caridade e concitando
o dinamismo da convivência fraterna. O Papa não é um afugenta pessoas, nem um
monge.
O
vocábulo “cátedra” significa assento ou trono e é a raiz da palavra catedral, a
Igreja onde o bispo tem o trono a partir do qual proclama a palavra e ensina.
Sinónimo de cátedra é também “sede” (assento, cadeira). A sede é o lugar de
onde o bispo governa a sua diocese. Por exemplo, a Santa Sé é a sede do papa e
a sua catedral é a basílica de São João de Latrão ou do Santíssimo Salvador.
Assim, dizer “sé catedral” é duplicação de sentido (redundância ou pleonasmo).
A
palavra cátedra persiste na universidade. O docente titular de uma disciplina
passou a ser o catedrático, o que tem direito ao uso de uma cátedra, à qual só se
podia concorrer, quando ela vagasse. Por transferência de sentido, denominam-se
cadeiras as várias disciplinas na universidade. Também, antigamente, em algumas
localidades, quando o/a professor/a do ensino primário se apresentava, as
pessoas queriam saber se tinha cadeira ou não, isto é, se era efetivo (do quadro)
ou não.
A
cátedra ou sede que se conserva, atualmente, na Basílica de São Pedro, em Roma,
foi doada por Carlos, o Calvo, ao Papa João VIII, no século IX, por ocasião da
sua viagem a Roma, para a sua coroação como imperador romano do Ocidente. Este
trono conserva-se, como relíquia, numa magnífica composição barroca, obra de
Gian Lorenzo Bernini, construída entre 1656 e 1665.
A
obra de Bernini está emoldurada por pilastras. No centro, está o trono de
bronze dourado, em cujo interior se encontra a cadeira de madeira, decorada com
um relevo a representar a “traditio clavium” ou “entrega das chaves”. O trono
apoia-se em quatro grandes estátuas de bronze, que representam quatro doutores
da Igreja: em primeiro plano, santo Agostinho e santo Ambrósio, para a Igreja
latina; e santo Atanásio e são João Crisóstomo, para a Igreja oriental.
Por
cima do trono surge um sol de alabastro decorado com estuque dourado e rodeado
de anjos que emolduram uma vidraça em que está representada uma pomba de 162 cm
de envergadura, símbolo do Espírito Santo. É a única vidraça colorida de toda a
Basílica de São Pedro.
Todos
os anos, a 22 de fevereiro, o altar monumental que acolhe a Cátedra de Pedro
permanece iluminado, o dia todo, com dúzias de velas e celebram-se numerosas
missas da manhã até ao entardecer, concluindo com a Missa do Capítulo de São
Pedro.
2024.02.22 –
Louro de Carvalho
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