Das startups (empresas inovadoras em fase inicial, com grande potencial de crescimento, em geral, relacionadas com a área da tecnologia) à fábrica de unicórnios, passando por criptomoedas, pela sustentabilidade ambiental e pela guerra na Ucrânia, decorreu, de 1 a 4 de novembro, em Lisboa, mais uma edição do Web Summit, a cimeira da tecnologia e do empreendedorismo, que pretende pôr Lisboa, ora a capital da tecnologia e do empreendedorismo, a mexer a todo o gás.
Nesta edição do evento, compareceram mais de 70 mil participantes, um grande salto sobre os 42 mil registados em 202. Com a promessa de uma exposição e conferência ainda maiores, a cimeira tecnológica recebeu 2.630 startups e empresas expositoras, 1.120 investidores, além de 1.040 oradores espalhados por 20 palcos.
Neste ano, estiveram em destaque temas, como a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a cibersegurança e a ciberguerra, a Inteligência Artificial e a criptoeconomia, tal como referiu Paddy Cosgrave, CEO do Web Summit.
Apesar dum incidente técnico que atrasou o início formal do Web Summit 2022, Paddy Cosgrave subiu ao palco central no Altice Arena para fazer as “honras da casa”, relevando a presença de startups vindas do Brasil e as vindas da Ucrânia na edição deste ano da cimeira tecnológica. E, como destacou, 2022 está a ser um ano de grandes mudanças e desafios, o que os temas em discussão ao longo das várias sessões do Web Summit refletem.
Por sua vez, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, recordou alguns dos desafios encontrados na criação da Unicorn Factory Lisboa, anunciada na edição de 2021 do Web Summit. A ideia, que parecia impossível, tornou-se realidade com a fábrica de unicórnios, lançada a 27 de outubro.
Efetivamente, na abertura do Web Summit 2021, Carlos Moedas, recém-eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa, disse que pretendia ir mais além e criar uma fábrica de unicórnios, promovendo a cidade como um hub tecnológico e garantindo que os empreendedores venham a Lisboa, mas que fiquem e criem aqui as suas empresas.
Como explicou a organização, “a Unicorn Factory Lisboa tem como missão expandir o apoio ao ecossistema empreendedor para promover o crescimento acelerado e sustentado de empresas tecnológicas a partir de Lisboa, trabalhando como um motor para a inovação e crescimento económico da cidade e do País.”
A fábrica é uma plataforma que junta programas e hubs para apoiar startups e scaleups (empresas com retorno médio anualizado de pelo menos 20% nos últimos três anos e com, pelo menos, 10 funcionários no início do período de três anos) na criação de produtos e modelos de negócio, ou no desenvolvimento de processos eficientes. Com o crescimento podem tornar-se “unicórnios”, termo que designa as empresas avaliadas em mil milhões de dólares. Ora, como sustenta Carlos Moedas, “Lisboa precisa de mais unicórnios, de grandes empresas, porque estas empresas vão criar os empregos do futuro, gerar riqueza, alavancar a economia e renovar a cidade.” Na Unicorn Factory Lisboa ficará integrada a Startup Lisboa e o Hub Criativo do Beato. E há quatro pilares de atuação, desde o apoio à fase inicial das startups ao suporte ao crescimento no scaling up, mas apostando também na atração de scaleeups e de unicórnios internacionais com o programa Soft Landing Program e no desenvolvimento de Rede de Hubs e de programas, através de hubs focados na inovação em áreas de forte crescimento.
A partir de 2023 vão ser promovidos dois novos programas cujas candidaturas abrem durante o Web Summit: o Scaling Up Program, que é o primeiro programa em Lisboa a trabalhar em mais de 20 scaleups de elevado potencial por ano, e o Soft Landing Program, com ferramentas para enfrentar os desafios de crescimento e a mudança ou expansão de operações em Lisboa.
Carlos Moedas, para quem Lisboa é uma “cidade onde o impossível se torna possível”, deixou uma mensagem aos jovens empreendedores que estão a acompanhar o evento, no sentido de não esperarem que os políticos sejam responsáveis pela mudança na sociedade e incentivou-os a seguirem as suas ambições e a tornarem as suas ideias para startups numa realidade.
António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, realçou que a “tecnologia não é uma panaceia”, antes pode ajudar a resolver os problemas que a sociedade enfrenta, em particular, num momento tão desafiante e marcado pela incerteza como aquele em que vivemos, sendo neste contexto que as startups podem desempenhar um papel relevante.
Após uma conversa com Changpeng Zhao, CEO da Binance, acerca do mundo das criptomoedas e atuais desafios, e com Lisa Jackson, VP de iniciativas ambientais da Apple, em torno do impacto das alterações climáticas e da desigualdade racial, mas também do papel das tecnológicas na mitigação destes fenómenos e das medidas tomadas pela empresa da maçã na área, Olena Zelenska, primeira-dama da Ucrânia, convidada especial do Web Summit 2022, subiu ao palco para detalhar como o mundo da tecnologia pode apoiar o país.
Nas suas palavras, a tecnologia tem o poder de mudar sociedades, mas nas mãos erradas, como as da Rússia, que, desde fevereiro, está a levar a cabo uma guerra contra a Ucrânia, tem o poder de destruir vidas e de causar horrores sem precedentes. Não obstante, mesmo perante os ataques russos, a Ucrânia continua a reunir esforços para se reerguer, ajudar as pessoas que mais precisam, reconstruir as infraestruturas, sejam físicas, sejam virtuais, com o reforço da cibersegurança do país. E Olena Zelenska apela à comunidade tecnológica que apoie o país neste processo, realçando: “Ajudar a Ucrânia agora significa ajudar o mundo a tornar-se num lugar melhor.”.
Ainda antes da abertura formal da cimeira de tecnologia e empreendedorismo, passaram pelo palco várias startups em busca de novas oportunidades e de financiamento para os seus projetos. Porém, como relataram vários participantes através do Twitter, a sessão de abertura teve de ser colocada, momentaneamente, “em pausa”, devido a um incidente com um drone.
Apesar do susto, houve participantes que partilharam, através da rede social que ninguém se teria magoado e que os técnicos da organização estavam tratar do sucedido. E, enquanto se esperava o começo, a “casa cheia” no Altice Arena manteve-se entretida.
Nos números oficiais do programa, constam mais de 1.040 oradores, em 20 palcos disponíveis, esperando-se mais de 70 mil participantes.
Nomes conhecidos como Mykhailo Fedorov, vice-primeiro ministro e ministro da Transformação Digital da Ucrânia, Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal ou Changpeng Zhao, cofundador e CEO da Binance, são apenas alguns dos protagonistas. Mas nem todos os oradores são de “carne e osso”. O ElliQ The Robot, que, além de ser uma companhia para evitar a solidão dos mais idosos, pretende ser um conversador. Eis os nomes dos 18 oradores destacados:
Mark MacGann, ex-executivo de topo da Uber e o mais recente “whistleblower”. Expôs a antiga empresa, acusando a tecnologia de enganar as pessoas sobre as vantagens da “gig economy”.
Daniela Braga, fundadora da Defined.ai, a discorrer como as inovações de inteligência artificial podem ter impacto no mundo para o tornar num lugar melhor.
Mykhailo Fedorov, vice-primeiro ministro e ministro da Transformação Digital da Ucrânia.
Ana figueiredo, CEO da Altice Portugal, a abordar o segredo por trás de dar vida ao Web Summit.
Vasco Pedro, cofundador e CEO da Unbabel, a explicar como obter financiamento nas primeiras etapas do negócio, antes de ganhar tração, explicando que se trata do momento mais stressante da vida de uma startup.
Peter Koerte, Chief Technology & Strategy Officer da Siemens AG, a esclarecer como o metaverso industrial tem o potencial de se tornar a espinha dorsal da nossa economia.
Palmer Luckey, fundador da Anduril, a falar de equipamentos e de soluções de defesa.
Jeff Shiner, O CEO da 1Password, a deixar dicas aos líderes das organizações para encorajar os empregos de qualquer nível ou ocupação e a serem participantes ativos na segurança da empresa.
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Enfim, um evento que projeta o país e ajuda a reconfigurar o mundo nas áreas da tecnologia, da inovação e do empreendedorismo em prol de um mundo mais humano, embora com riscos!
2022.11.02 – Louro de Carvalho
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