A máquina de escrever, máquina datilográfica ou máquina de datilografia, marcou importante
período na História da tecnologia em constante evolução. Foi suplantada pelo
computador, na era da informática, e pela exigência do ritmo acelerado em que estão
associadas ao sucesso e ao lucro a competitividade e a qualidade, mas os
equipamentos mais modernos e aperfeiçoados utilizarão as teclas, até que o
avanço tecnológico proporcione outra alternativa.
É um instrumento mecânico,
eletromecânico ou eletrónico com teclas que, premidas, imprimem os carateres (letras,
números, sinais, símbolos, etc.) num documento, em geral, de papel. O método
pelo qual deixa a impressão varia conforme o tipo de máquina. Habitualmente, a
impressão é causada pelo impacto de um elemento metálico, com um alto-relevo do
caráter em fita com tinta que, em contacto com o papel, é depositada na sua
superfície.
No fim do século XX, com o advento dos computadores, tornou-se rara a sua utilização
na generalidade das empresas e na utilização doméstica, que possibilitam, com
processadores de texto, efetuar o mesmo trabalho, de modo mais eficiente e
rápido.
Com mais de 200 anos e quase desconhecida dos mais
jovens, a máquina de escrever transformou-se em peça de antiquário e de museu,
sendo abril de 2011 a data do seu fim. Com o encerramento da multinacional
Godre j& Boyce, com sede em Bombaim, a última fabricante de máquinas de
escrever, na Índia, deu por finda a sua atividade, por falta de procura.
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A ideia de escrever através de um meio mecânico começou antes da era da
máquina e focava-se em imprimir tipos padrões de letras, herança da impressão
de Gutenberg.
As primeiras máquinas de escrever eram manuais, com acionamento mecânico
das teclas. Depois, surgiram as eletromecânicas, de funcionamento mecânico,
auxiliado por um motor elétrico, para diminuir o esforço e agilizar a escrita.
Por fim, surgiram as eletrónicas, com acionamento dos tipos (carateres) em
margaridas ou esferas, para atingir melhor velocidade e qualidade de impressão,
e possibilitar a correção dos erros, com fitas corretivas.
Na primeira metade do século XX, com as máquinas de escrever portáteis e
elétricas, a máquina de escrever, mais desenvolvida e sofisticada, tornou-se
mais rápida, silenciosa, prática e acessível a todos. Indispensável no campo dos
negócios, foi um instrumento das novas oportunidades de emprego, sobretudo da
emancipação da mulher no mercado de trabalho.
Com um maior acesso à escolaridade, assistiu-se à criação de profissões
femininas socialmente consideradas, em que o curso de datilografia (“datilografia”,
termo de origem grega “dáktylos” = dedo; “graphê” = escrita e o sufixo -ía, indicativo
de ciência ou arte), isto é, arte de digitar textos com os dedos através de
teclado, era ministrado para o uso das máquinas de escrever, que se difundiu-se
largamente com a expansão do setor comercial e serviços, nas repartições
públicas, nos bancos e nos escritórios, pela necessidade de maior rapidez e de uniformidade
da escrita, contribuindo para o desenvolvimento económico e social.
Até ao início da década de 1980, estas máquinas eram acessório padrão nos
escritórios. A partir da década de 1980 até fins dos anos 2000, foram
suplantadas pelos computadores. Porém, em algumas partes do Mundo, são
necessárias para situações específicas. Em muitas cidades e vilarejos
indianos, são usadas as máquinas de escrever, especialmente em estradas e
escritórios jurídicos, devido à falta de eletricidade contínua e
confiável.
O layout (esquema) do
teclado QWERTY, desenvolvido para máquinas de escrever, é o padrão para
teclados de computador. Os modelos mais recentes para escritórios possuíam
memória interna e pequenos monitores, com forma próxima dos computadores
pessoais.
Porém, a máquina de escrever com teclado QWERTY não incluía teclas para
o meias-risca e o travessão. Para superar tal limitação, os usuários digitavam
o hífen mais de uma vez para aproximar esses símbolos. Essa convenção de
máquina de escrever ainda se usa, algumas vezes, em computadores, embora os
aplicativos modernos de processamento de texto possam inserir as meias-riscas e
os travessões corretos para cada tipo de fonte. Outros exemplos de
práticas de máquina de escrever que se usam em sistemas de editoração eletrónica
incluem a inserção de um espaço duplo entre as frases e o uso do apóstrofo da
máquina de escrever (') e as aspas retas (") como marcas de citação
e plica ou aspas. A prática de sublinhar o texto em
vez de inserir o itálico e o uso de todas as maiúsculas para dar
ênfase são exemplos de convenções tipográficas derivadas das limitações do
teclado da máquina de escrever que permanecem.
Embora muitas máquinas de escrever modernas tenham designs semelhantes, a sua invenção foi progressiva, desenvolvida
por diversos inventores que trabalharam independentemente ou na concorrência ao
longo de décadas. Os historiadores estimam que foram criados 52 protótipos de
máquina de escrever, antes do surgimento de um modelo viável.
Em 1575, o gravador italiano Francesco Rampazetto inventou
a scrittura tattile, máquina para
imprimir cartas em papéis. Porém, já em 1714, Henry Mill obteve
uma patente, na Grã-Bretanha, para uma máquina semelhante a uma
máquina de escrever, com o objetivo imprimir ou transcrever letras num pedaço
de papel, sem precisar de escrever à mão, podendo ser de grande utilidade em
registos públicos e do género, pela dificuldade de falsificação ou de rasura.
No início do século XIX, mais precisamente em 1802, o italiano Agostino
Fantoni desenvolveu uma máquina de escrever especial para que a irmã cega pudesse
escrever. Entre 1801 e 1808, o italiano Pellegrino Turri inventou
uma máquina de escrever para uma amiga cega, a condessa Carolina Fantoni da
Fivizzano. Era comum estas máquinas serem pensadas para utilização de
pessoas com visão comprometida e que imprimissem só em carateres
maiúsculos. Em 1823, o italiano Pietro Conti da Cilavegna inventou
novo modelo, o tachigrafo ou tachitipo. Em 1829, o
norte-americano William Austin Burt patenteou uma máquina, o
tipógrafo, que, em comum com outros modelos antigos, é listada como a primeira
máquina de escrever, que o Museu da Ciência de Londres descreve,
exageradamente, como “o primeiro mecanismo de escrita cuja invenção foi
documentada”. De 1829 a 1870, muitas máquinas de impressão ou datilografia
foram patenteadas por inventores na Europa e na América, mas nenhuma teve
produção comercial. O norte-americano Charles Thurber desenvolveu várias
patentes, das quais a primeira em 1843 foi para ajudar os cegos, como a do
quirógrafo de 1845. Em 1855, o italiano Giuseppe Ravizza criou
um protótipo de máquina de escrever a Cemblano scrivano o macchina da scrivere a
tasti, uma máquina avançada que permitia ao usuário ver a escrita à
medida que era digitada.
Em 1861, o padre Francisco João de Azevedo, então
tipógrafo, criou, no Recife, uma máquina de escrever em madeira jacarandá, com
16 pedais, que parecia um piano. Apresentou-a na Exposição Agrícola e
Industrial de Pernambuco, sendo premiado com a Medalha de Ouro pelo
Imperador D. Pedro II. Havia de ir à Feira Mundial de Londres, mas por
causa do tamanho, acabou por não ser embarcada. Porém, só em 1868, foi
patenteada pelo tipógrafo americano Christopher Sholes que, mais tarde, com a
firma Remington and Sons, de Nova Iorque fabricou o seu primeiro modelo
industrial, designado Sholes &Gliddens, contribuindo, assim, para o início
da produção, industrialização e comercialização da máquina de escrever.
Em 1878, foi introduzida uma nova máquina a Remington
n.º 2, ainda mais rápida e que escrevia com letras maiúsculas e minúsculas
utilizando a tecla shift, tornando-se
grande sucesso comercial.
Em 1865, John Jonathin Pratt, de Centre, Alabama, construiu
uma máquina, a Pterotype, que apareceu num artigo de 1867 na
revista Scientific American. Entre 1864 e 1867, Peter
Mitterhofer, um carpinteiro do Tirol do Sul (parte da Áustria)
desenvolveu vários modelos e um protótipo de máquina totalmente funcional em
1867. Em meados do século XIX, o ritmo crescente da comunicação empresarial
criou a demanda da mecanização do processo de escrita. Estenógrafos e
telégrafos registavam informações a taxas de até 130 palavras por minuto (em
vez de 30 com caneta), número baseado no recorde de velocidade de escrita de
1853.
A partir de 1880, as máquinas de escrever passaram a ser adotadas pelo
mercado corporativo, em busca da legitimação dos documentos comerciais que eram
produzidos em todas as transações.
O aumento da demanda despertou o interesse das indústrias para o novo
produto, primeiro, nos Estados Unidos da América (EUA) e, depois, na Europa,
com a Alemanha a ser um dos principais polos, espalhando-se, em seguida, para
os demais países industrializados.
As máquinas produzidas no fim do século XIX deixavam os datilógrafos “às
cegas”, porque o mecanismo tapava o papel (a tecla batia para cima) e não se
via o que era digitado. O problema foi resolvido graças a Thomas Oliver,
criador da Oliver Typewriter Company, pela criação de um arranjo
semicircular, que mantinha as barras de tipo afastadas da área de digitação.
A primeira patente norte-americana é de William Austin Burt, de Detroit
(1829), cujo conteúdo foi destruído pelo incêndio do Escritório de Patentes de
Washington, em 1836.
Entre os fabricantes mais importantes incluem-se E.
Remington and Sons, IBM, Godrej, Imperial Typewriter Company, Oliver
Typewriter, Olivetti, Royal Typewriter Company, Smith Corona, Under Typewriter
Company, Adler Typewriter Company e Olympia Werke. É de relevar que a
Remington, que antes se dedicava apenas à produção de armas, foi a primeira
empresa a investir na produção da máquina de escrever, em 1874, já com uma
configuração próxima do modelo que se tornou popularmente conhecido em todo o
Mundo.
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Porque o layout QWERTY não era
mais eficiente para o nosso idioma e para outros, pois requer que um digitador
mova os dedos entre as linhas para digitar as letras mais comuns, no século XX,
surgiram outros arranjos do teclado mais satisfatórios. Em Portugal, as
máquinas mais antigas são as das marcas Royal, Corona, Imperial, Continental e
a Underwood, que se destacam pela sua robustez, algumas pelos motivos
decorativos e pelos layouts de
teclado AZERTY e HCESAR, compostos por teclas de vidro com anilha. Estes
teclados, entre outros, surgiram da necessidade de rapidez na escrita,
permitindo que as teclas mais utilizadas, estivessem afastadas, para evitar que
as hastes metálicas com os carateres na extremidade, colidissem entre si. O
primeiro era usado sobretudo, em países de expressão e influência francesa; o
segundo, conhecido como teclado português, foi criado por decreto-lei de 21 de
julho de 1937, e tinha como particularidade, a dupla função de teclas, entre
outras.
Da coleção de 55 máquinas do acervo museológico do
Gabinete de Património Histórico da Caixa Geral de Depósitos (CGD), destaca-se
a mais antiga, uma Smith Premier n.º 3, de 1899. É uma máquina mecânica de 84
teclas que inclui dois teclados, um de letras maiúsculas e outro de minúsculas
(a Bola de Escrita Hansen só produzia letras maiúsculas). De estrutura metálica,
apresenta as teclas em liga de baquelite e o carreto com rolo em borracha.
Dispõe de pente de barras metálicas com tipos nas extremidades. A barra de tipo
embatia na parte inferior do cilindro, sobre o papel, de baixo para cima, proporcionando
a escrita understroke, isto é,
escrita invisível, pois não se via o texto enquanto se escrevia, sendo preciso
levantar o carreto para o visualizar.
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Algumas máquinas de escrever elétricas foram patenteadas no século XIX,
mas a primeira máquina conhecida a ser produzida em série foi a Cahill, de
1900. Uma delas foi produzida pela Blickensderfer Manufacturing
Company, de Stamford, Conecticut, em 1902. Usava uma roda cilíndrica em
vez de barras de tipo individuais. Em 1910, Charles e Howard Krum registaram
a patente do primeiro telétipo de escrita prático. Em 1941, a IBM
anunciou a máquina de escrever elétrica Electromatic Model 04, com o
revolucionário conceito de espaçamento proporcional, produzindo um efeito que
foi mais aprimorado ao incluir fitas de filme de carbono, em 1937, que
produziam palavras mais claras e nítidas na página. Alguns dos avanços da IBM
foram adotados em máquinas mais baratas produzidas pelas suas concorrentes. Por
exemplo, as elétricas Smith-Corona, de 1973, adotaram cartuchos de fita
intercambiáveis Coronamatic patenteados.
A última principal mudança na máquina de escrever foi tornar-se eletrónica.
A maioria delas substituiu o typeball por uma impressora de impacto de
tipo margarida de plástico ou de metal, um disco com as letras moldadas na
borda externa das “pétalas”.
A primeira máquina de escrever eletrónica margarida comercializada no
mundo foi a Olivetti Tes 501, lançada em 1976. Em 1978, vieram a
Olivetti ET101 (com display de funções) e a Olivetti TES 401 (com display de
texto e disquete para armazenamento de memória). Isso permitiu à
Olivetti manter o recorde mundial no design
de máquinas de escrever eletrónicas, propondo modelos cada vez mais
avançados e performáticos nos anos seguintes. Estas máquinas eram realmente
eletrónicas e contavam com circuitos integrados e componentes eletromecânicos.
Às vezes, eram chamadas de máquinas de escrever de exibição, processadores
de texto dedicados ou máquinas de escrever de processamento de texto, embora o
último termo também fosse aplicado a máquinas menos sofisticadas que
apresentavam apenas um visor minúsculo, às vezes apenas uma linha. Também eram
chamados processadores de texto alguns modelos sofisticados, embora hoje o
termo quase sempre denote um tipo de programa de software.
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Aqui fica algo da saga do equipamento que me fez romper os dedos e
cansar as pestanas.
2023.11.15
– Louro de Carvalho
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