O site do Diário de Notícias (DN)
publicou, a 7 de fevereiro, um texto de Rui Miguel Godinho, a relevar que o
banco de células BebéVida e a Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico
do Porto aplicaram o tratamento em grande número de tumores e creem ter descoberto
uma possível linha de cura. É “o pontapé de saída” para uma terapia concreta de
combate ao melanoma – cancro de pele com origem nas células produtoras de
pigmentos, os melanócitos – graças às células estaminais (presentes no tecido e
no sangue do cordão umbilical).
A
investigação da BebéVida (um banco de células estaminais) e do Centro de
Investigação em Saúde Translacional e Biotecnologia Médica da Escola Superior de
Saúde do Politécnico do Porto (TBIO) aplicou ao melanoma este tipo de células,
e os resultados foram promissores, com os tumores a viverem menos tempo do que
sem esta terapia.
Andreia Gomes, diretora técnica de investigação e desenvolvimento da BebéVida
diz que “ainda vai demorar a que os resultados se tornem efetivamente numa
terapia”. O que se fez “foi um estudo primário, de ciência básica e
preliminar, e não “algo que se possa aplicar já nas pessoas”.
Os
investigadores testaram os fatores “produzidos e libertados pelas células
estaminais do tecido do cordão umbilical”, aplicando-os, depois, a “células
provenientes de melanoma maligno”, para saber que efeito estas células teriam.
E verificou-se “uma redução da viabilidade do número de células vivas de
melanoma”. É
como se matassem as células, diminuindo-lhes multiplicação e a capacidade de
multiplicabilidade ou seja, de migração, que pode ser fator inerente à
metastização. Os resultados “acabam por ser muito otimistas”,
pois, há “uma direção no sentido de tornar estas células [de melanoma] em
antitumorais”.
Se
o tratamento se revelar eficaz, será um grande avanço no tratamento do
melanoma, “que atualmente se revela muito pouco eficaz”, diz Andreia Gomes. Não
especificando quantas células foram utilizadas no ensaio, devido ao número
“muito grande”, diz que a observação foi feita ao longo de um ano. “Foram estudados vários fatores, várias condições. A aplicação das células per se é feita durante 24
horas”. Os investigadores vão pondo as células estaminais em cima
do melanoma e avaliam os efeitos “em fatores funcionais ou caraterísticas
funcionais” – “muito importantes, para perceber se as células estaminais
poderiam ter efeitos antitumorais ou não”.
A
ciência tem procurado perceber como podem estas células atuar noutros cancros e
noutras doenças. No cancro da próstata, o efeito é consistente com o que se
verificou no melanoma. “Isto já foi visto nesse caso”, podendo ajudar “em casos
de cancro mais avançados”, como o melanoma.
“Estas
células são proveniente de linhas solares, já metastizadas, ou seja, a parte
mais avançada. Realmente, parece haver algo que indica que as células
estaminais têm capacidade de parar, ou estagnar, o avanço dos tumores”, afirma
a investigadora. No entanto, no concreto, ainda há vários fatores a serem
estudados, como explica a investigadora. É necessária uma bateria de estudos
para avaliar os mecanismos, o porquê de isto acontecer, como aplicar e as
questões de segurança.
Este
tipo de células é cada vez mais usado em investigação, para encontrar cura para
doenças, porque as células estaminais são lucipotentes, com enorme
versatilidade para se adaptarem. Esse fator permite que, se forem preservadas,
sirvam de cura para algumas doenças, já que têm a capacidade de se adaptar e
autorrenovar indefinidamente. Assim, será possível reparar tecidos danificados
ou a tratar doenças que resultem de uma disfunção celular. E há grande
expectativa, quanto ao impacto de terapias com células estaminais no Parkinson
e no Alzheimer.
***
O melanoma (maligno) é cancro de pele que começa nas células produtoras
de pigmento da pele (melanócitos).
Surge na pele normal ou
em nevos já existentes, podendo formar placas da pele de cor marrom,
irregulares, planas ou salientes, com pontos de cores diferentes, ou caroços
duros pretos ou cinzentos.
Para o diagnóstico, recorre-se
à biópsia; depois, o melanoma é removido. E, se se espalhou, recorre-se a medicamentos
quimioterápicos e à radioterapia, mas a cura é difícil.
Os melanócitos são células pigmentadas da pele que lhe dão a cor distintiva.
A luz solar estimula-os a produzir mais melanina (pigmento que escurece),
aumentando o risco de melanoma.
Em 2022, foram estimados cerca de 99.780 novos casos de melanoma nos
Estados Unidos da América (EUA), com a estimativa de 7.650 mortes (a cada hora,
morre ali de melanoma uma pessoa). Embora responsável por menos que 5% dos
casos de cancros de pele diagnosticados nos EUA, esse tipo causa a maioria
das mortes por cancro de pele.
O melanoma, geralmente, começa, na pele normal, como tumor novo pequeno e
pigmentado, mais frequentemente em áreas expostas ao sol. Cerca de um em três surge
em nevo preexistente. Pode ocorrer ao redor e dentro nos olhos, na
boca, nos órgãos genitais e nas áreas retais, no cérebro e nos leitos ungueais
(partes abaixo das unhas). E propaga-se rapidamente (isto é, forma metástases)
para zonas distantes do corpo, onde continua o seu crescimento e destruição do
tecido.
Os dois tipos mais comuns são o melanoma de disseminação superficial e o melanoma
nodular. O primeiro, responsável por 70% dos melanomas, ocorre mais comumente
nas pernas, em mulheres, e no tronco, em homens. As células tumorais apresentam
mutações no gene BRAF (que produz a proteína
quinase serina/treonina). O segundo representa 15% a 30% dos melanomas e ocorre em qualquer parte
do corpo e cresce rapidamente.
Os fatores de risco do melanoma incluem: exposição ao sol (sobretudo
queimaduras do sol com bolhas repetidas); banhos de sol repetidos, com
ultravioleta A (UVA) ou com tratamentos médicos com psoraleno mais ultravioleta
A (PUVA); histórico de ter tido cancro de pele (outro melanoma ou outro tipo de
cancro de pele); parentes com melanoma; pele clara ou sardas; grande número de
nevos pigmentados ou presença de nevos atípicos (especialmente se houver
mais de cinco); sistema imunológico enfraquecido; um grande nevo melanocítico
congénito (nevo congénito gigante); e idade avançada.
Pessoas que tiveram melanoma correm mais risco de desenvolverem um novo
melanoma.
As caraterísticas deste nevo atípico incluem bordas irregulares e cores
variáveis. O melanoma é menos comum em pessoas de pele mais escura. Quando o
melanoma surge em pessoas de pele mais escura, muitas vezes, manifesta-se nos
leitos ungueais, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés. É muito raro na
infância. No entanto, um nevo melanocítico congénito é uma placa de pele com
coloração escura, como um sinal ou uma marca de nascença, presente desde o
nascimento. Quando é grande, por exemplo, com mais do que cerca de 20
centímetros (cerca de 8 polegadas), o nevo melanocítico congénito é fator de
risco para melanoma maligno.
Embora os melanomas ocorram durante a gravidez, ela não aumenta a
probabilidade de um nevo se transformar em melanoma. Os nevos podem mudar de
tamanho e escurecer na gravidez.
***
Todas as pessoas devem tomar conhecimento do ABCDE do melanoma, para
poderem examinar os seus nevos e detetar qualquer alteração maligna (cancerosa). Os indicadores conhecidos como ABCDE do melanoma são:
assimetria (as duas metades não são
iguais); bordas (parecem misturar-se
com a pele ao redor ou não são arredondadas ou ovais); cor (mudanças de cor de um nevo existente, principalmente a difusão
de pigmentação marrom, preta, vermelha, branca ou azul, ou de cor
significativamente diferente ou mais escura do que os outros nevos); diâmetro (maior do que 6 milímetros de
largura, quase o tamanho da maioria dos apagadores de lápis); evolução (nevo novo em pessoa acima de
30 anos ou nevo com alterações).
Os melanomas podem variar em relação ao seu aspeto. Alguns são placas
acastanhadas, planas, irregulares e com pequenos pontos negros; outros são
placas acastanhadas elevadas, de cor parda, com pontos vermelhos, brancos,
negros ou azuis. Às vezes, o melanoma surge como tumor duro de cor vermelha,
negra ou cinza. Menos de 10% dos melanomas não produzem pigmentos. Os melanomas
amelanóticos podem ser rosados, avermelhados ou levemente marrom-claros e podem
parecer tumores não cancerosos ou uma outra forma de cancro de pele.
***
Para a biópsia, remove-se o tumor inteiro, se for pequeno, ou parte
dele, se for grande. A amostra é examinada ao microscópio, para determinar se o
tumor corresponde a um melanoma e, se assim for, se saber se foi extraído todo
o cancro. Se a biópsia mostrar que o caroço é melanoma e que tal caroço não foi
todo removido, deve fazer-se a sua remoção completa.
A maior parte dos tumores pigmentados de cor escura retirados para biópsia
não são melanomas, mas simples nevos. Contudo, é preferível remover nevos não
prejudiciais a permitir o crescimento de cancro. De facto, há crescimentos intermédios,
que são os nevos atípicos ou displásicos, que podem vir a converter-se em
melanomas.
Além da biópsia, há mais recursos para ajudar a distinguir entre nevo
atípico e melanoma. Tais ferramentas incluem luz polarizada e dermatoscopia,
que ajudam a avaliar os tumores.
O melanoma pode espalhar-se rapidamente e causar morte em apenas alguns
meses após o diagnóstico. Quanto menos o melanoma crescer dentro da pele, maior
é a probabilidade de ser resolvido com cirurgia.
***
Como o melanoma pode ser causado por exposição ao sol, as pessoas
podem ajudar a prevenir este cancro, adotando as seguintes medidas, a começar
no início da infância: evitar o sol (ficando na sombra, entre as 10 e as 16
horas), evitar banhos de sol e evitar o uso de bronzeamento artificial
(principalmente adolescentes e adultos jovens); usar vestuário de proteção; e
usar protetor solar.
Ao nível do tratamento, é indicada a remoção; a imiquimode, crioterapia ou
radioterapia; e, para tumores que se espalharam, imunoterapia, terapia
direcionada ou radioterapia.
Os médicos tratam os melanomas, extraindo-os e retirando uma borda de quase
1 centímetro ou mais da pele ao redor do tumor. Para as pessoas com melanomas
mais superficiais e que não podem ser submetidas a cirurgia ou que decidem não
optar pela cirurgia, os médicos tratam com creme contendo imiquimode ou usam
frio extremo (criocirurgia). E, se o melanoma se disseminou para áreas
distantes, a cirurgia não é, em geral, uma opção, mas, às vezes, áreas
localizadas podem ser cirurgicamente removidas.
Pembrolizumabe e nivolumabe, os novos medicamentos para imunoterapia são
usados, para ajudar o sistema imunológico do corpo a destruir o cancro. São inibidores
de PD-1, que bloqueiam a ação de uma proteína na superfície da célula cancerosa
chamada proteína 1 de morte celular programada, que protege a célula cancerosa
dos efeitos do sistema imunológico. Quando os inibidores da PD-1 bloqueiam a
proteína, o sistema imunológico consegue atacar a célula cancerosa e matá-la. A terapia direcionada (terapia-alvo)
administra medicamentos que atacam os mecanismos biológicos inatos de uma
célula cancerosa. Os medicamentos identificam os genes anómalos que ocorrem
apenas nas células cancerosas. Uma classe de medicamentos usados nesta terapia inclui:
dabrafenibe, encorafenibe e vemurafenibe, que podem destruir as células com
cancro com mais precisão do que os antigos medicamentos de quimioterapia. E
podem ser combinados com outra classe de medicamentos, que inclui o trametinibe,
o cobimetinibe e o binimetinibe, em pessoas que não se podem submeter à
imunoterapia.
São administráveis, pela veia, medicamentos quimioterápicos, como a dacarbazina
e a temozolomida, para tratar os melanomas que alastraram, mas não prolongam a
sobrevida e são, em geral, administrados a pessoas que não têm outra opção. A radioterapia pode
ser usada em pessoas em que não é possível a remoção completa do melanoma,
devido à sua localização, quando se repete em área onde foi removido ou quando
atingiu o cérebro.
Estão em estudo outros tratamentos, como medicamentos e vacinas que
estimulam o corpo a atacar as células com melanoma.
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Com as células estaminais e com as vacinas, surge uma nova esperança.
2024.02.07 – Louro de Carvalho
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