Após dois anos em que a época de Advento e
de Natal foi vivida com bastantes constrangimentos, por causa da pandemia
por covid-19, os peregrinos foram, novamente, convidados a viver este período
festivo, de forma especial e plena, no Santuário de Fátima.
Para tanto, o
Santuário dinamizou, de 9 a 11 de dezembro, um retiro, na Casa de Retiros de
Nossa Senhora do Carmo, com o tema “Uma noite alumiada por uma luz
desconhecida’. A Esperança em Deus como espera ativa do Deus-connosco”, sob a
orientação da irmã Sandra Bartolomeu, Serva de Nossa Senhora de Fátima, e com o
objetivo de proporcionar a “oportunidade para rezar a vida do fim para o
princípio, isto é, com os olhos postos na promessa de Deus, acendendo a
Esperança para, a partir das circunstâncias de agora, construir o novo”.
A 11 de
dezembro, na Basílica da Santíssima Trindade, na Missa das 11 horas, fez-se a
bênção das imagens do Menino Jesus e a das quatro imagens do Menino Jesus
usadas na veneração no tempo do Natal. E, pelas 16,30 horas, no mesmo templo, celebrou-se
a Missa da Luz da Paz de Belém, com a cerimónia nacional de partilha deste
ícone da paz, uma lanterna que guarda uma chama acesa na Gruta da Natividade,
na Terra Santa.
A
13 de dezembro, a
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou que, respondendo a pedido
urgente do Arcebispo de Kiev para apoio à Igreja da Ucrânia, particularmente o
Seminário Maior da Santíssima Trindade com os seus 105 seminaristas e todas as
instituições que dele dependem, bem como à missão dos 370 padres que passam
grandes dificuldades no apoio às populações, decidiu lançar uma campanha de
angariação de fundos as dioceses e em outras instituições eclesiais. Em diálogo
com D. José Ornelas Carvalho, bispo da diocese de Leiria-Fátima e Presidente da
CEP, ficou decidido que o Santuário de Fátima se associa a esta campanha, com
uma oferta no valor de 20.000€.
A 18 de
dezembro, a Missa das 11 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, foi
presidida por D. José Ornelas de Carvalho. Nessa celebração, antes da bênção
final, fez-se a bênção das crianças e das grávidas. Pelas 15 horas, no Centro
Pastoral de Paulo VI, teve lugar o concerto “Um conto de Natal”, pela Orquestra
Filarmónica de Braga, com direção de Filipe Cunha. Esta iniciativa, promovida
pelo Santuário de Fátima, no âmbito da programação do ano pastoral 2022/2023,
com o tema “Maria Levantou-se e partiu apressadamente”, tem entrada livre e
conta com a participação especial da Associação Tin.Bra Academia de Teatro. A orquestra
surgiu, em 2014, da Associação Cultural Canto Daqui. Em 2019, lançou o primeiro
disco, “Coração Cinéfilo”. A direção musical está a cargo do maestro bracarense
Filipe Cunha e congrega elementos maioritariamente jovens bracarenses,
dando-lhes assim a oportunidade de trabalho, experiência e evolução.
A 24 de
dezembro, pelas 23 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, os peregrinos
foram instados a participar na Missa do Nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo. E, a 25 de dezembro, solenidade do Natal do Senhor, a Eucaristia foi
celebrada pelas 11 horas, na Basílica da Santíssima Trindade. Em todas as
Missas houve a veneração da imagem do Menino Jesus. E, para todas as Missas das
três solenidades (Natal, Santa Maria Mãe de Deus e Epifania) se agendou a
recolha de ofertas durante a veneração do Menino Jesus, que reverterá para uma
obra social (ou seja, a favor dos sem abrigo e migrantes apoiados pela Cáritas
Diocesana de Beja), tal como se esclareceu que, durante a Oitava do Natal, no
rosário, se meditam os mistérios gozosos.
No dia 30 de
dezembro, a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família e, em todas as Missas
deste dia, depois da homilia, faz-se a Oração pelas Famílias.
A 31 de
dezembro, os peregrinos serão instados a participar na missa com Te Deum de Ação de Graças, às 22,30
horas, na Basílica da Santíssima Trindade, sob a presidência do bispo diocesano.
Após a
celebração, realizar-se-á a procissão para a Capelinha das Aparições, onde se recitará o Rosário. À
meia-noite, após o toque do carrilhão, a assinalar o novo ano, haverá a
consagração ao Imaculado Coração de Maria e o gesto da Paz. A noite terminará
com um chá-convívio, na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A 1 de
janeiro, Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, depois da Missa das 15 horas,
faz-se a procissão com o Santíssimo Sacramento para o Altar do Recinto de
Oração. Nesta celebração, os peregrinos serão convidados a rezar de um modo
particular pela paz no mundo.
***
Na sua
Mensagem de Natal, o Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário, considera
que esta época faz “experimentar a imensa ternura com que Deus nos ama”.
“Nos nossos
Presépios, contemplamos a Deus que Se faz próximo, que vem ao nosso encontro e
nos mostra o seu amor sem medida”. Por isso, o Natal é a proclamação de que
Deus nunca fica indiferente ao sofrimento e aos dramas da humanidade e de cada
um dos seus filhos.
Assim, a alegria
que suscita esta certeza faz-nos sentir a urgência de acolhermos a Deus que
vem, no Menino do Presépio, para estarmos com Ele, e desperta-nos para a
necessidade de não ficarmos indiferentes aos sofrimentos e dramas dos que nos
cercam.
Evocando o
tema pastoral do Santuário de Fátima, “Maria levantou-se e partiu
apressadamente” (Lc 1,39), o
reitor sublinhou o desafio a não ficar “indiferente” diante do sofrimento dos
idosos, dos sem-abrigo, dos refugiados, de todos os que vivem na solidão, no
sofrimento, no desespero. “A celebração do Natal é exortação veemente a
vencermos a indiferença e a irmos apressadamente ao encontro daqueles que precisam
da nossa ajuda” – concluiu.
***
No
Missa da festa de Natal dos servidores do
Santuário, a 18 de
dezembro, o bispo diocesano deixou-lhes uma
palavra de agradecimento pelo trabalho que ali realizam diariamente e que se
traduz em “gestos concretos de acolhimento”.
A partir da
liturgia daquele domingo, que nos diz que Jesus é o “Deus-connosco”, que veio
ao encontro dos homens para lhes oferecer uma proposta de salvação e de vida
nova, D. José Ornelas falou na “boa notícia” – o nascimento de Jesus, prestes a
ser celebrado – e da proposta de “um caminho de vida”: “O Natal não é mera
questão de bolos e festas – expressão da doçura do carinho que Deus nos traz –
mas significa que “Deus é fiel, intervém e transforma”.
O prelado
invocou os sinais de Deus, recebidos por Maria (a gravidez) e por José (o
cuidado), para sustentar que “Deus é fiel à Sua palavra” e que nós temos “de
colaborar com Ele”. “Isto não é um conto etéreo ou um jogo do nosso desejo:
Deus salva o mundo, mas através de gente que Ele chama para O ajudar. Foi assim
com Abraão, com Moisés... Deus realiza a salvação através das pessoas que chama
e pessoas disponíveis para transformar o mundo”, disse, fazendo analogia entre
a Palavra de Deus proclamada e a situação atual do mundo.
À semelhança
do rei aflito, porque lhe invadem o território, “hoje vimos, nas imagens da
Ucrânia, um povo que chora e um país que trava uma guerra que não pediu e
que lhe rouba a esperança”, vincou o prelado do Lis. “Todos precisamos de
sinais para não perder a esperança e, no Natal, chegam-nos esses sinais, porque
o filho de Maria é o herdeiro do Pai do Céu”, disse.
E concluiu: “Aquilo
de que precisamos não é que Deus venha ao nosso encontro por causa de uma
dorzinha ou de uma dor séria ou porque precisamos dele para superar as crises
de solidão, de esperança, de preocupações como as que vivemos, e são tantas. O
Natal significa confiança num Deus que vem e permanece em nós.
À bênção das
grávidas, observou: “A maternidade é um sinal de que Deus continua a estar
presente na vida; em cada criança há uma esperança de um mundo melhor. Tal como
uma criança é uma alegria para a família também Jesus é uma alegria para o
mundo porque traz a salvação.”
***
Na
Missa da noite de Natal, o reitor do Santuário interpelou peregrinos a não esquecerem “aqueles que, esta noite,
experimentam o drama da guerra, na Ucrânia e em tantos outros lugares do mundo,
e não podem celebrar o Natal em paz”.
Considerou que esta “é uma noite
especial, marcada pela alegria de nos sabermos amados por Deus, marcada pela
irradiação da luz de Deus, que vem iluminar-nos, e marcada pela paz, que o
Deus-Menino nos vem trazer”. Esta noite é noite de alegria, “porque hoje nasceu
o nosso Salvador, Jesus Cristo, e esta é a boa nova, a bela notícia deste dia
de Natal, que nos enche de alegria”, disse o sacerdote, lembrando que foi com
este anúncio que a celebração se iniciou.
No nascimento de Jesus,
“experimentamos a imensa ternura com que Deus nos ama”. E é desta certeza de
que “somos amados por Deus que brota a alegria desta noite e a alegria deste
tempo do Natal”. “Essa alegria que o profeta Isaías descrevia, dizendo que Deus
multiplica a nossa alegria, aumenta o nosso contentamento e nós rejubilamos na
Sua presença”. E é na “simplicidade do relato de São Lucas, no Evangelho, como
na contemplação dos nossos presépios, que nele se inspiram, transparece a
imensa ternura e o amor desmedido de Deus para connosco”. Esta noite é uma
noite de “luz”, e as iluminações natalícias lembram a “luz de Deus que vence as
trevas”.
Vincou o Padre Carlos Cabecinhas que
todos fazemos a experiência das trevas, não tanto físicas, quando a falta de
luz nos impede de ver, mas sobretudo existenciais e espirituais, quando não
vemos o sentido da nossa vida, quando não vemos saída para os nossos problemas,
dificuldades e dúvidas. Ora, Jesus vem como luz, que nos ilumina e nos mostra
os caminhos que a nossa vida deve trilhar. Ao mesmo tempo, esta “é noite de
paz”, porque hoje nasceu o “Príncipe da Paz”, que vem trazer-nos “uma paz sem
fim”, como profetizava Isaías na leitura hoje proclamada.
O Natal “é festa da paz, da harmonia,
da fraternidade, porque Deus se faz nosso irmão em Jesus Cristo”, e celebrar o
nascimento de Jesus, “implica-nos porque implica a atenção concreta aos outros”
e implica o cuidado, a solidariedade, a partilha e a ajuda aos que mais
precisam.
O Natal
é a proclamação de que Deus “nunca fica indiferente diante do sofrimento e dos
dramas da humanidade e de cada um dos seus filhos”. Por isso, não podemos
esquecer os que, nesta noite, experimentam o drama da guerra e não podem celebrar
o Natal em paz, como não podemos esquecer os que estão sós, os explorados, os
que não têm condições para viver, os que desesperam na situação de crise económica
em que se veem mergulhar. E temos de “vencer a indiferença diante o sofrimento
dos outros” e de ir apressadamente ao encontro dos que precisam de ajuda.
***
Na celebração do dia 25, o mesmo sacerdote referiu que a liturgia deste
dia não relata o nascimento
de Jesus, “mas fala do significado desse acontecimento”. Jesus “vem até nós
como a Palavra definitiva de Deus”, e não uma palavra qualquer, “superficial,
vazia e banal”, como são, não raro, as palavras que ouvimos, mas “a Palavra
capaz de atingir a profundidade da nossa existência e dar sentido às nossas
vidas”. “Deus vem até nós como Luz”, pois o Natal é festa de luz, “basta olhar
para as ornamentações natalícias. Jesus vem para nos libertar das trevas que
nos ameaçam e que tantas vezes experimentamos, quando não encontramos o sentido
da nossa vida, “quando não vemos saída para os nossos problemas, dificuldades e
dúvidas”.
O reitor afirmou
também que o Deus-Menino nos é apresentado “como Vida, vida verdadeira”. O
Natal celebra “a Vida que nasce no nosso mundo, para que cada ser humano tenha
a vida que só Deus pode oferecer, uma vida plena de sentido”. Celebrar o Natal
é acolher Jesus, que vem como Palavra, Luz e Vida, e celebrar cristãmente o
Natal é pôr Jesus Cristo, o Menino do presépio, no centro da quadra festiva e
no centro da nossa vida.
“Jesus
Cristo é a Palavra definitiva de Deus, que o mundo não quer escutar”. Por isso,
acolher o Deus Menino “é convite a escutá-Lo, a dar tempo para meditar e rezar
esta Palavra; é desafio a levarmos esta Palavra a outros”, pois “deixar que Ele
ilumine a nossa vida significa acolher os seus ensinamentos e imitar as suas
atitudes, e significa aceitar pô-Lo no centro da nossa vida, para que Ele a
guie e ilumine”. Jesus é a verdadeira Vida, “mas foi ignorado, desprezado,
maltratado e morto numa cruz, e identificou-se sempre com os mais pobres e
desprezados, com os que sofrem e vivem situações de morte”.
Enfim, segundo
o Padre Cabecinhas, acolher a Vida que Jesus nos traz implica abandonar o
egoísmo, que nos centra em nós, indiferentes aos outros, implica assumir
atitudes de atenção e cuidado pelos outros e implica defender a vida em todos
os seus momentos e fases.
2022.12.25 – Louro de Carvalho
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