As infeções
sexualmente transmissíveis (IST), que originam doenças sexualmente
transmissíveis (DST) como a gonorreia, a clamídia e a sífilis, dispararam em
Portugal e na Europa, afetando sobretudo jovens dos 20 aos 24 anos, revelam os
últimos relatórios epidemiológicos anuais do Centro Europeu de Prevenção e
Controlo das Doenças (ECDC), publicados a 7 de março.
O aumento significativo do número de casos
notificados em 2022, face a 2021, na União
Europeia/Espaço Económico Europeu (UE/EEE), revela a urgência de
medidas imediatas, para prevenir novas transmissões e mitigar o impacto das IST
na saúde pública. Com efeito, segundo o ECDC, “o ano de 2022 marca o maior número de casos de gonorreia na UE/EEE, na
última década e desde o início da vigilância europeia de IST em 2009”.
A maioria
dos países (25, em 29) da UE/EEE regista aumentos consideráveis, em 2022, na
notificação de gonorreia, mas os países com crescimento superior a 50% foram
Portugal, a Espanha a Bulgária, o Chipre, a Estónia, a Finlândia, a Irlanda, a Itália,
a Letónia, o Liechtenstein, a Noruega e a Polónia.
Porém, a infeção mais reportada é a clamídia, que afeta,
sobretudo, as mulheres entre os 20 e 24 anos. Em 27 países da UE/EEE, foram
notificados 216508 casos confirmados de infeção por clamídia, em 2022, com uma
taxa bruta de notificação de 88 casos por cem mil habitantes, mais 16% do que a
taxa de 2021. Em Portugal, foram cerca de mil e 500 os novos doentes. Assim, a
notificação de casos de clamídia subiu em Portugal, de 914 casos, em 2021, para
1501 casos, em 2022. A maioria destas notificações de clamídia refere-se a
mulheres com idades entre os 20 e os 24 anos, apesar de, entre 2018 e 2022, o
número de casos de clamídia notificados, como transmissão entre homens que
fazem sexo com homens (HSH), ter aumentado 72%.
As infeções por clamídia incluem IST da uretra, do colo do
útero e do reto, causadas pela bactéria Chlamydia
trachomatis, capaz de infetar a membrana que cobre a conjuntiva (parte
branca do olho) e a garganta. E outras bactérias, como a ureaplasma e a mycroplasma
podem causar infeções na uretra.
A seguir, vem a gonorreia, com 70881 casos reportados e confirmados,
em 2022, na UE/EEE, sendo a taxa bruta de notificação de 17,9 casos por cem mil
habitantes, um aumento de 48%, comparando com 2021, e de 59%, com 2018. Em
Portugal, a notificação de casos de gonorreia aumentou de 1252, em 2021, para 2253,
em 2022, tendo a taxa disparado cerca de 80%.
A gonorreia é uma IST causada pela
bactéria Neisseria gonorrhoeae que infeta o revestimento da
uretra, do colo do útero, do reto ou da garganta ou das membranas que cobrem a
parte frontal do olho (conjuntiva e córnea).
Também a sífilis
aumentou em Portugal, de 1144 casos notificados, em 2021, para 1534, em 2022,
tendo sido registados, em 29 países da UE/EEE, 35391 casos confirmados de
sífilis, dando uma taxa bruta de notificação de 8,5 casos por cem mil
habitantes.
O relatório
da ECDC mostra a taxa mais elevada de casos de sífilis em Malta (24,4 casos por
cem mil habitantes), seguida pelo Luxemburgo (23,4), pela Irlanda (16,6), pela Espanha
(16,6), pelo Liechtenstein (15,3) e por Portugal (14,8); e taxas de menos de
três casos por cem mil habitantes na Croácia, na Estónia, na Letónia, na Roménia
e na Eslovénia. Assim, Portugal encontra-se na 6.ª posição, entre os 29 países
analisados, com mais casos de sífilis. Dos mais de 35 mil casos registados na UE/EEE, em 2022, em Portugal foram notificados 1534 casos.
A sífilis é uma doença sistémica causada por Treponema
pallidum, caraterizada por três fases sequenciais e sintomáticas separadas
por períodos de infeção latente assintomática. Sintomas comuns incluem úlceras
genitais, lesões cutâneas, meningite, doença aórtica e síndromes neurológicas.
O diagnóstico é feito por sorologias e por estudos selecionados adjuntivos fundamentados
na fase da doença. O tratamento de escolha e a penicilina.
A ECDC
alerta, ainda, para aumento dos casos de linfogranuloma venéreo (LGV), que foi,
em Portugal, de 55 casos, em 2021, para 63 casos, em 2022, e de sífilis
congénita (causada pela transmissão da mãe para o feto), que não aumentou, em
Portugal, e caiu de 15 casos, em 2021, para 14, em 2022.
O aumento significativo do número de casos de IST notificados em 2022, face
a 2021, com os casos de gonorreia a aumentar 48%, os de sífilis 34% e os de
clamídia 16%, sublinham a necessidade “urgente de medidas imediatas” para
prevenir novas transmissões e mitigar o impacto das IST na saúde pública, diz a
ECDC, sustentando a premência da sensibilização para a transmissão
de IST e a necessidade de melhorar a prevenção, o acesso a testes e o
tratamento, para enfrentar este desafio de saúde pública. Por
conseguinte, impõe-se a maior
divulgação destas doenças e o acesso facilitado a testes e a tratamentos.
***
IST é a infeção transmitida pelo sangue, pelo sémen, por fluidos vaginais
e por outros líquidos corporais durante o sexo oral, anal ou genital com
parceiro infetado (a DST é a doença que se desenvolveu a partir de uma IST). As
IST podem
ser causadas por bactérias, por vírus ou por parasitas, podendo espalhar-se
para outras partes do corpo, por vezes, com sérias consequências. A maioria
pode ser tratada com medicamentos. E o uso do preservativo durante o sexo
genital ajudará a prevenir a transmissão dessas infeções de uma pessoa para
outra.
O
contacto sexual constitui oportunidade para os micro-organismos se transmitirem
de uma pessoa para outra, por envolver a transferência de fluidos corporais. Há
infeções transmissíveis por contacto sexual que podem ser transmitidas ao
beijar ou ao manter contacto corporal íntimo.
As
IST são frequentes. Nos Estados Unidos da América (EUA), ocorrem, por ano, mais
de 25 milhões de novos casos, cerca de metade dos quais em pessoas de 15 a 24
anos.
Dificultam
a prevenção da transmissão das IST vários fatores como: a atividade sexual sem
proteção com um ou mais parceiros; a falta de educação sobre práticas sexuais seguras;
a relutância em falar sobre elas com o parceiro; a relutância em falar sobre estas
questões com um profissional de saúde; a falta de acesso a assistência à saúde;
as infeções que não causam sintomas (não se sabem que se deve ser testado/a ou
tratado/a); o não tratamento de ambos os parceiros em simultâneo (é preciso evitar
nova transmissão da infeção); e o tratamento incompleto, que pode desenvolver
organismos resistentes aos medicamentos.
Muitos organismos infeciosos, desde minúsculos vírus,
bactérias e parasitas até insetos visíveis (como piolho), podem ser
transmitidos por contacto sexual. Algumas infeções transmissíveis no contacto
sexual não são consideradas IST, se forem transmissíveis por outras vias. Tais são
as hepatites A, B e C e as infeções do trato digestivo (que causam diarreia),
como infeções por salmonela, por campylobacter, por shigelose, por giardíase,
por amebíase e por varíola do macaco.
Apesar de, geralmente, as
IST serem provocadas por relações sexuais com pessoa infetada, a penetração
genital não é necessária para propagar a infeção. Algumas IST podem ser
transmitidas por outras vias, como: beijo ou contacto corporal íntimo (piolhos
púbicos, sarna, molusco contagioso e varíola do macaco); de mãe para filho, na
gravidez ou no parto (sífilis, herpes, clamídia, gonorreia, HIV - vírus da
imunodeficiência adquirida e HPV - papilomavírus humano; amamentação (infeção
por HIV); e instrumentos médicos contaminados (infeção por HIV).
Os sintomas das IST
variam, mas os primeiros envolvem, geralmente, a área onde os organismos entram
no corpo. Podem formar-se ulcerações na área genital ou na boca. Pode haver
secreção a sair do pénis ou da vagina e micção dolorosa. E alguns dos efeitos
das IST aumentam o risco de contrair outras infeções (como a infeção por
HIV). Por exemplo, irritação da pele (como na gonorreia ou na clamídia)
ou feridas (como no herpes, na sífilis ou no cancro mole) facilitam a entrada
de outros organismos infeciosos no corpo.
Quando as IST não são diagnosticadas
e tratadas imediatamente, alguns organismos entram na corrente sanguínea e infetam
órgãos internos, causando problemas sérios e até risco de morte. Esses
problemas incluem: infeções cardiovasculares
(coração e vasos sanguíneos) e no cérebro causadas pela sífilis; infeções graves e cancros raros, devido ao HIV;
e cancro do colo do útero, vulvar, vaginal, anal e da garganta, devido ao HPV.
Em mulheres, alguns organismos que
penetram na vagina infetam outros órgãos reprodutores. Podem infetar o colo do
útero (parte inferior do útero, o final da vagina), entrar no útero e atingir
as trompas de Falópio e até os ovários. O dano nas trompas de Falópio pode
originar infertilidade ou aumentar o risco de gravidez ectópica (fora do local
certo). A infeção pode atingir o peritoneu (membrana que reveste a cavidade
abdominal), causando peritonite. As infeções do útero, das trompas de Falópio, dos
ovários e/ou do peritoneu são as doenças inflamatórias pélvicas.
Nos homens, os organismos que entram pelo
pénis podem infetar a uretra (que transporta a urina da bexiga pelo pénis). Serão
raras as complicações, se as infeções forem tratadas rapidamente, mas a infeção
crónica da uretra pode causar sintomas, como: constrição do prepúcio (não
deixando expor a cabeça do pénis); estreitamento da uretra, bloqueando o fluxo
de urina; desenvolvimento de canal anormal (fístula) entre a uretra e a pele do
pénis. Ocasionalmente, os organismos atinem a uretra e deslocam-se pelo tubo
que carrega o esperma dos testículos (ducto ejaculatório e canal deferente)
para infetar o epidídimo (tubo enrolado no alto de cada testículo).
Em homens e em mulheres, algumas IST podem causar inchaço persistente dos tecidos genitais ou
infeção da uretra ou do reto (proctite).
Os médicos
suspeitam de IST com base nos sintomas ou no histórico de contacto sexual com
parceiro infetado. Para identificar o organismo envolvido e confirmar o
diagnóstico, os médicos podem obter e examinar uma amostra do sangue, da urina
ou da secreção da vagina, do colo do útero ou do pénis. A amostra é, geralmente,
enviada a um laboratório, para que os organismos sejam detetados e identificados,
mas alguns testes para IST podem ser feitos em clínica.
Alguns testes
para IST destinam-se a identificar o material genético exclusivo do organismo (DNA-
ácido desoxirribonucleico ou RNA- ácido ribonucleico). Outros verificam a
presença de anticorpos produzidos pelo sistema imunológico, em resposta ao
organismo específico infecioso. Os médicos escolhem o tipo de exame com base
nas infeções mais prováveis. E, se a pessoa tiver uma IST, deve fazer outros
testes, pois uma IST constitui probabilidade alta de surgir outra.
É conveniente
realizar exames para deteção de DST em pessoas que não apresentam sintomas. A
triagem de DST é a melhor opção, se for realizada quando: uma doença que está a
ser triada é incomum; se as pessoas tiverem risco maior do que a média de ter
uma doença (como as pessoas com mais de um parceiro sexual) ou em que a doença
seja particularmente perigosa (como mulheres grávidas); o teste de triagem for
fácil e barato; não existir tratamento para a doença.
É recomendada
triagem para IST a pessoas com maior risco de infeção por clamídia, por
gonorreia, por sífilis e/ou por HIV. Todas as mulheres sexualmente ativas com
menos de 25 anos de idade ou as de mais de 25 anos com alto risco de infeção
devem ser triadas, anualmente, para clamídia e todas as grávidas devem ser triadas
para todas estas quatro IST.
O tratamento
de IST passa pela administração de antibiótico ou de medicamento antiviral,
dependendo da IST, pelo tratamento das complicações e pelo tratamento
simultâneo de parceiros sexuais. A maioria das IST pode ser tratada eficazmente
com medicamento (antibiótico, para infeção bacterianas, e antiviral, para infeção
viral). Porém, algumas cepas de bactérias e de vírus tornaram-se resistentes a
alguns medicamentos, dificultando o tratamento. E é provável que a resistência
ao medicamento aumente, pois, nem sempre é usado de forma incorreta.
Pessoas a
tratar-se de IST bacteriana devem abster-se de relações sexuais até a infeção
ter sido eliminada delas e dos parceiros sexuais, que devem ser testados e
tratados simultaneamente. As IST virais, sobretudo o herpes genital e
a infeção por HIV, geralmente, persistem
por toda a vida. O medicamento antiviral pode controlá-las, mas ainda não as consegue
curar.
***
As IST impõem
uma dinâmica alargada e sensibilização e de prevenção, bem como de testagem
sistemática e de tratamento imediato. E implica a dissuasão dos poderes contra alguns
agentes da suspeita de provocação de IST, como assaltantes de seringas e de
objetos cortantes, o que, a acontecer, requer despiste imediato e, se a análise
resultar positiva, subsequente tratamento. De igual modo, quando um agente em
socorros, em ato clínico ou em cirurgia se picar ou cortar, deve, de imediato, sujeitar-se
a teste e a eventual tratamento, num serviço de doenças infeciosas.
Além das prescrições
de ordem moral, que muitos/as perfilham, é de referir que a proteção da relação
sexual pode não bastar (por má aplicação do material ou por deficiente fabrico),
sendo conveniente, em casos de dúvida ou de suspeita, a observação da continência
sexual.
2024.03.08 – Louro de Carvalho
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