A árvore de Natal é uma das tradições populares associadas à
quadra natalícia. Normalmente, é uma árvore conífera de folhas perenes (um
pinheiro, por exemplo), natural ou artificial, enfeitada com bolas coloridas,
luzes e outros adornos natalinos, como o sino de Natal.
Já há muitos
séculos, em culturas pagãs, existia o hábito de decorar plantas verdes como símbolo
de fertilidade e vitalidade (ligado à adoração ao Sol), dados condicentes com o
significado do Natal, em termos religiosos do cristianismo, cujo Sol nascente é
Cristo
Povos antigos
que habitaram os continentes europeu e asiático, no III milénio antes de
Cristo (a.C.), viam as árvores como símbolo divino, pelo que as cultivavam e
realizavam festivais em torno delas. Tal crença ligava as árvores a entidades
mitológicas e a sua projeção vertical, desde as raízes fincadas no solo,
marcava a simbólica aliança entre os céus e a mãe terra.
Nas vésperas
do solstício de inverno, os povos pagãos dos países bálticos cortavam pinheiros,
que levavam para casa e enfeitavam de forma semelhante à dos nossos dias. A
tradição passou aos povos germânicos, que
deixavam presentes para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin.
Os Germânicos punham, no solstício de inverno, ramos de pinheiros em lugares
públicos e nas casas, para evitar a entrada dos maus espíritos, e nutriam a
esperança da vinda da primavera.
Uma das versões
para a origem da tradição sustenta que o monge beneditino São Bonifácio,
no início do século VIII, tentou acabar com essa crença pagã que havia na Turíngia,
para onde fora enviado como missionário. Cortou, a machado, um pinheiro
sagrado, que os locais adoravam no alto de um monte, mas, dado o insucesso na
erradicação da crença, associou o formato triangular do pinheiro à Santíssima
Trindade e as folhas resistentes e perenes à eternidade de Jesus.
Nascia aí a Árvore de Natal. E, na Alemanha medieval, há relatos de
árvores decoradas com maçãs na festa de São Nicolau (6 de dezembro).
A tradição de
enfeitar a árvore de Natal tem mais de 500 anos. A tradição terá sido
lançada, em 1419, pelos padeiros da cidade de Freiburg, na Alemanha. Decoravam a
árvore, todos os anos, com lebkuchen
(um tipo de pão de mel, coberto com chocolate),
maçãs, frutas, nozes e frutas. Mas, só no dia de Ano Novo, as crianças sacudiam
a árvore e comiam o que dela caía.
O primeiro
uso registado de árvore para celebrar o Natal e o Ano Novo ocorreu em Riga,
na Letónia, em 1510. Todavia, há quem diga que a tradição se consolidou,
em 1530, na Alemanha, a partir de um episódio protagonizado por Martinho
Lutero, reformador protestante. Numa noite, caminhando pela floresta, ficou
impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve. As estrelas do
céu ajudaram a compor a imagem que Lutero reproduziu em casa, com galhos
de árvore, estrelas, algodão e outros enfeites, como velas acesas, para mostrar
aos familiares a bela cena que presenciara na floresta.
Outras
versões levam a crer que a moderna árvore de Natal terá surgido na Alemanha, entre
os séculos XVI e XVIII, não se sabendo exatamente em que cidade. Durante o
século XIX, a prática foi levada para outros países europeus e para os Estados
Unidos da América (EUA). Só no século XX a tradição chegou à América
Latina. Hoje, é tradição comum a católicos, a protestantes e a ortodoxos.
A árvore de
Natal caseira, como muitos de nós temos, surgiu como tradição no final do
século XVI, na Alsácia. Esta, que é uma bela região da França, já foi alemã. À
época, uma parte das festividades de Natal era pôr uma árvore na sala de estar.
Depois, decoravam-na com doces, nozes e maçãs. Aliás, uma grande evidência
desta teoria é o registo de uma árvore de Natal na catedral de Estrasburgo (na
Alsácia), em 1539.
A Igreja Católica,
que era contra as árvores de Natal, afirmava que o presépio era o símbolo
suficientemente significativo de Natal. Por outro lado, as grandes áreas
florestais pertenciam à Igreja, e o povo saqueava estas áreas, nesta época, em
demanda de árvores de Natal.
Apenas em
meados do século XX, a Igreja católica autorizou as árvores de Natal. E, em
1982, o Papa São João Paulo II, iniciou a tradição no Vaticano. Nesse ano,
colocou a primeira árvore de Natal na Praça de São Pedro, em Roma.
Os primeiros
registos de árvores decoradas com velas surgiram em 1730. Dantes, as árvores
eram enfeitadas com rosas de papel, maçãs, nozes e bolachas; depois, surgiram
outras decorações, como luzes, bolas de vidro, estrelas, guirlandas, laços,
anjos ou outras figuras. Em Berlim, na Alemanha, a primeira árvore de Natal foi
erguida em 1785.
No século
XVII, o costume espalhou-se entre os altos funcionários e os cidadãos ricos nas
cidades, mas os enfeites eram escassos e, portanto, muito caros, mesmo na
Europa Central. As primeiras bolas de vidro soprado apareceram para venda por
volta de 1830. Eram artigo de luxo, a que só os mais abastados tinham acesso e
podiam enfeitar as suas árvores com elas.
O costume de
decorar árvores de Natal alastrou da Alemanha para o Mundo inteiro. Porém, foi
só no século XIX que os emigrantes (alemães e holandeses) do século XVIII
levaram o costume para os EUA. A primeira árvore de Natal na “Casa Branca” foi
erguida em 1891, mas a primeira árvore de Natal nas Américas foi de Friederike
Riedesel von Lauterbachm esposa do general comandante das tropas Brunswick e a
árvore foi erigida em Sorel, no Canadá, em 1781.
A
tradição foi introduzida em Inglaterra no início do século XIX pela rainha
Charlotte, esposa do rei George III. A prática tornou-se mais popular na época
vitoriana. No século XIX, com o relato do Príncipe Albert (marido da Rainha
Vitória) trazendo uma árvore de Natal para o Palácio de Buckingham, a tradição
espalhou-se ainda mais.
A tradição
foi alastrando e ganhou inovações, como o surgimento das árvores artificiais.
Deste modo, começou uma pequena guerra, já que os mais tradicionalistas fazem
questão de ter a árvore natural decorada em casa, clamando que as de plástico
não são biodegradáveis. Por outro lado, o cultivo de uma árvore natural leva
anos. Assim, os adoradores de árvores artificiais argumentam que elas são
cortadas para servirem de enfeite por poucos dias.
Na Europa Central,
a árvore mais usada é o pinheiro conhecido como Nordmanntanne (abeto de
altitude), originário do Cáucaso. A sua popularidade tem um motivo: os seus
galhos não picam. Além dele, em alguns lugares, são usadas árvores como abeto,
pinho, buxo, azevinho e zimbro.
Há a ilusão
de que o pinheiro de Natal é produto natural da floresta, mas é uma raridade na
floresta. Hoje, os pinheiros e abetos crescem em plantações. Na Alemanha e na
Áustria, há terras agrícolas separadas para plantio das árvores de Natal. No
entanto, boa parte ainda é importada, e a Dinamarca é a líder de mercado. Na
Alemanha, as árvores de Natal são cultivadas em cerca de 15 mil hectares e são
cobertas cerca de 70% das necessidades de consumo interno.
As sementes
da Nordmanntanne vêm do Cáucaso e, em viveiros especializados, crescem na
Alemanha. Com três anos, as mudas são transferidas para o campo. Até as árvores
serem apresentadas com luzes brilhantes nas salas de estar, na Alemanha, têm
até 10 anos de tratamento intensivo. Só na Alemanha, são comercializadas, por
ano, quase 25 milhões de árvores de Natal.
Crescente número de muçulmanos na Alemanha passa as férias de
Natal com a família. Fora isto, muitos ainda também têm iniciado o hábito de
colocar uma árvore de Natal na sala e com muita decoração. Na Ásia, o costume
da árvore de Natal está bem enraizado, principalmente para os Europeus que
passam o Natal naquelas paragens, ficando tudo bem decorado.
As cores verde e vermelha são as cores símbolo do Advento e
do Natal cristão. O verde simboliza a esperança de vida no inverno escuro e a
lealdade. E o vermelho lembra o sangue de Cristo que derramou para que o Mundo
seja salvo. Estas duas cores dominam decoração de Natal e parece impossível dissociá-las
do espirito natalino.
***
Em Portugal, não há dados apurados, relativamente
ao comércio de árvores de Natal, ao invés de outros países. Os dados da Nielsen
Research, obtidos em 2011, revelam que cerca de 21,6 milhões de árvores reais e
12,9 milhões de árvores artificiais são comprados pelas famílias dos EUA, na
época de Natal. A Nielsen entrevistou quase 30 mil famílias nos EUA, em nome da
American Christmas Tree Association (ACTA), descobrindo que o custo médio de
uma árvore real era de 46 dólares (42 euros) e o de uma árvore artificial era
de 78 dólares (71 euros).
As famílias gastam um total de 984
milhões de dólares na compra de árvores de Natal reais, mas gastam 1,01 mil
milhões (920 milhões de euros) de dólares na compra de árvores artificiais.
A pesquisa descobriu que 11% dos
lares dos EUA exibem árvores reais e artificiais, indicando a tendência
crescente de celebrar o Natal com mais do que uma árvore; 29% dos agregados
familiares compraram a árvore verdadeira num lote de árvores, por um custo
médio de 48 dólares por árvore (43 euros); 24% compraram a árvore numa fazenda
de árvores, por um preço médio de 46 dólares; 16% foram compradas numa loja de
materiais de construção, por um preço médio de 44 dólares (40 euros); 7% foram
comprados num Garden Center, por um preço médio de 53 dólares (48 euros); 7%
disseram não ter certeza de onde a árvore foi comprada; e 17% das restantes
árvores foram comprados em vários outros locais.
Segundo a British Christmas Tree Growers
Association, seis a oito milhões de árvores de Natal são vendidas no Reino
Unido, todos os anos. A verdadeira árvore de Natal comprada localmente tem a
menor pegada de carbono. O Carbon Trust afirma que a árvore de Natal real tem
pegada de carbono muito menor do que a árvore artificial, sobretudo se for descartada
de modo cuidadoso. Uma árvore de Natal natural de dois metros, sem raízes,
descartada em aterro gera pegada de carbono de cerca de 16kg de CO2.
Se a árvore do mesmo tamanho for eliminada, queimando-a em fogueira,
plantando-a ou cortando-a para espalhar num jardim, terá pegada de carbono de
cerca de 3,5 kg de CO2 – pegada de carbono quatro vezes e meia
menor.
Uma árvore de Natal plástica de dois
metros tem pegada de carbono de cerca de 40kg de CO2, mais de 10
vezes maior que a de a árvore real descartada adequadamente. Ao invés das artificiais,
a árvore de Natal real absorve CO2 e liberta oxigénio. E a Soil
Association destaca como a árvore real fornece um habitat para a vida selvagem
e captura carbono da atmosfera, durante os 10-12 anos que demora a crescer. E
ao invés das artificiais, as árvores reais podem ser recicladas.
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Inicialmente, a árvore de Natal era
decorada com frutas, nozes e doces. Com o tempo, passou a ostentar ornamentos
feitos à mão, luzes elétricas e outros enfeites, criando a árvore de Natal que hoje
conhecemos. Assim, a tradição da árvore de Natal combina várias influências
culturais ao longo dos séculos, e a sua prática continua a evoluir em
diferentes partes do Mundo.
Porém, há quem faça da árvore de
Natal a “árvore de todo o ano” e não apenas a árvore de Natal”.
Uma família, em que a criança mais
pequena ficou triste por, no primeiro Natal da pandemia de covid-19, a família
não se reunir toda, resolveu só desmontar a árvore de Natal quando pudessem
reunir-se todos. Não pensavam que a situação demoraria tanto tempo. Nunca mais desmontaram
a árvore. Já reuniram e celebram as ocasiões familiares – uma situação negativa
que redundou em algo de bom. Como neste caso, há mais pessoas que deixam a
árvore de Natal sempre montada, embora por variados motivos. Há quem altere a
decoração, consoante a época do ano: Páscoa, Halloween, Natal, etc. Há quem mantenha
a árvore para ter “um bocadinho de Natal durante todo o ano”. Além da árvore
montada, vão pondo presentes debaixo dela, quando podem e lhes apetece. Fazem a
troca e vivem momentos especiais. Como fazem, regularmente, refeições com a
família alargada, vivem o Natal, em casa, durante os meses todos.
É bom que o espírito do Natal se
mantenha durante o ano todo. E, se a árvore ajudar, seja assim. De facto, o
Natal é sempre que o homem queira, mas tem de haver vontade.
2024.01.03 – Louro de Carvalho
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