A 26 de fevereiro, o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson, recebeu,
por telefone, na sede do governo, em Estocolmo, a informação de que o
parlamento húngaro votou “sim”, para ratificar a adesão da Suécia à Organização
do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o passo final necessário para aquele país
nórdico que deseja aderir à Aliança Atlântica, desde a invasão russa da
Ucrânia. Subsequentemente, Ulf Kristersson afirmou que a Suécia está “pronta
para assumir as suas responsabilidades” na NATO.
“Hoje é um dia histórico”, escreveu o chefe do executivo sueco na rede
social X (antigo Twitter).
A candidatura de Estocolmo foi aprovada por uma esmagadora maioria de
deputados (188 votos em 199 lugares), após quase dois anos de espera.
Após a ratificação, há um mês, pelo parlamento turco, a Hungria era o último
dos 31 membros da NATO que ainda não tinha aprovado a entrada da Suécia, num
processo que começou há quase dois anos e que, até agora, era bloqueado apenas por
estes dois países.
Esta decisão
pôs fim a mais de 18 meses de atrasos da parte do governo nacionalista de
Budapeste, que frustraram os aliados. Com efeito, a ratificação pelo parlamento
húngaro, onde o Fidesz do primeiro-ministro, Viktor Orbán, tem maioria de dois
terços, foi adiada, por várias vezes, tendo os deputados deste partido
justificado o atraso, por exemplo, com as críticas “injustas” da Suécia à
política e à deriva democrática na Hungria, também denunciada pela União
Europeia (UE).
A 23 de fevereiro, Orbán tinha anunciado, em conferência de imprensa junto
do homólogo sueco, a reunião do parlamento, no dia 26, para tomar “as decisões
necessárias, que encerrarão esta fase”.
O anúncio da visita do primeiro-ministro sueco a Budapeste ocorreu pouco
depois de os deputados do Fidesz terem anunciado, a 20 de fevereiro, na capital
da Hungria que tinham pedido ao presidente do parlamento que incluísse o
assunto na ordem do dia.
Na mesma conferência de imprensa, Orbán revelou ainda a compra de quatro
aviões de combate à Suécia, demonstrando o desejo de cooperação militar
reforçada. “Hoje [dia 23 de fevereiro], chegámos a um acordo para adicionar
quatro aeronaves à frota de caças-bombardeiros Gripen das Forças de Defesa
Húngaras”, além das 14 já operadas em regime de arrendamento desde 2006,
declarou, acrescentando que também foram assinados acordos conexos com a
manutenção e prestação de serviços destes aparelhos. É a demonstração do desejo
de uma cooperação militar reforçada entre os dois países.
Neste sentido, o primeiro-ministro húngaro advertiu que esta operação não
se relaciona com a ratificação da entrada da Suécia na NATO e afirmou que
restaurar a confiança entre os dois países tem sido um processo longo, mas
reconheceu que a aquisição dos caças “contribuirá para a restabelecer”. Por sua
vez, Kristersson evitou criticar a Hungria e afirmou, que quando um país pede
para ser membro da NATO, sabe que o pedido tem de ser ratificado por todos os
países. “Respeitamos que o parlamento húngaro tenha tomado a sua decisão de
forma mais lenta”, frisou, anunciando que os dois países continuarão a procurar
pontos de cooperação e vincando que a Hungria e a Suécia, apesar das
diferenças, são parceiros na UE “e, em breve, na NATO”.
***
Reagindo, o secretário-geral da NATO afirmou que a Suécia tornará a Aliança
Atlântica “mais forte e segura”, depois de o parlamento do último país aliado a
ratificar a adesão, a Hungria, ter concluído o processo. “Congratulo-me com o
voto do parlamento húngaro para ratificar a adesão da Suécia à NATO. Agora que
todos os Aliados a aprovaram, a Suécia tornar-se-á o 32.º Aliado da NATO. A
adesão da Suécia tornar-nos-á a todos mais fortes e mais seguros”, escreveu
Jens Stoltenberg na conta pessoal na rede social X (antigo Twitter).
Tanto a Finlândia como a Suécia solicitaram conjuntamente a adesão à
Aliança no seguimento da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022.
A Finlândia tornou-se membro de pleno direito da NATO a 4 de abril de 2023 –
o que mais do que duplicou a fronteira da Aliança com a Rússia –, mas a Turquia
e a Hungria mantiveram o seu veto em relação à Suécia. Ancara, que tinha
acordado compromissos de segurança com Helsínquia e Estocolmo, tinha dúvidas
sobre o envolvimento sueco na luta contra o alegado terrorismo curdo.
Agora que se chegou a um consenso entre todos os países para que a Suécia
se torne membro de pleno direito da Aliança e beneficie de defesa coletiva em
caso de ataque, há ainda algumas etapas administrativas a cumprir.
A Suécia deve depositar o protocolo de adesão junto dos Estados Unidos da
América (EUA), que ficará à guarda do Departamento de Estado norte-americano,
em Washington. E, como final simbólico, a bandeira da Suécia será hasteada numa
cerimónia na sede da NATO, em Bruxelas, juntamente com as dos outros 31
aliados.
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O chanceler
alemão, Olaf Scholz, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o
primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, saudaram, de imediato, a adesão da
Suécia à NATO.
“O caminho
está livre para a Suécia na NATO, é uma vitória para todos [...]. Esta
decisão reforça a nossa aliança de defesa e, com ela, a segurança da Europa e
do Mundo”, declarou Scholz, numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).
“Parabéns ao
vosso país”, disse Macron, na abertura de uma conferência de apoio à Ucrânia
organizada no Palácio do Eliseu (sede da Presidência francesa) com mais de 20
dirigentes europeus, congratulando-se com o facto de a Suécia e, antes dela, a
Finlândia terem aderido à NATO, o bloco de defesa ocidental.
Por sua vez,
o chefe do governo britânico, Rishi Sunak, classificou o dia de hoje [dia 26] como
“um dia histórico” para a NATO, após a ‘luz verde’ do parlamento da
Hungria à adesão da Suécia, o único obstáculo que faltava ultrapassar para a
sua entrada na Aliança Atlântica.
“Mal podemos
esperar por vos acolher na NATO muito em breve”, escreveu o primeiro-ministro
britânico na rede social X (antigo Twitter).
O chefe da
diplomacia da UE, Josep Borrell, saudou a entrada da Suécia na NATO, garantindo
que fortalecerá quer o bloco, quer a Aliança Atlântica, além de promover a
parceria estratégia entre ambas as partes. “Vinte e três Estados-membros da UE
farão agora parte da Aliança. Isto fortalece a UE e a NATO e promove a parceria
estratégica UE-NATO”, realçou Borrell, através das redes sociais, após a
aprovação da adesão de Estocolmo pelo parlamento húngaro, último passo para
completar o processo.
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A Suécia
tem-se mantido afastada de alianças militares há mais de 200 anos e há muito
que excluiu a possibilidade de aderir à NATO. Porém, após a invasão, em grande
escala, da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, a Suécia abandonou a sua
política de não-alinhamento, quase de um dia para o outro, e decidiu
candidatar-se à adesão à aliança juntamente com a Finlândia.
Tanto a
Suécia como a Finlândia, que aderiram à aliança militar em 2023, já tinham
desenvolvido fortes laços com a NATO após o fim da Guerra Fria, mas a opinião
pública manteve-se firmemente contra a adesão plena até à guerra na Ucrânia.
O
não-alinhamento era visto como a melhor forma de evitar tensões com a Rússia, o
seu poderoso vizinho na região do mar Báltico. Contudo, a agressão russa
provocou uma mudança radical em ambos os países, com as sondagens a mostrarem
um aumento do apoio à adesão à NATO.
Os partidos
políticos da Finlândia e da Suécia decidiram que precisavam das garantias de
segurança que só a adesão plena à aliança liderada pelos EUA lhes oferece.
A inclusão
da Suécia deixará o mar Báltico quase rodeado de países da NATO, reforçando a
aliança numa região estrategicamente importante, pois o mar Báltico é o ponto
de acesso marítimo da Rússia à cidade de S. Petersburgo e ao enclave de
Kaliningrado.
As forças
armadas da Suécia, apesar de fortemente reduzidas desde a Guerra Fria, são
vistas como um potencial reforço da defesa coletiva da NATO na região. Os
suecos, que têm uma força aérea e uma marinha modernas, comprometeram-se a
aumentar as despesas com a Defesa para atingir o objetivo da NATO de 2% do
produto interno bruto (PIB). E, tal como as forças armadas finlandesas, as suecas,
têm participado, durante anos, em exercícios conjuntos com a NATO.
Dada a nova disponibilidade
da opinião pública da população da região do mar Báltico, não é de estranhar
que Moscovo tenha reagido negativamente à decisão da Suécia e da Finlândia de
abandonarem o não-alinhamento e quererem aderir à NATO e que tenha alertado
para contramedidas não especificadas. Efetivamente, a Rússia afirmou que a
medida afeta, negativamente, a situação de segurança no Norte da Europa, que “tinha
sido, anteriormente, uma das regiões mais estáveis do Mundo”.
No início
deste ano, o principal comandante militar da Suécia, o general Micael Bydén,
considerou que todos os Suecos deveriam preparar-se, mentalmente, para a
possibilidade de guerra e, a 19 de fevereiro, Thomas Nilsson, chefe do serviço
de inteligência externa da Suécia, MUST, frisou que “a situação continuou a deteriorar-se
durante 2023”. “No caso de adesão à NATO, temos de ter a capacidade, através de
uma aliança, de contrariar uma Rússia imprevisível”, afirmou o MUST, na sua
avaliação. No entanto, tanto a Suécia como a Finlândia alertaram para um risco
acrescido de interferência russa e de ataques híbridos.
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Ainda não estava concluída a adesão à NATO, já a
Suécia se propunha enviar cerca de mil soldados para se juntarem aos exercícios
militares da NATO, uma força que foi colocada na Letónia, onde a NATO esteve
a preparar um
acampamento para abrigar as primeiras tropas enviadas pelo novo aliado.
Assim, verifica-se que, depois de
permanecer, durante décadas, como país neutral, a Suécia, sem ter finalizado
sua adesão, já estava a operar ativamente dentro dos quadros da Aliança
Atlântica.
Assim, Estocolmo preparava-se para
enviar para a Letónia uma unidade mecanizada que reúne um batalhão de cerca de
600 a 800 soldados e blindados pesados. Esta força integra a “Presença Avançada
Reforçada” da NATO, liderada pelo Canadá e será a primeira linha de defesa
contra a potencial invasão russa nos países bálticos.
O batalhão sueco junta-se a uma
rotação de seis meses com outro batalhão dinamarquês composto com o mesmo
número de soldados. O acampamento em construção poderá abrigar 1200 militares.
Fosse qual fosse o resultado da
votação de adesão de Estocolmo na Hungria e na Turquia, a Suécia
já se tinha alistado como participante de pleno direito nas manobras militares “Steadfast
Defender 2024”, o maior exercício militar da Aliança desde a Guerra Fria que
está a mobilizar mais de 90 mil soldados em diferentes países da NATO.
Fuzileiros navais dos EUA aprimoram
habilidades de esqui no Norte da Noruega, como parte dos exercícios da NATO que
estão a decorrer desde 22 de janeiro e vão durar até maio deste ano.
Os comandantes dos EUA asseguram que
a experiência adquirida no gélido inverno de Finnmark ajudará as tropas a
estarem mais preparadas em condições extremas. Os fuzileiros recebem treino
constante em diferentes cenários como deserto, montanha ou selva.
***
Contra o acordado em 1991, a NATO
controla, praticamente, metade da Europa (grande parte dos antigos países do
Leste europeu), no que a UE quer participar, e toda a América do Norte, tal
como domina, frente à Rússia, a região do Ártico, uma ambição ocidental, mercê
do degelo oceânico. Tal postura geoestratégica revelar-se-á eficaz ou não passará
de provocação à Rússia, de consequências imprevisíveis. Tudo dependerá, também,
do desfecho do impasse na Ucrânia.
2024.02.26 – Louro de Carvalho
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